“O conhecimento do passado é apenas
uma chave para entender o presente.”
Lorenzo Luzuriaga
RESUMO
O estudo da história da educação e da pedagogia é imprescindível
ao conhecimento da educação atual, pois, esta é um produto histórico.
A educação presente é ao mesmo tempo, fase do passado e
preparação do futuro. A história da educação estuda o passado como
explicação do estágio atual, ou seja, o conhecimento do passado é
apenas uma chave para entender o presente. Assim, o estudo da
história da educação, irá nos servir para encontrar o caminho de uma
educação realmente voltada para o desenvolvimento pleno do homem e
sua realização como cidadão. O presente trabalho, Revisitando a
Educação na Grécia Antiga: A Paidéia faz uma contextualização
histórica do mundo antigo, evidenciando as características do modo de
produção escravista e a organização social e política, preparando para
iniciar um estudo em que caracterizamos e refletimos sobre o ideal de
educação grega, ou seja, a Paidéia.
INTRODUÇÃO
Partimos do ponto de vista de que a História da Educação é parte
indissociável da História Geral, porém específica. É importante estudar a
educação no contexto histórico qual para observar a relação de influência, de
determinação, entre a educação e sistema social mais amplo.
A História da Educação, não estuda o passado pelo passado, como coisa
morta, mas utiliza esse conhecimento do passado como uma “chave” para
entender o presente.
O estudo da História da Educação e da pedagogia é importantíssimo para o
conhecimento da educação atual, pois, esta é um produto histórico e não uma
invenção exclusiva do nosso tempo. A educação presente é ao mesmo tempo,
fase do passado e preparação do futuro.
Por isso, o estudo da História da Educação, irá nos servir para encontrar o
caminho de uma educação realmente voltada para o desenvolvimento pleno do
homem e sua realização como cidadão, em verdade, as questões da educação
em cada momento histórico são engendradas nas relações de produção de cada
sociedade determinada.
O presente estudo tem como objetivo geral contribuir para a efetivação de
um estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega, com o objetivo de perceber
possíveis relações com a educação de hoje. Para tanto, pretende-se desenvolver
uma pesquisa bibliográfica, levantando dados históricos da evolução da educação
na Grécia e dessa forma contribuir para as pesquisas referentes à História da
Educação.
A partir do pressuposto acima, apresento: “Revisitando a Educação na Grécia
Antiga: A Paidéia”, que inicia o primeiro capítulo fazendo uma contextualização
histórica do mundo antigo, evidenciando as características do modo de produção
escravista e a organização social e política; no segundo capítulo observamos a
Educação na Grécia, neste capítulo caracterizamos e refletimos sobre o ideal de
educação grego, ou seja, a Paidéia. No terceiro capítulo, falamos sobre os
Períodos da Filosofia até chegarmos ao quarto capítulo, que trata sobre a filosofia
do aretê.
E, finalmente, concluímos buscando ter contribuído para a efetivação de um
estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega, sobretudo, ajudando a
estabelecer uma relação articulada com as práticas pedagógicas atuais.
1 – CONTEXTO HISTÓRICO DO MUNDO ANTIGO
Antes de adentrarmos pela história da educação na Grécia, convém fazer
uma breve contextualização histórica, sobretudo, localizando o objeto do presente
estudo, com o intuito de melhor compreendermos a evolução da educação e
cultura grega.
Geograficamente, a Grécia está localizada a leste do mar Mediterrâneo, na
Península Balcânica, apresentando relevo acidentado e um litoral recortado por
golfos, banhado pelo mar Egeu e pelo mar Jônio. Devido ao relevo montanhoso, a
prática da agricultura revela-se difícil na Grécia.
Como a superfície contínua da Grécia era bastante limitada, os gregos,
passaram a habitar também as ilhas próximas, bastantes numerosas. A ilha de
Eubéia ficava separada do continente pelo estreito de Euripes. Ítaca, Cefanônia,
Córcira e Zaquintos localizavam-se no mar Jônico. Ao sul do Peloponeso, ficava
Cítara, que representava uma etapa para a ilha de Creta, a mais extensa de todas.
As Cícladas (Andros, Delos, Paros, Nexos) localizavam-se no Egeu como as
Espóradas (Rodes, Samos, Quios, Lesbos). Essas ilhas constituíam a Grécia
colonial, constituída por terras mais distantes da Grécia:
- Ásia Menor (Eólica, Jônica, Dória);
- Sul da Itália (Magna Grécia);
- Costa Egípcia ( Náucratis);
Desde o período neolítico é que se tem notícia da presença do homem na
península Balcânica. Os pelasgos foram seus primeiros habitantes, possivelmente,
de origem mediterrânea. Os cretenses, porém, foram mais importantes como
civilização, predominando em toda a região do Egeu.
Tantos os pelasgos como os cretenses, geralmente são considerados povos
anteriores aos gregos (povos pré-helênicos).
A história egeana teve suas origens na ilha de Creta, irradiando-se daí para a
Grécia continental e também para a Ásia Menor. Cerca de 1.800 a.C., Cnossos e
Faístos, na ilha de Creta, atingiram o seu apogeu. O palácio de Cnossos foi
destruído entre cem e duzentos anos mais tarde. Formou-se uma nova dinastia, à
qual se devem diversas transformações, inclusive o tipo de escrita.
Os chamados "povos do mar" surgiram pelos fins do século XV a.C., e por
certo foram os predecessores dos povos gregos. Eram os aqueus, povos de
origem indo-européia. Da miscigenação de cretenses e aqueus originou-se a
civilização Miceniana.
Duzentos anos mais tarde, os dórios, os jônicos e os eólios, outros povos
helênicos, se transferiram para Grécia. Os invasores venceram os aqueus, e
substituíram as cidades pelas suas. Tais cidades viram transformar-se nas
grandes representantes da Grécia Antiga: Atenas, Tebas, Esparta e outras.
1.1 – CARACTERÍSTICAS DO MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA
A escravidão aparece na Grécia como instituição social. Segundo
Aristóteles, o fundamento da escravidão era a diferença das raças. O meio de
conseguir escravos era fazer prisioneiros de guerra: a pirataria, as corridas sobre
os mares do sul davam-lhes grande soma de cativos.
Desde então o tráfico era muito praticado. A população da Ática, pelo
cálculo de Letronne, era de 110.000 escravos e 130.000 livres. Como se vê havia
duas raças, uma exterminando a outra, como acontecia com as hilotas na Lacônia.
A escravidão na Grécia era, todavia, mais branda que a de Roma e era
muito espalhada nas cidades, onde cada um para se entregar aos negócios do
Estado utilizava o trabalho de um escravo.
Nessa civilização eminentemente artística, havia na escravidão certos
detalhes, que salvavam a dignidade do homem, assim, a avaliação dos seus
talentos, cuja manifestação era plenamente permitida. Na Grécia as faculdades
intelectuais atingiram grande destaque entre os gregos; Esopo e Phedro Epíteto
são nomes ilustres no seu país.
Havia os escravos domésticos que, dentre outras coisas, serviam para fazer
rir em festas; escravos que diziam ao senhor os nomes dos que este encontrava
na rua; outros que lhes abriam caminho entre o povo. Existiam senhores que
tinham sob o seu poder até 20.000 escravos.
Os escravos eram levados às vendas com letreiros na fonte. Uma lei antiga
mandava, que, quando um escravo assassinava o senhor, que fossem mortos
junto com o assassino todos aqueles que morassem com ele. Assim, no tempo de
Nero, um escravo tendo assassinado o prefeito de Roma, quatrocentos de seus
companheiros inocentes foram mortos com ele, no meio de um tumulto enorme do
povo, que se interessava por eles, porque havia entre eles inocentes pessoas de
todas as idades, e de um e do outro sexo, como o refere Tácito.
Tácito descreve a produção escravista da seguinte forma:
Os escravos não têm, como entre nós,
empregos distintos na casa. Cada um é senhor
de sua casa, de seus penates. O senhor impõe
ao escravo uma certa contribuição em trigo,
em gado, em vestes, como a um colono, e
somente até aí o escravo obedece. As outras
ocupações domésticas incumbem à mulher e
aos filhos, É muito raro açoitarem um escravo,
prendê-lo, ou coagi-lo ao trabalho. Costumam
matá-los, não por disciplina nem severidade,
mas pelo ímpeto e pela cólera, como a um
inimigo, somente neste caso fazem-no
impunemente. ( apud: Pereira, 1971, p. 84).
1.2 – ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
As cidades gregas são encontradas nos tempos históricos mais remotos,
muitas dessas cidades apresentavam uma organização perfeita. Tomamos
conhecimento do “genos” minúsculas comunidades naturais em que os gregos
anteriormente viviam, apenas através das lendas e dos poemas homéricos. O
genos era constituído por todos os que prestavam culto a antepassados comuns
que tinham o mesmo sangue e, com o tempo, esses genos foram se agrupando, a
fim de obterem melhores condições de vida, e deram origem a cidades.
Os gregos, porém, fundaram muitas cidades, cada qual mantendo sua
independência. Possuíam também seus próprios reis, hábitos e regulamentos.
Apesar disso, os gregos sentiam que formavam um só povo, o que desenvolveu
na Grécia o sentimento pátrio.
As colônias foram o meio utilizado pelos gregos para disseminarem a sua
religião e seus hábitos por toda a extensão do Mediterrâneo. A fundação de
colônias gregas não era de iniciativa do Estado. Um grupo de elementos,
obedecendo à chefia de um, encarregado de levar o fogo sagrado, saía da mesma
cidade à procura de um local onde pudesse se estabelecer e construir cidades
independentes, ligadas apenas pela religião à cidade de origem. Essa modalidade
de colônia é denominada apoequia.
No século X a.C., os atenienses criaram um novo tipo de colônia, a olerúquia.
Era obra do Estado, e os emigrantes conservavam os seus direitos de cidadania.
Algumas colônias gregas: vilas na Sicília, sul da Itália, Turquia, terras no mar
Negro, Índia, Portugal e Sudão.
Em algumas cidades, a agricultura foi substituída por outras atividades
econômicas, por exemplo, o comércio, que atraíram elementos estrangeiros e
provocaram o aumento do número de escravos. As classes que não participavam
da política aumentaram, numericamente, enquanto se agrupavam na cidade
propriamente dita. Com isso, tomaram consciência da força que possuíam que até
então haviam ignorado por causa de sua vida dispersa na lavoura.
O aparecimento da moeda foi outro fator da revolução da econômica.
Riquezas móveis se constituíram e, houve descontentamento entre as classes
sociais inferiores. As lutas políticas sucediam-se. Como solução, foram
promulgadas leis para regulamentar as relações de classes.
Tanto Esparta como Atenas mantiveram constantes lutas pela hegemonia
grega. Atenas teve o seu apogeu no transcorre da época de Péricles (463-529
a.C.). Péricles foi o principal representante do partido democrático, que subiu ao
poder em 463 a.C. Teve como principal objetivo de sua política a melhoria das
condições de vida da população, transformando e melhorando também as
características da política externa.
Quanto à cultura, Péricles procurou atrair os intelectuais de todas as
localidades da Grécia, favorecendo-os e instalando-os em Atenas. Sua época foi
marcada por nomes de grandes personalidades: Fídias, arquiteto e escultor;
Sófocles, autor de tragédias; Heródoto, o grande historiador; Ésquilo, autor de
tragédias; Sócrates, o pai da filosofia; Eurípedes, autor de tragédias; Aristófanes,
comediógrafo.
No fim do governo de Péricles, eclodiu a luta entre Esparta e Atenas, que
seria uma das mais longas e violentas guerras do mundo antigo, e que passou
para a História como a guerra do Peloponeso. Os constantes desentendimentos
bélicos entre as cidades gregas somente conseguiram abalar a unidade do país,
propiciando a Filipe I que concretizasse a sua conquista.
Após haver conseguido impor-se aos gregos, muitos acreditam que o rei
macedônio estivesse cuidando dos preparativos para submeter os persas, o que
não conseguiu levar a contento, pois foi assassinado por Pausânias, em 336 a.C.,
deixando seu trono para seu filho, Alexandre. Ele estava, nessa época com 20
anos e era considerado um homem culto e admirador do helenismo, acreditandose
que tenha sido discípulo de Aristóteles.
Alexandre tratou de consolidar na Grécia a obra de Felipe. Invadiu Tebas e a
destruiu. Venceu Atenas. Depois da vitória de Granico, submeteu a Ásia Menor,
além de outras vitórias. Morreu em 323 a.C. Depois de sua morte,
desentendimentos e lutas entre os generais provocaram a divisão do Império em
três grandes reinos: o do Egito, o da Síria, o da Macedônia. Tempos depois, reinos
menores originaram-se desses três grandes reinos: Epiro, Ponto, Bitínia, Galátia,
Pérgamo, Capadócia, Partia, Bactriana. Esses pequenos reinos constituíam os
estados helenísticos.
. Também na religião, o regime se impôs. Foi estabelecido o culto dos reis,
transformando o rei quase em um deus. A escultura helenística orientava-se no
sentido de causar efeito e se caracterizava pelas grandes proporções. Os
principais centros esculturais foram Pérgamo e Rodes. O Colosso de Rodes era
uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Os gregos sempre foram um povo que gostava de animação, alegria, lazer
e, que se divertia com as conversas e a companhia dos outros. As classes da
sociedade grega variavam de uma Cidade-Estado para outra. Atenas contava com
três classes:
• Cidadãos, os eupátridas: Somente eles possuíam direitos políticos para
participar da democracia. As mulheres e as crianças não faziam parte do
grupo dos cidadãos;
• Metecos: Eram os estrangeiros que habitavam Atenas. Não tinham direitos
políticos e estavam proibidos de adquirir terras, mas podiam dedicar-se ao
comércio e ao artesanato. Em geral, pagavam impostos para viver em
Atenas e estavam obrigados à prestação do serviço militar;
• Escravos: Formavam a grande maioria da população ateniense, pois para
cada cidadão adulto chegou a existir cerca de 18 (dezoito) escravos. Os
escravos eram considerados propriedades do seu senhor, embora
houvesse leis que os protegiam contra excessos de maus tratos. Atenas
era um Estado que garantia a democracia da minoria às custas da
escravidão da maioria.
Os antigos gregos falaram vários dialetos diferentes durante centenas de
anos. Depois de 330 anos a.C., um dialeto comum chamado coiné desenvolveu-se
a partir do primitivo dialeto falado em Atenas. Mais tarde, vários invasores
penetraram na Grécia Antiga, mudando a língua e os costumes gregos.
O povo levava uma vida simples, começando pelas moradias, que eram de
pedra ou de tijolos secos ao sol e cobertos com estuque.
A maioria dos gregos fazia apenas duas refeições por dia. O almoço (ariston),
muitas vezes consistia somente de um prato de feijão ou de ervilhas e de uma
cebola crua ou um nabo cozido. O jantar deipnon, era a refeição principal que
incluía pão, queijo, figos, azeitonas e por vezes um pedaço de carne ou queijo. Os
gregos não conheciam o açúcar, usavam mel para adoçar seus alimentos.
Usavam o azeite para passar no pão, como óleo de cozinha e como sabão. A
maioria dos gregos bebia uma mistura de vinho e água; consideravam o leite
próprio apenas para os animais e os bárbaros.
Os gregos desenvolveram um belo e gracioso traje. Homens e mulheres
usavam um quitao, túnica que descia até os joelhos ou tornozelos; um cinto
estreito prendia na cintura o quităo feminino. Grande parte dessas túnicas eram
feitas de lă; apenas os mais ricos podiam tê-la de algodão ou linho. O povo usava
quitões de cor marrom para o trabalho e de cor branca nas ocasiões formais.
Tanto os homens como as mulheres trajavam também himátions, ou seja,
mantos que eles arranjavam com pregas sobre os ombros e os braços. Os moços
por vezes usavam uma clâmide, pequeno manto preso no ombro. As mulheres
podiam vestir também um péblos, que era uma variação do quităo. Dentro de casa
os gregos habitualmente andavam descalços; na rua muitos usavam sandálias. A
maioria dos gregos andava com as cabeças descobertas.
Cada vila ou cidade contava com ginásio ao ar livre onde os homens podiam
praticar exercícios ou vários tipos de jogos. As crianças geralmente rolavam aros
ou brincavam com bonecas. Os homens mais velhos sentavam-se na ágora
(mercado), onde ficavam jogando ou conversando. A mulher grega trabalhava
quase que todo o tempo e tinha poucos divertimentos. As caçadas eram
passatempos prediletos nas propriedades rurais.
Os gregos adoravam vários deuses, e os representavam sob a forma
humana. Portanto, sua religião era politeísta e antropomórfica. Para eles os
deuses habitavam o monte Olimpo. Praticavam ainda, o culto dos heróis, era um
conjunto de seres mitológicos considerados pelos gregos como seus
antecessores, fundadores de suas cidades, às quais davam proteção: Teseu,
Épido, Perseu, Belerofonte e Hércules. O culto aos deuses era tão desenvolvido
entre os gregos, que chegaram a erigir soberbos templos as suas divindades, nos
quais realizavam suas orações. Consideravam que os oráculos eram meios
utilizados pelos deuses para se comunicarem com eles.
Diversos jogos periódicos eram promovidos pelos gregos em homenagem
aos deuses, como os Jogos Olímpicos, dedicados a Zeus, na cidade Olímpia. Os
Jogos Olímpicos eram praticados de quatro em quatro anos. Durante sua
realização, suspendiam as guerras e tratavam os participantes como pessoas
sagradas.
2 – EDUCAÇÃO NA GRÉCIA
A visão que os gregos tinham do mundo os distinguia de todos os demais
povos do mundo antigo. Os gregos colocaram a razão acima dos seus mitos e a
utilizaram como instrumento a serviço do próprio homem. Os gregos glorificavam o
homem como o ser mais importante do universo.
Podemos dizer que a origem dessa atitude se encontra na realidade sóciopoética
da Grécia, processo que se realiza entre 1200 e 800 a.C. Trata-se do
período pré-Homérico que recebeu esse nome, devido ao que se conhece da
interpretação das lendas contidas nos poemas; “Ilíada” e “Odisséia”, que a
tradição atribui a Homero.
2.1 – CARACTERÍSTICAS
Os atenienses acreditavam que sua cidade-estado iria tornar-se a mais forte
se cada menino desenvolvesse integralmente as suas aptidões. O governo não
controlava os alunos e as escolas. Um garoto ateniense entrava na escola aos
seis anos e ficava sob os cuidados de um pedagogo que ensinava aritmética,
literatura, música escrita e educação física; o aluno decorava muitos poemas e
aprendia a fazer parte dos cortejos públicos e religiosos.
As meninas não recebiam qualquer educação formal, mas aprendiam os
ofícios domésticos e os trabalhos manuais com as mães. O principal objetivo da
educação grega era preparar o menino para ser um bom cidadão. Os gregos
antigos não contavam com uma educação técnica para preparar os estudantes
para uma profissão ou negócio.
2.2 - A ARETÊ
Sócrates fala sobre este o assunto nesta passagem do texto platônico:
Nas minhas idas e vindas pela cidade, não
faço outra coisa senão persuadir-vos, novos
e velhos, a que vos preocupeis mais, nem
tanto, com o vosso corpo e as vossas
riquezas do que com a vossa alma, para a
tornardes o melhor possível, dizendo-vos 'A
virtude (aretê) não vem da riqueza, mas sim a
riqueza da virtude, bem como tudo o que é
bom para o homem, na vida particular ou
pública’. (PLATÃO, 1972, apud Jaeger)
Igualmente, para Platão, a questão central é saber o que é a virtude (aretê).
Muito dos diálogos platônicos é bem a prova disso; é verdade que se questiona e
se procura saber o que é a coragem, a sabedoria, o amor, o belo, a justiça e
tantas outras virtudes.
Sigamos, então, a evolução do conceito de aretê (traduzido, vulgarmente, por
virtude) desde que, esse conceito parece como primeiro ideal educativo formulado
pelos gregos. É em Homero e nos chamados poemas homéricos, a Ilíada e a
Odisséia, que tal ideal educativo aparece originalmente formulado.
Na Ilíada destaca-se a figura de Aquiles, o herói modelo, nobre, valente e
corajoso, o melhor, entre todos. Aquiles encarna a aretê e, é na sua figura que se
caracteriza esse ideal. Além de guerreiro valoroso, valente, corajoso e honrado,
Aquiles é o protótipo do perfeito cavalheiro da época homérica ( cortês, cavalheiro
e de boas maneiras ).
Nessa época a aretê era entendida como superioridade, nobreza e um
conjunto de qualidades físicas, espirituais e morais tais como: a bravura, a
coragem, a força e a destreza do guerreiro, a eloqüência e a persuasão, e, acima
de tudo, a heroicidade.
Se esta é a aretê da Ilíada, a da Odisséia é um pouco diferente. A Odisséia
relata o regresso do herói, Ulisses, à casa, vindo da guerra de Tróia. Ulisses além
da força, coragem, bravura e eloqüência, a astúcia, a manha, o engenho e a
inteligência, que o levam a desvencilhar-se das situações mais complicadas.
Assim, na Odisséia, Telêmaco, filho de Ulisses, é o único jovem em
formação e é a sua educação, que lhe é ministrada pela deusa Atena, disfarçada
de Mentes amigo e hóspede de seu pai. E graças a essa educação, Telêmaco
passou do jovem dócil e passivo do começo do poema, a príncipe consciente dos
seus deveres, o companheiro de luta, valente e ousado que ajudará o pai, na sua
vingança, a enfrentar os pretendentes de Penélope, sua mãe e esposa de Ulisses.
Mas, quer na Ilíada quer na Odisséia, a educação que se propõe traz, uma
pedagogia fundada no exemplo vivo ou no exemplo mítico, a pedagogia do
paradigma. O herói prototípico institui-se como modelo exemplar a seguir.
Imitar os heróis, o que desperta a emulação, para eles, ser herói é ser
possuidor da aretê heróica.
Homero é, entre todos os poetas gregos,
considerado o maior e, a crer nos
testemunhos, a opinião corrente ao tempo
indica-o também como o educador de toda a
Grécia. De fato, a tradição homérica e o ideal
educativo que nela se propõe são transmitidos
oralmente, de geração em geração, pelos
aedos e rapsodos. Também só assim se pode
compreender a afirmação. Nele, pela primeira
vez, o espírito pan-helênico atingiu a unidade
da consciência nacional e imprimiu o seu selo
sobre toda a cultura grega posterior. (JAEGER,
s.d. 77).
Como já foi falado, os primeiros educadores do mundo grego são os poetas,
que surgem não apenas como educadores da sua época, mas, porque a sua
influência durou para além do seu tempo, como educadores de toda a Grécia.
Homero é o mais influente de todo o mundo antigo. Ser culto na Antiguidade era
saber Homero de cor e ser capaz de o citar em qualquer ocasião.
Já no final da época arcaica, não bastava cobrir-se de honra e glória, como
nos tempos homéricos, mas pretendia-se alcançar a excelência tanto no plano
físico como no plano moral. Tal ideal exprime-se pela palavra Kalokagathia: beleza
e bondade são os atributos que o homem deve procurar realizar.
Assim, o homem forma-se segundo um crescente domínio de si, pela
libertação de seus instintos, desejos e paixões, que devem ficar submetidos à
razão. Para alcançar tal ideal propõe a ginástica, para desenvolver o corpo, e a
música, com a leitura e o canto das obras dos grandes poetas, para o espírito.
Esse programa educativo tratava de desenvolver no homem a qualidade da
temperança e que implicava um perfeito domínio de si, aliado a sabedoria.
Portanto, esse era um ideal de sabedoria, pelo domínio dos instintos,
desejos e apetites pela razão, um ideal de equilíbrio e harmonia.O programa de
estudos era constituído pela ginástica, ensinado nos ginásios, sendo o “pedotriba”
ou “paidotriba” o mestre de educação física, e pela música que ensina as crianças
a tocar cítara, para se acompanharem enquanto cantam as obras dos grandes
poetas, sendo o mestre o citarista. Nesta altura, o citarista ensina ainda a ler e
escrever, porque para cantar os poetas é preciso saber ler as suas obras. Já no
fim da época arcaica, surgiu a figura do didáscalo (gramático) o mestre que
ensinava a ler, escrever e alguns rudimentos de cálculo.
Neste tempo aparece a figura do pedagogo, ou seja, do escravo que
acompanhava o menino à escola e que vigiava o seu comportamento moral.
Platão dá-nos um retrato fiel desta educação tradicional e, apesar de longo,
cremos que vale a pena transcrevê-lo:
Logo que a criança começa a compreender o que
lhe dizem, a ama, a mãe, o pedagogo e até o próprio
pai se esforçam por que ela se torne a mais perfeita
possível. A cada ação ou palavra lhe ensinam ou
apontam o que é justo e o que não é, que isto é
belo e aquilo vergonhoso, que uma coisa é piedosa,
e outra ímpia, e 'faz isto', 'não faças aquilo'. E, ou
ela obedece de boa mente, ou então, corrigem-na
com ameaças, como se fosse um pau torto e
recurvo. Depois, mandam-na à escola, com a
recomendação de se cuidar mais da educação das
crianças que do aprendizado das letras e da cítara.
Os mestres empenham-se nisso, e, depois de elas
aprenderem as letras e serem capazes de
compreender o que se escreve, (...) põem-nas a ler
nas bancadas as obras dos grandes poetas, e
obrigam-nas a decorar esses poemas, nos quais se
encontram muitas exortações e também muitos (...)
elogios e encômios da valentia dos antigos, a fim
de que a criança se encha de emulação, os imite e
se esforce por ser igual a eles. (...) Depois de
saberem tocar, aprendem as obras dos grandes
poetas líricos. Assim, obrigam os ritmos e
harmonias a penetrar na alma das crianças, de
molde a civilizá-las, e, tornando-as mais sensíveis
ao ritmo e à harmonia, adestram-nas na palavra e
na ação. Toda a vida humana carece de ritmo e de
harmonia, ainda se mandam as crianças ao
pedotriba, a fim de possuírem melhores condições
físicas, para poderem servir a um espírito são, e
não serem forçadas à cobardia, por fraqueza
corpórea, quer na guerra, quer noutras atividades.
Assim fazem os que têm mais posses. Os filhos
desses começam a ir a escola de mais tenra idade,
e saem de lá mais tarde. Depois de estarem livres
da escola, o Estado, por sua vez, obriga-os a
aprender as leis e a viver de acordo com elas. Tal
como o mestre-escola que, para os que não sabem
escrever, traça as letras com o estilete e lhes
entrega a tabuinha e os força a desenhar o traçado
dos caracteres, assim também a cidade, depois de
ter delineado as leis, criadas pelos bons e antigos
legisladores, os força a mandar e a serem
mandados de acordo com elas. (...) Perante tais
cuidados com a virtude (aretê) particular e pública,
ainda te admiras, ó Sócrates, e põe objeções à
possibilidade de a virtude se ensinar? (PLATÃO,
325 - 326 apud: PEREIRA, 1971, 397).
Porém, este ideal educativo não ficava restrito à escola; a cidade continuava
educando nas reuniões políticas, administrativas e jurídicas, nos jogos, nas artes,
na arquitetura e nas representações dramáticas. Em nenhum lugar da Grécia o
teatro era só para privilegiados, era a escola de todos os cidadãos.
A educação grega tinha duas finalidades: o desenvolvimento do cidadão fiel
ao Estado e a formação do homem que adquiriu plena harmonia e domínio de si.
Porém a educação grega também tinha uma finalidade cívica, ou seja, a educação
é uma preparação para a cidadania. Para eles, o habitante da polis só é o que é
porque vive na cidade e sem ela não é nada.
Nesse sentido, é evidente que o homem é um animal político e como falou
Aristóteles, o que difere o homem dos outros animais é sua qualidade de cidadão
e habitante da polis. Essa consciência da cidadania faz sentir a necessidade de
uma nova educação, pois a antiga, composta somente por ginástica e música, já
não servia para a formação do cidadão e nem correspondia às novas exigências
sociais e políticas.
Por exemplo, a forma democrática de organização do Estado Ateniense,
exigia a participação de todos os cidadãos, ou seja, homens livres e para que
esses cidadãos participassem, era necessário ter eloqüência e uma boa formação
oratória.
Neste contexto surgem os sofistas, uma nova estirpe de educadores que se
apresentam como professores e que oferecem, a troco de dinheiro, o ensino da
virtude e da aretê política. Os sofistas transformaram a educação em uma arte ou
técnica, na qual eles são mestres e capazes de ensinarem aos seus alunos.
Estava incluído neste tipo de educação a formação de homens de Estado e
de dirigentes da vida pública. E para que esses homens atingissem êxito político,
eles precisavam falar bem, construir discursos persuasivos e ter bons argumentos
que justificassem suas posições. Era preciso dominar a arte sofística da oratória,
da retórica e da dialética.
Seja qual for o profissional com quem entre
em competição, o orador conseguirá que o
prefiram a qualquer outro, porque não há
matéria sobre a qual um orador não fale,
diante da multidão, de maneira mais
persuasiva do que qualquer outro
profissional. Tal é a qualidade e a força desta
arte que é a retórica. ( PLATÃO in:
www.ahistoria.com.br )
Por isso os sofistas foram acusados de ensinar uma educação imoral e que
corrompia a juventude, posto que, esta educação desconsiderava os valores
tradicionais: verdade, justiça, virtude, retidão, etc. Pois para os sofistas não
importava que a idéia que eles estivessem defendendo estivesse errada, o que
importava era convencer pela oratória.
2.3 – A PAIDÉIA - O IDEAL DE EDUCAÇÃO GREGO
Durante os séculos V e VI a. C a cultura grega, impulsionada pelas
transformações sociais e econômicas, sofre mudanças. Surgem novos grupos
sociais ligados ao comércio, estes reclamam uma maior participação na vida
política da Grécia. Ao lado disso, surge uma cultura mais crítica em relação ao
saber religioso e mítico, que exalta a razão pessoal de cada indivíduo e é capaz
de submeter à análise qualquer crença ou tradição.
Para transmitir essa nova cultura, nasce um novo ideal de educação na
Grécia, conhecido como Paidéia, que busca a formação do homem em suas
várias esferas (social, política, cultural e educativa), ou seja, é uma educação mais
antropológica e que considera o homem como um ser racional. Essa educação
atribui ao homem, sobretudo, uma identidade cultural e histórica.
Nasce a pedagogia como saber autônomo, sistemático e rigoroso; nasce o
pensamento da educação como episteme; e não mais como ethos e como práxis
apenas.
Uma educação pública, retirada da família e do
santuário, que visa à formação do cidadão e
das suas virtudes (persuasão e capacidade de
liderança, sobretudo). É uma educação que se
liga à palavra e À escrita e tende à formação do
homem como orador, marcado pelo princípio
do Kalogathos (do belo e do bom) e que visa
cultivar os aspectos mais próprios do humano
em cada indivíduo, elevando-o a uma condição
de excelência, que todavia não se possui por
natureza, mas se adquire pelo estudo e pelo
empenho. (CAMBI, 1999, p.86).
A Paidéia é entendida como uma formação geral que dará ao homem a
forma humana, ou seja, que o construirá como homem e como cidadão. Assim, ela
significou a educação do homem de acordo com a verdadeira forma humana e
que brota da idéia.
O termo Paidéia não pode ser traduzido simplesmente como educação,
significa muito mais que isso, significa também cultura, instrução e formação do
homem grego. Este termo começou a ser utilizado no séc. IV a.c. e nesta época
significava apenas a criação dos meninos. Mas o seu significado se alargou e
passou a designar também o conteúdo e o produto dessa educação.
Torna-se claro, porque, a partir do séc. IV os gregos deram o nome de
Paidéia a toda a sua tradição.
Enfim, a Paidéia, é a busca do conhecimento do homem, de forma
individual, para que este possa interferir na organização política e social da pólis, a
idéia principal é colocar o homem a par de todo o conhecimento necessário para a
harmonia consigo próprio e com a comunidade ao seu redor.
2.4 - A EDUCAÇÃO NO PERÍODO HELENÍSTICO
No final do século IV a.C., se inicia a decadência das Cidades-Estados
gregas e a cultura helênica se mistura com as das civilizações que dominam a
Grécia. Desta forma a antiga Paidéia torna-se enciclopédia, ou seja, “educação
geral" que consistia na formação do homem culto diminuindo ainda mais o aspecto
físico e estético. Neste período cresce o papel do pedagogo com a criação do
ensino privado e o desenvolvimento da escrita, leitura e o cálculo.
Inúmeras escolas se espalham e da união de algumas delas (Academia e
Liceu) é formada a Universidade de Atenas, lugar de importante desenvolvimento
intelectual que dura inclusive até o período de dominação romana.
2.5 - PERÍODO CLÁSSICO (SÉCULO V a.c.)
Atenas havia se tornado o centro da vida social, política e cultural da Grécia,
em virtude do crescimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes
militares. Atenas vivia seu momento de maior florescimento da democracia. A
democracia grega possuía duas características de grande importância para o
futuro da filosofia.
Em primeiro lugar, a democracia afirmava a
igualdade de todos os homens adultos perante as
leis e o direito de todos de participar diretamente do
governo da cidade, da polis. Em segundo lugar, e
como conseqüência, a democracia, sendo direta e
não por eleição de representantes no governo,
garantia a todos a participação no governo e os que
dele participavam tinham direito de exprimir, discutir
e defender em público suas opiniões sobre as
decisões que a cidade deveria tomar. Surgia assim, a
figura do cidadão. (CHAUÍ, 1995, p. 36).
O indivíduo somente se torna cidadão quando exerce seus direitos de
opinar, discutir, deliberar e votar nas assembléias. Dessa forma, o novo ideal de
educação é a formação do bom orador, ou seja, aquele que saiba falar em público
e persuadir os outros na política.
Para dar esse tipo de educação aos jovens, surgem os sofistas que foram
os primeiros filósofos do Período. Os sofistas não tinham uma origem bem
definida, eles surgiram de várias partes do mundo. Sofista significa "sábio",
"professor de sabedoria", no sentido pejorativo passa a significar "homem que
emprega sofismas", ou seja, homem que usa de raciocínio capcioso, de má-fé
com intenção de enganar.
Os sofistas contribuíram muito para a sistematização da educação. Eles se
julgavam sábios e possuidores da sabedoria. Eles ensinavam a retórica, que é a
arte da persuasão, mas, vale ressaltar que não ensinavam de graça, os sofistas
cobravam por seus ensinamentos. E por cobrarem e se julgarem possuidores da
sabedoria, foram bastante criticados por Sócrates e seus seguidores, pois, para
Sócrates o verdadeiro sábio é aquele que reconhece sua própria ignorância. Para
combater os sofistas, Sócrates desenvolve dois métodos que são bastante
conhecidos até os dias de hoje: a ironia e a maiêutica.
O primeiro consiste em questionar o ouvinte à respeito do que ele considera
como verdade e tentar fazer o ouvinte entender que ele realmente não sabe tudo.
Depois que o ouvinte se convencia disto, Sócrates passava a utilizar o segundo
método que é a maiêutica, que significa dar luz às idéias. Nesse momento o
ouvinte consciente de que não sabe tudo busca saber mais, buscando respostas
por si próprio.
3 - A PEDAGOGIA GREGA – OS PERÍODOS DA FILOSOFIA
O termo pedagogia é de origem grega e deriva da palavra “paidagogos”,
nome que era dado aos escravos que conduziam as crianças à escola. Somente
com o tempo, esse termo passou a ser utilizado para designar as reflexões que
estivesses relacionadas à educação.
A Grécia clássica pode ser considerada o berço da pedagogia, até porque é
justamente na Grécia que tem início a primeira reflexão acerca da ação
pedagógica. Essas reflexões vão influenciar por séculos a educação e a cultura
do ocidente.
Os povos orientais acreditavam que a origem da educação era divina, o
conhecimento deles se resumia aos seus próprios costumes e crenças. Tudo isso
impedia uma reflexão mais profunda sobre a educação, pois, esta era fruto de
uma organização social teocrática.
Contudo, na Grécia Clássica, a razão se sobrepõe ao conhecimento
puramente religioso e místico. Nesta época a concepção dos gregos de educação
se resume à inteligência crítica e à liberdade de pensamento do homem.
O nascimento da filosofia grega foi um fator de grande importância para o
desenvolvimento de uma nova concepção de educação da Grécia.
Os períodos em que a filosofia grega se divide são:
- Período pré-socrático (Século VII e VII a.C.); os filósofos das colônias
gregas iniciam o processo de separação entre a filosofia e o pensamento
mítico.
- Período socrático (Séculos V e IV a.C.) Sócrates, Platão e Aristóteles. Os
sofistas são contemporâneos de Sócrates e alvos de suas críticas. Isócrates
também é desse período.
- Período pós-socrático (Séculos III e II a.C.) época helenística, após a
morte de Alexandre. Fazem parte desse período as correntes filosóficas: o
estoicismo e o epicurismo.
O Período pré-socrático se inicia no final do século VI a.C., quando
aparecem os primeiros filósofos nas colônias gregas da Jônia e na Magna Grécia.
Esse período caracteriza-se como uma nova forma de analisar e ver a realidade.
Antes esta era analisada e entendida, que anteriormente era analisada e
entendida apenas do ponto de vista mítico. Vale ressaltar que a filosofia não vem
para romper radicalmente com o mito, mas sim utilizar o uso da razão no
esclarecimento da origem do mundo. Os antigos mitos sobre a origem do mundo
que foram transmitidos oralmente e depois transformados em poemas por Homero
e Hesíodo são questionados pelos pré-socráticos com o objetivo de explicar a
origem do mundo.
Outra diferença que podemos notar entre a filosofia nascente e as
concepções míticas é que esta não admitia reflexões ou discordância. A filosofia
nascente por sua vez deixa o espaço livre para reflexão, daí cada filósofo surgir
com uma explicação diferente para a origem do mundo.
Assim, todas as antigas afirmações à respeito da natureza (phisys) são
questionadas, ou seja, os filósofos passam a exigir fatos que justifiquem as idéias
expostas. Toda essa mudança de pensamento é de fundamental importância para
36
o enriquecimento das reflexões pedagógicas em busca de um novo ideal de
educação.
O Período Socrático (séculos V a IV a . C.) é marcado pela influência de
três grandes filósofos, Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sócrates (470 – 399 a . C) tomou como ponto de partida o princípio básico
da doutrina sofista. “ O homem é a medida de todas as coisas” ( CHAUÍ, p. 37 ).
Se o homem é a medida de todas as coisas, é obrigação de todo homem procurar
conhecer a si mesmo. Para ele, o homem deveria procurar conhecer a si mesmo.
Para ele, o homem deveria procurar os elementos determinantes da finalidade da
vida e da educação. Porém, a consciência individual deveria deixar de se
fundamentar por simples opiniões, para poder guiar-se por idéias de valor
universal.
O fim da educação, então, não era dar a
informação sem base que, aliada a um
verbalismo superficial e brilhante, constituía o
ideal dos sofistas. Era ministrar saber ao
indivíduo, pelo desenvolvimento do seu poder
de pensamento. Todo indivíduo tem em si a
capacidade de conhecer e apreciar tais
verdades como as de fidelidade, honestidade,
verdade, honra, amizade, sabedoria, virtude,
ou pode adquirir essa capacidade.
Platão nasceu em Atenas (428 -347 a.C.) de família nobre. Foi discípulo de
Sócrates. A obra de Platão apresenta uma grande preocupação política com o seu
país (que havia saído de uma tirania. Suas principais obras são: A República e As
Leis. Para Platão até os 20 anos, todos merecem a mesma educação, nesta,
ocorre o primeiro corte e se define que são os grosseiros que devem se dedicar a
agricultura, comércio e ao artesanato. Depois devem estudar mais 10 anos e se
dar o segundo corte,e se define daqueles que têm a virtude da coragem, esses
serão os guerreiros que cuidarão da defesa da cidade. Os que sobrarem desses
cortes serão incluídos na arte de dialogar e preparados para governar.
Na Grécia Antiga, o cuidado com o aspecto físico do corpo era muito
importante. No entanto, Platão apesar de reconhecer a importância dos exercícios
físicos, acreditava que a educação espiritual era superior a educação física. Tratase
da superioridade da alma sobre o corpo, ele explica que a alma ao ter que
possuir um corpo torna-se degradante.
O conhecimento, para Platão, é resultado do lembrar daquilo que a alma já
contemplou no mundo das idéias, sendo assim, ela consiste em despertar no
indivíduo o que ele já sabe e, não se apropriar de um conhecimento que está fora.
Outro aspecto da pedagogia platônica é a crítica que ele faz aos poetas. Na sua
época a educação das crianças era baseada em palmas heróicas da época, mas
ele diz que a poesia deveria ficar limitada ao mundo artístico e não ser usada na
educação.
Em Aristóteles (384-332 a.C.) podemos perceber um outro importante
aspecto da pedagogia grega. Apesar de ser discípulo de Platão, ele desenvolveu
uma teoria voltada para o real, onde procurava explicar o movimento das coisas e
a imutabilidade dos conceitos, ou seja, para Aristóteles tudo tem um devir, um
movimento, uma passagem. Ele também desenvolveu um conceito de educação
partindo da idéia de imitação:
O que nos animais é apenas capacidade
imitativa, no homem se converte numa arte.
O homem se educa na medida em que copia
a forma de vida das adultos. Ele se educa
porque atualiza as suas energias. Segundo a
doutrina de Aristóteles, o educando é
potencialmente um sábio e, com a educação
ele converte em ato o que é suscetível de
desenvolver. (PILLETI, 1990, p. 35)
4 – CONCLUSÃO
A educação formal, propriamente dita, teve início na Grécia antiga. Com
intuito de atingir o objetivo deste trabalho e desenvolver uma pesquisa levantando
dados históricos da evolução da educação na Grécia, é possível indicar alguns
traços característicos da cultura grega que proporcionaram o desenvolvimento do
ensino, tipo: o descobrimento do valor humano, do homem em si, da
personalidade, independentemente de toda autoridade religiosa ; o
reconhecimento da razão, da inteligência crítica, libertada de dogmas; a criação da
vida cidadã, do Estado, da organização política. A criação da liberdade individual e
política dentro da lei e do Estado; a invenção da poesia épica, da história, da
literatura dramática, da filosofia e das ciências físicas; o reconhecimento do valor
decisivo da educação na vida social e individual; da educação pública a
consideração da educação humana em sua integridade física, intelectual, ética e
estética.
Todas as características anteriormente citadas continuam sendo metas a
serem atingidas pela educação atual. Assim, esperamos ter colaborado para a
efetivação de um estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega a partir do
contexto histórico-social que a influenciou e determinou sob a perspectiva de que,
sendo a educação um produto humano e histórico, pudéssemos perceber a
educação atual como parte do desenvolvimento histórico. Paidéia é , talvez, entre
todas, a maior e mais original criação cultural do gênio e do espírito gregos e que
ainda hoje é pertinente à educação do homem atual, é modelo a ser seguido por
todos aqueles que entenderem a educação como prática da liberdade.
Enfim, em matéria de educação, os gregos não só definem o modelo, como,
indicam a pedagogia a seguir. Por tudo isso, somos levados a concluir que uma
história da educação, com sentido e significado para nós, para a nossa realidade
educativa atual começa na Grécia Antiga.
Paideia
Paideia (português europeu) ou Paidéia (português brasileiro) (AO 1990: Paideia), segundo Werner Jaeger, era o "processo de educação em sua forma verdadeira, a forma natural e genuinamente humana" na Grécia antiga.
Histórico
Inicialmente, a palavra paidéia (de paidos - criança) significava simplesmente "criação de meninos". Mas, como veremos, este significado inicial da palavra está muito longe do elevado sentido que mais tarde adquiriu.
O termo também significa a própria cultura construída a partir da educação. Era o ideal que os gregos cultivavam do mundo, para si e para sua juventude. Uma vez que o governo próprio era muito valorizado pelos gregos, a Paidéia combinava ethos (hábitos) que o fizessem ser digno e bom tanto como governado quanto como governante. O objetivo não era ensinar ofícios, mas sim treinar a liberdade e nobreza. Paidéia também pode ser encarada como o legado deixado de uma geração para outra na sociedade.
Um pedagogo - um escravo, na época - conduzia o jovem, com sua lanterna ilumina(dor)a, até aos centros ou assembléias, onde ocorriam as discussões que envolviam pensamentos críticos, criativos, resgates de cultura, valorização da experiência dos anciãos etc.
Supõe-se que, no processo sócio-histórico, esse mesmo pedagogo libertou-se, talvez de tanto dialogar nos acompanhamentos do jovem até as assembléias, tornando-se um personagem da paidéia, e seu consuma(dor).
Mas, se até então o objectivo fundamental da educação era a formação aristocrática do homem individual como Kalos agathos ("Belo e Bom"), a partir do século V a.C., exige-se algo mais da educação. Para além de formar o homem, a educação deve ainda formar o cidadão. A antiga educação, baseada na ginástica, na música e na gramática deixa de ser suficiente.
É então que o ideal educativo grego aparece como paidéia, formação geral que tem por tarefa construir o homem como homem e como cidadão. Platão define paidéia da seguinte forma "(...) a essência de toda a verdadeira educação ou paidéia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento" (cit. in Jaeger, 1995: 147)
Do significado original da palavra paidéia como criação de meninos, o conceito alarga-se para, no século IV a.C., adquirir a forma cristalizada e definitiva com que foi consagrado como ideal educativo da Grécia clássica.
Como diz Jaeger (1995), os gregos deram o nome de paidéia a "todas as formas e criações espirituais e ao tesouro completo da sua tradição, tal como nós o designamos por Bildung ou pela palavra latina, cultura." Daí que, para traduzir o termo paidéia "não se possa evitar o emprego de expressões modernas como civilização, tradição, literatura, ou educação; nenhuma delas coincidindo, porém, com o que os gregos entendiam por paidéia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez." (Jaeger, 1995: 1).
Na sua abrangência, o conceito de paideia não designa unicamente a técnica própria para, desde cedo, preparar a criança para a vida adulta. A ampliação do conceito fez com que ele passasse também a designar o resultado do processo educativo que se prolonga por toda vida, muito para além dos anos escolares.
A paidéia, vem por isso a significar "cultura entendida no sentido perfectivo que a palavra tem hoje entre nós: o estado de um espírito plenamente desenvolvido, tendo desabrochado todas as suas virtualidades, o do homem tornado verdadeiramente homem" (Marrou, 1966: 158).
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