terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Hípias de Elis + Íon de Quios + Leucipo de Mileto


Leucipo de Mileto (nascimento: cerca de 500 a.C.), filósofo grego. Tradicionalmente, Leucipo é considerado o mestre de Demócrito de Abdera e, talvez, o verdadeiro criador do atomismo (segundo a tese de Aristóteles). A respeito praticamente nada é conhecido. Não há certeza sequer sobre o local da nascimento (alguns acreditam que possa ter sido Abdera ou Eléia). Especula-se que fosse mais novo que Parmênides de Eléia e parece ter sido contemporâneo de Anaxágoras de Clazômenas e de Sócrates. Do ponto de vista teórico, é possível traçar uma ascendência ao pensamento de Melisso de Samos e Zenão de Eléia. A tradição lhe atribui a autoria de um único livro intitulado A grande ordem do mundo. Talvez tenha escrito um segundo livro, que teria se chamado Sobre o espírito, mas este escrito pode ter sido apenas um capítulo da obra anterior.


Leucipo de Mileto



Leucipo (~440 a.C.) é o filósofo a quem se atribui a concepção da teoria atômica, fato já reconhecido por Aristóteles, na antiguidade.

De suas obras sòmente foram encontrados alguns fragmentos mas há indícios de que escreveu pelo menos dois livros, um sôbre o sistema do mundo, onde enunciou a teoria dos átomos e do vazio, e outro sôbre a mente.

As concepções de Demócrito, seu discípulo, são praticamente iguais às suas sendo difícil fazer uma distinção entre elas.

As teorias de Leucipo se contrapunham ás teorias de Parmênides e Zeno, que consideravam que o todo é Uno e imóvel e não existe vazio, ou melhor, não poderia haver movimento se não houvesse vazio, e que não haveria pluralidade sem algo que separasse as partes.

Leucipo considerava que o todo é Infinito , com uma parte cheia e outra parte vazia.

Os mundos surgiriam porque corpos de todos os tipos e formas eram destacados do infinito e se moviam no vazio aglutinando-se e formando um grande redemoinho onde se chocavam uns com os outros.

O movimento de rotação lançava para as bordas os corpos menores e os outros, aglutinados, formavam um núcleo esférico, que no final, se inflamava formando os corpos celestes.


A busca do princípio: o Átomo.
A procura da substância primordial, do elemento comum, da matéria prima que compõe o Universo, começou há mais de 25 séculos com os gregos. O filósofo Tales de Mileto (624-546 a.C.) afirmava que o elemento primordial do Universo era a água, "sobre a qual a Terra flutua e é o começo de todas as coisas". Já para o filósofo Anaxímenes de Mileto (570-500 a.C.) seria o ar o tal elemento primordial de vez que o mesmo se reduziria à água por simples compressão. No entanto para Xenófones da Jônia (570-460 a.C.) era a terra a matéria prima do Universo. Por sua vez, o também filósofo Heráclito de Éfaso (540-480 a.C.) propôs ser o fogo essa matéria.

Após 546 a.C., surge um novo movimento filosófico que tenta explicar a matéria não só constituída como um elemento único num sentido "macroscópico", mas como uma porção também única, subdividida "microscopicamente". Foi assim que Leucipo de Mileto (460-380 a.C.) apresentou uma visão segundo a qual todas as coisas no Universo são formadas por um único tipo de partícula - o átomo (indivisível, em grego) -, eterno e imperecível que se movimentava no vazio. Entretanto, para explicar as diversas propriedades das substâncias, admitiam que os átomos diferiam geometricamente por sua forma e posição, e que, por serem infinitamente pequenos, só poderiam ser percebidos pela razão.

As concepções una e/ou plural sobre o Universo continuaram a ser defendidas e divulgadas pelos cientistas ao longo dos séculos, chegando até a Idade Média e a Renascença. Por exemplo, o astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) em seu livro Das revoluções dos Corpos Celestes, falou da corporeidade dos átomos. Também atomista foi o físico e astrônomo italiano Galileu Galilei (1564-1642), já que em seu O Ensaiador, considerava que os átomos ígneos (do calor) eram menos rápidos e, portanto, menos penetrantes do que os átomos luminosos (da luz).

A idéia de que o átomo era uma parte real, porém invisível e indivisível da matéria, parece haver sido proposta pelo filósofo e matemático francês Pierre Gassendi (1592-1655), ao fazer pela primeira vez a distinção entre átomo e molécula, uma vez que para ele em cada corpo os átomos se reúnem em pequenos grupos, aos quais denominou moléculas, que é o diminutivo da palavra latina 'moles', que significa massa ou quantidade de matéria.

O atomismo real defendido por Gassendi, na França, logo foi aceito e divulgado na Inglaterra. Assim é que, o físico e químico inglês Robert Boyle (1627-1691) e seu assistente, o físico inglês Robert Hooke (1635-1703) tornaram claro seu apoio às teorias atômicas para explicar as substâncias materiais. Por exemplo, Boyle em seu célebre livro O químico cético, apresentou sua idéia na qual os corpos eram constituídos por elementos que, para ele eram assim definidos: "...que entendo por elementos são certos corpos primitivos e simples, perfeitamente sem mistura, os quais não sendo formados de quaisquer outros certos corpos, nem um dos outros, são os ingredientes dos quais todos os corpos perfeitamente misturados são feitos, e nos quais podem finalmente ser analisados..." No entanto, o elemento boyleano não era o elemento químico que conhecemos hoje, uma vez para ele a água (H2O) era um elemento quase puro, enquanto que o ouro (Au), cobre (Cu), mercúrio (Hg) e enxofre (S) eram compostos químicos ou misturas. Um outro inglês a defender e a expor as idéias atomísticas, foi o físico e matemático Isaac Newton (1642-1727) em seu livro Óptica.

Na tentativa de se aperfeiçoar o elemento químico boyleano, surgiram trabalhos como os de Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794), que elaborou a primeira tabela contendo cerca de 30 elementos, apresentado no seu Tratado Elementar de Química.

Muito embora a idéia de elemento químico considerasse o átomo como uma partícula indivisível, porém real da matéria, o atomismo científico só começou no início do século XIX com os trabalhos dos químicos, o inglês John Dalton (1766-1844), o francês Joseph-Louis Gay-Lussac (1776-1856) e o italiano Amedeo Avogadro (17776-1856), através dos quais se procurou calcular as massas dos átomos e relacionar seus volumes. Em seu livro Novo sistema de Filosofia Química, Dalton enfatizou que na Natureza existem átomos invisíveis e imutáveis. E mais ainda, que todos os átomos de um mesmo elemento são idênticos, e que vários átomos se podem reunir para formar um "átomo composto". É nesse livro que Dalton apresenta a famosa Lei das Proporções Múltiplas: "Se dois elementos A e B formarem mais de um composto, as massas de A que se combinam com a mesma massa B, nos diferentes compostos, devem ter números inteiros como razões entre elas". As experiências realizadas por Gay-Lussac com gases sob pressão e temperaturas constantes, levaram-no a descobrir uma importante lei, a chamada Lei dos Volumes: "Se os gases A e B se combinam para formar um composto C, os três volumes relativos podem ser representados por números inteiros". Contudo essa lei apresentava uma aparente contradição, qual seja, a de que, os gases ao se combinarem, parece algumas vezes, que ocupam menos espaço. Essa questão só foi entendida quando Avogadro observou que átomos podem se reunir para formar moléculas. Assim, dois volumes da molécula de hidrogênio, formada por dois átomos de hidrogênio (H+H=H2), combinados com um volume da molécula de oxigênio (O+O=O2), formavam dois volumes da molécula de água, isto é: 2H2 + O2 = 2H2O. Em vista disto, Avogadro enunciou a sua famosa Lei de Avogadro: "Sob as mesmas condições de temperatura e pressão, volumes iguais de todos os átomos contém o mesmo número de moléculas."

Quanto a indivisibilidade do átomo, parece haver sido o físico francês André-Marie Ampére (1775-1836) o primeiro a propor, que o átomo era constituído de partículas subatômicas, na tentativa de explicar o elemento boyleano. Mais tarde, o físico alemão Gustav Theodor Fechner (1801-1887) propôs o modelo de que o átomo consistia de uma parte central massiva que atraia gravitacionalmente uma nuvem de partículas quase imponderáveis. No entanto, as experiências realizadas sobre fenômenos eletromagnéticos, realizadas a partir do trabalho do físico dinamarquês Hans Christian Oersted (1777-1851) e do próprio Ampére sobre cargas elétricas circulando em fios condutores, fizeram com que os cientistas cada vez mais ficassem convencidos de que o átomo possuía constituintes portadores de carga elétrica. Desse modo, o físico alemão Wilhelm Eduard Weber (1804-1891) propôs que no modelo de Fechner, as partículas imponderáveis, que envolviam a parte central do átomo, eram partículas eletrizadas atraídas por esse "núcleo", naturalmente, por uma força elétrica.

A primeira evidência experimental sobre a estrutura do átomo foi verificada pelo físico e químico inglês Michel Faraday (1791-1867) ao descobrir o fenômeno da eletrólise, isto é, a ação química da eletricidade. Em sua experiência, Faraday observou que a passagem da corrente elétrica através de soluções químicas, por exemplo nitrato de prata, fazia com que os metais de tais soluções se depositassem nas barras metálicas (eletrodos: catodo e anodo) introduzidas nessas soluções. Essa evidência sobre a estrutura atômica foi corroborada com a teoria iônica desenvolvida pelo químico sueco Svante August Arrhenius (1859-1903), segundo a qual os íons que constituíam a corrente elétrica através da solução, no fenômeno da eletrólise, nada mais eram que átomos carregados de eletricidade.

Portanto, aquela antiga substância primordial, indivisível para os gregos na Antigüidade, se apresenta, no século XIX, divisível e dotada de cargas elétricas. Muito mais se fez no estudo do átomo como veremos a seguir, procurando estudar as partículas elementares que o constitui. Nosso próximo passo se dá em direção a descoberta do elétron, do próton e do nêutron.


Qual o crédito que você daria a um filósofo que discorresse sobre a ética nas relações, em um mercado público, quando subitamente aparece aos gritos a mulher dele, a mesma mulher que após ter jogado água suja na cabeça do filósofo, veio ter com ele para afirmar o imprestável mandrião que ele é? Ela fala sem parar. Ao notar uma certa indiferença dele aos gritos, ela avança sobre o homem e rasga suas roupas. O filósofo pode ter nada a ver com o destempero daquela criatura achaparrada, mas a propensão para suas palavras talvez nos encontre perguntando se de fato valeria ouvir aquele sujeito que há pouco nos impressionava vivamente com sua conversa sábia, que partia de exemplos simples, tirados de ferreiros e curtidores, para nos enredar em elementos que nos faziam questionar a nossa maneira de viver.

O alcance que Sócrates tinha sobre jovens como Alcebíades não era parente do que acontecia com seus filhos e com sua mulher, Xantipa, provavelmente. O que funcionava bem em feiras e praças não parecia surtir o mesmo efeito em casa.

Alguns filósofos encontramos com pequena procura. Não costuma ser o caso de Sócrates. O filho da parteira Fenarete nos chega principalmente por Platão e Xenofonte. Mas o encontramos em fragmentos em Íon de Quios, Aristóxenes e de outros. Um nariz aplanado, a barriga proeminente, os olhos saltados, nada tinha a ver com os padrões estéticos de sua época. Não cobrava pelo trabalho que fazia.Em cada aspecto de sua vida o filósofo parecia andar ao contrário do usual.

Mesmo com suas reservas à política, por volta de 405 a.C. fez parte do conselho legislativo de Atenas. Logo teve um sério embate com a dinastia dos Trinta Tiranos, que governava a cidade.

O poeta polonês Julian Tuwim, do grupo Skamander, em seus versos coloquiais costumava provocar a sociedade na qual vivia. Em 1920, publica Sócrates dançando, atualizando Cícero e nos mostrando que houve um elemento de humor que como historiadores esquecemos. Mas Tuwin estava escrevendo segundo os favores de um estilo, não de um argumento histórico. Ainda assim, não deve ter sido longe disso o modo como Sócrates se encontrou no conselho legislativo.

Não há Filosofia enquanto o indivíduo não deixa as estrelas na distância na qual vivem e se ocupa de suas próprias coisas, por estrelas que sejam. Assim é para Sócrates. Tudo nos leva a crer que ele de fato buscava uma verdade que surgisse, em geral belicosamente, de seu método indutivo. Nós o encontramos com a juventude de Lísias, com as liberdades de Protágoras, de Górgias também, com o arranjo de comandos de Laques (militar). Na indecisão dos argumentos, na fraqueza do discurso, Sócrates crescia. Em Mênon temos um arrojado exemplo de Filosofia e uma desculpa para o paradoxo que até hoje nos acompanha em muitos casos: saber e ser ignorante.

Reencontramos Sócrates em longas páginas dos autores de hoje. Atualizado, sério, prostrado, aflito, sereno, esperançoso, contrito, de tudo um pedaço. Em A Montanha Mágica, Thomas Mann, é um exemplo quando escreve que "Dois dias de viagem apartam um homem – e especialmente um jovem que ainda não criou raízes firmes na vida – do seu mundo cotidiano, de tudo quanto ele costuma chamar seus deveres, interesses, cuidados e projetos; apartam-no muito mais do que esse jovem imaginava enquanto um fiacre o levava à estação. O espaço que, girando e fugindo, se roja de permeio entre ele e seu lugar de origem, revela forças que geralmente se julgam privilégio do tempo; produz de hora em hora novas metamorfoses íntimas, muito parecidas com aquelas que o tempo origina, mas em certo sentido mais intensas ainda. Tal qual o tempo, o espaço gera o olvido; porém o faz desligando o indivíduo das suas relações e pondo-o num estado livre, primitivo; chega até mesmo a transformar, num só golpe, um pedante ou um burguesote numa espécie de vagabundo. Dizem que o tempo é como o rio Letes; mas também o ar de paragens longínquas representa uma poção semelhante, e seu efeito, conquanto menos radical, não deixa de ser mais rápido."

Então, Platão. Este torna o amor metafísico, sensorial, divino, sublime. A ordem em que os verbos e os substantivos se fazem acompanhar é um problema. Ao olhar para uma mulher, Platão mostrava-se inspetado por algo que lhe fazia desanimar. Traiçoeiras, superficiais, facilmente exacerbáveis, pusilânimes, repletas de crendices, injuriantes; eram os termos que costumava emprestar às mulheres. Homens que não se conduziram pelas veredas da virtude em vida poderiam renascer como mulheres; não por correção, mas por castigo, avisava Platão. O casamento seria um acordo para a procriação, a perpetuação da espécie. Por tudo isso, no Banquete e em Fedro temos a afirmação e a contradição platônica.

Mas usualmente hoje é aparente que em Aristóteles os relacionamentos e o amor se tornam mais acessíveis ao entendimento nos nossos dias. Tanto por sua ética quanto pela maneira com que nos dirige a atenção. Aristóteles era um provinciano, filho do médico pessoal do rei da Macedônia, e alguém que chegasse à Atenas nesta condição provavelmente teria motivos para se sentir diferente trazendo um olhar estrangeiro que a Platão possivelmente não seria oportuno ter.

Aristóteles cuidava a aparência, os cabelos, o que vestia. Sua constituição era algo frágil, seus olhos pequenos, apreciava o conforto. Esta simetria encontra consistente respaldo em sua filosofia. Com a morte de Platão, não foi nomeado diretor na Academia. Segue então seu caminho em direção a Ásia menor. Aluno de Platão, professor de Alexandre. Pacificamente entendemos e contextualizamos os estudos de Aristóteles que colocam o cérebro como sendo um órgão de menor importância no corpo humano; para ele, a sede da mente humano era o coração. Usualmente não é com a mesma paz que consideramos seu modo de entender e indicar o modo de relacionamento entre as pessoas. Também propenso às longas conversações que Sócrates e Platão costumavam entabular, ele prefere o monólogo e a dissertação como caminho de relação. É assim que escreve para seu filho, Nicômaco, um tratado inteiro sobre a felicidade na forma de preceitos éticos.

Quando morre Alexandre e Atenas afasta-se do poder macedônico, Aristóteles e seus alunos, que tinham suas aulas em caminhadas pela cidade e eram razoavelmente bem vistos, caem na desconfiança provavelmente infundada. Acham um modo de acusar o filósofo, algo que geralmente não é difícil em Filosofia. A acusação é a de blafêmia.

Aqui temos uma das páginas mais curiosas e intrigantes da história da Filosofia. Aristóteles tinha melhores meios, argumentos também melhores, e uma situação mais favorável do que os enfrentados por Sócrates alguns anos antes. Poderia agora escolher seu destino. Sua escolha foi derrancar-se apressadamente alegando, segundo contam, que não desejava que os atenienses cometessem uma segunda transgressão aos preceitos contra a Filosofia, referindo-se à morte de Sócrates. Não é incorreto inferir que Aristóteles homenageou Sócrates, ao se utilizar de ironia em sua decisão, que o negou, fugindo; e que o compreendeu, fugindo. Naquela época, como agora, homens feito Aristóteles precisavam de pensadores como Platão para poderem se aproximar de estudos de sujeitos como Sócrates; a questão é o perigo que tais caminhos sugerem quando mais afastam do que aproximam do objeto a ser considerado.

A maneira como viveram Sócrates, Platão, Aristóteles, como se relacionaram com os seus respectivos familiares, alunos, pessoas da época, tudo vai servir de um legado não escrito, mas implicitamente vivido e compreendido por muitos filósofos que viriam nos séculos seguintes, e nos outros séculos, até os dias atuais. Uma parte da Filosofia é experienciada nos papéis, na academia, na especulação; não tem correspondência na concretude dos relacionamentos humanos, não se presta para tal, ainda que muitas vezes tenha contribuições efetivas a fazer.

Nenhum deles conseguiu aparentemente com suas filosofias tornar a própria vida melhor nos relacionamentos com seus próximos, os três afirmaram no pensamento o que em parte evitariam depois na concretude do cotidiano. Mas isso não torna suas filosofias menores e também não deve ser este o critério pelo qual usualmente nós as medimos, não se trata disso. A propriedade desta afirmação está na observação que nos permite compreender que, às vezes, enquanto determinadas teorias são formuladas seus autores não as podem viver porque as estão formulando e uma atividade pode não autorizar a outra; outra propriedade é que a Filosofia, em seus primórdios, buscou aproximar a explicação da compreensão, acarretando grandes perdas na possibilidade da vivência dos postulados, dada a incipiência dos métodos filosóficos. Uma terceira propriedade é que filosofar sobre o que se vive pode objetar a experiência tal qual ela se desenha por, por exemplo, o músculo cardíaco. Uma quarta propriedade, entre outras várias que deixarei para outro momento, é que seguidamente a cisão entre o que é vivido e o que é pensado produziu Filosofia consistente, como em Nietzsche.

Talvez por isso as palavras de Elias Canetti, na obra Massa e Poder, causem ainda dúvidas e inquietude quando ele afirma que "Não há nada que o homem mais tema do que o contato com o desconhecido. Ele quer ver aquilo que o está tocando; quer ser capaz de conhecê-lo ou, ao menos, de classificá-lo. Por toda parte, o homem evita o contato com o que lhe é estranho. À noite ou no escuro, o pavor ante o contato inesperado pode intensificar-se até o pânico. Nem mesmo as roupas proporcionam segurança suficiente – quão facilmente se pode rasgá-las, quão fácil é avançar até a carne nua, lisa, indefesa da vítima.(...) Tal aversão ao contato não nos deixa nem quando caminhamos em meio a outras pessoas. A maneira como nos movemos na rua, em meio aos muitos transeuntes, ou em restaurantes, trens e ônibus, é ditada por esse medo. Mesmo quando nos encontramos bastante próximos das pessoas; mesmo quando podemos observá-las bem e inspecioná-las, ainda assim evitamos, tanto quanto possível, qualquer contato com elas. Se fazemos o contrário, é porque gostamos de alguém, e, nesse caso, a iniciativa da aproximação parte de nós mesmos."


§2. Hípias de Élis.





. Hípias de Elis, eruditíssimo sofista grego natural de Elis (do Peloponoso), não tem data conhecida do nascimento. Os diálogos de Platão o dizem mais novo que Protágoras e que participou da vida cultural de Atenas em 399 a.C., quando ocorreu a condenação de Sócrates. É homônimo de Hípias, tirano de Atenas, com o qual pois não deve ser confundido Hipias de Élis, o sofista. Casado teve 3 filhos.

Como também acontecia a outros sofistas, sua habilidade retórica, o fez ser embaixador de Elis em outras cidades importantes, o que lhe facultou estadias na Sicília, Atenas e principalmente em Esparta.

Nestas oportunidades praticava o ensino e se vangloriava de haver ganho nele grandes somas. Na Sicília teria lucrado mais que dois sofistas reunidos (Hípias maior 282 d-e). Em Esparta teria ensinado história e ciência da Educação (285 d- 286 b).

Exerceu também o artesanato, como o descreveu Platão em Hipias Menor. Não era rico mas obtinha recursos facilmente, de sorte que o autor dos diálogos, como de costume, o ironiza. Em Atenas foi do partido democrático.





. Escreveu Hípias de Élis sobre variados temas. Compôs poemas elegíacos e peças de teatro, bem como ensaios sobre matemática, história, língua.

De seus discursos restam fragmentos, dos quais entretanto poucos se relacionam com a filosofia.

Restam fragmentos do Diálogo troiano, em que Nestor e Neoptoleme dialogam sobre educação.

Menciona-se dele uma Lista dos vencedores nos jogos olímpicos.

Escreveu também Nomes dos povos.

A crítica especializada de Untersteiner procura lhe atribuir também o texto Anônimo de Jâmblico. Ainda um texto sobre os acontecimentos de Corcira, inserido em Guerra do Peloponeso (III, 84), de Tucídades, mas provavelmente inautêntico. Também o prólogo de Caracteres de Teofrasto (a este respeito com mais discordância por parte de outros críticos).

Quanto a Discursos duplos, ainda que reflitam exatamente o pensamento de Hipias, é obra de um discípulo do mesmo Hípias de Élis.





. A natureza como um todo (ou lei natural) é destacada por Hípias de Élis contra a sem-significação das leis (humanas).

Já os pré-socráticos haviam mostrado a integração do todo, mas sem o destaque antropológico, segundo o qual agora Hipias vê romper-se a linha divisória das cidades-estados, para evidenciar a natureza cosmopolita da sociedade humana.

Com isto se antecipou ao ponto de vista estóico do direito natural dos povos (ou direito das gentes).





. A origem popular de Hipias e a oportunidade de viajar, que suas qualidades de orador e erudito lhe facultavam, tornou-o sagaz também nas observações das diferenças de lei que regulavam as diversas cidades-estados. Isto o fez destacar a validade maior do que era natural (lei natural) e a sem importância das leis dos homens.

A diferença entre a natureza (N b F 4 H ) e a lei (< ` : @ H ) é o tema predileto de Hipias e assim se apresenta na longa discussão mantida com Sócrates sobre o assunto, conforme testemunha Xenofonte ( Ditos Memoráveis).

As verdadeiras leis são somente as da natureza:

"São válidas em cada país e do mesmo modo".



As outras leis não têm uniformidade, nem estabilidade, porque derrogadas por vezes pelos próprios que as fizeram.

A lei natural é uma "Lei não escrita" (– ( D " N @ L H < ` : @ L H ) e não depende da fantasia dos homens. Atribuiu a lei natural ao ser mesmo da natureza, e não a faz simplesmente uma vontade divina.

Para conhecer as leis naturais importa conhecer a natureza, ainda que seja um saber enciclopédico. Hipias cuidou na verdade deste saber sobre todas as coisas, inclusive das técnicas artesanais.



Destacou-se como matemático inventando a chamada "quadratriz de Hípias".

Conhece também astronomia, música e pintura, além da política e da educação. Apesar de ironizá-lo, Platão confirma esta competência pela boca de Sócrates:

"Diga-me, Hipias, não tens tu uma competência incontestável em matéria de cálculo e na ciência do cálculo?

Hipias: Uma competência superior a de toda a gente, Sócrates" (Hipias Menor 266 c.).


Hípias de Elis
– 400 a. C.) foi um filósofo e matemático da antiga Grécia contemporâneo de Sócrates.

Biografia
A maior parte das informações sobre Hípias são provenientes dos Diálogos[1] de Platão. Nestes conta-se que tinha uma boa memória e que era dado a se gabar por ser o sofista que mais dinheiro ganhou com suas aulas. Esses filósofos, ao contrário dos pitagóricos, costumavam cobrar por seu trabalho intelectual. Hípias viveu tanto quanto Sócrates e por Platão chegaram até os dias de hoje informações nada lisonjeiras sobre esse matemático, bem como nos Memorabilia de Xenofonte onde se encontra uma descrição de alguém cheio de si, que se considera profundo conhecedor de tudo, desde história e literatura, até artesanato e ciências. No entanto deve-se um certo desconto a essas e outras estórias pois é sabido que Platão e Xenofonte eram totalmente contrários aos sofistas em geral. E tanto Sócrates quanto o ‘’pai dos sofistas’’ Protágoras tinham reservas com relação à matemática e as ciências.





Trissetriz

A Trissetriz de HípiasPappus de Alexandria no livro IV da sua Synagoga (Coleção Matemática) fala de uma das mais antigas curvas conhecidas; talvez a primeira depois da reta e da circunferência. Proclo e outros escritores da antiguidade atribuem sua descoberta a Hípias.

No quadrado ACBD (figura) seja o lado AB deslocado para baixo uniformemente a partir de sua posição inicial até coincidir com DC. Suponhamos que esse movimento leve o mesmo tempo que o lado DA leva para girar em sentido horário de sua posição presente até coincidir com DC. Se as posições dos segmentos são dadas em um instante fixado qualquer por A’B’ e DA’’, respectivamente, e se P é o ponto de interseção de A’B’ e DA’’, o lugar descrito por P durante esses movimentos será a trissetriz de Hípias – a curva APQ na figura. A curva permite a trissecção de um ângulo com facilidade: Se PDC é o ângulo a ser trissectado, dividimos em três os segmentos B’C e A’D com os pontos R, S, T e U. Se os segmentos de reta TR e US cortam a trissetriz em V e W, respectivamente as retas VD e WD dividirão o ângulo em três partes iguais.

A descrição dada por Pappus sobre a principal propriedade desta curva torna bastante admissível que esta tenha sido inventada durante as tentativas de trissecção do ângulo. Conjectura-se que Hípias sabia que a curva poderia ser utilizada na quadratura do círculo mas que não podia prova-lo. Posteriormente a curva foi utilizada por Dinóstrato para realizar a quadratura e por isso ela também é chamada quadratiz. Note-se que o processo de construção da trissetriz envolve uma definição por via cinemática.

GÓRGIAS DE LEONTINE +HERÁCLITO DE ÉFESO

HERÁCLITO DE ÉFESO







Heráclito de Éfeso é um dos filósofos pré-socráticos mais importantes. Ele leva o discurso filosófico de Tales, Anaximandro e Anaxímenes a posições decididamente mais avançadas e em grande parte novas. Os três jônicos interessaram-se pelo problema da physis, constatando o dinamismo universal da realidade. Todavia eles não explicitaram e não tematizaram este aspecto preciso da realidade e nem puderam refletir sobre as múltiplas implicações desse mesmo aspecto. Foi o que fez Heráclito.

Em primeiro lugar, ele chamou a atenção para a perene mobilidade de todas as coisas. Segundo ele, nada permanece imóvel e nada permanece em estado de fixidez e estabilidade, mas tudo se move, tudo muda, tudo se transforma, sem cessar e sem exceção ("tudo flui"), recordando a futura e famosa afirmação de Lavoisier. Para ele, só o devir das coisas é permanente, no sentido de que as coisas não tem realidade senão justamente no perene devir.

Entretanto a filosofia de Heráclito está bem longe de se reduzir a mera proclamação do fluxo universal das coisas: esta é a constatação de partida. Para Heráclito, o devir é um contínuo conflito dos contrários que se alternam, é uma perene luta de um contra o outro, uma guerra perpétua. E como as coisas só têm realidade no perene devir, essa guerra se revela como o fundamento da realidade das coisas.

No entanto, essa guerra é ao mesmo tempo paz e harmonia, fazendo com que o fluir perene das coisas e o universal devir se revelem na síntese dos contrários, tornando-se o perene pacificador dos beligerantes.

Segundo Heráclito, a multiplicidade das coisas se recolhe numa unidade dinâmica superior, conforme suas próprias palavras: "De todas as coisas o um e do um todas as coisas". É na síntese dos opostos que está o princípio que explica toda a realidade e, por isso mesmo, é exatamente nisso que consiste Deus ou o divino. Deus é a harmonia dos contrários, a unidade dos opostos.

Mas, enquanto nos jônicos não se atribuía inteligência ao primeiro princípio divino, fica claro que Heráclito a tenha atribuído como podemos ver em suas próprias palavras: "A natureza humana não possui conhecimentos, a natureza divina sim" e em "Só existe uma sabedoria: reconhecer a inteligência que governa todas as coisas através de todas as coisas".

Heráclito chamou este seu princípio de lógos e, para ele, a verdade não pode consistir senão em captar, entender e exprimir esse lógos comum a todas as coisas. Por conseqüência desse entendimento, compreende-se a sua desconfiança nos sentidos e nas opiniões comuns dos homens, desprezando o saber dos outros filósofos.

Heráclito expressou também alguns pensamentos sobre a alma, que vão além de seus predecessores. Assim como os jônicos, ele identificou a natureza da alma com a natureza do princípio, mas adicionou a idéia de que a alma possui propriedades completamente diferentes do corpo como em: "Mesmo percorrendo todos os caminhos, jamais encontrarás os limites da alma, tão profundo é o seu lógos". Com isso ele quer dizer que a alma estende-se ao infinito justamente ao contrário do que é físico.

Finalmente para Heráclito, a felicidade não pode consistir nos prazeres do corpo, como ele afirma de forma sublime em "Difícil é a luta contra o desejo, pois o que este quer, compra-o a preço da alma", adivinhando o núcleo da ética ascética do Fédon de Platão, onde saciar o corpo significa perder a alma.




Heráclito de Éfeso
Heráclito em pintura de Johannes Moreelse.
Nascimento c. 540/535 a.C.
Éfeso (pólis grega na atual Turquia)
Morte c. 475/470 a.C.
Nacionalidade Éfesio
Ocupação Filósofo
Principais interesses Metafísica, Ética, Epistemologia, Política
Idéias notáveis "Tudo flui", fogo como physis, Logos
Influenciados Platão, Aristóteles, Hegel, Nietzsche, Heidegger, Popper, Marx, Whitehead, Carl Gustav Jung
Heráclito de Éfeso (Éfeso, aprox. 540 a.C. - 470 a.C.) foi um filósofo pré-socrático que recebeu o cognome de "pai da dialética". e a alcunha de "Obscuro", pois desprezava a plebe, recusou-se a participar da política (que era essencial aos gregos), e tinha também desprezo pelos poetas, filósofos e pela religião. Sua alcunha derivou-se principalmente devido ao livro (Sobre a Natureza) que escreveu com um estilo obscuro, próximo a sentenças oraculares.


Dados biográficos
Heráclito nasceu em Éfeso, cidade da Jônia (atual Turquia). Sobre a vida de Heráclito, Diógenes Laércio nos relata: “Heráclito, filho de Blóson, ou, segundo outra tradição, de Heronte, era natural de Éfeso. Tinha uns quarenta anos por ocasião da 69ª Olimpíada (504-501 aC). Era homem de sentimentos elevados, orgulhoso e cheio de desprezo pelos outros”.
Em outra passagem, o mesmo Diógenes nos conta: “Retirado no templo de Ártemis, divertia-se em jogar com as crianças e, acercando-se dele os efésios, perguntou-lhes:

De que vos admirais, perversos? Que é melhor: fazer isso ou administrar a República convosco?

E, por fim, tornado misantropo e retirando-se, vivia nas montanhas, alimentando-se de ervas e plantas.”
Usando sempre de hipocrisia, Heráclito ridicularizava o conhecimento dos médicos e dos físicos de sua época. Sobre as circunstâncias de como ocorreu a sua morte, Diógenes Laércio assim nos conta: “Hermipo, porém, conta que ele (Heráclito) perguntava aos médicos se alguém podia, esvaziando-lhe o ventre, expelir a água. Como negassem, deitou-se ao sol e pediu aos criados que o cobrissem com esterco. Assim deitado, faleceu no dia seguinte e foi sepultado na praça pública. Neantes de Cizico afirma que, tendo sido impossível retirá-lo de sob o esterco, lá permaneceu, e, irreconhecível pela putrefação, foi devorado pelos cães.

[editar] O pensamento de Heráclito
Os filósofos milesianos (Tales, Anaximandro, etc) haviam percebido o dinamismo das mudanças que ocorrem na physis, como o nascimento, o crescimento e o perecimento, mas não chegaram a problematizar a questão. Heráclito, inserido dentro do contexto pré-socrático, parte do princípio de que tudo é movimento, e que nada pode permanecer estático. "Panta rhei", sua "máxima", significa "tudo flui", "tudo se move", exceto o próprio movimento. Ele exemplifica, dizendo que não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, porque, ao entrarmos pela segunda vez, não serão as mesmas águas que estarão lá, e a mesma pessoa já será diferente.

Mas tal questão é apenas um pressuposto de uma doutrina que vai mais além. O devir, a mudança que acontece em todas as coisas é sempre uma alternância entre contrários: coisas quentes esfriam, coisas frias esquentam; coisas úmidas secam, coisas secas umedecem etc. A realidade acontece, então, não em uma das alternativas, posto que ambas são apenas parte de uma mesma realidade, mas sim na mudança ou, como ele chama, na guerra entre os opostos. Esta guerra é a realidade, aquilo que podemos dizer que é. Mas essa guerra da qual fala Heráclito não tem essa conotação de violência ou algo semelhante. Tal guerra é que permite a harmonia e mesmo a paz, já que assim é possível que os contrários possam existir: "A doença faz da saúde algo agradável e bom"; ou seja, se não houvesse a doença, não haveria porque valorizar-se a saúde, por exemplo. Ele ainda considera que, nessa harmonia, os opostos coincidem da mesma forma que o princípio e o fim, em um círculo; ou a descida e a subida, em um caminho, pois o mesmo caminho é de descida e de subida; o quente é o mesmo que o frio, pois o frio é o quente quando muda (ou, dito de outra forma, o quente é o frio depois de mudar, e o frio, o quente depois de mudar, como se ambos, quente e frio, fossem "versões" diferentes da mesma coisa).

Inserido no contexto pré-socrático, Heráclito definiu, partindo de seus pressupostos (o panta rhei e a guerra entre os contrários) uma arché, um princípio de todas as coisas: o fogo. Para ele, "todas as coisas são uma troca do fogo, e o fogo, uma troca de todas as coisas, assim como o ouro é uma troca de todas as mercadorias e todas as mercadorias são uma troca do ouro"; ou seja, todas as coisas transformam-se em fogo, e o fogo transforma-se em todas as coisas. De seus escritos restaram poucos fragmentos (encontrados em obras posteriores), os quais geraram grande número de obras explicativas



A cosmologia de Heráclito

Heráclito, em detalhe do afresco pintado por Rafael, A Escola de AtenasSegundo Heráclito, o fogo é o elemento primordial de todas as coisas. Tudo se origina por rarefação e tudo flui como um rio. O cosmos é um só e nasce do fogo e de novo é pelo fogo consumido, em períodos determinados, em ciclos que se repetem pela eternidade.
Em seu livro - Do Céu, Aristóteles escreve: “Concordam todos em que o mundo foi gerado; mas, uma vez gerado, alguns afirmam que é eterno e outros que é perecível, como qualquer outra coisa que por natureza se forma. Outros, ainda, que, destruindo-se, alternadamente é ora assim, ora de outro modo, como Empédocles e Heráclito de Éfeso. (...) Também Heráclito assevera que o universo ora se incendeia, ora de novo se compõe do fogo, segundo determinados períodos de tempo, na passagem em que diz – Acendendo-se em medidas e apagando-se em medidas.”
Para Heráclito, condensado, o fogo se umidifica e, com mais consistência, torna-se água; e esta, solidificando-se, transforma-se em terra; e, a partir daí, nascem todas as coisas do mundo. Este é o caminho que Heráclito define como sendo “para baixo”.
Derretendo-se a terra, obtém-se água. Água transforma-se em vapor, tal como vemos na evaporação do mar. E, rarefazendo-se, o vapor transforma-se novamente em fogo. E este é o caminho “para cima”.
Nosso mundo é cercado pelos astros (Sol, Lua e estrelas). Esses nada mais são do que barcos cujas concavidades estão voltadas para nós, e que carregam dentro de si chamas brilhantes. A mais brilhante (para nós) é a chama do Sol e também a mais quente. Os demais astros distam mais da Terra e é por isso que seu brilho é menos vivo e menos quente, mas a Lua, que está bem próxima da Terra, não é por isso, mas por não se encontrar num espaço puro – a escuridão. O Sol, entretanto, está em região clara e pura.
Os eclipses do Sol e da Lua acontecem quando as concavidades dos barcos se voltam para cima. E as fases da Lua ocorrem quando o barco que a encerra se volta aos poucos em nossa direção.
Dia e noite, meses e estações, chuvas, ventos e demais fenômenos são conseqüências de diferentes evaporações. Pois a brilhante evaporação, inflamando-se no círculo do Sol, produz o dia; e, quando a contrária prevalece, produz a noite; e, quando da evaporação brilhante nasce o calor, faz verão; mas, quando da sombra o úmido prevalece, faz-se o inverno.

O Deus e a alma
Dentro do pensamento de Heráclito, Deus não tinha a aparência de um homem nem de outro animal qualquer. Deus não era nem criador, nem onipotente. Heráclito limitava-se a identificá-lo com os opostos, os quais persistem apesar de suas mudanças e assim são capazes de compreender sua própria unidade.
“O Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome; mas se alterna como o fogo, quando se mistura a incensos, e se denomina segundo o gosto de cada um.”
Nesse argumento, podemos ver que Heráclito considerava as diversas divindades da mitologia grega, que eram adoradas pelos homens de seu tempo, como sendo apenas fogo misturado a diferentes tipos de incensos.
E a alma consiste apenas de mais uma rarefação do fogo e sofre as mesmas mudanças que todas as outras coisas também experimentam; e a morte traz a completa extinção da alma.
“Para almas é morte tornar-se água, e para água é morte tornar-se terra, e de terra nasce água, e de água alma.”
Novamente aqui, nesse raciocínio, vemos Heráclito descrever seus caminhos “para baixo” e “para cima”.







Górgias de Leontini (Lentini, 480 a.C. - Tessália, 375 a.C.) foi professor de retórica, filósofo e embaixador em Atenas, tendo ensinado na Sicília e em várias cidades gregas até estabelecer-se na Tessália, local onde morreu com 105 anos de idade.

Górgias demonstrou a confusão entre os dois sentidos do verbo "ser": tal verbo pode tanto ser um verbo de ligação, quanto assumir o significado de existir.

Ele também diferenciou a realidade (o ser), o pensamento (o pensar) e a linguagem (o dizer). Ele percebeu que se pode pensar e dizer coisas irreais; pode acontecer também que o real seja incognoscível (não pode ser conhecido) e incomunicável; e pode ocorrer também que o real, mesmo sendo cognoscível, seja incomunicável.

Górgias representa muito bem a prática sofista da retórica. Além de ter sido professor nesse campo, também reconhecia que a palavra tem um certo poder, já que a retórica destina-se justamente a convencer outras pessoas a adotarem determinado ponto de vista.

Antístenes, fundador do Cinismo, foi ouvinte de Górgias, e Platão escreveu um diálogo intitulado Górgias, onde discute a função e a validade da retórica.


Górgias de Leontini: O grande orador



"O bom orador é capaz de convencer qualquer
Pessoa sobre qualquer coisa". Górgias

Górgias de Leontini ( 487-380 aC.), considerado um dos grandes oradores da Grécia. Aprofundou o subjetivismo relativista de Protágoras a ponto de defender o ceticismo absoluto. Afirmava que:
A)- Nada existia;
B)-se existisse, não poderia ser conhecido;C)-Mesmo que fosse conhecido, não poderia ser comunicado a mingúem.


Ascetismo prático

Enquanto Protágoras e Górgias, ao ensinar o ascetismo puramente teórico, haviam deixado intactos todos os fundamentos da vida moral e social, outros sofistas aplicaram o ascetismo e relativismo à vida prática.
Hípias: ensinou que a lei é o tirano dos homens.
Polo e Trasímaco: ensinaram que nada é justo, senão o que é útil ao mais forte.

Calicles: ensinou que a vida boa consiste em que cada um dê satisfação a sua consciência da melhor maneira que consiga.

Não se pode negar a originalidade de muitos pensamentos dos sofistas. Houve entre eles muitos pensadores talentosos e sua influência no ambiente grego foi enorme. Mas toda essa cultura sofista tem um significado mais negativo que positivo para a causa do ascetismo. Sem dúvida também os sofistas impulsionaram o progresso da filosofia. Não só são merecedores de apreço pelo exercício da retórica e o desenvolvimento do método dialético, mas também que sua própria discussão ascética dos resultados do pensamento pré-socrático obrigou os filósofos posteriores a investigações mais profundas.

Toda a filosofia pré-socrática tinha obscuridade em suas expressões. Os sofistas abandonaram a forma poética e expressaram suas idéias em termos mais claros e precisos e, assim, contribuíram para a formação do estilo filosófico. Além disso, com os sofistas a filosofia saiu do estreito recinto das escolas e se divulgou em todo o povo grego. Finalmente não se pode esquecer que os sofistas foram os primeiros a deixar de lado a investigação cosmológica e estudar as questões da teoria do conhecimento, a psicologia e a ética e deram início ao período antropológico da filosofia grega.

Tags:Ascetismo
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Górgias
05/02/2009
Górgias de Leontini (480 a 375 AC) Nascido na Sicília foi para Atenas na qualidade de embaixador. Ensinou a arte da retórica em vários locais. Primeiramente professou a doutrina eleática mas depois assumiu o ascetismo que levou até o extremo em três teses: 1º que nada existe, 2º que ainda que existisse, não poderia ser conhecido e 3º que ainda que existisse e pudesse ser conhecido não poderia ser comunicado aos demais. Górcias, com essas três negações foi muito além de um vulgar ascetismo proclamando um desconcertante niilismo. Mas, “Górgias estaria falando sério?”. Zeller vê nas teses de Górgias somente uma tentativa de levar até o absurdo as possibilidades contidas no eleatismo. Seu sentido seria o seguinte: são tantas as antinomias que se seguem à admissão do ser que o mais lógico é dizer que nada existe.

Tags:Ascetismo, Eleatismo, Niilismo
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Sofística e sofistas
03/02/2009
A palavra sofista era, antigamente, sinônima de sábio e se aplicava indistintamente para poetas, músicos e filósofos. Mas no século V AC toma uma outra conotação pejorativa e se aplica a um grupo de mestres ambulantes que vão para as cidades gregas ensinando o que eles chamam de “sabedoria” em troca de polpudos honorários. Essa acepção pejorativa da palavra toma mais força com Platão e Aristóteles. “É sofista, disse Platão, aquele que em sua disputa se compromete ao afirmar coisas contraditórias e com suas palavras engana de maneira maravilhosa seus ouvintes”. Aristóteles diz “Sofista é aquele que tira dinheiro da ciência que parece ser e não é”. Ambas definições coincidem em que a ciência dos sofistas é aparente e enganosa, pura inutilidade retórica e malabarismo conceitual no sentido de deslumbrar os ouvintes e sacar destes bons volumes de dinheiro. Platão não deixou de lado uma série de modelos interessantes para contrapor argumentações sofísticas envolvendo os sofistas em um turbilhão de palavras. Os sofistas ensinam o ascetismo e o relativismo tanto teoricamente como praticamente. A seguir veremos mais ao estudarmos Protágoras de Abdera e Górgias de Leontini.

Empédocles +Ferécides de Siro + Filolau de Crotona




Filolau de Crotona
Ao contrário de Pitágoras, sobre quem pesa a possibilidade de não ter realmente existido, o pitagórico Filolau de Crotona (gr. Φιλόλαος) é personagem indubitavelmente histórico. Parece ter sido o primeiro a divulgar as doutrinas pitagóricas e, graças a ele, dispomos de informações sobre os pitagóricos antigos.

Biografia
Praticamente nada se sabe de sua biografia; nossa única fonte é Diógenes Laércio. Filolau nasceu em Crotona (D.L. 8.84), ou em Metaponto, ou em Tarento (Iamb. VP 36), em meados do século -V, e suas atividades parecem ter se desenvolvido até o início do século -IV, pelo menos. Atribui-se, tradicionalmente, o ano -470 ao seu nascimento e o ano -385 à sua morte.

É provável que tenha vivido algum tempo em Tarento, na Magna Grécia, e que visitou Tebas. Possivelmente, escreveu um livro a respeito da doutrina pitagórica, denominado Da Natureza, o primeiro escrito por um dos pitagóricos. Parece que, anos depois de sua morte, o livro foi adquirido por Platão.

Seus principais discípulos foram Arquitas de Tarento (-428/-347), Cebes e Símias; os dois últimos são personagens de importantes diálogos platônicos, Fedo e Críton, respectivamente.

Pensamento e obra
Do livro de Filolau de Crotona, escrito em dialeto dórico, restam alguns poucos fragmentos e os testemunhos de vários eruditos que o leram ou conviveram com ele e outros pitagóricos, e receberam informações orais.

Na cosmologia de Filolau, os componentes do Universo pertencem a dois grupos, apenas, o dos limitadores e o dos ilimitados. Ignora-se o que eram, exatamente, esses limitadores e ilimitados, mas certamente aplicavam-se a coisas como terra, água, ar, fogo, espaço e tempo. Esses dois componentes básicos eram sujeitos à "harmonia", um processo de mútuo ajustamento entre "coisas dessemelhantes, de diferente espécie e de ordem desigual" (Philol. Fr. 4). O exemplo dado por Filolau sobre a harmonia de limitadores e ilimitados é o da escala musical, que define os sons de acordo com um certo número de proporções: a oitava, a quinta e a quarta correspondem a 2:1, 4:3 e 3:2, respectivamente. O Universo estaria portanto estruturado por relações numéricas, e para conhecê-lo é preciso conhecê-las (Philol. Fr. 4).

O conceito dos opostos e o da harmonia foram também usados por Filolau na tentativa de explicar a natureza da alma (Arist. de An. 407b), que ele situava no coração (Philol. Fr. 13).

Contribuição à Astronomia
Filolau acreditava que, no centro do universo, encontrava-se fogo e que a Terra era apenas um de seus astros; a Terra, ao fazer um movimento circular em volta do fogo central, dava origem ao dia e à noite.

Imaginava também que, além dos outros quatro planetas conhecidos[1], existia uma Terra em oposição à nossa, a Anti-Terra. Além dela, havia nove corpos celestes que se moviam no céu: a Terra, o Sol, a Lua, os cinco planetas e, acima de todos, uma esfera de estrelas fixas. Ele parece ter sido o primeiro filósofo a deslocar a Terra do centro do Universo.

Fragmentos, edições e traduções
Cerca de 20 fragmentos de sua obra chegaram até nós, dentre os quais onze são provavelmente genuínos — assim como ocorreu com Pitágoras, muitos textos atribuídos a ele foram escritos muito depois de sua morte. Extensas passagens sobre suas idéias, no entanto, foram conservadas e comentadas por Aristóteles e por Estobeu.

As coletâneas mais importantes são a de Boeckh (1819) e Diels e Kranz (61952). O trabalho de Kirk, Raven e Schofield (41994), que existe em tradução portuguesa, contém vários fragmentos traduzidos e comentados.

A doxografia e os fragmentos foram reunidos e traduzidos para o português por Gerd Bornheim, em 1967.




Ferécides de Siro


Ferécides de Siro ( do grego Φερεκύδης) é um filósofo grego pré-socrático.Descrito por Aristóteles como um teólogo que misturava filosofia e mitologia. Conhecido como autor de uma obra que descreve a origem do mundo intitulada As cinco cavernas. Está também associado à criação da doutrina da metempsicose.





Empédocles




O mais extravagante dos primeiros filósofos da Itália grega foi Empédocles, que surgiu na metade do século V. Nasceu em Acragas, cidade costeira ao sulda Sicília, atual Agrigento. O porto desta cidade foi batizado de Porto Empédocles, embora isto não seja um sinal de uma perene veneração ao filósofo, mas antes à paixão, no Risorgimento italiano, de rebatizar locais em homenagem às glórias passadas da Itália.

Empédocles nasceu em uma família aristocrática que possuía um haverás de cavalos premiados. Na política, todavia, possui a fama de ter sido um democrata, do qual se conta ter frustrado um plano para tornar a cidade uma ditadura. Conta a história que os agradecidos cidadãos quiseram fazê-lo rei, mas ele teria declinado do cargo, preferindo seu modo de vida frugal como médico e conselheiro (DL 8, 63). A sua ausência de ambição não era contudo sinal de falta de vaidade. Em um de seus poemas ele se jacta de que onde quer que vá homens e mulheres o pressionam em busca de aconselhamento e tratamento. Ele afirmava possuir drogas para retardar a velhice, além de conhecer alguns encantamentos para controlar o clima. No mesmo poema, de modo franco, ele diz ter alcançado a condição de divindade (DL 8, 66).

Muitas tradições bibliográficas, nem todas possíveis do ponto de vista cronológico, fazem de Empédocles em

discípulo de Pitágoras, de Xenófanes e de Parmênides. É certo que ele imitou Parmênides ao escrever um poema em forma hexametral, “Sobre a natureza”. Este poema, dedicado a seu amigo Pausanias, continha cerca de duas mil linhas, das quais chegou até nós apenas uma quinta parte. Ele também escreveu um poema religioso, “Purificações”, do qual muito menos se preservou. Os estudiosos não chegaram a um consenso sobre a qual dos dois poemas devem ser agregadas a maior parte das citações dispersas que sobreviveram – alguns, na verdade, julgam que os dois poemas sejam fragmentos pertencentes a uma única obra. Peças adicionais desse quebra-cabeça textual foram recuperadas quando quarenta fragmentos de papiro foram identificados nos arquivos da Universidade de Estrasburgo em 1994. Como poeta, Empédocles era mais fluente que Parmênides, alem de mais versátil. Segundo Aristóteles, ele teria escrito um épico sobre a invasão da Grécia por Xerxes, e de acordo co

m outras tradições teria o autor de muitas tragédias (DL 8, 57).





A filosofia da natureza de Empédocles pode ser considerada, de certo ponto de vista, uma síntese do pensamento dos filósofos Jônicos. Como vimos, cada um deles havia escolhido certa substância como princípio básico ou dominante do universo: Tales havia privilegiad


o a água, Anaxímenes o ar, Xenófanes a terra e Heráclito o fogo. Para Empédocles, todas essas quatro substâncias mantinham-se em iguais condições como ingredientes fundamentais, ou “raízes”, como ele dizia, do universo. Essas raízes sempre existiram, ele declarava, mas elas se misturaram entre si em proporções variadas, de modo a produzir o desenho familiar do mundo assim como as coisas do céu.



Dessas quatro saiu tudo o que foi, é e sempre será:

Árvores, animais e seres humanos, machos e fêmeas todos,

Pássaros do ar e peixes gerados pela água brilhante;

Os envelhecidos deuses também, de há muito louvados nas alturas.

Estes quatro são tudo o que há, cada um se entranhando no outro

E, ao misturar-se, variedade ao mundo dando.

(KRS 355)

O que Empédocles denominava “raízes” era aquilo que Platão e pensadores gregos posteriores chamavamstoitheia, uma palavra utilizada para denominar as silabas de uma palavra. A tradução latina, elementum, da qual deriva nossa palavra “elemento”, compara as raízes não a silabas, mas às letras do alfabeto: um elemntum é um LMNto. Filósofos e cientistas atribuíram ao quarteto de elementos de Empédocles um papel fundamental na física e na química até o advento de Boyle, no século XVII. Na verdade, pode-se alegar que ele ainda permanece conosco, numa forma alterada. Empédocles pensava seus quatro elementos como quatro tipos diferentes de matéria; nós consideramos o sólido, o líquido e o gasoso os três estados da matéria. Gelo, água e vapor poderiam ser, para Empédocles, instancias específicas de terra, água e ar, enquanto para nós eles são três estados da mesma substância; H2O. Não é irracional pensar no fogo, e especialmente no fogo do sol, como um quarto elemento de igual importância. Alguém poderia dizer que o surgimento no século XX da ciência da física do plasma, que estuda as propriedades da matéria a temperaturas solares, recuperou a paridade do quarto elemento de Empédocles aos outros três.





Aristóteles louvava Empédocles por ter percebido que uma teoria do cosmos não poderia apenas identificar os elementos do universo, mas deveria atribuir causas para o desenvolvimento e a mistura dos elementos para formar os componentes vivos e inanimados do mundo real. Empédocles atribuiu esse papel ao Amor [Philia] e ao Ódio [Neikos]; O Amor combinando os elementos, e o Ódio separando-os. Em determinado momento as raízes crescem para ser uma entre muitas, em outra ocasião dividem-se para ser muitas a partir de uma. Estas coisas, ele afirmou, jamais cessam esse intercâmbio contínuo, unindo-se às vezes por força do Amor, separando-se depois umas das outras pela força do Ódio.

O Amor e o Ódio são os antepassados pitorescos das forças de atração e repulsão que figuraram na teoria da física através dos séculos. Para Empédocles, a história é um ciclo em que algumas vezes o Amor é dominante, e em outras é o Ódio. Sob a influência do Amor, os elementos se combinam em uma esfera homogênea [sphairos], harmoniosa e resplandecente, herdeira do univeso de Parmênides. Sob a influência do Ódio, os elementos separam, mas assim que o Amor começa a ganhar o território que havia perdido aparecem todas as diferentes espécies de seres vivos (KRS 360). Todos os seres compostos, como os animais, as aves e os peixes, são criaturas temporárias que surgem e partem; somente os elementos são eternos, e somente o ciclo cósmico continua sempre.

Para explicar a origem das espécies vivas, Empédocles concebeu uma notável teoria da evolução a partir da sobrevivência do mais apto. No início, carne e osso surgiram como composições químicas de elementos, a carne sendo constituída de fogo, ar e água em partes iguais, o osso constituindo-se de duas partes de água, duas de terra e quatro de fogo. A partir desses constituintes, formaram-se membros e órgãos do corpo não unidos; olhos fora das cavidades, braços sem ombros e rostos sem pescoços (KRS 375-6). Estes órgãos vagaram por aí até encontrar pares ao acaso; fizeram uniões, que nessa primeira fase resultaram com freqüência não muito adequadas. Disso resultaram várias monstruosidades: homens com cabeça de boi, bois com cabeça de homem, criaturas andróginas com rostos e seios na frente e nas costas (KRS 379). A maioria desses organismos do acaso eram frágeis ou estéreis e somente as estruturas mais bem adaptadas sobreviveram para tornar-se o homem e as espécies animais que conhecemos. Sua capacidade de reproduzir foi algo devido ao acaso, não a um plano (Aristóteles, Fis. 2, 8, 198b29).

Aristóteles prestou tributo a Empédocles por ter sido o primeiro a notar o importante princípio biológico de que diferentes partes do organismos vivos não assemelhados podem possuir funções homologas, a saber, azeitonas e ovos, folhas e penas (Aristóteles, GA 1, 23, 731a4). Mas ele demonstrava desprezar a tentativa de Empédocles de reduzir a teleologia ao acaso, e por muitos séculos os biólogos nisso acompanharam Aristóteles e não Empédocles, o qual riu por último quando Darwin o saudou por “retirar das sombras o princípio da seleção natural”[i].




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Empédocles empregou seu quarteto de elementos para oferecer uma explicação da senso-percepção, baseado no princípio de que o semelhante é reconhecido pelo semelhante. Em seu poema “Purificações” ele combinou sua teoria da matéria com a doutrina pitagórica da metempsicose. Os pecadores – sejam divinos ou humanos – são punidos quando o Ódio aprisiona suas almas em diferentes tipos de criaturas na terra e no mar. Um ciclo de reencarnação oferece a esperança de um eventual deificação para classes privilegiadas de homens: videntes, bardos, doutores e príncipes (KRS 409). Naturalmente, Empédocles alegava identificar-se com todas essas profissões.

Em sua escrita, Empédocles move-se erraticamente entre um estilo austeramente mecânico e um outro de caráter critico-religioso. Algumas vezes ele faz uso de nome divinos para seus quatro elementos (Zeus, Hera, Hades e Nestis) e identifica o seu Amor com a deusa Afrodite, a quem ele homenageia em termos que antecipa a frente “Ode à alegria” de Schiller (KRS 349). Sem dúvida, sua afirmação da própria divindade pode ser reduzida da mesma maneira pela qual ele demitologiza os deuses Olímpicos, embora tenha sido o que chamou a atenção de seus pósteros, especialmente na lenda sobre sua morte.

Conta a história que uma mulher chamada Pantéia, declarada morta pelos médicos, foi milagrosamente restituída à vida por Empédocles. Para comemorar, ele ofereceu um banquete sacrificial a oitenta convidados na casa de um homem rico aos pés do Etna. Quando os outros convidados se recolheram para dormir, Empédocles ouviu chamaram seu nome dos céus. Ele dirigiu-se rapidamente ao cume do vulcão, quando então, nas palavras de Milton,

Para ser considerado

Um Deus, saltou imprudente nas chamas do Etna.

(Paraíso perdido, III, 470)

Matthew Arnold dramatizou essa história em seu Empédocles no Etna, em que faz o filósofo pronunciar estes versos à beira da cratera:

Este coração não mais brilhará; sua condição

Não mais será a de um homem vivo, Empédocles!

Nada senão uma consumidora chama de pensamento –

Mas mente nua somente, incansável na eternidade!

Para os elementos dos quais veio

Tudo irá retornar

Nossos corpos à terra,

Nosso sangue à água.

O calor ao fogo,

O fôlego ao ar.

Estes nasceram de fato, serão de fato enterrados –

Mas a mente?

(linhas 326-338)

Arnold concede ao filósofo, antes de seu mergulho final, a esperança de que, como recompensa por seu amor à verdade, sua mente jamais perecerá totalmente.


Empédocles (gr. Ἐμπεδοκλῆς) foi um filósofo, médico, legislador, professor, místico além de profeta, foi defensor da democracia e sustentava a idéia de que o mundo seria constituído por quatro princípios: Água, Ar, Fogo e Terra.

Tudo seria uma determinada mistura desses quatro elementos, em maior ou menor grau, e seriam o que de imutável e indestrutível existiria no mundo.


Vida e Obra
Nasceu por volta de 492 a.c. era vulgaris em Acragás ("Agrigento"), rica cidade da Magna Grécia. Sua família era aristocrática e influente; conseqüentemente, Empédocles participou das atividades políticas de sua cidade durante algum tempo. Depois, viajou por muitos lugares e faleceu, mais ou menos aos sessenta anos, em local ignorado; nada mais se conhece de certo a respeito de sua vida.

Cerca de 450 versos de dois extensos poemas em versos hexâmetros, conhecidos tradicionalmente por Da Natureza e Purificações, chegaram até nós; segundo Rocha Pereira (1993), o primeiro poema foi escrito por um cientista e o segundo, por um visionário. Da Natureza trata de temas científicos e filosóficos; Purificações aborda predominantemente a natureza e o destino da alma. Nem sempre a distinção é nítida mas, a despeito de aparentes inconsistências, as duas obras parecem ter sido escritas pela mesma pessoa.

Pensamento
A doutrina cosmogônica delineada no poema Da Natureza explicava toda a existência em termos de coesão e combinação de quatro "raízes" ou elementos básicos irredutíveis que interagiam ciclicamente através de dois princípios. Esses quatro elementos — Terra, Água, Fogo e Ar — preenchiam inteiramente o espaço, mantinham eternamente sua individualidade e eram "isonômicos", isto é, de igual importância. Os dois princípios, Amor e Discórdia, promoviam a união ou a desunião dos elementos em um ciclo cósmico em que predominava ora um, ora outro. A alma era também o resultado da interação dos quatro elementos e dos dois princípios.

Ao monismo e ao imobilismo dos eleatas, Empédocles opôs, portanto, pluralismo e movimento. Suas idéias, conhecidas entre nós por "doutrina dos quatro elementos", influenciaram profundamente Platão, Aristóteles, os estóicos e também as ciências, notadamente a medicina. Os quatro elementos só perderam o prestígio na segunda metade do século XVIII a partir dos estudos de Lavoisier (1743/1794).

Assim como Pitágoras, Empédocles defendia a transmigração das almas através de um longo ciclo de reencarnações, condicionado pelas conseqüências de alguma grave ofensa cometida. Em outros trechos de suas obras, Empédocles apresentava-se como curandeiro, capaz de ressuscitar os mortos, como mago capaz de influenciar os ventos e a chuva e até mesmo como uma divindade.

Deriva daí, possivelmente, a significativa quantidade de histórias fantásticas e anedotas que circularam a seu respeito durante toda a Antigüidade

CRÍTIAS + DEMÓCRITO DE ABDERA+ DIOGENES DE APOLÓNIA







Diógenes de Apolônia

Diógenes de Apolónia (português europeu) ou Apolônia (português brasileiro) (viveu no século V a.C. - 499 a.C. – 428 a.C ) foi um filósofo grego. Praticamente nada se sabe sobre sua vida, apenas que seu pai era um banqueiro e que ele foi exilado de sua cidade natal por falsificar moedas, na verdade fugiu antes mesmo de ser exilado. Foi contemporâneo de Anaxágoras de Clazômenas e pode ser considerado o último filósofo pré-socrático. Do ponto de vista doutrinário, sua filosofia é uma espécie de retorno ao modo de pensar jônio. Diógenes assumiu um único princípio primordial - o ar - e pretendeu explicar os mais variados fenômenos a partir dele. Ao mesmo tempo, também encontrou espaço para o nous de Anaxágoras em seu sitema filosófico e isso revela um caráter eclético em seu pensamento.

Sabe-se que escreveu uma Meteorologia, um livro chamado Da natureza do homem e outro chamado Sobre a ciência natural. Todos os fragmentos que chegaram até nós derivam desta última obra.




Diógenes de Apolônia (499 - 428 a.C )


È considerado o último dos filósofos pré-socráticos, defende o monismo, ou seja, a unidade da realidade como um todo porque se o mundo tiver origens em diversos elementos que sejam diferentes entre si eles não poderiam se misturar e atuar uns sobre os outros. As coisas devem se originar através da transformação de um mesmo elemento. Para Diógenes esse elemento é o que ele chama de ar infinito que é um elemento inteligente. Esse ar inteligente administra e governa tudo e se assemelha com Deus pois está em todas as partes, utiliza-se de todas as coisas e está dentro de tudo.

Não existe nada que não tome parte desse ar inteligente e nenhuma coisa participa dele na mesma medida que outra coisa. Existem muitas formas desse ar e dessa inteligência. Ele pode ser mais quente ou mais frio, mais seco ou mais úmido, mais parado ou mais em movimento. Ele pode também se modificar infinitamente através dos prazeres e das cores.

As almas de todos os animais são feitas da mesma coisa, um ar mais quente do que aquele fora de nós mas mais frio do que aquele que está perto do sol. O que difere os animais é o calor das almas que é um pouco diferente em cada um, umas são mais quentes e outras mais frias, mas todos vivem, ouvem e vêem por resultado do elemento ar e da sua inteligência.

A nossa alma é um ar pensante que enquanto vivemos e respiramos se manifesta, mas quando o último ar sai de nós através do último suspiro, morremos.

Diógenes vai explicar os mais diferentes fenômenos a partir desse ar infinito e consciente. O ar se condensa, se rarefaz e sofre mutações de qualidade, produzindo as outras coisas em suas formas. Ele escolhe o ar como fundamento pois esse se adapta bem às mudanças o que não acontece com a terra que dificilmente se move ou muda.

Sentenças:
- A terra é redonda, está ao centro, suportada pelo ar. O sol é uma espécie de pedra pomes.
- Nada procede do não ser, e nada se resolve no não-ser.
- Me parece, que todos os entes são diversificações de um só e são um só.
- E isto é bem claro: porque, se os que agora existem neste mundo, - a terra, a água, o ar, o fogo e todos os mais que aparecem neste mundo, - fosse cada um diferente do outro, diferente por sua própria substância, e não um mesmo ente que de muitas maneiras muda e se diversifica, de nenhum modo poderiam eles misturar-se uns com os outros, nem ajudar-se ou prejudicar-se entre si.
Não poderia a planta surgir da terra, nem o animal, nem outra coisa poderia nascer, se não estivessem de tal modo constituídos que fossem o mesmo.
Todos estes entes, uma vez que se diversificam a partir de um só, se tornam diferentes em circunstancias diversas e retornam ao mesmo.
- Para quem começa um discurso é necessário que exiba um começo sem disputas e uma explanação simples e sóbria.
- O ar é o princípio de todas as coisas. Existem mundo infinitos e infinito é também o espaço. O ar produz os mundos ao condensar-se e rarefazer-se. Nada procede do não ser, e nada se resolve no não-ser.



Diógenes de Apolônia, o físico
(Filósofo pré-socrático e médico )
~ 490 - 425 a.C.




Filósofo pré-socrático e médico nascido em Apolônia, cidade fundada pelos milésios na região do Ponto, atual noreste da Turquía, a qual não deve ser confundida com outra cidade cretense de mesmo nome, conhecido por suas teorias ecléticas e, portanto, fundador do ecletismo. De sua vida quase nada se sabe, porém Diógenes Laércio (240-310) afirmou que ele foi contemporâneo de Anaxágoras (499-428 a. C.) e dos sofistas. Escreveu um livro intitulado Sobre a Natureza e, além deste, mais três escritos, ao que se tem notícia: Contra os Sofistas, Meteorologia e Da Natureza do Homem. Segundo comentadores antigos, teria sido médico, interessando-se em investigar, em seus escritos, questões relativas à anatomia humana, e também teria se dedicado às causas das doenças, tanto quanto às questões de caráter filosófico. Do todo de seus escritos, chegaram até hoje apenas fragmentos, conservados sob forma de citação ou comentário (doxografia) em obras de pensadores posteriores. Diógenes é considerado, quanto a seu pensamento, um continuador da escola milésia, embora incorpore elementos da filosofia de Anaxágoras (499-428 a. C.), com quem teria estudado. Provavelmente morreu em Atenas e juntamente com Demócrito de Abdera (460-370 a. C.) , encerraram o denominado período pré-socrático. Seu pensamento tinha como princípio que o ar era a fonte de vida para todos os entes animados. E onde há vida, há também pensamento, pois, assim que algo morre, seu pensamento prontamente se apaga. Se tudo é composto de ar, através de sua condensação e rarefação todas as coisas poderiam ser geradas ou destruídas, então a ele caberia, também, ser considerado como uma divindade. O ar figurava, desta forma, como o princípio único, eterno e ilimitado para todas as coisas, uma vez que sempre esteve e está em toda parte. Não confundir com Diógenes de Sínope, o cínico (413-323 a. C.).






suas Teorias
Demócrito fez uma tentativa bem independente de reconstrução. Como Sócrates, seu contemporâneo, defrontou-se com as dificuldades referentes ao conhecimento, levantadas pelo seu concidadão Protágoras e outros, e, da mesma forma que ele, deu grande atenção ao problema do comportamento, ao qual também os sofistas deram impulsos. Ao contrário de Sócrates, porém, ele era um autor volumoso, e nós ainda podemos constatar, através dos scus fragmentos, que era um dos maiores escritores da Antigüidade. Para nos, contudo, é como se não tivesse escrito quase nada; de fato, sabemos menos a seu respeito do que de Sócrates. Isto deve-se ao fato de ele ter escrito em Abdera, e as suas obras na realidade nunca foram bem conhecidas em Atenas, onde teriam tido a possibilidade de serem preservadas, como aquelas de Anaxágoras e outrem, na biblioteca da Academia. Não é certo que Platão haja conhecido alguma coisa sobre Demócrito, pois que as poucas passagens no Timeu e alhures, no qual parece que o reproduz, são facilmente explicadas pelas influências pitagóricas que afetaram a ambos. Aristóteles, por outro lado, conhece bem Demócrito, pois era também jônio do Norte.

É certo, não obstante, que as obras completas de Demócrito (que incluem as obras de Leucipo e outros, bem como as de Demócrito) continuaram a existir, porquanto a escola as conservou em Abdera e Teos ao longo dos tempos helenísticos. Por isso, foi possível para Trasilo, sob o reinado de Tibério, fazer uma edição das obras de Demócrito, organizada em tetralogias, exatamente como sua edição dos diálogos de Platão. Mesmo isso não foi suficiente para preservá-las. Os epicuristas, que tinham a obrigação de ter estudado o homem a quem deviam tanto, detestavam qualquer tipo de estudo, e provavelmente nem se preocuparam em multiplicar os exemplares de um escritor cujas obras teriam sido um testemunho permanente para a carência de originalidade que caracterizou o próprio sistema deles.

Sabemos extremamente pouco sobre a vida de Demócrito. Como Protágoras, era natural de Abdera na Trácia, uma cidade que nem mereceria a reputação proverbial de embotamento, considerando que pode dar origem a dois homens de tanta envergadura. Quanto à data do seu nascimento, temos apenas conjeturas para nos orientar. Em uma das principais obras, afirmou que elas foram escritas 730 anos após a queda de Tróia; não sabemos; porém, quando, segundo a suposição dele, isto ocorrera. Havia nessa época e posteriormente diversas eras em uso. Disse também algures que, quando Anaxágoras era velho, ele era jovem, e a partir dai concluiu-se que nasceu em 460 a.C. Parece, entretanto, cedo demais, visto estar baseado na hipótese de que tinha quarenta anos quando se encontrou com Anaxágoras, e a expressão "jovem" sugere menos que esta idade. Demais, cumpre-nos encontrar um espaço para Leucipo entre eles [Demócrito] e Zenão. Se Demócrito morreu, como se diz, com a idade de noventa ou cem anos, de qualquer maneira ainda vivia quando Platão fundara a Academia. Mesmo a partir de fundamentos meramente cronológicos, é falso classificar Demócrito entre os predecessores de Sócrates, e obscurece o fato de que, como Sócrates, ele tentou responder ao seu distinto concidadão Protágoras.

Demócrito foi discípulo de Leucipo, e temos uma prova contemporânea, a de Glauco de Régio, que também os pitagóricos foram seus mestres. Um membro posterior da escola, Apolodoro de Quizico, diz que tomou conhecimento por intermédio de Filolau, o que parece muito provável. Isto esclarece o seu conhecimento geométrico, bem como, outros aspectos do seu sistema. Sabemos, outrossim, que Demócrito falou nas obras das doutrinas de Parmênides e Zenão, que chegou a conhecê-las através de Leucipo. Fez menção a Anaxágoras, e parece ter dito que a sua teoria do sol e da lua não era original. Isto pode referir se à explicação dos eclipses, que geralmente fora atribuída em Atenas, e sem dúvida alguma na Jonia, a Anaxágoras, ainda que Demócrito naturalmente estivesse ciente de ser ela pitagórica.

Diz-se ter visitado o Egito, mas há uma certa razão para se acreditar que o fragmento onde isto é mencionado (fragmento 298 b) é apócrifo. Há um outro (fragmento 116) no qual ele diz: "Eu fui a Atenas e ninguém tomou conhecimento de mim". Se disse isto, sem dúvida deu a entender que não conseguira causar uma impressão tal como o fizera o seu mais brilhante concidadão Protágoras. Por outro lado, Demétrio de Falerão afirmou que Demócrito jamais visitou Atenas; então é possível que este fragmento também seja apócrifo. Seja como for, ele deve ter despendido a maior parte do seu tempo no estudo, ensinando e escrevendo em Abdera. Não era um sofista itinerante do tipo moderno, mas sim o cabeça de uma escola regular.

A verdadeira grandeza de Demócrito não está na teoria dos átomos e do vazio, que ele parece ter exposto bem conforme a tinha recebido de Leucipo. Menos ainda está no seu sistema cosmológico, que deriva mormente de Anaxágoras. Pertence inteiramente a uma outra geração que a desses homens, e não está preocupado de modo especial em encontrar uma resposta a Parmênides. A questão à qual tinha que se dedicar era a de sua própria época. A possibilidade de ciência havia sido negada, bem como todo o problema do conhecimento levantado por Protágoras, e era isto que exigia uma solução. Ademais, o problema do comportamento tornara-se premente. A originalidade de Demócrito, portanto, está precisamente na mesma linha que a de Sócrates.

Teoria do Conhecimento
Demócrito procedeu como Leucipo ao fazer uma avaliação puramente mecânica da sensação, e é provável que ele seja o autor da doutrina minuciosa dos átomos com respeito a este assunto. Uma vez que a alma se compõe de átomos como qualquer outra coisa, a sensação deve consistir no impacto dos átomos externos sobre os átomos da alma, e os órgãos dos sentidos devem ser simplesmente ''passagens" (póroi = poros) através das quais estes átomos se introduzem. Disto decorre que os objetos da visão não são estritamente as coisas que nós mesmos presumimos ver, mas as "imagens" (deíkela, eídola) que os corpos estão constantemente emitindo. A imagem na pupila do olho era considerada como a coisa essencial em visão. Não é, porém, uma semelhança exata do corpo do qual provém, pois está sujeita às distorções causadas pela interferência do ar. Este é o motivo por que vemos as coisas a distância de um modo embaraçado e indistinto, e por que, se a distância for grande, não podemos vê-las de modo algum. Se não houvesse ar, mas somente o vazio, entre nós e os objetos da visão, isto não seria assim; "poderíamos ver uma formiga rastejando no firmamento". As diferenças de cor devem-se à lisura ou aspereza das imagens ao tato. A audição explica-se de uma maneira similar. O som é uma torrente de átomos que jorram do corpo sonante e produzem movimento no ar entre ele [corpo] e o ouvido. Chegou, portanto, ao ouvido junto com aquelas porções do ar que se Ihe assemelham. As diferenças de paladar são devidas às diferenças nas figuras (eide, skhémata) dos átomos que entram em contato com os órgãos desse sentido; e o olfato explica-se semelhantemente, embora não com os mesmos detalhes. De modo idêntico, o tato, considerado como o sentido pelo qual sentimos o calor e o frio, o molhado e o seco e outros que tais, é afetado de acordo com a forma e o tamanho dos átomos chocando nele.

Aristóteles afirma que Demócrito reduziu todos os sentidos ao tato, e é realmente verdade se entendermos por tato o sentido que percebe qualidades, tais como forma, tamanho e peso. Este, todavia, deve ser cautelosamente distinguido do sentido próprio do tato, que acima foi descrito. Para compreender esta questão, temos que considerar a doutrina do conhecimento "legítimo" e "ilegítimo".

É aqui que Demócrito entra nitidamente em conflito com Protágoras, que asseverou serem todas as sensações igualmente verdadeiras para o objeto sensível. Demócrito, pelo contrário, considera falsas todas as sensações dos sentidos próprios, posto que elas não têm uma contrapartida real fora do objeto sensível. Nisto, naturalmente, está em conformidade com a tradição eleática onde repousa a teoria atômica. Parmênides afirmara claramente que o paladar, as cores, o som e outros semelhantes eram apenas "nomes" (onómata), e é bastante idêntico a Leucipo que disse algo de parecido, apesar de não haver razão de se acreditar que ele tenha elaborado uma teoria sobre o assunto. Seguindo o exemplo de Protágoras, Demócrito foi obrigado a ser explícito com referência à questão. Sua doutrina, felizmente, foi-nos preservada através de suas próprias palavras. "Por convenção (nómo)": disse ele (fragmento 125), "há o doce; por convenção há o amargo; por convenção há o quente e por convenção há o frio; por convenção há a cor".Porém, na realidade (etee), há os átomos e o vazio. Deveras, as nossas sensações não representam nada de externo, apesar de serem causadas por algo fora de nós, cuja verdadeira natureza não pode ser apreendida pelos sentidos próprios. Esta é a razão por que a mesma coisa às vezes dá a sensação de doce e às vezes de amargo. "Pelos sentidos", afirmou Demócrito (fragmento 9), "nós na verdade não conhecemos nada de certo, mas somente alguma coisa que muda de acordo com a disposição do corpo e das coisas que nele penetram ou Ihe opõem resistência". Não podemos conhecer a realidade deste modo, pois "a verdade jaz num abismo" (fragmento 117). Vê-se que esta doutrina tem muito em comum com a distinção moderna entre as qualidades primárias e secundárias da matéria.

Demócrito, pois, rejeita a sensação como fonte de conhecimento, exatamente como fizeram os pitagóricos e Sócrates; contudo, como eles, ressalva a possibilidade de ciência, afirmando que existe uma outra fonte de conhecimento que não a dos sentidos próprios. "Há", diz ele (fragmento 11), "duas formas de conhecimento (gnóme): o legítimo (gnesíe) e o ilegítimo (skotíe). Ao ilegítimo pertencem todos estes: a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato. O legítimo, porém, está separado daquele". Esta é a resposta de Demócrito a Protágoras. Ele diz que o mel, por exemplo, é tanto amargo quanto doce, doce para mim e amargo para você. Na realidade, é "não mais tal do que tal" (oudèn mãllon toion è toion). Sexto Empírico e Plutarco afirmaram claramente que Demócrito argüiu contra Protágoras, e o fato, por conseguinte, está fora da discussão.

Ao mesmo tempo, não se pode ignorar que Demócrito dera uma explicação puramente mecânica deste conhecimento legítimo, como o fizera do ilegítimo. Defendeu, com efeito, que os átomos fora de nós poderiam afetar diretamente os átomos da nossa alma sem a intervenção dos órgãos dos sentidos. Os átomos da alma não se restringem a algumas partes específicas do corpo, mas nele penetram em qualquer direção, e não há nada que os impeça de ter contato imediato com os átomos externos, chegando assim a conhecê-los como realmente são. O "conhecimento legítimo" é, afinal de contas, da mesma natureza do "ilegítimo", e Demócrito recusou-se, como Sócrates, a fazer uma separação absoluta entre os sentidos e o conhecimento. "Pobre Mente", imagina ele os sentidos dizerem (fragmento 125); "é por causa de nós que conseguiste as provas com as quais atiras contra nós. Teu tiro é uma capitulação." O conhecimento "legítimo" não é, apesar de tudo, pensamento, mas uma espécie de sentido interno, e seus objetos são como os "sensíveis comuns" de Aristóteles.

Como seria de esperar de um seguidor dos pitagóricos e de Zenão, Demócrito ocupou-se com o problema da continuidade. Em uma passagem digna de nota (fragmento 155), ele o confirma desta forma: "Se um cone fosse cortado por um plano em linha paralela à base, o que se deveria pensar das superfícies das duas partes cortadas? Seriam iguais ou desiguais? Se forem desiguais, farão irregular o cone, pois ele terá muitas incisões em forma de degraus e muitas asperezas. Se forem iguais, então as partes cortadas serão iguais, e o cone terá a aparência de um cilindro, que é composto de círculos iguais e não desiguais, o que é o maior absurdo". Segundo um comentário de Arquimedes, parece que Demócrito prosseguiu afirmando que o volume do cone era a terça parte do volume do cilindro sobre a mesma base e do mesmo peso, cujo teorema foi demonstrado primeiro por Eudoxo. É evidente, pois, que ele estava empenhado em problemas tais como aqueles que finalmente deram origem ao método infinitesimal do próprio Arquimedes. Vemos mais uma vez como foi importante a obra de Zenão como um fermento intelectual.

Teoria do Comportamento
As concepções de Demócrito sobre o comportamento seriam até mais interessantes do que a sua teoria do conhecimento, se pudéssemos restabelecê-las integralmente. É muito difícil, porém, ter certeza sobre quais dos preceitos morais a ele atribuídos são genuínos. Não há dúvida de que o tratado Sobre a Boa Disposição ou Bem-Estar (Perí Euthymíes) era seu. Foi utilizado livremente por Sêneca e Plutarco, e alguns fragmentos importantes do tratado sobreviveram.

[O tratado] partia (fragmento 4) do princípio de que o prazer e a dor (térpsis e aterpsíe) são o que determina a felicidade. Isto quer dizer fundamentalmente que a felicidade não deve ser procurada nos bens exteriores. "A felicidade não reside em rebanhos, nem em ouro; a alma é a moradia do daímon" (fragmento 171). Para compreender isto, devemos lembrar que a palavra daímon, que significava propriamente um espírito protetor do homem, tem sido usada no sentido equivalente de "boa sorte". É, como foi dito, o aspecto individual de týkhe, e a palavra grega que traduzimos por "felicidade" (eudaimonía) baseia-se neste uso. De um lado, pois, a doutrina da felicidade ensinada por Demócrito é intimamente afim com a de Sócrates, embora dê mais ênfase ao prazer e à dor. "O melhor para o homem é levar a vida com o máximo de alegria e o mínimo de aborrecimentos" (fragmento 189).

Isto não é, porém, hedonismo vulgar. Os prazeres dos sentidos são prazeres verdadeiros tão breves como as sensações são verdadeiro conhecimento. "O bom e o verdadeiro são a mesma coisa para todos os homens, mas o agradável é diferente para gente diferente" (fragmento 69). Além disso, os prazeres dos sentidos são de duração demasiado curta para preencher uma vida, e facilmente se transformam ao contrário. Nós somente podemos ter certeza de superar a dor pelo prazer se não procurarmos os nossos prazeres nas coisas "mortais" (fragmento 189).

O que devemos nos esforçar por conseguir é o "bem-estar" (euestó) ou a "alegria" (euthymíe), e este é um estado da alma. Para atingi-lo, devemos ser capazes de ponderar, julgar e discernir o valor dos diferentes prazeres. Demócrito afirmou, como Sócrates, que "a ignorância do melhor" (fragmento 83) é a causa do erro. Os homens puseram a culpa na sorte, mas esta é apenas uma "imagem" que inventaram para justificar a sua própria ignorância (fragmento 119). 0 grande principio que nos deve guiar é o da "simetria" ou "harmonia". Este é, sem dúvida, pitagórico. Se aplicarmos este critério aos prazeres, poderemos alcançar o sossego, o sossego do corpo, que é a saúde, e o sossego da alma, que é a alegria, cujo sossego se deve procurar principalmente nos bens da alma. "Quem escolhe os bens da alma, escolhe os mais divinos; quem escolhe os bens do 'tabernáculo' (isto é, o corpo), escolhe os humanos" (fragmento 37).

Para o nosso presente objetivo, não é necessário discutir detalhadamente a cosmologia de Demócrito. Ela é totalmente retrógrada e demonstra, se fosse preciso uma demonstração, que o seu real interesse está em outro sentido. Ele herdara a teoria dos átomos e do vazio de Leucipo, que foi um verdadeiro gênio neste campo, e, quanto ao resto, contentou-se em adotar a crua cosmologia dos jônios, como Leucipo houvera feito. Deve ter conhecido ainda o sistema mais cientifico de Filolau. A idéia da forma esférica da Terra era amplamente difundida na época de Demócrito, e Sócrates é descrito no Fédon tomando-a por certa. Para Demócrito, a Terra era ainda um disco. Ele também aderiu a Anaxágoras defendendo que a Terra era sustentada no ar "como a tampa de uma tina", cuja concepção Sócrates rejeita enfaticamente. Por outro lado, Demócrito parece ter contribuído valiosamente à ciência natural. Infelizmente, as nossas informações são extremamente escassas para possibilitar mesmo uma reconstrução aproximada do seu sistema. A perda da edição completa das suas obras feita por Trasilo é talvez a mais deplorável das muitas perdas desse tipo. É possível que tenham sido abandonadas à ruína porque Demócrito chegara a compartilhar do descrédito que o prendera aos epicureus. O que temos dele foi preservado principalmente porque ele foi um grande criador de frases notáveis, que foram dignas de constar nas antologias. Este, porém, não é o tipo de material que se requer para a interpretação de um sistema filosófico, e é muito duvidoso se de fato conhecemos as suas idéias mais profundas. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de reconhecer que é sobretudo pelo seu mérito literário que lamentamos a perda das obras. Tem-se a impressão de que ele se situa à parte da corrente principal da filosofia grega, e é a esta que devemos agora retornar. Do nosso ponto de vista, o único fato importante com referência a Demócrito é que ele também sentiu a necessidade de uma resposta a Protágoras.



Demócrito de Abdera



Nascimento c. 460 a.C.
Abdera, Grécia
Morte c. 370 a.C.
Nacionalidade Grego
Ocupação Filósofo, astrônomo, matemático
Escola/tradição Atomismo (co-fundador com Leucipo)
Principais interesses Epistemologia, Matemática, Astronomia, Metafísica, Ética, Física
Idéias notáveis Atomismo mecanicista
Influências Leucipo, Melisso, Xenófanes, Parmênides, Anaxágoras, Empédocles
Influenciados Epicuro, Lucrécio
Demócrito de Abdera (cerca de 460 a.C. - 370 a.C.) é tradicionalmente considerado um filósofo pré-socrático. Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de Sócrates. Do ponto de vista doutrinário, contudo, faz algum sentido considerá-lo pré-socrático, pois seu pensamento ainda é fortemente influenciado pela problemática da physis.

Demócrito foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica ou do atomismo. De acordo com essa teoria, tudo o que existe é composto por elementos indivisíveis chamados átomos (e é daí que vem a palavra átomo, que em grego significa "a", negação e "tomo", divisível. Átomo= indivisível). Não há certeza se a teoria foi concebida por ele ou por seu mestre Leucipo, e a ligação estreita entre ambos dificulta a identificação do que foi pensado por um ou por outro. Todavia, parece não haver dúvidas de ter sido Demócrito quem de fato sistematizou o pensamento e a teoria atomista. Demócrito avançou também com o conceito de um universo infinito, onde existem muito outros mundos como o nosso.

Na verdade, segundo Demócrito, existe um número infinito de mundos, sendo que pelo menos um deles, e talvez mais do que um, é uma cópia exata do nosso, com pessoas como nós. O conceito de um universo infinito contendo inúmeros mundos diferentes foi também aceito por outros pensadores, incluindo Friedrich Nietzsche.

Demócrito foi um escritor prolífico e Diógenes Laércio o menciona como autor de cerca de noventa obras. Dentre estas, destacam-se:

Pequena ordem do mundo;
Da forma;
Do entendimento;
Do bom ânimo;
Preceitos.

Uma célebre frase de Demócrito é: "Tudo que existe no universo é fruto do acaso e da necessidade"


Crítias

Crítias (em grego Κριτίας, 460-403 a.C.), filósofo nascido em Atenas, foi tio de Platão e um dos membros do grupo de Trinta Tiranos que governou a cidade, dos quais era um dos mais violentos. Era discípulo de Sócrates, fato que não ajudava Sócrates a ter uma imagem melhor junto ao público.

Crítias aparece como personagem de alguns diálogos de Platão. Foi uma figura obscura na história de Atenas. Uma única passagem , fragmento de uma tragédia de Eurípides, foi o suficiente para sua glória; nesta passagem ele expõe como Deus é a invenção de um sofista, hábil legislador.

É assim, eu o creio, que alguém, o primeiro,

Persuadiu os mortais de formar o pensamento

De que existem deuses.

(Crítias, B xxv, op. cit., p. 1145-1146)

Após Atenas cair nas mãos dos Espartanos, perseguiu vários de seus inimigos como tirano. Foi assassinado pelos democratas.


Crítias


Crítias nasceu por volta de 455 a.C., no seio de uma família nobre de tendências oligárquicas. Era primo da mãe de Platão e um grande opositor da democracia de Atenas.

Segundo Platão, Crítias era o exemplo perfeito do bom homem corrompido pela sociedade. Saudável, bem nascido e atraente, era também muito dotado para a filosofia e para a literatura. Para além disso, era um ávido ouvinte de Sócrates. Contudo, abandonou a filosofia para se dedicar à política. A sua primeira aparição política acontece em 415 a.C.. Ele era, simultaneamente, um grande opositor da democracia e um pró-Espartano e crê-se que, juntamente com o seu pai, tenha sido membro dos Quatrocentos, em 411 a.C..
Contudo, não foi imediatamente exilado após a queda deste governo e ajudou a preparar o regresso de Alcibíades. Mais tarde acabou por ser exilado na Tessália.

Após a capitulação de Atenas, em 404 a.C., regressou e foi eleito para a comissão dos Trinta Tiranos. Estes homens, eleitos no fim da guerra de Peloponeso, em 404 a.C, para escrever a constituição, ocuparam o governo e massacraram os seus opositores.

Platão descreve-o, na República, como um homem com as raízes da filosofia e com uma imensa capacidade para o bem e para o mal.

Foi morto na guerra civil de 403 a.C. contra os democratas, pouco antes da queda do regime oligárquico e do restabelecimento da democracia.

Os seus registos escritos são consideráveis e podemos encontrá-los em prosa e verso.

O seu interesse nos progressos tecnológicos é visível através de um conjunto de versos melancólicos em que atribui algumas invenções a pessoas e/ou países em particular. Alguns exemplos dessas invenções são: carroças, cadeiras, camas, trabalho de ourivesaria, etc. e, curiosamente, o jogo do Kottabos. Ele caracteriza os versos de melancólicos, uma vez que considera que esta capacidade de inventar já se perdeu.

O seu poema em louvor a Alcibíades aviva a elegia do seu antepassado Solon e de Teógnis, apesar de apresentar uma audácia característica de Crítias, uma vez que o nome de Alcibíades não surge mencionado em outras composições poéticas.

Não existem registos dos seus discursos mas Hermógenes refere uma colectânea de discursos públicos.

Existem dois fragmentos de Politeiai, um em prosa e outro em verso. O fragmento em prosa inclui uma descrição dos Tessálios, onde Crítias refere os seus modos extravagantes, e outra dos Espartanos. Crítias menciona os seus hábitos de beber, de vestir, de decoração e dança. O seu poema sobre os Espartanos tem como assunto central os seus hábitos de bebida, que eram muito moderados.

Os dois livros de Homilies tinham um conteúdo mais filosófico.

Crítias também escreveu dramas. Existem excertos de três tragédias: Tenes, Radamanto e Pirithoüs e uma longa passagem do drama satírico Sísifo, contendo a teoria da origem da religião.


O Radamanto contem uma lista dos valores mais importantes para homem. Este tipo de listas era muito comum, mas as de Crítias mostravam traços de pensamento sofístico, apresentando como factores essenciais, para além de berço e riqueza, a coragem de alertar o próximo para o que é mau.

Em verso, Crítias escreveu, essencialmente, Elegias e uma Constituição do Lacedemónia.

Em prosa, perderam-se os seus Prólogos de discursos políticos, a sua Constituição do Atenienses, e a Constituição dos Tessálios, mas conservaram-se os fragmentos da Constituição dos Lacedemónios, que é diferente da escrita em verso. Por estas Constituições em prosa, Crítias parece antecipar-se às investigações do mesmo tipo de Aristóteles e da sua escola. Crítias foi também no género, segundo Untersteiner, o primeiro a escrever Aforismos, assim como Conversações e um tratado perdido Da natureza do amor ou das virtudes.

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Crítias (460 a.C. – 403 a.C.), filho de Calescro, foi tio de Platão. Foi filósofo, retórico, poeta, historiador, e líder político. Mas ficou mais conhecido como um oligarca ateniense e um dos trinta tiranos que governou Atenas entre 404-403 a.C. Crítias, foi uma das figuras mais enigmáticas da Atenas do século V a.C.
O primeiro registo histórico de Crítias data de 415 a.C. em que foi acusado de ter participado na mutilação das hermas. No decorrer da investigação é ilibado. Existem algumas referências que o relacionam com os últimos anos da guerra de Peloponeso. Em 410 a. C. processou “Phrynicus” (Lycurgus, Against Leocrates 113) oligarca radical e líder dos Quatrocentos depois do colapso do seu regime.
Em 408 a.C. propõem numa das suas elegias o regresso de Alcibíades. Que acabou por regressar em 407 a.C. a Atenas, rapidamente Alcibíades atraiu de novo as suspeitas e voltou a deixar a cidade, provavelmente terá sido acompanhado por Crítias.
Em 404 a.C. regressa a Atenas depois da sua derrota com Esparta, para formar um governo oligárquico que foi conhecido como um dos trinta tiranos, que governou Atenas durante 404 a.C. a 403 a.C. Crítias foi uma figura destacada neste regime e depois da morte de Terâmenes, tornou-se no seu líder. A morte de Terâmenes foi ordenada por Crítias, já que este opôs-se abertamente a Crítias. Crítias foi acusado de muitas atrocidades, como a morte de Alcibíades que se tinha isolado na Trácia. Segundo os biógrafos “Cornelius Nepos” (Alcibiades 10) e “Plutarch” (Alcibiades 38.5) foi Crítias que deu a ordem de assassinato em 403 a.C.
Há indicações que Crítias teve controlo sobre a cavalaria ateniense e sobre os “Onze” que agiam como executores (Xenofonte, Hellenica 2.4.8).
Crítias também parece ter sido legislador principal deste regime (Xenofonte, Hellenica 2.3.49).
Em Maio de 403 a. C. Crítias morreu, numa batalha que ocorreu entre os democratas comandados por “Thrasybulus” e o exército dos Trinta.
Na perspectiva filosófica, Crítias parece ter sido o autor de homilias e aforismos. As homilias podem ser consideradas entendidas como “conferências” ou “conversas”. Estas homilias poderiam ter sido uma forma inicial de fazer diálogos, mas existem poucos fragmentos para clarificar esta questão. Se as homilias de Crítias eram de facto diálogos, podem ter influenciado Platão a escolher os diálogos como forma de apresentação da filosofia.
Existem alguns fragmentos da obra de Crítias, como o caso das tragédias “Tenes”, “Radamento” e “Piridus”. Crítias também foi um dos primeiros a constituições, como o caso da “Constituição dos Lacedemónios” em que evidenciava a sua admiração pela sociedade espartana, escreveu também a “Constituição dos Atenienses” e a “Constituição de Thessaly”.
O drama satírico “Sísifo” segundo “Sextus Empiricus” mostra o ateísmo de Crítias, já que neste texto refere que as leis e os deuses foram inventados por um homem sábio que desejou enganar e controlar o descanso da humanidade devido ao temor dos poderes sobrenaturais.
Xenofonte descreveu Crítias como um tirano amoral e cruel, esta imagem é reforçada por “Philostratus”, que chamo-o de “o maior mal … de todos os homens" (Vida dos Sofistas 1.16). Por outro lado Platão parece ter admirá-lo e ouso-o como orador em vários diálogos, como Protágoras, Timeu e Crítias.
Sócrates foi mestre de Crítias e Alcibíades e a sua conduta na idade adulta pode ter levado a acusação de Sócrates teria corrompido os jovens atenienses. E em última instância pode ter levado à morte deste.