sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A ESCOLA PLURALISTA (Va.C) + ESCOLA SORFISTICA



SERVIÇO DE TELEMARKETING


NADA A VER COM O ARTIGO DAS ESCOLAS

Escola sofística


Os sofistas se compunham de grupos de mestres que viajavam de cidade em cidade realizando aparições públicas (discursos, etc) para atrair estudantes, de quem cobravam taxas para oferecer-lhes educação. O foco central de seus ensinamentos concentrava-se no logos ou discurso, com foco em estratégias de argumentação. Os mestres sofistas alegavam que podiam "melhorar" seus discípulos, ou, em outras palavras, que a "virtude" seria passível de ser ensinada.

Protágoras (481 a.C.-420 a.C.), Górgias (483 a.C.-376 a.C.), e Isócrates (436 a.C.-338 a.C.) estão entre os primeiros sofistas conhecidos.

Diversos sofistas questionaram a propalada sabedoria recebida pelos deuses e a supremacia da cultura grega (uma idéia absoluta à época). Argumentavam, por exemplo, que as práticas culturais existiam em função de convenções ou "nomos", e que a moralidade ou imoralidade de um ato não poderia ser julgada fora do contexto cultural em que aquele ocorreu. Tal posição questionadora levou-os a serem perseguidos, inclusive, por aqueles que se diziam amar a sabedoria: os filósofos gregos.

A conhecida frase "o homem é a medida de todas as coisas" surgiu dos ensinamentos sofistas. Uma das mais famosas doutrinas sofistas é a teoria do contra-argumento. Eles ensinavam que todo e qualquer argumento poderia ser contraposto por outro argumento, e que a efetividade de um dado argumento residiria na verossimilhança (aparência de verdadeiro, mas não necessariamente verdadeiro) perante uma dada platéia.

Os Sofistas foram os primeiros advogados do mundo, ao cobrar de seus clientes para efetuar suas defesas, dada sua alta capacidade de argumentação. São também considerados por muitos os guardiões da democracia na antiguidade, na medida em aceitavam a relatividade da verdade. Hoje, a aceitação do "ponto de vista alheio" é a pedra fundamental da democracia moderna.

Sofística era originalmente o termo dado às técnicas ensinadas por um grupo altamente respeitado de professores retóricos na Grécia antiga. O uso moderno da palavra, sugestionando um argumento inválido composto de raciocínio especioso, não é necessariamente o representante das convicções do sofistas originais, a não ser daquele que geralmente ensinaram retórica. Os sofistas só são conhecidos hoje pelas escritas de seus oponentes (mais especificamente, Platão e Aristóteles) que dificulta formular uma visão completa das convicções dos sofistas.

Os sofistas são os primeiros a romperem com a busca pré-socrática por uma unidade originária (a physis) iniciada com Tales de Mileto e finalizada em Demócrito de Abdera (que embora tenha falecido pouco tempo depois de Sócrates, tem seu pensamento inserido dentro da filosofia pré-socrática).

A principal doutrina sofística consiste, em uma visão relativa de mundo (o que os contrapõe a Sócrates que, sem negar a existência de coisas relativas, buscava verdades universais e necessárias). A principal doutrina sofística pode ser expressa pela máxima de Protágoras: "O homem é a medida de todas as coisas".

Tal máxima expressa o sentido de que não é o ser humano quem tem de se moldar a padrões externos a si, que sejam impostos por qualquer coisa que não seja o próprio ser humano, e sim o próprio ser humano deve moldar-se segundo a sua liberdade.
Outro sofista famoso foi Górgias de Leontini, que afirmava que o 'ser' não existia. Segundo Górgias, mesmo que se admitisse que o 'ser' exista, é impossível captá-lo. Mesmo que isso fosse possível, não seria possível enunciá-lo de modo verdadeiro e, portanto, seria sempre impossível qualquer conhecimento sobre o 'ser'.

Estas visões contrastantes com a de Sócrates (que foram adotadas também por Platão e Aristóteles, bem como sua "luta" anti-sofista) somada ao fato de serem estrangeiros - o que lhes conferia um menor grau de credibilidade entre os atenienses - contribuiu para que seu pensamento fosse subvalorizado até tempos recentes.

Moral, Direito, Religião
A sofística sustenta o relativismo prático, destruidor da moral. Como é verdadeiro o que tal ao sentido, assim é bem o que satisfaz ao sentimento, ao impulso, à paixão de cada um em cada momento. Ao sensualismo, ao empirismo gnosiológicos correspondem o hedonismo e o utilitarismo ético: o único bem é o prazer, a única regra de conduta é o interesse particular. Górgias declara plena indiferença para com todo moralismo: ensina ele a seus discípulos unicamente a arte de vencer os adversários; que a causa seja justa ou não, não lhe interessa. A moral, portanto, - como norma universal de conduta - é concebida pelos sofistas não como lei racional do agir humano, isto é, como a lei que potencia profundamente a natureza humana, mas como um empecilho que incomoda o homem. Desta maneira, os sofistas estabelecem uma oposição especial entre natureza e lei, quer política, quer moral, considerando a lei como fruto arbitrário, interessado, mortificador, uma pura convenção, e entendendo por natureza, não a natureza humana racional, mas a natureza humana sensível, animal, instintiva. E tentam criticar a vaidade desta lei, na verdade tão mutável conforme os tempos e os lugares, bem como a sua utilidade comumente celebrada: não é verdade - dizem - que a submissão à lei torne os homens felizes, pois grandes malvados, mediante graves crimes, têm freqüentemente conseguido grande êxito no mundo e, aliás, a experiência ensina que para triunfar no mundo, não é mister justiça e retidão, mas prudência e habilidade. Então a realização da humanidade perfeita, segundo o ideal dos sofistas, não está na ação ética e ascética, no domínio de si mesmo, na justiça para com os outros, mas no engrandecimento ilimitado da própria personalidade, no prazer e no domínio violento dos homens. Esse domínio violento é necessário para possuir e gozar os bens terrenos, visto estes bens serem limitados e ambicionados por outros homens. É esta, aliás, a única forma de vida social possível num mundo em que estão em jogo unicamente forças brutas, materiais. Seria, portanto, um prejuízo a igualdade moral entre os fortes e os fracos, pois a verdadeira justiça conforme a natureza material, exige que o forte, o poderoso, oprima o fraco em seu proveito. Quanto ao direito e à religião, a posição da sofística é extremista também, naturalmente, como na gnosiologia e na moral. A sofística move uma justa crítica, contra o direito positivo, muitas vezes arbitrário, contingente, tirânico, em nome do direito natural. Mas este direito natural - bem como a moral natural - segundo os sofistas, não é o direito fundado sobre a natureza racional do homem, e sim sobre a sua natureza animal, instintiva, passional. Então, o direito natural é o direito do mais poderoso, pois em uma sociedade em que estão em jogo apenas forças brutas, a força e a violência podem ser o único elemento organizador, o único sistema jurídico admissível



Sofisma

Sofisma (do grego antigo σόϕισμα -ατος, derivado de σοϕίξεσϑαι "fazer raciocínios capciosos") em filosofia, é um raciocínio aparentemente válido, mas inconclusivo, pois é contrário às próprias leis. Também são considerados sofismas os raciocínios que partem de premissas verdadeiras ou verossímeis, mas que são concluídos de uma forma inadmissível ou absurda. Por definição, o sofisma tem o objetivo de dissimular uma ilusão de verdade, apresentado-a sob esquemas que aparentam seguir as regras da lógica.

É um conceito que remete à ideia de falácia, sem ser necessariamente um sinônimo.

Historicamente o termo sofista, no primeiro e mais comum significado, é equivalente ao paralogismo matemático, que é uma demonstração aparentemente rigorosa que, todavia, conduz a um resultado nitidamente absurdo. Atualmente, no uso freqüente e do senso comum, sofisma é qualquer raciocínio caviloso ou falso, mas que se apresenta com coerência e que tem por objetivo induzir outros indivíduos ao erro mediante ações de má-fé.

Origens
A designação de sofista, do grego Σοφιστής(sophistés), substantivação da forma adjetiva e verbal que remete a sophia e a sophos, utilizada para identificar aquele grupo de pensadores, filósofos e letrados da sofística helénica, recolhe em si o polissemantismo bem significativo de uma diversa apreciação dos sofistas. Por um lado, é neste sentido típico e dominantemente pejorativo, caracterizado por Platão como: "um impostor, caçador interessado em jovens ricos, comerciante didático e atleta em combate verbalístico ou erístico, purificador de opiniões, mas também malabarista de argumentos, mais verosímeis do que verdadeiros, mais sedutores do que plausíveis". O sofista é, neste sentido, menos o filósofo como amigo ou amante do saber do que o «sábio» na acepção não pedagógica de uma descoberta da verdade, mas segundo o modelo da transmissão de um ensinamento e, por conseguinte, segundo a forma tradicional de uma didáskalos, ou seja, de uma didáctica. Para o paradigmático entendimento que Platão faz dos sofistas, tal transmissão dos ensinamentos reduz-se a comércio interesseiro de saberes mnemotécnicos, retóricos e sempre relativos.

As palavras sofista, sofística[1] (do grego antigo: σοφιστής, σοφιστικός; derivada σοφός - "sábio", "instruído"), assumem diferentes significados ao longo da história da filosofia, que merecem ser distinguidos:

Chama-se sofista ou sofístico, um conjunto de pensadores, oradores e professores gregos do século V a.C. (e do início do século seguinte).
Em Platão, seguido da maior parte dos filósofos até aos nossos dias, uma perversão voluntária do raciocínio demonstrativo para fins geralmente imorais.
O desenvolvimento da reflexão e o ensino da retórica, em princípio a partir do século I d.C., na prática a partir do século II, no Império romano.

Período Sistemático
O segundo período da história do pensamento grego é o chamado período sistemático. Com efeito, nesse período realiza-se a sua grande e lógica sistematização, culminando em Aristóteles, através de Sócrates e Platão , que fixam o conceito de ciência e de inteligível, e através também da precedente crise cética da sofística. O interesse dos filósofos gira, de preferência, não em torno da natureza, mas em torno do homem e do espírito; da metafísica passa-se à gnosiologia e à moral. Daí ser dado a esse segundo período do pensamento grego também o nome de antropológico, pela importância e o lugar central destinado ao homem e ao espírito no sistema do mundo, até então limitado à natureza exterior.

Esse período esplêndido do pensamento grego - depois do qual começa a decadência - teve duração bastante curta. Abraça, substancialmente, o século IV a.C., e compreende um número relativamente pequeno de grandes pensadores: os sofistas e Sócrates, daí derivando as chamadas escolhas socráticas menores, sendo principais a cínica e a cirenaica, precursoras, respectivamente, do estoicismo e do epicurismo do período seguinte; Platão e Aristóteles, deles procedendo a Academia e o Liceu, que sobreviverão também no período seguinte e além ainda, especialmente a Academia por motivos éticos e religiosos, e em seus desenvolvimentos neoplatônicos em especial - apesar de o aristotelismo ter superado logicamente o platonismo.

É certo, não obstante, que as obras completas de Demócrito (que incluem as obras de Leucipo e outros, bem como as de Demócrito) continuaram a existir, porquanto a escola as conservou em Abdera e Teos ao longo dos tempos helenísticos. Por isso, foi possível para Trasilo, sob o reinado de Tibério, fazer uma edição das obras de Demócrito, organizada em tetralogias, exatamente como sua edição dos diálogos de Platão. Mesmo isso não foi suficiente para preservá-las. Os epicuristas, que tinham a obrigação de ter estudado o homem a quem deviam tanto, detestavam qualquer tipo de estudo, e provavelmente nem se preocuparam em multiplicar os exemplares de um escritor cujas obras teriam sido um testemunho permanente para a carência de originalidade que caracterizou o próprio sistema deles.

Sabemos extremamente pouco sobre a vida de Demócrito. Como Protágoras, era natural de Abdera na Trácia, uma cidade que nem mereceria a reputação proverbial de embotamento, considerando que pode dar origem a dois homens de tanta envergadura. Quanto à data do seu nascimento, temos apenas conjeturas para nos orientar. Em uma das principais obras, afirmou que elas foram escritas 730 anos após a queda de Tróia; não sabemos; porém, quando, segundo a suposição dele, isto ocorrera. Havia nessa época e posteriormente diversas eras em uso. Disse também algures que, quando Anaxágoras era velho, ele era jovem, e a partir dai concluiu-se que nasceu em 460 a.C. Parece, entretanto, cedo demais, visto estar baseado na hipótese de que tinha quarenta anos quando se encontrou com Anaxágoras, e a expressão "jovem" sugere menos que esta idade. Demais, cumpre-nos encontrar um espaço para Leucipo entre eles [Demócrito] e Zenão. Se Demócrito morreu, como se diz, com a idade de noventa ou cem anos, de qualquer maneira ainda vivia quando Platão fundara a Academia. Mesmo a partir de fundamentos meramente cronológicos, é falso classificar Demócrito entre os predecessores de Sócrates, e obscurece o fato de que, como Sócrates, ele tentou responder ao seu distinto concidadão Protágoras.

Demócrito foi discípulo de Leucipo, e temos uma prova contemporânea, a de Glauco de Régio, que também os pitagóricos foram seus mestres. Um membro posterior da escola, Apolodoro de Quizico, diz que tomou conhecimento por intermédio de Filolau, o que parece muito provável. Isto esclarece o seu conhecimento geométrico, bem como, outros aspectos do seu sistema. Sabemos, outrossim, que Demócrito falou nas obras das doutrinas de Parmênides e Zenão, que chegou a conhecê-las através de Leucipo. Fez menção a Anaxágoras, e parece ter dito que a sua teoria do sol e da lua não era original. Isto pode referir se à explicação dos eclipses, que geralmente fora atribuída em Atenas, e sem dúvida alguma na Jonia, a Anaxágoras, ainda que Demócrito naturalmente estivesse ciente de ser ela pitagórica.

Diz-se ter visitado o Egito, mas há uma certa razão para se acreditar que o fragmento onde isto é mencionado (fragmento 298 b) é apócrifo. Há um outro (fragmento 116) no qual ele diz: "Eu fui a Atenas e ninguém tomou conhecimento de mim". Se disse isto, sem dúvida deu a entender que não conseguira causar uma impressão tal como o fizera o seu mais brilhante concidadão Protágoras. Por outro lado, Demétrio de Falerão afirmou que Demócrito jamais visitou Atenas; então é possível que este fragmento também seja apócrifo. Seja como for, ele deve ter despendido a maior parte do seu tempo no estudo, ensinando e escrevendo em Abdera. Não era um sofista itinerante do tipo moderno, mas sim o cabeça de uma escola regular.

A verdadeira grandeza de Demócrito não está na teoria dos átomos e do vazio, que ele parece ter exposto bem conforme a tinha recebido de Leucipo. Menos ainda está no seu sistema cosmológico, que deriva mormente de Anaxágoras. Pertence inteiramente a uma outra geração que a desses homens, e não está preocupado de modo especial em encontrar uma resposta a Parmênides. A questão à qual tinha que se dedicar era a de sua própria época. A possibilidade de ciência havia sido negada, bem como todo o problema do conhecimento levantado por Protágoras, e era isto que exigia uma solução. Ademais, o problema do comportamento tornara-se premente. A originalidade de Demócrito, portanto, está precisamente na mesma linha que a de Sócrates.

Teoria do Conhecimento
Demócrito procedeu como Leucipo ao fazer uma avaliação puramente mecânica da sensação, e é provável que ele seja o autor da doutrina minuciosa dos átomos com respeito a este assunto. Uma vez que a alma se compõe de átomos como qualquer outra coisa, a sensação deve consistir no impacto dos átomos externos sobre os átomos da alma, e os órgãos dos sentidos devem ser simplesmente ''passagens" (póroi = poros) através das quais estes átomos se introduzem. Disto decorre que os objetos da visão não são estritamente as coisas que nós mesmos presumimos ver, mas as "imagens" (deíkela, eídola) que os corpos estão constantemente emitindo. A imagem na pupila do olho era considerada como a coisa essencial em visão. Não é, porém, uma semelhança exata do corpo do qual provém, pois está sujeita às distorções causadas pela interferência do ar. Este é o motivo por que vemos as coisas a distância de um modo embaraçado e indistinto, e por que, se a distância for grande, não podemos vê-las de modo algum. Se não houvesse ar, mas somente o vazio, entre nós e os objetos da visão, isto não seria assim; "poderíamos ver uma formiga rastejando no firmamento". As diferenças de cor devem-se à lisura ou aspereza das imagens ao tato. A audição explica-se de uma maneira similar. O som é uma torrente de átomos que jorram do corpo sonante e produzem movimento no ar entre ele [corpo] e o ouvido. Chegou, portanto, ao ouvido junto com aquelas porções do ar que se Ihe assemelham. As diferenças de paladar são devidas às diferenças nas figuras (eide, skhémata) dos átomos que entram em contato com os órgãos desse sentido; e o olfato explica-se semelhantemente, embora não com os mesmos detalhes. De modo idêntico, o tato, considerado como o sentido pelo qual sentimos o calor e o frio, o molhado e o seco e outros que tais, é afetado de acordo com a forma e o tamanho dos átomos chocando nele.

Aristóteles afirma que Demócrito reduziu todos os sentidos ao tato, e é realmente verdade se entendermos por tato o sentido que percebe qualidades, tais como forma, tamanho e peso. Este, todavia, deve ser cautelosamente distinguido do sentido próprio do tato, que acima foi descrito. Para compreender esta questão, temos que considerar a doutrina do conhecimento "legítimo" e "ilegítimo".

É aqui que Demócrito entra nitidamente em conflito com Protágoras, que asseverou serem todas as sensações igualmente verdadeiras para o objeto sensível. Demócrito, pelo contrário, considera falsas todas as sensações dos sentidos próprios, posto que elas não têm uma contrapartida real fora do objeto sensível. Nisto, naturalmente, está em conformidade com a tradição eleática onde repousa a teoria atômica. Parmênides afirmara claramente que o paladar, as cores, o som e outros semelhantes eram apenas "nomes" (onómata), e é bastante idêntico a Leucipo que disse algo de parecido, apesar de não haver razão de se acreditar que ele tenha elaborado uma teoria sobre o assunto. Seguindo o exemplo de Protágoras, Demócrito foi obrigado a ser explícito com referência à questão. Sua doutrina, felizmente, foi-nos preservada através de suas próprias palavras. "Por convenção (nómo)": disse ele (fragmento 125), "há o doce; por convenção há o amargo; por convenção há o quente e por convenção há o frio; por convenção há a cor".Porém, na realidade (etee), há os átomos e o vazio. Deveras, as nossas sensações não representam nada de externo, apesar de serem causadas por algo fora de nós, cuja verdadeira natureza não pode ser apreendida pelos sentidos próprios. Esta é a razão por que a mesma coisa às vezes dá a sensação de doce e às vezes de amargo. "Pelos sentidos", afirmou Demócrito (fragmento 9),"nós na verdade não conhecemos nada de certo, mas somente alguma coisa que muda de acordo com a disposição do corpo e das coisas que nele penetram ou Ihe opõem resistência". Não podemos conhecer a realidade deste modo, pois "a verdade jaz num abismo" (fragmento 117). Vê-se que esta doutrina tem muito em comum com a distinção moderna entre as qualidades primárias e secundárias da matéria.

Demócrito, pois, rejeita a sensação como fonte de conhecimento, exatamente como fizeram os pitagóricos e Sócrates; contudo, como eles, ressalva a possibilidade de ciência, afirmando que existe uma outra fonte de conhecimento que não a dos sentidos próprios. "Há", diz ele (fragmento 11), "duas formas de conhecimento (gnóme): o legítimo (gnesíe) e o ilegítimo (skotíe). Ao ilegítimo pertencem todos estes: a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato. O legítimo, porém, está separado daquele". Esta é a resposta de Demócrito a Protágoras. Ele diz que o mel, por exemplo, é tanto amargo quanto doce, doce para mim e amargo para você. Na realidade, é "não mais tal do que tal" (oudèn mãllon toion è toion). Sexto Empírico e Plutarco afirmaram claramente que Demócrito argüiu contra Protágoras, e o fato, por conseguinte, está fora da discussão.

Ao mesmo tempo, não se pode ignorar que Demócrito dera uma explicação puramente mecânica deste conhecimento legítimo, como o fizera do ilegítimo. Defendeu, com efeito, que os átomos fora de nós poderiam afetar diretamente os átomos da nossa alma sem a intervenção dos órgãos dos sentidos. Os átomos da alma não se restringem a algumas partes específicas do corpo, mas nele penetram em qualquer direção, e não há nada que os impeça de ter contato imediato com os átomos externos, chegando assim a conhecê-los como realmente são. O "conhecimento legítimo" é, afinal de contas, da mesma natureza do "ilegítimo", e Demócrito recusou-se, como Sócrates, a fazer uma separação absoluta entre os sentidos e o conhecimento. "Pobre Mente", imagina ele os sentidos dizerem (fragmento 125); "é por causa de nós que conseguiste as provas com as quais atiras contra nós. Teu tiro é uma capitulação." O conhecimento "legítimo" não é, apesar de tudo, pensamento, mas uma espécie de sentido interno, e seus objetos são como os "sensíveis comuns" de Aristóteles.

Como seria de esperar de um seguidor dos pitagóricos e de Zenão, Demócrito ocupou-se com o problema da continuidade. Em uma passagem digna de nota (fragmento 155), ele o confirma desta forma: "Se um cone fosse cortado por um plano em linha paralela à base, o que se deveria pensar das superfícies das duas partes cortadas? Seriam iguais ou desiguais? Se forem desiguais, farão irregular o cone, pois ele terá muitas incisões em forma de degraus e muitas asperezas. Se forem iguais, então as partes cortadas serão iguais, e o cone terá a aparência de um cilindro, que é composto de círculos iguais e não desiguais, o que é o maior absurdo". Segundo um comentário de Arquimedes, parece que Demócrito prosseguiu afirmando que o volume do cone era a terça parte do volume do cilindro sobre a mesma base e do mesmo peso, cujo teorema foi demonstrado primeiro por Eudoxo. É evidente, pois, que ele estava empenhado em problemas tais como aqueles que finalmente deram origem ao método infinitesimal do próprio Arquimedes. Vemos mais uma vez como foi importante a obra de Zenão como um fermento intelectual.

A Sofística
Após as grandes vitórias gregas, atenienses, contra o império persa, houve um triunfo político da democracia, como acontece todas as vezes que o povo sente, de repente, a sua força. E visto que o domínio pessoal, em tal regime, depende da capacidade de conquistar o povo pela persuasão, compreende-se a importância que, em situação semelhante, devia ter a oratória e, por conseguinte, os mestres de eloqüência. Os sofistas, sequiosos de conquistar fama e riqueza no mundo, tornaram-se mestres de eloqüência, de retórica, ensinando aos homens ávidos de poder político a maneira de consegui-lo. Diversamente dos filósofos gregos em geral, o ensinamento dos sofistas não era ideal, desinteressado, mas sobejamente retribuído. O conteúdo desse ensino abraçava todo o saber, a cultura, uma enciclopédia, não para si mesma, mas como meio para fins práticos e empíricos e, portanto, superficial.

A época de ouro da sofística foi - pode-se dizer - a segunda metade do século V a.C. O centro foi Atenas, a Atenas de Péricles, capital democrática de um grande império marítimo e cultural. Os sofistas maiores foram quatro. Os menores foram uma plêiade, continuando até depois de Sócrates, embora sem importância filosófica.

Protágoras foi o maior de todos, chefe de escola e teórico da sofística.

Moral, Direito e Religião
Em coerência com o ceticismo teórico, destruidor da ciência, a sofística sustenta o relativismo prático, destruidor da moral. Como é verdadeiro o que tal ao sentido, assim é bem o que satisfaz ao sentimento, ao impulso, à paixão de cada um em cada momento. Ao sensualismo, ao empirismo gnosiológicos correspondem o hedonismo e o utilitarismo ético: o único bem é o prazer, a única regra de conduta é o interesse particular. Górgias declara plena indiferença para com todo moralismo: ensina ele a seus discípulos unicamente a arte de vencer os adversários; que a causa seja justa ou não, não lhe interessa. A moral, portanto, - como norma universal de conduta - é concebida pelos sofistas não como lei racional do agir humano, isto é, como a lei que potencia profundamente a natureza humana, mas como um empecilho que incomoda o homem.

Desta maneira, os sofistas estabelecem uma oposição especial entre natureza e lei, quer política, quer moral, considerando a lei como fruto arbitrário, interessado, mortificador, uma pura convenção, e entendendo por natureza, não a natureza humana racional, mas a natureza humana sensível, animal, instintiva. E tentam criticar a vaidade desta lei, na verdade tão mutável conforme os tempos e os lugares, bem como a sua utilidade comumente celebrada: não é verdade - dizem - que a submissão à lei torne os homens felizes, pois grandes malvados, mediante graves crimes, têm freqüentemente conseguido grande êxito no mundo e, aliás, a experiência ensina que para triunfar no mundo, não é mister justiça e retidão, mas prudência e habilidade.

Então a realização da humanidade perfeita, segundo o ideal dos sofistas, não está na ação ética e ascética, no domínio de si mesmo, na justiça para com os outros, mas no engrandecimento ilimitado da própria personalidade, no prazer e no domínio violento dos homens. Esse domínio violento é necessário para possuir e gozar os bens terrenos, visto estes bens serem limitados e ambicionados por outros homens. É esta, aliás, a única forma de vida social possível num mundo em que estão em jogo unicamente forças brutas, materiais. Seria, portanto, um prejuízo a igualdade moral entre os fortes e os fracos, pois a verdadeira justiça conforme à natureza material, exige que o forte, o poderoso, oprima o fraco em seu proveito.

Quanto ao direito e à religião, a posição da sofística é extremista também, naturalmente, como na gnosiologia e na moral. A sofística move uma justa crítica, contra o direito positivo, muitas vezes arbitrário, contingente, tirânico, em nome do direito natural. Mas este direito natural - bem como a moral natural - segundo os sofistas, não é o direito fundado sobre a natureza racional do homem, e sim sobre a sua natureza animal, instintiva, passional. Então, o direito natural é o direito do mais poderoso, pois em uma sociedade em que estão em jogo apenas forças brutas, a força e a violência podem ser o único elemento organizador, o único sistema jurídico admissível.

A respeito da religião e da divindade, os sofistas não só trilham a mesma senda dos filósofos racionalistas gregos do período precedente e posterior, mas - de harmonia com o ceticismo deles - chegam até o extremo, até o ateísmo, pelo menos praticamente. Os sofistas, pois, servem-se da injustiça e do muito mal que existe no mundo, para negar que o mundo seja governado por uma providência divina.

Protágoras de Abdera
Protágoras nasceu em Abdera - pátria de Demócrito , cuja escola conheceu - pelo ano 480. Viajou por toda a Grécia, ensinando na sua cidade natal, na Magna Grécia, e especialmente em Atenas, onde teve grande êxito, sobretudo entre os jovens, e foi honrado e procurado por Péricles e Eurípedes. Acusado de ateísmo, teve de fugir de Atenas, onde foi processado e condenado por impiedade, e a sua obra sobre os deuses foi queimada em praça pública. Refugiou-se então na Sicília, onde morreu com setenta anos (410 a.C.), dos quais, quarenta dedicados à sua profissão. Dos princípios de Heráclito e das variações da sensação, conforme as disposições subjetivas dos órgãos, inferiu Protágoras a relatividade do conhecimento. Esta doutrina enunciou-a com a célebre fórmula; o homem é a medida de todas as coisas. Esta máxima significava mais exatamente que de cada homem individualmente considerado dependem as coisas, não na sua realidade física, mas na sua forma conhecida. Subjetivismo, relativismo e sensualismo são as notas características do seu sistema de ceticismo parcial. Platão deu o nome de Protágoras a um dos seus diálogos, e a um outro o de Górgias.

Górgias de Leôncio
Górgias nasceu em Abdera, na Sicília, em 480-375 a.C - correlacionado com Empédocles - representa a maior expressão prática da sofística, mediante o ensinamento da retórica; teoricamente, porém, foi um filósofo ocasional, exagerador dos artifícios da dialética eleática. Em 427 foi embaixador de sua pátria em Atenas, para pedir auxílio contra os siracusanos. Ensinou na Sicília, em Atenas, em outras cidades da Grécia, até estabelecer-se em Larissa na Tessália, onde teria morrido com 109 anos de idade. Menos profundo, porém, mais eloqüente que Protágoras, partiu dos princípios da escola eleata e concluiu também pela absoluta impossibilidade do saber. É autor duma obra intitulada "Do não ser", na qual desenvolve as três teses:

Nada existe; se alguma coisa existisse não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos não a poderíamos manifestar aos outros. A prova de cada uma destas proposições e um enredo de sofismas, sutis uns, outros pueris.

No Górgias de Platão, Górgias declara que a sua arte produz a persuasão que nos move a crer sem saber, e não a persuasão que nos instrui sobre as razões intrínsecas do objeto em questão. Em suma, é mais ou menos o que acontece com o jornalismo moderno. Para remediar este extremo individualismo, negador dos valores teoréticos e morais, Protágoras recorre à convenção estatal, social, que deveria estabelecer o que é verdadeiro e o que é bem!


A SABEDORIA

NO TEMPO DOS SOFISTAS E

SÓCRATES



No quadro geral da Enciclopédia Simpozio A sabedoria no tempo dos sofistas e de Sócrates é um texto da Enciclopédia coordenada de História da filosofia, esta reconhecida pela cifra inicial 2.

Do ponto de vista da forma, trata-se de um texto hiper, reunindo os artigos relacionados com os sofistas, Sócrates e as escolas socráticas menores.

Do ponto de vista da dimensão, é um texto mega, e nesta condição é ainda parte do Conjunto denominado Mega história da filosofia.


A numeração foi tomada ao artigo atômico SOKRATISMO 8310 (versão em Esperanto), da Enciclopédia de Filosofia, em torno do qual os demais foram coordenados.

A numeração divisionária vem após a letra y.

Para citar internamente, basta o número divisionário, sem o básico.



INTRODUÇÃO AOS SOFISTAS E SÓCRATES.


O apogeu da filosofia grega coincide com a centralização da cultura em Atenas, depois que ela nascera e se desenvolvera nas cidades da periferia, sobretudo da Jônia (hoje espaço integrado no território da Turquia) e na Magna Grécia (hoje Sul da Itália).

Esta concentração correspondeu também por algum tempo ao poder político, sobretudo sob Péricles (+429 a.C.), o maior dos arcontes de Atenas.

Foi quando, do ponto de vista filosófico, por causa do destaque inicial de Sócrates, o período veio a ser denominado socrático.

Todavia as duas figuras máximas do período socrático foram Platão e Aristóteles. Surgidas sucessivamente no cenário, deste fato resultou na divisão do período em três fases: a de Sócrates (+399 a.C.), a de Platão (+347a.C.), a de Aristóteles (+322 a.C.) (vd 15).

O tema agora eleito se situa principalmente na primeira fase do período socrático, que foi vivida pelo mesmo Sócrates e que encontrou sem seu espaço principalmente os sofistas. Dali a escolha do título desta texto – A sabedoria no tempo dos sofistas e de Sócrates.



Demorando-nos ainda nesta preliminar introdutória, continuamos a caracterizar a fase filosófica dos sofistas e Sócrates (vd 8310y009), seguida de um proposta de disposição didática de abordagem do tema (vd 8310y018).


§1. Características do tempo dos sofistas e de Sócrates.

Coesão dos fatos culturais, sociais, políticos. Nada usa acontecer isoladamente. O amadurecimento filosófico ao tempo de Sócrates aconteceu juntamente com o das artes, da vida social e da política gregas, sobretudo da então Atenas. O fenômeno se fez conhecer pela denominação de ilustração grega.

A denominação todavia de ilustração grega foi atribuída pelos estudiosos ulteriores, por paralelismo com a ilustração que se dera no espaço moderno situado entre a Gloriosa revolução inglesa (1688) e a Revolução francesa (1789), em virtude de algumas semelhanças ocorridas.

Depois das lutas religiosas do início dos tempos modernos acontecera um novo progresso das ciências e da filosofia, bem como uma abertura dos espíritos em relação aos valores humanos, expressada nas artes e na vida social.

Ora, na antiguidade grega houvera pouco antes a vitória dos gregos sobre os persas invasores, seguida de uma prosperidade generalizada, ao mesmo tempo que um desabrochar de novo modo de conceber a vida.



Entretanto, - como se advertiu, - é certo que nada costuma acontecer isoladamente. Ora, na antiguidade houvera pouco antes a vitória dos gregos sobre os persas invasores (retidos nas batalhas decisivas de Maratona, em 490 a. C., e de Salamina, em 480 a. C.) , seguida de uma prosperidade generalizada, ao mesmo tempo que um desabrochar de um novo modo de conceber a vida.

Escolas filosóficas. O período pré-socrático está marcado por uma constelação de escolas filosóficas, situadas em diferentes regiões do mundo grego, então geograficamente mais vasto que o da Grécia atual.

A escola jônica antiga inaugura a própria filosofia com Tales de Mileto (624-546 a.C.), Anaximandro de Mileto (610-545 a.C.), Anaxímenes de Mileto (585-528 a.C.) que atuaram no curso do 6-o século a.C.

Na mesma região prosseguem os chamados jônicos novos: Heráclito (544-484 a.C. ), Anaxágoras (c. 500-428 a.C.) que cobrem o século 5-o. a.C.

Mas no Ocidente grego (Sul da Itália) anotam-se outras escolas mais. Teve destaque a escola de Pitágoras (c. 570-596 a.C.), com grandes nomes, como Filolau (c. de meados do 5-o. sec. a.C.), e Árquitas de Tarento.

A escola de Elea primou pela ontologia, com Xenófanes (c. 570-475 a.C.), Parmênides, Zenão, Melisso.

Notáveis foram os atomistas de Ábdera, já estes surgidos na periferia norte da Grécia continental: Leucipo, que floresceu pelo ano 420 a.C., e Demócrito (c. 460-360 a.C. ).

Estes últimos pré-socráticos já vivem os novos tempos que surgem pelos anos 440 a.C., quando entravam também em cena os sofistas e Sócrates, dos quais agora se trata.

Seja lembrado também que todas as anteriores escolas, - jônica, pitagórica, eleata, - continuam a ter seus epígonos, e geralmente afluindo para Atenas.

. O desenvolvimento do pensamento grego teve reflexo na literatura. Um conhecimento preciso da época em que viveu Sócrates não poderia dispensar uma consideração neste sentido, destacando o período ático.

Neste sentido convém advertir que a literatura grega se divide em 6 períodos:

1) Literatura antiga, anterior aos anos de 475 a.C. Este é o tempo da literatura épica e lírica.

2) Literatura ática (referência à Ática, território de Atenas), a partir de cerca do ano 475 a.C., quando se dá a ilustração grega, com centro em Atenas, e ocorre o nascimento de Sócrates (469 a. C. ). Este período, que vem até o ano 300 a.C., é o tempo de preponderância da cultura ateniense, em que vivem também os dois grandes filósofos, Platão e Aristóteles. Tiveram então desenvolvimento o drama e a prosa.

3) Literatura Alexandrina, que cessa em 146 a.C. Centraliza-se em Alexandria. As obras, do mais diverso gênero, são produzidas, caracterizando-se por um certo artificialismo e eruditismo, mas é por causa deste eruditismo que muito se conservou dos tempos anteriores.

4) Literatura greco-romana, que alcança o ano 529 d.C., e cuja fisionomia é crítica e histórica;

5) Literatura bizantina, até 1453 (quando Constantinopla foi conquistada pelos turcos), de características escolásticas;

6) Literatura grega moderna, bastante diferenciada do idioma antigo, dito grego clássico, mas cultivando-o também.

. Os poetas trágicos tiveram grande destaque no período ático. Suas peças, levadas aos grandes teatros de Atenas, catalizaram o pensamento religioso e político, filosófico e estético, tanto da massa como dos próprios pensadores.

Representam gerações sucessivas os três grandes trágicos:

Ésquilo (525-456 a.C.) autor de 82 apreciadas tragédias, de que chegaram até nós 7, que são Prometeo, As suplicantes, os sete contra Tebas, Os Persas, e a trilogia Orestiada;

Sófocles (496-406 a. C.) de suas clássicas 123 tragédias, restaram somente 7, que são Antígona, Édipo Rei, Electra, Filoctetes, Ajax, As traquinias, Edipo em Colonos, além dos fragmentos de um drama satírico;

Eurípedes (480-406 a. C. ), que introduziu nos diálogos dramáticos a casuística dos sofista, tendo sido conservadas 18 de suas peças, entre outras, Alcestes, Medea, Hipólito, Bacantes, Ifigênia em Táurida, Ifigênia em Áulida, Helena, Orestes, Electra, Andrômaca, Héracles, As mulheres de Troia, Íon, As fenícias, Cíclope, Heracléade, As suplicantes.



Ésquilo destacou a severa justiça divina e o destino inexorável, com os elementos todavia humanizantes, que marcam a divisa da época anterior com os novos tempos.

Eurípedes, ainda que não se afaste do equilíbrio clássico grego, reflete o pensamento cético dos sofistas e das eventualidades da vida humana, que para ele não anda dirigida tão de perto pela divindade ou pela lei natural. Mostra mesmo o inverossímil e repugnante dos mitos, renovando os seus significados. Fez do drama um crítica, prenunciando o teatro moderno.

Sófocles é o clássico, ao mesmo tempo que repete os conceitos do anterior. Com maior perfeição artística, maior animação do movimento dramático, definindo os caracteres e a psicologia dos personagens, segue os caminhos de uma ética natural, não tão dependente da vontade forte dos deuses. Ésquilo representa a concordância do dever e da liberdade, conforme o ideal grego.


Outros nomes da poesia gregos foram Epicarmo, Simônides, Pindaro, Baquilides, Aristófanes.




Os historiadores multiplicaram-se ao tempo da ilustração grega.

Heródoto de Halicarnasso (+ c. 425 a. C.), da Ásia Menor, pela qualidade dos seus relatos, fez-se conhecido como "Pai da História". Foi amigo de Sófocles. Narrou os acontecimentos dentro da imagem antiga da Providência divina (História III, 108).

Já Tucídides (c. 460 - c. 400 a.C.) se situa numa interpretação natural dos acontecimentos, como se depreende de sua História do Peloponeso. Pôs claro que ultimamente o egoísmo e a pouca rigidez moral dominaram os espíritos em Atenas.

Mas o desenvolvimento mental a que chegavam os gregos não permitia a manutenção pura e simples do passado. Um misto de desagregação, ao mesmo tempo que de esforço por um nova síntese ideológica, dominava as mentes. A tensão resultante criou novas filosofias de vida.

Ocorreram conflitos mentais, em que se envolveram também os sofistas e Sócrates. O mesmo Platão, ao expor suas idéias, não é um conservador, mas um progressista, por vezes utópico.

Pelo visto, a evolução da literatura grega deu-se num contexto mental, que é o mesmo do da filosofia. Esta, concentrada até aqui no estudo da natureza, passou ao estudo do homem Já este não é visto apenas como uma peça da natureza e do poder mágico dos deuses. O homem faz a história.

Em resumo, os gregos tornaram-se críticos, elaborando múltiplas maneiras de ver, ao mesmo tempo que discutindo todas as proposições.

O novo tema da filosofia do período socrático é o homem. Investiga a moral, a psicologia, a lógica, a linguagem, a arte.

Os estudos da natureza, peculiares ao período pré-socrático, ainda que não desapareçam, subordinam-se aos interesses do homem.

Sócrates praticamente ocupou-se apenas de assuntos éticos. Seu discípulo Platão já trata de todos os temas.

Em Aristóteles (384-322 a.C.) o estudo da natureza é assunto inteiramente pacífico, tão bem quanto o estudo do homem. Assim já viera fazendo o grande erudito Demócrito de Ábdera.

Progrediu a instituição da escola, com classes de alunos e professores, tendo tido destaque os sofistas, os primeiros a dar prosperidade ao ensino remunerado.

. A diversidade de pensamento marcou o período socrático, ainda que alguns pensadores fossem extraordinariamente mais destacados. Este fenômeno estimulou o pensamento crítico.

Platão (428-348 a.C.) em seus diálogos põe frente a frente os representantes do pensamento de sua época brilhante.

Mas é possível notar mais no fundamento duas diretrizes gnosiológicas, que passariam a dominar as correntes filosóficas de todos os tempos.

Atuavam já ao tempo da ilustração grega, de um lado o racionalismo, representado por Sócrates, Platão Aristóteles; de outro lado o empirismo (positivismo), representado pelos sofistas, especialmente Protágoras.

É significativo que Platão desse a um dos seus diálogos, precisamente o título de Protágoras, em que o filósofo sofista se defronta com Sócrates.



Do ponto de vista da diretriz gnosiológica, - como já se acentuou, - o período socrático apresenta duas diretrizes, que marcarão para sempre a filosofia: o racionalismo e o positivismo.

Por sua vez o racionalismo ficará subdividido em racionalismo radical (patrocinado por Platão) e racionalismo moderado (desenvolvido por Aristóteles).

Os sofistas, - tendo à frente Protágoras e Górgias, - são os representantes do positivismo, dado o destaque que deram ao conhecimento empírico. Eles não acreditam em considerações da pura razão situada para além da experiência. Além disso, os sofistas são sensistas.

Sócrates é racionalista, admitindo portanto a pura especulação da inteligência, operando com princípios universais, como que firma sobretudo as leis morais. Em função ainda ao seu racionalismo argumentou em favor da existência de Deus.



A seguir, neste mesmo rumo racionalista seguirá Platão, o principal discípulo de Sócrates. Um pouco depois, também Aristóteles será racionalista, ainda que moderado.

O racionalismo radical de Platão opera independente da fonte empírica.

Já o racionalismo moderado de Aristóteles, mesmo ao tratar do ente em geral, raciocina apenas a partir do dado empírico, do qual o obtém por efeito de abstração.

A diretriz racionalista da filosofia já procede dos pré-socráticos do Ocidente, como Pitágoras e Parmênides.

Inovam sobretudo os anti-racionalistas ao reterem, como os sofistas, o saber na experiência; uma tendência da escola jônica, o empirismo teve agora seu desdobramento.

Por isso, no tempo de Sócrates a filosofia apresenta duas tendências radicalmente opostas: o racionalismo radical (de Sócrates) e o empirismo positivista (dos sofistas).


§2. Divisão didática da filosofia

ao tempo dos sofistas e de Sócrates.

8310y018.

Concentrados na primeira fase do período socrático (ainda sem Platão e sem Aristóteles), é possível um sequencial de quatro capítulos:

- Os grandes sofistas, Protágoras e Górgias (vd 8310y024);

- Os pequenos sofistas (vd 8310y076);

- Sócrates (vd 8310y103).

- Escolas socráticas menores, megárica, cínica, cirenaica (vd 8310y190).



Esta divisão é em parte cronológica, enquanto coloca em sucessão os grandes sofistas e os seus epígonos; Sócrates e as escolas que o sucederam. E é em parte uma divisão material, porque distingue, pelo seu conteúdo ou tema, entre empiristas (os sofistas) e racionalistas (os socráticos).


. Principia-se, pois, o estudo do período socrático, pelos sofistas (vd 25), portanto por aqueles aos quais Sócrates passou a combater.

Os sofistas do período socrático nasceram algumas décadas antes de Sócrates, mas serão contemporâneos do mesmo. Esta ligeira anterioridade dos primeiros sofistas sobre Sócrates, faz com que se costume fazer da sofística uma escola pré-socrática. Entretanto, a sofística é típica do período socrático.

São principais nomes sofistas Protágoras (c. c. 481 – c. 311 a.C.) e Górgias (c. 483 – c. 374 a.C.).

Ainda são de diretriz sofista Pródicos (nascido cerca de 470 a. C.), Hípias, Crítias, Ménon, Polo, Trasímaco, Cálicles. Todos estes nomes deverão ser estudados em sequência (vd cap. 1-o 8310y024).


. Do ponto de vista cronológico, ou seja temporal, ocorrem, - como já se adiantou, - 3 fases no período socrático, denominadas sucessivamente pela figuras principais do período - Sócrates (469-399 a. C.), Platão (427-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.).

As três fases tem como referencial nomes racionalistas, porque estes deram o destaque a cada uma delas, sem que fossem contudo representantes únicos da filosofia em cada uma das referidas fases.

Sócrates, ainda que nada houvesse escrito, merece consideração especial, porque inspirou a Platão e Aristóteles.

Dada a importância de Platão, tem-se-lhe dado um estudo a parte (vd O divino Platão 6316y000); o mesmo acontece com Aristóteles (vd O grande Aristóteles 0485y000).



Entre as diferentes escolas atuantes no período socrático importa subdistinguir entre as escolas socráticas menores e as escolas pré-socráticas remanescentes, as quais continuam na pessoa dos que são apenas epígonos das mesmas.

As escolas socráticas menores também procedem do período pré-socrático, todavia se inspirando agora em Sócrates, sobretudo no seu moralismo humanista.



Tais escolas pré-socráticas menores são:

- escola de Mégara, com Euclides de Mégara e Eubúlides de Mileto;

- escola cínica, com Antístenes de Atenas;

- escola cirenaica, com Aristipo de Cirene.



Diferentemente, as escolas pré-socráticas remanescentes, continuam diretamente o pensamento anterior, ainda que em forma evolutivas.

São apenas epígonos dos pré-socráticos, ou seja, pré-socráticos remanescentes, - Diógenes de Apolônia, Crátilo, Hipasos de Metaponte, Ecfanto, Clínias, Alcmeon, Árquitas.


A Sofística

Após as grandes vitórias gregas, atenienses, contra o império persa, houve um triunfo político da democracia, como acontece todas as vezes que o povo sente, de repente, a sua força. E visto que o domínio pessoal, em tal regime, depende da capacidade de conquistar o povo pela persuasão, compreende-se a importância que, em situação semelhante, devia ter a oratória e, por conseguinte, os mestres de eloqüência. Os sofistas, sequiosos de conquistar fama e riqueza no mundo, tornaram-se mestres de eloqüência, de retórica, ensinando aos homens ávidos de poder político a maneira de consegui-lo. Diversamente dos filósofos gregos em geral, o ensinamento dos sofistas não era ideal, desinteressado, mas sobejamente retribuído. O conteúdo desse ensino abraçava todo o saber, a cultura, uma enciclopédia, não para si mesma, mas como meio para fins práticos e empíricos e, portanto, superficial.

A época de ouro da sofística foi - pode-se dizer - a segunda metade do século V a.C. O centro foi Atenas, a Atenas de Péricles, capital democrática de um grande império marítimo e cultural. Os sofistas maiores foram quatro. Os menores foram uma plêiade, continuando até depois de Sócrates, embora sem importância filosófica. Protágoras foi o maior de todos, chefe de escola e teórico da sofística.

Moral, Direito e Religião

Em coerência com o ceticismo teórico, destruidor da ciência, a sofística sustenta o relativismo prático, destruidor da moral. Como é verdadeiro o que tal ao sentido, assim é bem o que satisfaz ao sentimento, ao impulso, à paixão de cada um em cada momento. Ao sensualismo, ao empirismo gnosiológicos correspondem o hedonismo e o utilitarismo ético: o único bem é o prazer, a única regra de conduta é o interesse particular. Górgias declara plena indiferença para com todo moralismo: ensina ele a seus discípulos unicamente a arte de vencer os adversários; que a causa seja justa ou não, não lhe interessa. A moral, portanto, - como norma universal de conduta - é concebida pelos sofistas não como lei racional do agir humano, isto é, como a lei que potencia profundamente a natureza humana, mas como um empecilho que incomoda o homem.

Desta maneira, os sofistas estabelecem uma oposição especial entre natureza e lei, quer política, quer moral, considerando a lei como fruto arbitrário, interessado, mortificador, uma pura convenção, e entendendo por natureza, não a natureza humana racional, mas a natureza humana sensível, animal, instintiva. E tentam criticar a vaidade desta lei, na verdade tão mutável conforme os tempos e os lugares, bem como a sua utilidade comumente celebrada: não é verdade - dizem - que a submissão à lei torne os homens felizes, pois grandes malvados, mediante graves crimes, têm freqüentemente conseguido grande êxito no mundo e, aliás, a experiência ensina que para triunfar no mundo, não é mister justiça e retidão, mas prudência e habilidade.

Então a realização da humanidade perfeita, segundo o ideal dos sofistas, não está na ação ética e ascética, no domínio de si mesmo, na justiça para com os outros, mas no engrandecimento ilimitado da própria personalidade, no prazer e no domínio violento dos homens. Esse domínio violento é necessário para possuir e gozar os bens terrenos, visto estes bens serem limitados e ambicionados por outros homens. É esta, aliás, a única forma de vida social possível num mundo em que estão em jogo unicamente forças brutas, materiais. Seria, portanto, um prejuízo a igualdade moral entre os fortes e os fracos, pois a verdadeira justiça conforme à natureza material, exige que o forte, o poderoso, oprima o fraco em seu proveito.

Quanto ao direito e à religião, a posição da sofística é extremista também, naturalmente, como na gnosiologia e na moral. A sofística move uma justa crítica, contra o direito positivo, muitas vezes arbitrário, contingente, tirânico, em nome do direito natural. Mas este direito natural - bem como a moral natural - segundo os sofistas, não é o direito fundado sobre a natureza racional do homem, e sim sobre a sua natureza animal, instintiva, passional. Então, o direito natural é o direito do mais poderoso, pois em uma sociedade em que estão em jogo apenas forças brutas, a força e a violência podem ser o único elemento organizador, o único sistema jurídico admissível.

A respeito da religião e da divindade, os sofistas não só trilham a mesma senda dos filósofos racionalistas gregos do período precedente e posterior, mas - de harmonia com o ceticismo deles - chegam até o extremo, até o ateísmo, pelo menos praticamente. Os sofistas, pois, servem-se da injustiça e do muito mal que existe no mundo, para negar que o mundo seja governado por uma providência divina.

Protágoras de Abdera

Protágoras nasceu em Abdera - pátria de Demócrito , cuja escola conheceu - pelo ano 480. Viajou por toda a Grécia, ensinando na sua cidade natal, na Magna Grécia, e especialmente em Atenas, onde teve grande êxito, sobretudo entre os jovens, e foi honrado e procurado por Péricles e Eurípedes. Acusado de ateísmo, teve de fugir de Atenas, onde foi processado e condenado por impiedade, e a sua obra sobre os deuses foi queimada em praça pública. Refugiou-se então na Sicília, onde morreu com setenta anos (410 a.C.), dos quais, quarenta dedicados à sua profissão. Dos princípios de Heráclito e das variações da sensação, conforme as disposições subjetivas dos órgãos, inferiu Protágoras a relatividade do conhecimento. Esta doutrina enunciou-a com a célebre fórmula; o homem é a medida de todas as coisas. Esta máxima significava mais exatamente que de cada homem individualmente considerado dependem as coisas, não na sua realidade física, mas na sua forma conhecida. Subjetivismo, relativismo e sensualismo são as notas características do seu sistema de ceticismo parcial. Platão deu o nome de Protágoras a um dos seus diálogos, e a um outro o de Górgias.

Górgias de Leôncio

Górgias nasceu em Abdera, na Sicília, em 480-375 a.C - correlacionado com Empédocles - representa a maior expressão prática da sofística, mediante o ensinamento da retórica; teoricamente, porém, foi um filósofo ocasional, exagerador dos artifícios da dialética eleática. Em 427 foi embaixador de sua pátria em Atenas, para pedir auxílio contra os siracusanos. Ensinou na Sicília, em Atenas, em outras cidades da Grécia, até estabelecer-se em Larissa na Tessália, onde teria morrido com 109 anos de idade. Menos profundo, porém, mais eloqüente que Protágoras, partiu dos princípios da escola eleata e concluiu também pela absoluta impossibilidade do saber. É autor duma obra intitulada "Do não ser", na qual desenvolve as três teses: Nada existe; se alguma coisa existisse não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos não a poderíamos manifestar aos outros.


A escola sofística está inserida na filosofia clássica. Para os autistas tenho que deixar tudo explicadinho. Meus amigos, quis dizer que o termo sofisma pode ser aplicado a qualquer filósofo e qualquer escola filosófica, não apenas aos sofistas. No caso de Nietzsche e isso foi interpretação minha, quis dizer que seu pensamento embora muito posterior a escola sofística, é muito idêntico. É só vir as características do pensamento de Nietzsche e comparar com as características da escola sofística. O sofisma é um termo tão abrangente que existe até no meio científico. Chamei Nietzsche de sofista porque na verdade ele tinha elementos sofistas em sua filosofia.


Os Sofistas


Período Sistemático

O segundo período da história do pensamento grego é o chamado período sistemático. Com efeito, nesse período realiza-se a sua grande e lógica sistematização, culminando em Aristóteles, através de Sócrates e Platão , que fixam o conceito de ciência e de inteligível, e através também da precedente crise cética da sofística. O interesse dos filósofos gira, de preferência, não em torno da natureza, mas em torno do homem e do espírito; da metafísica passa-se à gnosiologia e à moral. Daí ser dado a esse segundo período do pensamento grego também o nome de antropológico, pela importância e o lugar central destinado ao homem e ao espírito no sistema do mundo, até então limitado à natureza exterior.

Esse período esplêndido do pensamento grego - depois do qual começa a decadência - teve duração bastante curta. Abraça, substancialmente, o século IV a.C., e compreende um número relativamente pequeno de grandes pensadores: os sofistas e Sócrates, daí derivando as chamadas escolhas socráticas menores, sendo principais a cínica e a cirenaica, precursoras, respectivamente, do estoicismo e do epicurismo do período seguinte; Platão e Aristóteles, deles procedendo a Academia e o Liceu , que sobreviverão também no período seguinte e além ainda, especialmente a Academia por motivos éticos e religiosos, e em seus desenvolvimentos neoplatônicos em especial - apesar de o aristotelismo ter superado logicamente o platonismo.

A Sofística

Após as grandes vitórias gregas, atenienses, contra o império persa, houve um triunfo político da democracia, como acontece todas as vezes que o povo sente, de repente, a sua força. E visto que o domínio pessoal, em tal regime, depende da capacidade de conquistar o povo pela persuasão, compreende-se a importância que, em situação semelhante, devia ter a oratória e, por conseguinte, os mestres de eloqüência. Os sofistas, sequiosos de conquistar fama e riqueza no mundo, tornaram-se mestres de eloqüência, de retórica, ensinando aos homens ávidos de poder político a maneira de consegui-lo. Diversamente dos filósofos gregos em geral, o ensinamento dos sofistas não era ideal, desinteressado, mas sobejamente retribuído. O conteúdo desse ensino abraçava todo o saber, a cultura, uma enciclopédia, não para si mesma, mas como meio para fins práticos e empíricos e, portanto, superficial.

A época de ouro da sofística foi - pode-se dizer - a segunda metade do século V a.C. O centro foi Atenas, a Atenas de Péricles, capital democrática de um grande império marítimo e cultural. Os sofistas maiores foram quatro. Os menores foram uma plêiade, continuando até depois de Sócrates, embora sem importância filosófica. Protágoras foi o maior de todos, chefe de escola e teórico da sofística.

Moral, Direito e Religião

Em coerência com o ceticismo teórico, destruidor da ciência, a sofística sustenta o relativismo prático, destruidor da moral. Como é verdadeiro o que tal ao sentido, assim é bem o que satisfaz ao sentimento, ao impulso, à paixão de cada um em cada momento. Ao sensualismo, ao empirismo gnosiológicos correspondem o hedonismo e o utilitarismo ético: o único bem é o prazer, a única regra de conduta é o interesse particular. Górgias declara plena indiferença para com todo moralismo: ensina ele a seus discípulos unicamente a arte de vencer os adversários; que a causa seja justa ou não, não lhe interessa. A moral, portanto, - como norma universal de conduta - é concebida pelos sofistas não como lei racional do agir humano, isto é, como a lei que potencia profundamente a natureza humana, mas como um empecilho que incomoda o homem.

Desta maneira, os sofistas estabelecem uma oposição especial entre natureza e lei, quer política, quer moral, considerando a lei como fruto arbitrário, interessado, mortificador, uma pura convenção, e entendendo por natureza, não a natureza humana racional, mas a natureza humana sensível, animal, instintiva. E tentam criticar a vaidade desta lei, na verdade tão mutável conforme os tempos e os lugares, bem como a sua utilidade comumente celebrada: não é verdade - dizem - que a submissão à lei torne os homens felizes, pois grandes malvados, mediante graves crimes, têm freqüentemente conseguido grande êxito no mundo e, aliás, a experiência ensina que para triunfar no mundo, não é mister justiça e retidão, mas prudência e habilidade.

Então a realização da humanidade perfeita, segundo o ideal dos sofistas, não está na ação ética e ascética, no domínio de si mesmo, na justiça para com os outros, mas no engrandecimento ilimitado da própria personalidade, no prazer e no domínio violento dos homens. Esse domínio violento é necessário para possuir e gozar os bens terrenos, visto estes bens serem limitados e ambicionados por outros homens. É esta, aliás, a única forma de vida social possível num mundo em que estão em jogo unicamente forças brutas, materiais. Seria, portanto, um prejuízo a igualdade moral entre os fortes e os fracos, pois a verdadeira justiça conforme à natureza material, exige que o forte, o poderoso, oprima o fraco em seu proveito.

Quanto ao direito e à religião, a posição da sofística é extremista também, naturalmente, como na gnosiologia e na moral. A sofística move uma justa crítica, contra o direito positivo, muitas vezes arbitrário, contingente, tirânico, em nome do direito natural. Mas este direito natural - bem como a moral natural - segundo os sofistas, não é o direito fundado sobre a natureza racional do homem, e sim sobre a sua natureza animal, instintiva, passional. Então, o direito natural é o direito do mais poderoso, pois em uma sociedade em que estão em jogo apenas forças brutas, a força e a violência podem ser o único elemento organizador, o único sistema jurídico admissível.

A respeito da religião e da divindade, os sofistas não só trilham a mesma senda dos filósofos racionalistas gregos do período precedente e posterior, mas - de harmonia com o ceticismo deles - chegam até o extremo, até o ateísmo, pelo menos praticamente. Os sofistas, pois, servem-se da injustiça e do muito mal que existe no mundo, para negar que o mundo seja governado por uma providência divina.

Protágoras de Abdera

Protágoras nasceu em Abdera - pátria de Demócrito , cuja escola conheceu - pelo ano 480. Viajou por toda a Grécia, ensinando na sua cidade natal, na Magna Grécia, e especialmente em Atenas, onde teve grande êxito, sobretudo entre os jovens, e foi honrado e procurado por Péricles e Eurípedes. Acusado de ateísmo, teve de fugir de Atenas, onde foi processado e condenado por impiedade, e a sua obra sobre os deuses foi queimada em praça pública. Refugiou-se então na Sicília, onde morreu com setenta anos (410 a.C.), dos quais, quarenta dedicados à sua profissão. Dos princípios de Heráclito e das variações da sensação, conforme as disposições subjetivas dos órgãos, inferiu Protágoras a relatividade do conhecimento. Esta doutrina enunciou-a com a célebre fórmula; o homem é a medida de todas as coisas. Esta máxima significava mais exatamente que de cada homem individualmente considerado dependem as coisas, não na sua realidade física, mas na sua forma conhecida. Subjetivismo, relativismo e sensualismo são as notas características do seu sistema de ceticismo parcial. Platão deu o nome de Protágoras a um dos seus diálogos, e a um outro o de Górgias.

Górgias de Leôncio

Górgias nasceu em Abdera, na Sicília, em 480-375 a.C - correlacionado com Empédocles - representa a maior expressão prática da sofística, mediante o ensinamento da retórica; teoricamente, porém, foi um filósofo ocasional, exagerador dos artifícios da dialética eleática. Em 427 foi embaixador de sua pátria em Atenas, para pedir auxílio contra os siracusanos. Ensinou na Sicília, em Atenas, em outras cidades da Grécia, até estabelecer-se em Larissa na Tessália, onde teria morrido com 109 anos de idade. Menos profundo, porém, mais eloqüente que Protágoras, partiu dos princípios da escola eleata e concluiu também pela absoluta impossibilidade do saber. É autor duma obra intitulada "Do não ser", na qual desenvolve as três teses: Nada existe; se alguma coisa existisse não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos não a poderíamos manifestar aos outros. A prova de cada uma destas proposições e um enredo de sofismas, sutis uns, outros pueris.

No Górgias de Platão, Górgias declara que a sua arte produz a persuasão que nos move a crer sem saber, e não a persuasão que nos instrui sobre as razões intrínsecas do objeto em questão. Em suma, é mais ou menos o que acontece com o jornalismo moderno. Para remediar este extremo individualismo, negador dos valores teoréticos e morais, Protágoras recorre à convenção estatal, social, que deveria estabelecer o que é verdadeiro e o que é bem!



Escola Pluralista

A Escola Pluralista é uma escola de filosofia composta por Anaxágoras, Empédocles e Demócrito. O denominador comum nas posturas filósoficas desses pensadores consiste em admitir que não há um princípio único que explique todo o universo. Existem vários princípios que, misturando-se, formam a multiplicidade das coisas existentes, daí a denominação "pluralista".

Empédocles: água, ar, terra, fogo, como princípio
Anaxágoras: partículas minúsculas
Leucipo: elaborou teoria dos átomos ou atomismo
Demócrito: átomos



A Escola Pluralista (Va.C)

Coluna do Prof. Me. Benê França


A ESCOLA PLURALISTA (Séc. V):

A Escola Pluralista é a última das escolas arquéticas, segundo a História da Filosofia Antiga. Ela é constituída por alguns renomados pré-socráticos: Empédocles, nascido em Agrigento; Anaxágoras, de Clazomene; Leucipo, da cidade de Mileto, e Demócrito, de Abdera. Empédocles e Demócrito, sobretudo, influenciaram as ciências de todos os tempos, principalmente a Química, a Medicina e a Física. A expressão “pluralista” dá-se pelo fato deles defenderem a combinação de vários elementos naturais como arqué, elemento original de tudo aquilo que existe.
Empédocles, nascido no século V a.C., no formato de um discurso mitológico, assim escreveu, segundo a obra “Os filósofos pré-socráticos”, de Gerd BORNHEIM: “Ouve primeiro das quatro raízes de todas as coisas: Zeus brilhante [símbolo do fogo], Hera vivificante [terra], Aidoneus [água] e Nestis [ar], que deixa correr de suas lágrimas fonte terrena” (p.68). Em outras palavras, tudo o que existe teria surgido da combinação do fogo com a água e da terra com o ar.
Visando justificar a origem da vida, o pré-socrático Leucipo (460-370 a.C.) disse que nada derivava do acaso, pois tudo aquilo que existia seria resultante de uma razão ordenadora e de uma real necessidade (BORNHEIM, s/d: 103). Tal expressão era contundente para a época dele, bem como para a nossa época, visto que ainda há muitos que crêem que tudo teria surgido do nada e do acaso.
Para Demócrito (460-370 a.C.), o mais conhecido de todos, o fundamento da vida reside nos átomos, elemento que ele, sem ter um microscópio, assim definiu: “Estas coisas são tão pequenas que escapam aos sentidos. Têm as formas, figuras e grandezas mais variadas. [...] São agitadas e transportadas no vazio por causa da sua dessemelhança e outras diferenças específicas” (ALVES, 1985: 98).
Podemos afirmar que graças ao período da vigência dessas quatro escolas pré-socráticas, a cultura grega sofreu uma grande revolução na forma de pensar, preparando as bases sólidas para erigir o pensamento antropológico de Sócrates, Platão e Aristóteles. Neste próximo período, o mais importante não é saber qual é o elemento da natureza que fez gerar a vida, os objetos e as coisas na face da Terra, e sim qual é a nossa verdadeira identidade no mundo, o nosso papel na História, o porquê de nossa existência.

A diversidade humana na escola:

reconhecimento, multiculturalismo e tolerância*



A formação das identidades depende dos processos de socialização e de ensino e aprendizagem que ocorrem de acordo com as características físicas, cognitivas, afetivas, sexuais, culturais e étnicas dos envolvidos nos processos educativos.

O desenvolvimento da identidade do ser humano, como nos ensina Habermas (1983), pode ser analisado como um processo de aprendizagem:

a) Lingüística: para a comunicação;

b) Cognitiva: para a busca dos conhecimentos necessários para a vida em sociedade;

c) Interativa: para a ação e a interação com o outro.

De uma perspectiva geral, todos os processos educativos devem levar ao desenvolvimento desses três conjuntos de competências.

A educação é o resultado de relações sociais que podem capacitar aqueles que participam do processo educativo para:

a) a sobrevivência nas sociedades contemporâneas;

b) a busca da superação da ordem social existente;

c) os objetivos a) e b);

d) nenhum dos dois objetivos.

Cabe aos participantes dos processos educativos a decisão sobre a ênfase que será adotada. A educação é também um processo social do qual participamos enquanto realizamos uma opção entre diferentes valores e objetivos a serem alcançados.

Uma educação democrática é aquela em que todos os envolvidos podem participar na definição dos rumos da educação, e não só os dirigentes, professores, acadêmicos e técnicos.

A escola é um espaço público para a convivência fora da vida privada, íntima, familiar. Ao nos capacitarmos para a convivência participativa na escola, participamos de um processo de aprendizagem que também nos ensina como participar do restante da vida social.

A escola como esfera pública democrática pode possibilitar a capacitação de pais, alunos e educadores para a participação na busca de soluções para os problemas da escola, do bairro, da cidade, do Estado, do País e da vida da espécie humana no Planeta.

A democracia é um processo de negociação permanente dos conflitos de interesses e idéias. Para haver essa negociação permanente é preciso o respeito à diferença. Uma escola que respeita a diferença é uma escola pluralista que ensina a viver em uma sociedade que também é heterogênea.

Para tanto, todos devem ter o direito de falar, opinar e participar nos processos decisórios. É participando que se aprende a participar. Uma escola “perfeita”, na qual ninguém precisa dar nenhuma opinião, é um desastre educativo. O problema é que o controle e a disciplina, a idéia de ordem, organização e limpeza muitas vezes se tornam prioritários em relação ao direito de participação.

Um ponto de partida para que exista o respeito à diversidade na escola é aceitarmos que os agentes que interagem na escola têm interesses, visões de mundo e culturas diferentes e nenhum de nós tem o monopólio da verdade, da inteligência e da beleza. Daí a necessidade de negociações permanentes para que todos façam concessões, e todos tenham ao menos parte dos seus interesses e valores contemplados no espaço público da escola.

RECONHECIMENTO
Ao tratar da diversidade humana na escola podemos ter como parâmetro a necessidade de reconhecimento que caracteriza os seres humanos.

Para interpretarmos quem somos como coletividade, ou quem sou como indivíduo, dependemos do reconhecimento que nos é dado pelos outros. “Ninguém pode edificar a sua própria identidade independentemente das identificações que os outros fazem dele”, nos ensina Habermas (1983: 22).

O reconhecimento pelos outros é uma necessidade humana, já que o ser humano é um ser que só existe através da vida social.

Como também nos ensina Charles Taylor (1994: 58), “um indivíduo ou um grupo de pessoas podem sofrer um verdadeiro dano, uma autêntica deformação se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem limitada, degradante, depreciada sobre ele.”

Um falso reconhecimento é uma forma de opressão. A imagem que construímos muitas vezes sobre os portadores de deficiências e grupos subalternos, pobres, negros, prostitutas, homossexuais, é deprimente e humilhante para estes e causa-lhes sofrimento e humilhação, ainda mais por que tais representações depreciativas são construídas quase sempre para a legitimação da exclusão social e política dos grupos discriminados.

Para que haja respeito à diversidade na escola é necessário que todos sejam reconhecidos como iguais em dignidade e em direito. Mas para não nos restringirmos a uma concepção liberal de reconhecimento, devemos também questionar os mecanismos sociais, como a propriedade, e os mecanismos políticos, como a concentração do poder, que hierarquizam os indivíduos diferentes em superiores e dominantes, e em inferiores e subalternos.

Em outras palavras, ao considerarmos que os seres humanos dependem do reconhecimento que lhes é dado, estamos reconhecendo que a identidade do ser humano não é inata ou pré-determinada, e isso nos torna mais críticos e reflexivos sobre a maneira como estamos contribuindo para a formação das identidades dos nossos alunos.

Como ainda nos ensina Taylor (1994: 58), “a projeção sobre o outro de uma imagem inferior ou humilhante pode deformar e oprimir até o ponto em que essa imagem seja internalizada”. E não “dar um reconhecimento igualitário a alguém pode ser uma forma de opressão”.

Porém, quando afirmamos que “todos os seres humanos são igualmente dignos de respeito” (Taylor, 1994: 65), isso não pode significar que devemos deixar de considerar as inúmeras formas de diferenciação que existem entre os indivíduos e grupos.

Devemos fornecer o apoio e os recursos necessários para que não haja assimetria, desigualdade nas oportunidades e no acesso aos recursos. De novo Taylor (1994: 64): “Para aqueles que têm desvantagens ou mais necessidades é necessário que sejam destinados maiores recursos ou direitos do que para os demais”.

MULTICULTURALISMOS E TOLERÂNCIA
As sociedades contemporâneas são heterogêneas, compostas por diferentes grupos humanos, interesses contrapostos, classes e identidades culturais em conflito. Vivemos em sociedades nas quais os diferentes estão quase que permanentemente em contato. Os diferentes são obrigados ao encontro e à convivência. E são assim também as escolas.

As idéias multiculturalistas discutem como podemos entender e até resolver os problemas gerados pela heterogeneidade cultural, política, religiosa, étnica, racial, comportamental, econômica, já que teremos que conviver de alguma maneira.

Stuart Hall (2003) identifica pelo menos seis concepções diferentes de multiculturalismo na atualidade:

1. Multiculturalismo conservador: os dominantes buscam assimilar as minorias diferentes às tradições e costumes da maioria;

2. Multiculturalismo liberal: os diferentes devem ser integrados como iguais na sociedade dominante. A cidadania deve ser universal e igualitária, mas no domínio privado os diferentes podem adotar suas práticas culturais específicas;

3. Multiculturalismo pluralista: os diferentes grupos devem viver separadamente, dentro de uma ordem política federativa;

4. Multiculturalismo comercial: a diferença entre os indivíduos e grupos deve ser resolvida nas relações de mercado e no consumo privado, sem que sejam questionadas as desigualdade de poder e riqueza;

5. Multiculturalismo corporativo (público ou privado): a diferença deve ser administrada, de modo a que os interesses culturais e econômicos das minorias subalternas não incomodem os interesses dos dominantes;

6. Multiculturalismo crítico: questiona a origem das diferenças, criticando a exclusão social, a exclusão política, as formas de privilégio e de hierarquia existentes nas sociedades contemporâneas. Apóia os movimentos de resistência e de rebelião dos dominados.

Os multiculturalismos nos ensinam que reconhecer a diferença é reconhecer que existem indivíduos e grupos que são diferentes entre si, mas que possuem direitos correlatos, e que a convivência em uma sociedade democrática depende da aceitação da idéia de compormos uma totalidade social heterogênea na qual:

a) não poderá ocorrer a exclusão de nenhum elemento da totalidade;

b) os conflitos de interesse e de valores deverão ser negociados pacificamente;

c) a diferença deverá ser respeitada.

A política do reconhecimento e as várias concepções de multiculturalismo nos ensinam, enfim, que é necessário que seja admitida a diferença na relação com o outro. Isto quer dizer tolerar e conviver com aquele que não é como eu sou e não vive como eu vivo, e o seu modo de ser não pode significar que o outro deva ter menos oportunidades, menos atenção e recursos.

A democracia é uma forma de viver em negociação permanente tendo como parâmetro a necessidade de convivência entre os diferentes, ou seja, a tolerância. Mas para valorizar a tolerância entre os diferentes temos que reconhecer também o que nos une.



A Escola Pitagórica recebe o nome do fundador, Pitágoras. Outros pensadores importantes dessa escola: Filolau, Arquitas, Alcmeón; a matemática e física Theano, que foi, possivelmente, casada com Pitágoras.

Esses pensadores manifestam ao mesmo tempo tendências místico-religiosas e tendências científico-racionais. A influência estende-se até nossos dias.

A escola teve como ponto de partida a cidade de Crotona, sul da Itália, e difundiu-se vastamente. Trata-se da escola filosófica grega mais influenciada exteriormente pelas religiões orientais, e que por isso mais se aproximou das filosofias dogmáticas regidas pela idéia de autoridade. O pitagorismo influenciou o futuro platonismo, o cristianismo e ainda foi invocado por sociedades secretas que atravessaram o tempo até alcançarem os dias de hoje. O símbolo da Escola Pitagórica era o Pentagrama, uma estrela de 5 pontas.

Pitagoras ficou conhecido também como o "filósofo feminista", visto que na escola haviam muitas mulheres discipulas e mestres, tais como Theano.



Sofistas

A crescente demanda por uma educação mais apurada na Grécia por volta do século V a.C. fez surgir uma classe de mestres da cultura intitulados "Sofistas". Eram mais uma classe profissional do que uma escola propriamente dita e, como tal, se espalharam pela Grécia e promoveram muita rivalidade profissional e intelectual. Essa demanda educacional era de fato devida à busca de um conhecimento genuíno, mas refletia com maior propriedade um desejo por um aprendizado espúrio que levaria ao sucesso político. Os sofistas andavam pela Grécia, de cidade em cidade, fazendo discursos, formando discípulos e participando de debates. Por seus serviços os sofistas cobravam altas taxas e foram, na verdade, os primeiros gregos a cobrarem dinheiro para transmitir seus conhecimentos. Os sofistas não eram, falando em termos técnicos, filósofos, mas ensinavam tudo aquilo que se lhes demandasse. Eram tópicos variados como retórica, política, gramática, etimologia, história, física e matemática. Logo alcançaram o status de mestres da virtude no sentido de que ensinavam as pessoas a desempenharem seus papéis dentro do Estado. Protágoras de Abdera, nascido em cerca de 445 a.C. é considerado como o primeiro Sofista. Outros que se destacaram foram Górgias de Leontini, Pródico de Ceos e Hípias de Elis. Onde quer que eles aparecessem, especialmente em Atenas, eram recebidos com entusiasmo e muitos se ajuntavam para ouvi-los. Até mesmo pessoas como Péricles, Eurípides e Sócrates desfrutavam de sua companhia.

A carreira mais popular na Grécia naquela época era a habilidade na política. Assim, os sofistas concentraram seus esforços no ensino da retórica. Os objetivos dos jovens políticos que eles treinavam eram o de persuadir as multidões de tudo o que quisessem que elas acreditassem. A busca da verdade não era a sua prioridade. Consequentemente os sofistas se empenhavam em providenciar um estoque de argumentos sobre qualquer que fosse o assunto, ou ainda para provar qualquer posição. Se vangloriavam de sua habilidade de fazer com que o pior parecesse melhor, de provar que preto era branco. Alguns sofistas como Górgias garantiam que não era necessário ter nenhum conhecimento sobre um determinado assunto para dar respostas satisfatórias em respeito a ele. Portanto, Górgias respondia com ostentação a qualquer questionamento que lhe faziam sobre qualquer assunto. Para obter seus fins, utilizava de linguagem evasiva. Dessa maneira, os sofistas tentavam envolver, enredar e confundir seus oponentes e até mesmo, se isso não fosse possível, derrotá-los por mera força e violência. Buscavam também sobrepujar-se por intermédio de metáforas rebuscadas, figuras de linguagem inusitadas, epigramas e paradoxos, isto é, sendo em geral mais astutos e sagazes ao invés de sinceros e verdadeiros. Através de Platão ficamos sabendo que havia um certo preconceito sobre o título de "sofista". Na época de Aristóteles esse título sustenta um significado de insolência à medida que define "sofista" como uma pessoa que faz uso da razão de maneira falsa para obter lucros.

Com o renascimento da eloqüência grega (aproximadamente século II d.C), o nome "sofista" passa a ter nova acepção. Nessa época esse nome era aplicado aos profissionais da oratória que apareciam em público com grande pompa e faziam seus discursos ora preparados antecipadamente, ora de improviso. Da mesma forma que os primeiros sofistas, deslocavam-se de lugar para lugar e eram aclamados com aplauso e menções honrosas por seus contemporâneos, incluindo Imperadores Romanos. Dion Crisostom, Herodes Áticus, Aristides, Lucian e Filostratus são os destaques desse grupo que despontou nessa segunda fase da escola sofista, um período que se estende por todo o século II.

Protágoras

Protágoras nasceu em Abdera - pátria de Demócrito, cuja escola conheceu - pelo ano 480. Viajou por toda a Grécia, ensinando na sua cidade natal, na Magna Grécia, e especialmente em Atenas, onde teve grande êxito, sobretudo entre os jovens, e foi honrado e procurado por Péricles e Eurípedes. Acusado de ateísmo, teve de fugir de Atenas, onde foi processado e condenado por impiedade, e a sua obra sobre os deuses foi queimada em praça pública. Refugiou-se então na Sicília, onde morreu com setenta anos (410 a.C.), dos quais, quarenta dedicados à sua profissão. Dos princípios de Heráclito e das variações da sensação, conforme as disposições subjetivas dos órgãos, inferiu Protágoras a relatividade do conhecimento. Esta doutrina enunciou-a com a célebre fórmula: O homem é a medida de todas as coisas. Esta máxima significava mais exatamente que de cada homem individualmente considerado dependem as coisas, não na sua realidade física, mas na sua forma conhecida. Subjetivismo, relativismo e sensualismo são as notas características do seu sistema de ceticismo parcial. Platão deu o nome de Protágoras a um dos seus diálogos, e a um outro o de Górgias.

Górgias

Górgias nasceu em Abdera, na Sicília, em 480-375 a.C. - correlacionado com Empédocles - representa a maior expressão prática da sofística, mediante o ensinamento da retórica; teoricamente, porém, foi um filósofo ocasional, exagerador dos artifícios da dialética eleática. Em 427 foi embaixador de sua pátria em Atenas, para pedir auxílio contra os siracusanos. Ensinou na Sicília, em Atenas, em outras cidades da Grécia, até estabelecer-se em Larissa na Tessália, onde teria morrido com 109 anos de idade. Menos profundo, porém, mais eloqüente que Protágoras, partiu dos princípios da escola eleata e concluiu também pela absoluta impossibilidade do saber. é autor da obra intitulada "Do não ser", na qual desenvolve as três teses: Nada existe; se alguma coisa existisse não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos não a poderíamos manifestar aos outros. A prova de cada uma destas proposições e um enredo de sofismas, sutis uns, outros pueris.

No Górgias de Platão, Górgias declara que a sua arte produz a persuasão que nos move a crer sem saber, e não a persuasão que nos instrui sobre as razões intrínsecas do objeto em questão. Em suma, é mais ou menos o que acontece com o jornalismo moderno. Para remediar este extremo individualismo, negador dos valores teoréticos e morais, Protágoras recorre à convenção estatal, social, que deveria estabelecer o que é verdadeiro e o que é o bem.

Pródico

Pródico foi sofista e retórico nascido na cidade jônica de Julius em Ceos. Foi contemporâneo de Demócrito e Górgias e também discípulo de Protágoras. Tornou-se conhecido Reporta-se que entre seus discípulos estão incluídos Sócrates, Eurípides, Teramenes e Isócrates. Foi sofista no sentido pleno de educador independente com seu nome sendo associado ao ensino da arte do sucesso na política e na vida privada. Em seus ensaios de estilo literário destacou o uso apropriado da palavra e a acurada discriminação dos sinônimos. é freqüentemente ironizado por Platão por sua linguagem. Platão também faz insinuações a respeito do prospecto da abertura de sua escola que levou Pródico a ganhar sua riqueza. Aristófanes, contudo, o descreve como o mais memorável filósofo naturalista pelo seu caráter e sabedoria. Na realidade, Pródico era humanista e teve uma visão notável de discernimento da estreita conexão entre a religião e a agricultura. Os únicos títulos atestados de obras de Pródico são "Sobre a natureza", "Sobre a natureza do homem" e "Horai". Sua obra mais famosa foi "A Escolha de Hércules" e era freqüentemente citada. O texto original se perdeu, mas sua substância está contida na Memorabilia de Xenofon (2:1:21). Pródico foi condenado à morte sob a acusação de corrupção da juventude ateniense. Cícero aponta algumas de suas doutrinas como subversivas a todo tipo de religião. Fala-se que Pródico explicava a origem da religião através da personificação de objetos naturais.

Hípias

Sofista grego de Elis e contemporâneo de Sócrates. Ensinou nas cidades da Grécia , especialmente em Atenas. Tinha a vantagem de possuir uma memória prodigiosa e era altamente versado em todos os segmentos de conhecimento de sua época. Trabalhava com toda a forma de literatura existente. Elaborou ainda sua primeira composição de diálogos. Nos dois diálogos Platônicos que receberam seu nome (Hípias Maior e Hípias Menor) é representado como excessivamente orgulhoso e arrogante.

Hípias é lembrado pelos seus esforços em relação à universalidade. Era inimigo de toda sorte de especialização e apareceu em Olímpia glamorosamente trajado com um costume desenhado por ele mesmo e combinando com seu anel. Estava sempre preparado para discursar a qualquer um sobre qualquer assunto. Desde astronomia até história antiga. Um homem assim tinha de ser dotado de uma grande memória e sabemos que ele inventou um sistema mnemônico. Apesar disso tudo, havia um lado mais sério de sua personalidade. Essa era uma época em que todos ainda eram muito otimistas em relação a quadratura do círculo. Ele inventou a curva conhecida até hoje como quadratriz que resolveria o problema mecanicamente descrito. Hípias parece ser o precursor da idéia da lei natural como fundação da moralidade, distinguindo a natureza das convenções arbitrárias ou modistas, diferenciando de acordo com os diferentes períodos e regiões onde surgiam, impostas pela arbitrariedade humana e sempre obedecida à força. Sustentava que existe um elemento de direito comum às leis de todos os países e que constitui sua base essencial. Dizia ainda que o bem e o sábio de todas as nações são elementos inatos e que deveríamos ver os cidadãos como membros de um único Estado. Essa idéia vai ser desenvolvida mais tarde pelos Cínicos e também pelos Estóicos, passando depois para os juristas em cujas mãos tornou-se um instrumento que favoreceu a conversão da lei romana em legislação de um povo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário