AUTORES
ÉSQUILO
Ésquilo
Busto de Ésquilo, Museus Capitolinos, Roma.
Nascimento c. 525-524 a.C.
Elêusis
Morte 456-455 a.C.
Gela
Nacionalidade Grego
Ocupação Dramaturgo e soldado
Ésquilo (em grego: Αἰσχύλος, transl. Aiskhýlos; Elêusis, c. 525/524 a.C. - Gela, 456/455 a.C.) foi um dramaturgo da Grécia Antiga. É reconhecido frequentemente como o pai da tragédia,[1][2] e é o mais antigo dos três trágicos gregos cujas peças ainda existem (os outros são Sófocles e Eurípedes). De acordo com Aristóteles, Ésquilo aumentou o número de personagens usados nas peças para permitir conflitos entre eles; anteriormente, os personagens interagiam apenas com o coro. Apenas sete de um total estimado de setenta a noventa peças feitas pelo autor sobreviveram à modernidade; uma destas, Prometeu Acorrentado, é tida hoje em dia como sendo de autoria de um autor posterior.
Pelo menos uma das obras de Ésquilo foi influenciada pela invasão persa da Grécia, ocorrida durante sua vida. Sua peça Os Persas continua sendo uma grande fonte de informação sobre este período da história grega. A guerra teve tamanha importância para os gregos e para o próprio Ésquilo que, na ocasião de sua morte, por volta de 456 a.C., seu epitáfio celebrava sua participação na vitória grega em Maratona, e não seu sucesso como dramaturgo
Biografia
Não existem fontes confiáveis para a vida de Ésquilo. Diz-se que nasceu por volta de 525 a.C. em Elêusis, pequena cidade a cerca de 27 quilômetros a noroeste de Atenas, aninhada nos férteis vales da Ática ocidental,[3] embora a data tenha sido obtida provavelmente com base na contagem de quarenta anos antes de sua primeira vitória da Grande Dionísia. Sua família era rica e tinha boa posição social; seu pai, Eufórion, era membro dos eupátridas, a antiga nobreza da Ática.[4] Ainda jovem, Ésquilo trabalhou num vinhedo até que, de acordo com o geógrafo Pausânias, que escreveu no século II d.C., o deus Dioniso o teria visitado em seu sono e ordenado que voltasse sua atenção para a arte então nascente da tragédia.[4] Assim que acordou do sonho, o jovem Ésquilo teria começado a escrever uma tragédia, cuja primeira performance deu-se em 499 a.C., quando tinha apenas 26 anos de idade.[3][4]Eventualmente obteria sua primeira vitória na Dionísia da Cidade em 484 a.C.[4][5]
As Guerras Persas tiveram um papel fundamental na vida e na carreira do dramaturgo. Em 490 a.C. Ésquilo e seu irmão, Cinegiro, lutaram defendendo Atenas do exército persa de Dario, na Batalha de Maratona.[3] Os atenienses, embora em número inferior, conseguiram cercar e dizimar as forças persas; esta derrota crucial pôs um fim à primeira invasão persa da Grécia, e foi celebrada por todas as cidades-Estado gregas.[3] Embora Atenas tenha saído vitoriosa, Cinegiro morreu durante o combate.[3] Em 480 a.C. Ésquilo foi convocado novamente para o serviço militar, desta vez para combater as forças de Xerxes, na Batalha de Salamina e, possivelmente, na Batalha de Plateia, em 479.[3] Salamina ocupa um lugar de destaque na peça Os Persas, obra mais antiga do autor a ter sobrevivido aos dias de hoje, executada pela primeira vez publicamente em 472 a.C., e que venceu o primeiro prêmio na Dionísia.[6]
Ésquilo foi um dos muitos gregos que haviam sido iniciados nos Mistérios de Elêusis, um culto devotado à deusa Deméter com sede em sua terra natal de Elêusis.[7] Como indica o nome, os membros deste culto supostamente obtinham algum tipo de conhecimento místico secreto. Relatos consistentes dos ritos específicos praticados nos Mistérios são escassos, já que os membros juravam, sob pena de morte, não revelar nada sobre eles aos não-iniciados. Ainda assim, de acordo com Aristóteles, muitos achavam que Ésquilo teria revelado alguns dos segredos do culto no palco.[8] De acordo com outras fontes, uma turba enfurecida teria tentado matá-lo por este motivo, porém ele teria logrado fugir. Ao ser julgado pelo fato, Ésquilo alegou ignorância, e só teve sua vida poupada por seu corajoso serviço nas Guerras Persas.
Ésquilo viajou à Sicília uma ou duas vezes durante a década de 470 a.C., a convite de Hierão, tirano de Siracusa, uma das principais colônias gregas no lado oriental da ilha; durante uma destas viagens escreveu As Mulheres de Etna, em homenagem à cidade fundada pelo tirano, e reencenou Os Persas.[3] Em 473 a.C., após a morte de Frínico, um de seus principais rivais, Ésquilo passou a ser o favorito anual na Dionísia, conquistando o primeiro lugar em quase todas as edições da competição.[3] Em 458 a.C. retornou à Sicília pela última vez, visitando a cidade de Gela, onde veio a morrer em 456 ou 455. Alega-se que teria sido morto por uma tartaruga, derrubada das alturas sobre sua cabeça por uma águia, porém a história é, muito provavelmente, apócrifa.[9] A obra de Ésquilo era tão respeitada pelos atenienses que, após sua morte, suas tragédias passaram a ser as únicas a poderem ser reencenadas nas edições seguintes das competições teatrais da cidade.[3] Seus filhos, Eufórion e Evéon, e seu sobrinho, Filócles, seguiram seus passos e também se tornaram dramaturgos.[3]
A inscrição na lápide de Ésquilo não fazia qualquer menção à sua fama teatral, homenageando apenas suas glórias militares:
Obra
Teatro de Dioniso, em Atenas, onde muitas das peças de Ésquilo foram encenadas.A arte grega do drama teve suas raízes nos festivais religiosos dedicados aos deuses da mitologia grega, especialmente Dioniso, deus do vinho.[5] Durante a época em que Ésquilo viveu competições dramáticas passaram a ser uma parte integrante da Dionísia da Cidade, realizada durante a primavera.[5] O festival se iniciava com uma procissão de abertura, à qual se seguia uma competição de rapazes cantando ditirambos, e culminava com duas competições dramáticas.[11] A primeira competição da qual Ésquilo teria participado reuniu três autores que apresentaram três tragédias cada um, seguidas por uma pequena peça satírica.[11] Seguia-se uma segunda competição de cinco dramaturgos cômicos, e os vencedores de ambas as competições eram escolhidos por um corpo de jurados.[11]
Ésquilo participou de muitas destas competições ao longo de sua vida, e diversas das fontes antigas atribuem entre setenta e noventa peças a ele.[1][12] Apenas sete de suas tragédias sobreviveram intactas até os dias de hoje: Os Persas, Sete contra Tebas, As Suplicantes, a trilogia conhecida como A Oresteia, que consiste das três tragédias Agamenon, As Coéforas e As Eumênides, além de Prometeu Acorrentado, cuja autoria é questionada. Com a exceção desta última, cujo sucesso é incerto, sabe-se com segurança que todas estas venceram a primeira colocação na Dionísia da Cidade. A Vida de Ésquilo alexandrina indica que o dramaturgo teria vencido por treze vezes o torneio.
Uma característica marcante da dramaturgia esquiliana parece ter sido sua tendência de escrever trilogias interligadas, onde cada peça serve como um capítulo de uma narrativa dramática contínua.[13] A Oresteia é o único exemplo ainda existente deste tipo de trilogia do autor, porém existem diversas evidências que eram frequentes no catálogo de Ésquilo. As peças cômicas satíricas que se seguiam às suas trilogias dramáticas frequentemente abordavam um tópico mítico relacionado. A peça satírica Proteu, por exemplo, encenada juntamente com a Oresteia, abordava a história do período em que Menelau esteve no Egito, durante sua viagem de volta para casa após a Guerra de Troia. Com base nas evidências fornecidas por um catálogo de títulos de peças de Ésquilo, scholia e fragmentos de peças citados por autores posteriores, acredita-se que três outras das peças existentes de Ésquilo tenham feito parte de trilogias: Sete contra Tebas seria a peça final de uma trilogia sobre Édipo, e As Suplicantes e Prometeu Acorrentado seriam as primeiras partes de diferentes trios. Diversas destas trilogias abordaram mitos relacionados à Guerra de Troia; uma delas, conhecida coletivamente como a Aquileida, que reunia as obras Mirmidões, Nereidas e Frígios (ou O Resgate de Heitor), narrava a morte de Heitor nas mãos de Aquiles e a subsequente troca do cadáver do heroi mediante pagamento de resgate; outra trilogia aparentemente narrava a entrada do aliado troiano Mêmnon na guerra, e de sua morte por obra de Aquiles (Mêmnon e A Pesagem das Almas seriam dois componentes da trilogia); A Premiação das Armas, As Frígias e As Salaminas sugerem uma trilogia sobre a loucura e o subsequente suicídio do heroi Ájax. Ésquilo também parece ter abordado o retorno de Odisseu a Ítaca depois da guerra (incluindo o assassinato dos pretendentes de sua esposa, Penélope, e as consequências do ato) com uma trilogia, composta por Os Evocadores de Almas, Penélope e Os Coletores de Ossos. Outras trilogias sugeridas pelos estudiosos teriam abordado o mito de Jasão e os Argonautas (Argos, Lêmnias, Hipsípile), a vida de Perseu (Os Pescadores, Polidetes, Fórcides), o nascimento e os feitos de Dioniso (Sêmele, Bacantes, Penteu) e o cenário posterior à guerra mostrada em Sete contra Tebas (Eleusinas, Argivas, Filhos dos Sete).[14]
[editar] Os Persas
A peça mais antiga do autor a ter sobrevivido até os dias de hoje é Os Persas (Persai), encenada pela primeira vez em 472 a.C., e baseada nas experiências do próprio Ésquilo no exército, mais especificamente na Batalha de Salamina.[15] É única entre as tragédias gregas por tratar de um evento histórico recente, no lugar de um mito heróico ou divino.[1] Os Persas o tema popular entre os gregos do hubris, ao colocar a culpa da derrota persa no orgulho sobrepujante de seu rei.[15] A obra se inicia com a chegada de um mensageiro em Susa, capital do Império Persa, trazendo a Atossa, mãe do rei persa, Xerxes, notícias da derrota catastrófica dos persas em Salamina. Atossa visita então a sepultura do antigo imperador Dario, seu marido, cujo fantasma lhe aparece, explicando os motivos da derrota - resultado, segundo ele, do húbris de Xerxes ao construir uma ponte sobre o Helesponto, atitude que enfureceu os deuses. Xerxes aparece apenas no fim da peça, sem perceber as causas de sua derrota, e a peça se encerra em meio aos lamentos do rei e do coro.[16]
[editar] Sete contra Tebas
Sete contra Tebas (Hepta epi Thebas), encenada em 467 a.C., aborda um tema contrastante, o do destino e a interferência dos deuses nos assuntos humanos.[15] Também marca a primeira aparição numa obra de Ésquilo de um tema que seria constante em suas peças, o da pólis como desenvolvimento vital da civilização humana.[17] A obra conta a história de Etéocles e Polinices, filhos do desgraçado rei de Tebas, Édipo. Ambos os filhos concordam em se alternar no trono da cidade, porém depois do primeiro ano Etéocles se recusa a ceder o lugar para o irmão, que declara guerra para conquistar a coroa. Os irmãos acabam por se matar durante um combate, e o fim original dapeça consistia de lamentos pelos dois mortos; um novo final foi acrescentado à peça cinquenta anos depois, no qual Antígona e Ismena, ainda em luto pela morte dos irmãos, recebem um messageiro que anuncia um edito proibindo o enterro de Polinices; Antígona declara então sua intenção de desafiar este edito.[18] A peça era a terceira de uma trilogia relacionada a Édipo; as duas primeiras eram Laio e Édipo, e provavelmente abordavam aqueles elementos do mito edípico notórios pela maneira com que foram descritos na obra Édipo Rei, de Sófocles. A peça satírica que concluía a trilogia era A Esfinge.[19]
[editar] As Suplicantes
Ésquilo continuou com a mesma ênfase na pólis em As Suplicantes (Hiketides), de 463 a.C., que presta uma homenagem às correntes democráticas que se afiguravam em Atenas antes da fundação do governo democrático, em 461. Na peça as danaides, cinquenta filhas de Dânao, fundador de Argos, fogem de casamentos forçados com seus primos no Egito; apelam ao rei Pelasgo, de Argos, por proteção, porém Pelasgo se recusa até que o povo de Argos se pronuncie sobre a decisão - uma atitude distintamente democrática do monarca. O povo decide que as danaides merecem a proteção, e recebem a permissão de se refugiar dentro das muralhas de Argos, apesar dos protestos egípcios.[20] A publicação em 1952 do papiro 2256 fr. 3 de Oxyrhynchus confirmou a existência da trilogia danaide, cuja existência já era há muito tida como certa devido ao final em suspense das Suplicantes; as outras duas peças que formam esta trilogia seriam Os Egítiadas e As Danaides. De acordo com uma reconstrução plausível dos últimos dois terços da trilogia,[21] em Egítiadas a guerra entre Argos e o Egito, antecipada na primeira peça, já teve seu fim; o rei Pelasgo foi morto, e Dânao, novo governante de Argos, negocia um acordo de paz com Egito, com a condição de que suas cinquenta filhas casem-se com os cinquenta filhos do rei. Dânao, secretamente, informa a suas filhas sobre a previsão de um oráculo de que ele seria morto por um de seus genros, e ordena às danaides que assassinem os egitíadas durante a noite de núpcias, ao que as filhas concordam. As Danaides se inicia no dia após o casamento, quando se revela que quarenta e nove das filhas mataram seus maridos, como haviam combinado com o pai; Hipermnestra, no entanto, amava seu esposo, Linceu, e poupou sua vida, ajudando-o na sua fuga. Furioso pela desobediência da filha, Dânao ordena que seja presa e executada. No clímax e desenlace da trilogia, Linceu aborda Dânao e o mata, cumprindo assim a profecia do oráculo, e funda uma dinastia em Argos ao lado de Hipermnestra; as outras irmãs são absolvidas de seu hediondo crime, e casam-se com argivos. A peça satírica que se seguiu à trilogia chamava-se Amimone, nome de uma das danaides.[22]
[editar] A Oresteia
Artigo Principal: Oresteia
A mais completa tetralogia de autoria de Ésquilo a ainda existir é A Orestia, de 458 a.C., da qual apenas a peça satírica está faltando.[15] A Oresteia é também a única trilogia completa de algum dramaturgo grego descoberta pelos estudiosos modernos.[15] Consiste das peças Agamenon, As Coéforas (Choephoroi) e As Eumênides;[17] Juntas, estas obras narram a sangrenta história da família de Agamenon, rei de Argos.
[editar] Agamenon
Agamenon descreve a morte do rei nas mãos de sua esposa, Clitenestra, furiosa e desejosa de vingança - tanto pelo sacrifício de sua filha, Ifigênia, cometido por Agamenon antes da Guerra de Troia, quanto pela sua manutenção da profetisa troiana Cassandra como concubina. Cassandra adentra o palácio, a despeito de seu conhecimento do fato de que também será assassinada por Clitenestra, pois sabe que não pode escapar de seu hediondo destino. O fim da peça inclui uma previsão do retorno de Orestes, filho de Agamenon, que vingará seu pai.[17]
[editar] As Coéforas
As Coéforas continua com a história, abrindo com o relato de Clitenestra de um pesadelo na qual ela dava luz a uma serpente. A rainha ordena então a Electra, sua filha, que faça libações no túmulo de Agamenon (com o auxílio das coéforas do título), na esperança de expiar sua culpa. Diante da sepultura, Electra se encontra com Orestes, que acabou de retornar do seu exilo preventivo na Fócida, e juntos planejam vingar-se de Clitenestra e seu amante, Egisto. Ao retornar para o palácio, Electra alega trazer notícias da morte de Orestes; quando Clitenestra chama Egisto para ouvir a notícia, Orestes mata os dois e imediatamente é atacado pelas Eumênides (as Fúrias da mitologia latina), responsáveis por vingar atos de parricídio e matricídio na mitologia grega.[17]
[editar] As Eumênides
A peça final da Oresteia aborda a questão do sentimento de culpa de Orestes.[17] As Fúrias perseguem Orestes, expulsando-o de Argos e obrigando-o a se refugiar no campo. Visita então um templo do deus Apolo, a quem roga por ajuda para espantar as Eumênides; Apolo havia encorajado Orestes a matar Clitenestra, e portanto partilhava um pouco da culpa deste ato. As Fúrias, no entanto, pertencem a uma raça mais antiga de deuses, os Titãs, e Apolo não pode exercer qualquer efeito sobre elas; envia então Orestes ao templo de Atena, com Hermes como guia. As Fúrias, no entanto, o encontram, e estão prestes a matá-lo quando Atena, padroeira da cidade de Atenas, surge e declara que um julgamento será necessário para determinar a culpa de Orestes. Apolo apresenta o seu caso e, quando o júri atinge um impasse, Atena toma uma decisão contrária às Fúrias, passando a denominá-las Eumênides ("Bondosas"), e declarando que no futuro todos os julgamentos em situação semelhante deveriam terminar com a absolvição do réu, já que a misericórdia deve sempre preceder a dureza. As Eumênides exalta especificamente a importância da razão no desenvolvimento das leis e, como As Coéforas, louva os ideais de uma Atenas democrática.[20]
Ésquilo
Ésquilo, o primeiro grande autor trágico, nasceu em Elêusis no ano de 525 a.C., participou da batalha de Maratona no ano de 490 a.C. e, por muitas vezes, esteve na Sicília, onde morreu no ano de 456 a.C. Ésquilo acreditava que o Autor era, antes de tudo um educador.
Ele acreditava que se os atores sofressem em cena, isso despertaria os sentimentos de terror e piedade dos espectadores porporcionando-lhes o alívio ou purgação desses sentimentos. Ocorreria assim a purificação das paixões - Catarse.
Ésquilo, o primeiro autor a introduzir um segundo ator nas representações, escreveu mais de oitenta obras dentre as quais destacam-se Os persas(472), Os sete contra Tebas(467), As suplicantes (acredita-se que seja de 463), Prometeu acorrentado (de data desconhecida e autenticidade duvidosa) e as três peças da Oréstia (458): Agamenon, As coéoras e As eumênides.
Durante muito tempo acreditou-se que as trilogias ou tetralogias articuladas, ou seja, três tragédias de uma mesma lenda seguidas de um drama satírico, existiram desde a origem do teatro. Essa teoria começou a ser questionada a partir do momento em que As suplicantes não foram mais consideradas como a mais antiga obra de Ésquilo. Por isso, alguns estudiosos acreditam que foi Ésquilo quem instituiu as trilogias ou tetralogias articuladas. A única trilogia completa de Ésquilo que conhecemos é a Oréstia. Por meio dela pode-se tentar compreender um pouco o pensamento desse autor, sobretudo porque ela foi escrita pouco antes de sua morte.
Ésquilo e o Júri Divino
A máscara de Agamenon
Há 2.500 anos, Ésquilo, o mais famoso autor teatral grego, resolveu inspirar-se na instalação do tribunal do júri na cidade de Atenas para apresentar, durante o Concurso Trágico do ano de 458 a.C., a sua trilogia chamada Orestéia, subdividida na peça Agamenon, Coéforas e Euménides, que tratam do assassinato do rei Agamenon, o herói da guerra de Tróia, e da vingança praticada por seu filho Orestes. O sentido da trilogia era celebrar o elemento civilizador que foi a introdução, pelas mãos da deusa Atena, de um corpo de jurados para julgar os crimes de sangue.
O Retorno de um Rei
Cabeça micênica
Durante anos e anos, enquanto durava a Guerra de Tróia, um sentinela fora colocado no alto da torre do palácio real de Micenas, em Argos na Grécia, a espera de um sinal. Quem ordenara a vigilância fôra a rainha Clitemnestra, cujo marido, o rei Agamenon estava ausente há dez anos. Ela, astutamente, determinara que uma série de fogueiras deveriam ser colocadas nos picos das ilhas que se estendiam como um colar aberto desde o litoral de Tróia, na Ásia, até as praias da Grécia continental, com a função de avisá-la quando a guerra terminasse. Assim que fosse confirmada a queda de Tróia, os encarregados tocariam fogo nas madeiras empilhadas nos cimos dos montes para avisar a ilha seguinte, e assim sucessivamente até que as chamas da derradeira fogueira na última ilha fossem avistadas do alto das muradas do palácio de Micenas. Por meio desse telégrafo ígneo, a rainha Clitemnestra saberia que o soberano, seu esposo, estaria em breve de volta à casa.
A Maldição dos Átridas
A Morte do Rei
Clitemnestra e o amante tramando a morte do rei
O rei Agamenon, porém, não teria uma acolhida digna de um herói. Bem ao contrário. Quem o esperava era um esposa vingativa e adultera. Desde que ele fora, dez anos antes, obrigado pelos deuses a sacrificar Ifigênia, a sua própria filha, para aplacá-los, e assim poder seguir com a expedição dos mil barcos gregos contra Tróia, que os seus dias estavam contados. Clitemnestra, fingindo-se contente, recebeu-o com as honras de praxe, estendendo-lhe um vistoso tapete para que em seguida ele fosse banhar-se. Foi na tina real que Egisto, o amante da rainha, lá emboscado, o matou. Cassandra, a profetiza troiana que Agamenon trouxera como prisioneira, a quem não escutara as terríveis previsões, também foi degolada. Cometido o crime, Clitemnestra e o amante trataram de afastar do palácio os dois filhos do rei. O jovem príncipe Orestes foi desterrado enquanto a sua irmã, a princesa Electra, deram-na em casamento a um homem de condição inferior a sua.
A porta dos leões de Micenas (cerca de 1.250 a.C.)
A brutal morte do rei Agamenon não foi a exceção naquela infeliz família. De fato, os Átridas eram amaldiçoados. Atreu, o pai de Agamenon, junto com seu irmão Trieste, ainda bem jovens, refugiaram-se na cidade de Micenas. Ambos haviam se envolvido na morte de um meio-irmão, e imploraram ao rei Euristeu que os acolhessem até que os furores se acalmassem. Passado um tempo, o rei que lhes deu asilo morreu e o povo de Micenas, atendendo a um oráculo, entregou a coroa aos dois estrangeiros. Não demorou para que Atreu e Trieste se tornassem inimigos de morte. Atreu conseguiu ficar com o trono e expulsou o irmão de Micenas. Mais tarde, fingindo um conciliação, o atraiu para um banquete onde serviu a carne dos três filhos de Trieste num grande cozido. O pai, sem saber, devorou os próprios filhos! Um crime dessa dimensão não poderia ser saciado numa só geração. A desgraça iria atingir os filhos de Atreu: a Agamenon e o seu irmão Menelau (o infeliz marido da bela Helena, cujo rapto provocou a guerra de Tróia).
A Vingança dos Irmãos
A porta do tesouro dos Atreus em Micenas
Orestes, o filho desterrado de Agamenon, atiçado pelo deus Apolo, é induzido à vingança. Ele deveria cumprir os desígnios da guénos, o compromisso em que pessoas do mesmo sangue tinham de vingar os seus mortos em crimes de sangue. Nada mais do que a conhecida vendetta, tão praticada entre os povos mediterrâneos. Ele deveria matar Clitemnestra e Egisto, a sua própria mãe e o seu amante. Em companhia do seu amigo Pilades, Orestes retorna a Argos clandestinamente. Ao dirigir-se à sepultura do pai onde iria proferir os votos de realizar a vingança, ele se depara com a irmã. Electra lá estava em companhia de algumas servas para fazer reparos na tumba do rei assassinado. Dá-se então a anagnorismós, o reconhecimento dos dois irmãos que não se viam há anos. Enquanto isso, Clitemnestra é atormentada por pesadelos que prenunciam a sua desgraça. Orestes, insinuando-se no palácio real, primeiro consegue apresentar-se a Egistro sem que este o reconheça. Não demorou em matá-lo. Em seguida, corta o pescoço da sua mãe. Longe porém estava a paz. A partir do momento do crime, o jovem passa a sofrer os tormentos da culpa. Vê-se assaltado pela ánoia, a loucura que acomete aquele que ousa derramar o sangue da sua própria gente. Ao assassinar a sua mãe, ele desencadeia a perseguição das Erínias, as Fúrias, que passam a atormentá-lo
As Fúrias
Os Crimes dos Átridas
Atreu Junto com o irmão Trieste envolveu-se na morte do meio-irmão. Depois de ter expulsado Trieste de Micenas, serviu a carne de três sobrinho ao irmão falsamente conciliado com ele.
Agamenon
Filho de Atreu. Rei de Micenas. Sacrificou a filha Ifigênia antes de partir para a guerra de Tróia. Na volta morre assassinado num complô feito pelo amante da sua mulher.
Menelau
Irmão de Agamenon. Rei de Esparta, tem sua mulher Helena raptada por Paris, principe de Tróia, e é obrigado a lutar por dez anos para recuperá-la.
Orestes
Filho de Agamenon. Principe de Micenas. Obedecendo às leis da vingança, mata a Clitemnestra sua mãe, e o amante desta, Egisto. É absolvido no areópago.
Orestes perseguido pelas Fúrias
As Erínias, ou Fúrias, era divindades das profundezas ctônicas que ficavam um tanto à margem da vontade dos deuses olímpicos. Eram forças primitivas da natureza que atuavam como vingadoras do crime, reclamando com insistência o sangue parental derramado, só se satisfazendo com a morte violenta do homicida. Os gregos as representavam de um forma pavorosa, como monstros alados, em cuja cabeleira nasciam serpentes, sempre empunhando chicotes e tochas acesas, correndo atrás dos infratores dos preceitos morais. Supunha-se elas serem muitas, mas na peça de Ésquilo elas são apenas três: Alepo era a que seguia o infrator sem parar, ameaçando-o com os fachos acesos, não o deixando dormir em paz; Tisífone açoitava os culpados, enquanto Megera, a terceira das fúrias de Ésquilo, gritava ininterruptamente nos ouvidos do criminoso, lembrando-lhe das faltas que cometera. Elas, essas "sentinelas da conduta humana", eram a representação simbólica das culpas que atormentavam aqueles que atentavam contra os seus, quem voltava o punhal contra a gente do seu mesmo sangue.
Os Preâmbulos do Julgamento
Atena, a deusa sábia preside o tribunal
Desesperado pelo ataque das Fúrias, Orestes implora o apoio de Apolo. Afinal fora o deus quem o levara àquela situação. A divindade então o transporta até um monte da cidade de Atenas, a colina de Ares, local onde será construído mais tarde o areópago (o supremo tribunal), e pede à deusa da cidade que providencie um julgamento ao seu protegido. A deusa assim o faz. Ela percebe que a instauração de um júri se prestará para por fim ao "veneno do ressentimento" que esse tipo de crime causava. Era a oportunidade para instituir um tribunal augusto que se prolongará pelos tempos afora, rompendo o trágico ciclo dos crimes de vingança que não tinham paradeiro, pois sempre havia em algum lugar um parente empunhando armas, querendo fazer justiça com as próprias mãos. O coro, representando a opinião pública, reclama por sangue. Não quer saber de tribunal nenhum. Acredita que dar a Orestes a chance de um julgamento abriria caminho "para a rota da licença", fazendo com que, doravante, os filhos se sentissem estimulados a vingar-se nos pais, visto que a ira das Fúrias "não poderia castigar" a Orestes. Pensam que a atitude da deusa incitará a que se desonre a justiça.
A Convocação do Júri
Apolo, defensor de Orestes
A deusa, ignorando as críticas, manda que o heraldo toque a trombeta convocatória. Para formar o corpo de jurados, ela "recolhe a flor e a nata da minha cidade", presidindo ela mesma o tribunal para que as regras sejam entendidas por todos. No papel de acusador, quem se apresenta é o corifeu, o líder do coro, enquanto o deus Apolo serve a Orestes como seu defensor e testemunha de defesa. Orestes reconhece a autoria do crime, mas invoca a determinação de Apolo. O corifeu alega que matar a mãe é hediondo, mas Apolo diz que crime pior cometeu Clitemnestra, porque além dela assassinar o seu esposo, ela matou um rei, alguém ungido de autoridade por Zeus todo-poderoso. Encerrado o confronto, "disparadas as flechas", como diz o corifeu, todos aguardam a sentença do júri. Todos eles então se erguem e vão depositar seus votos numa urna especial, sob os atentos olhares de Palas Atena
A Sentença de Palas Atena
Atena desempata a favor de Orestes
Como deu-se um empate entre os dez votantes integrantes do júri, Atena desempatou a favor do Orestes (in dubio pro reo). Na sentença ela apela para que todos respeitem a decisão soberana do júri, pois dali em diante aquele seria o tribunal sagrado de todo o povo do Egeu, habilitado para proceder com os crimes de sangue. Erguido na colina de Ares, aquela rocha do medo e do respeito, ele manteria os cidadãos afastados do crime. O venerável tribunal será virgem em corrupção e severo vigilante, sempre pronto em dar segurança a quem dorme. Mas o coro não se conforma com a sentença,
Orestes absolvido
nem com a existência do tribunal, queixando-se de que aquilo tudo devia-se a juventude dos deuses, que rompiam com um antigo costume, e que dali em diante eles não saberiam que destino dar às deusas da Noite (as Fúrias). Exaspera-se. O coro diz que não quer mais viver naquela cidade. Atena o demove. Assegura que as Fúrias terão um lugar especial de culto na cidade. De entidades vingadoras, sem pouso fixo, serão chamadas de Euménides, as benfeitoras. Apaziguados os ânimos, a peça se encerra com o grande cortejo presidido pela deusa Atena abandonando o monte Ares e dirigindo-se para a cidade.
Conclusões
O acolhimento das Fúrias na cidade, elegendo-as como as protetoras dos suplicantes, e a pacificação das partes enredadas na tragédia dos Átridas assinalam um momento importante na história dos gregos. O terrível ciclo que envolvia o crime e a necessária vingança tinha sido rompido. Orestes sai do tribunal homem livre. Ninguém mais poderia atentar contra a vida dele. Assim, ele se encontra liberado para dar início a uma dinastia purificada dos delitos e abominações cometidos no passado. Uma nova divindade assume a função de ser a responsável pela justiça. Ao invés dela estar como antes, entregue a deidades primitivas do mundo subterrâneo, assustadoras, irracionais e vingativas, como eram as Fúrias, dali em diante é a bela deusa Palas Atena, nascida diretamente da cabeça de Zeus, um símbolo da razão, quem estará sempre presidindo os julgamentos de sangue no tribunal do areópago. É essa transição das terríveis forças da natureza darem lugar aos ditames das instituições estáveis e permanentes, comandadas por uma divindade urbana, que o poeta celebra com sua trilogia. Trata-se de um momento mais elevado da humanidade, onde a cegueira vingativa dos tempos primitivos da sociedade dá espaço ao bom senso e à calma aplicação da justiça.
Ésquilo
Um Dramaturgo nas Encruzilhadas
No ano de 525 a C.., Cambises invadiu o Egito e Ésquilo nasceu. Cada gênio revela um padrão de comportamento. O de Ésquilo foi de estar sempre colocado entre dois mundos ou princípios.
Dez anos antes que Ésquilo, fizesse sua estréia como dramaturgo encenando, em 490, estava na planície de Maratona com o grupo de atenienses que repeliu as hostes do maior império do seu tempo. Aos trinta e cinco anos era herói nacional.
Dez anos mais tarde a população de Atenas foi obrigada a abandonar a cidade que foi completamente destruída pelo invasor.
A civilização helênica foi salva pela momentosa batalha naval de Salamina.
Ésquilo celebrou a vitória sobre os persas escrevendo, oito anos depois, Os Persas.
O sopro épico de suas peças, seu diálogo exaltado, e suas situações, de titânica paixão, pertencem a uma idade heróica.
Há, em sua obra, um sentido de resoluto otimismo: o princípio certo sempre vence em seus conflitos filosóficos e éticos.
No entanto, tão logo os persas haviam sido derrotados, a Grécia começou a se encaminhar para uma nova crise. Sua cidade-Estado torna-se um império e a luta pela hegemonia começa a ocupar o poeta que escreve o seu primeiro drama preservado, As suplicantes.
Ésquilo, filho de uma antiga família estava ao lado da nobreza não deixou de externar sua oposição à nova ordem, sabemos que falou desdenhosamente de jovem poder e governantes adventícios em Prometeu Acorrentado, e acreditava-se que o fato de ter perdido o prêmio de um concurso para seu rival mais jovem, Sófocles, em 468, entrava na esfera de uma repercussão política.
A instauração da nova ordem atingiu até o Areópago (O supremo tribunal de Atenas) despojando-o de muitas das suas prerrogativas mais importantes. Ésquilo usou a tragédia de Orestes, em As Eumênides, para apoiar a instituição vacilante.
Mas é na sua abordagem à religião e à ética que mais afetou a qualidade e significado de suas tragédias. E novamente o encontramos postado entre dois mundos, pois Ésquilo é ao mesmo tempo um místico oriental ou profeta hebreu e um filósofo helênico
Embora apresente marcadas semelhanças com os últimos profetas de Israel, sua concepção de divindade é composta pelo racionalismo helênico. Ésquilo dispensou o politeísmo de seu tempo em favor do monoteísmo.
Investigando o problema do sofrimento humano em sua última trilogia, Ésquilo chega à conclusão de que é o mal no homem e não a inveja dos deuses que destrói a felicidade. A razão correta e a boa vontade são os pilares do primeiro sistema moral que encontra expressão no teatro.
Foi na feição profundamente religiosa de seu pensamento que diferiu dos contemporâneos mais jovens. Uma ponte lançada entre a religião primitiva e a filosofia posterior. (ao topo)
Ésquilo e o Teatro Grego
Ésquilo sustentava corretamente que suas tragédias eram apenas fatias do banquete de Homero. Com efeito a maioria das tragédias possui as qualidades homéricas no ímpeto de suas passagens narrativas e na estatura heróica dos caracteres.
Mesmo com os processos introduzidos por Téspis, as peças ainda não eram mais que oratórios animados, fortemente influenciados pela poesia mélica que exigia acompanhamento instrumental e pela poesia coral suplementada por expressivos movimentos de dança.
O teatro físico também se apresentava rudimentar e o palco tal como o conhecemos era praticamente inexistente.
Novamente no ponto em que os caminhos se dividem Ésquilo precisava escolher entre o quase ritual e o teatro, entre o coro e o drama. Mesmo tendo acentuada predileção pelo coro e pelas danças, Ésquilo trabalhou para aumentar as partes representadas: os "episódios" que, originariamente mereceram partes do drama mas simplesmente apêndices do mesmo. Um outro grande passo na evolução da tragédia foi a introdução do segundo ator.
É útil lembrar que as atores "multiplicavam-se" com o uso de máscaras além que efeitos de multidões podiam ser criados com o uso de participantes "mudos" ou do coro.
Ésquilo cuidava das danças, treinava os próprios coros, utilizava-se de recursos como as pausas demostrando se excelente diretor e encenador, fazendo amplo uso de efeitos que atingiram um nível extremamente elevado considerando-se os escassos recursos técnicos da época.
Destaque merece o fato de Ésquilo criar os figurinos estabelecendo, para eles, caracteres fundamentais. Fiz de seus atores figuras mais impressionantes utilizando máscaras expressivamente pintadas e aperfeiçoando o uso do sapato de altas solas o coturno.
Chegar a introdução, mesmo que rudimental, de uma cenografia foi um passo que um gênio tão versátil deu com facilidade. A decoração do palco, ou seja a construção cênica tornou-se permanente junto a utilização de máquinas que conseguiram obtendo bons efeitos cênicos. (ao topo)
O Festival de Teatro de Atenas e suas Convenções.
Tudo começou quando Pisístrato transferiu o antigo e rústico festival dionisíaco dos frutos para Atenas criando as Dionisias Urbanas. Outro festival mais antigo (Lenianas) também começou a incluir tanto concursos trágicos quanto cômicos.
As Dionisias Urbanas Começavam com vários rituais religiosos (Procissões cultos ) até entrar na fase mais ligada propriamente ao teatro e ao concursos.
Dois dias eram reservados para as provas ditirâmbicas, um dia ás comédias, com cincos dramaturgos na competição; e três dias à tragédia . Seis dias eram devotados ao grande festival; cinco após 431 a.C. – com cincos apresentações diárias durante os últimos três dias – três tragédias e um "drama satírico" fálico pela manhã uma ou duas comédias à tarde. Três dramaturgos competiam pelo prêmio de tragédia, cada um com três tragédias e um drama satírico, sendo que as peças eram mais ou menos correlatas.
As peças eram cuidadosamente selecionadas por um funcionário público ou arconte que também escolhia o intérprete principal ou "protagonista"
Imediatamente antes do concurso, a ordem dos concorrentes era determinada por sorteio e ao seu término, os vencedores, julgados por uma comissão também escolhida por sorteio, eram coroados com guirlandas de hera.
Pesadamente paramentados, os movimentos dos atores trágicos, eram necessariamente lentos e seus gestos amplos.
Na verdade, devido as dimensões dos teatros, ao atores eram escolhidos por suas vozes. Os bons atores eram tão procurados que logo começaram exigir salários enormes e, quando o talento dramatúrgico se tornara escasso, a interpretação assumiu importância ainda maior que o próprio drama.
Tal como os atores, o coro apresentava-se com variados figurinos e usava máscaras apropriadas á idade, sexo e personalidade das personagens representadas. O coro também não cantava durante todo o tempo, pois algumas vezes usava a fala recitativa e até mesmo coloquial ao dirigir-se aos atores.
O uso do coro no teatro grego tinha por certo suas desvantagens, pois ralentava e interrompia as partes dramáticas da peça. Mas enriquecia as qualidades espetaculares do palco grego o que levou escritores a comparar a tragédia clássica com a ópera moderna. (ao topo)
As Primeiras Tragédias e a Arte Dramática de Ésquilo
As verdadeiras encenações do teatro ateniense estão irremediavelmente perdidas. Do trabalho de todos os dramaturgos que ganharam os prêmios anuais sobreviveram apenas as peças de Ésquilo, Sófocles, Éuripides e Aristófanes, e mesmo assim por apenas uma fração das suas obras.
Contudo, no caso de Ésquilo, as tragédias remanescentes estão bem distribuídas ao longo de toda a carreira e lançam luz suficiente sobre a evolução de seu estilo e pensamento.
Ésquilo é um mestre do pinturesco. Suas personagens são criaturas coloridas, muitas delas sobrenaturais, orientais ou bárbaras, e suas falas são abundantes em metáforas.
Sue progresso na arte deve Ter sido extraordinariamente gradual, uma vez que as primeiras peças revelam grande preponderância de intervenções corais e apenas os últimos trabalhos mostram-se bem aquinhoados em ação dramática.
Seu primeiro trabalho remanescente, As Suplicantes, provavelmente a primeira peça de uma trilogia, ainda o mostra lutando com o drama coral.
Há maior interesse quanto ao segundo drama remanescente: Os Persas, escrito em 472 a. C. trata de um fato prático contemporâneo, e foi obviamente cunhada para despertar o fervor patriótico. (ao topo)
Uma Divina Comédia: A Trilogia de Prometeu
O tema do Prometeu Acorrentado e das peças perdidas que o acompanhavam era Deus em pessoa. Trabalho inesquecível, transbordante de beleza e reflexão e transfigurado por essa personalidade supremamente inspiradora, Prometeu, rebelde contra Deus e amigo do homem. Sua tragédia é o protótipo de uma longa série de dramas sobre o liberalismo.
O tema da trilogia parece ser a evolução de Deus em cumprimento da lei da necessidade. De um tirano jovem e voluntarioso Zeus converte-se em governante maduro e clemente, tão diverso do Zeus da Ilíada quanto o Jeová de Isaías. (ao topo)
Tragédia Humana - Édipo e Agamemnon
Após estabelecer uma providência moral no universo, só restava a Ésquilo fazer com que a vontade desta prevalecesse entre os homens. Na primeira delas, uma tragédia de Édipo, Ésquilo recusou as explicações pré-fabricadas e foi além da convencional teoria grega da maldição familiar.
Nos Os Sete Contra Tebas deixa perfeitamente claro que a hereditariedade é pouco mais que uma predisposição. Os crimes cometidos pelos descendentes do corrupto Laio são resultado da ambição, rivalidade e insuficiente predomínio da lei moral durante a idade legendária.
Ésquilo estava galgando novas intensidades em Os Sete Contra Tebas ao voltar-se para a tragédia humana e individual. Chegou ao ápice desta escalada nove anos depois, em sua última e maior trilogia.
A Oréstia, apresentada em 458 a C. , dois anos antes da morte do autor, é novamente a tragédia da uma casa real.. Trata mais uma vez de uma maldição hereditária, que teve início na vago mundo da lenda. Esta trilogia é formada por: o Agamemnon que será vítima de Clitemnestra (Sua esposa) que assim vinga a morte arbitrária da própria filha.
Nas Coéforas, segunda tragédia da trilogia, o filho de Agamemnon, Orestes encontra-se em curioso dilema: em obediência à primitiva lei da vendeta deveria matar os assassinos de seu pai mas a conseqüência deste ato o tornaria um matricida. Depois do assassínio as Fúrias enlouquecem Orestes.
Em As Coéforas, Ésquilo reduz a lie da vendeta um absurdo, posto que, seguida logicamente, leva a um ato ainda mais intolerável do que o assassinato original.
Na parte final da trilogia, As Eumênides, a vendeta é finalmente anulada.
Após diversos anos, Orestes finalmente expiou seu feito através do sofrimento e agora está pronto para enfrentar as Fúrias em julgamento aberto, anta o Areópago. Embora a votação empate este é quebrado em favor de Orestes quando Atená lança o seu voto pela absolvição. Significativamente é a deusa da razão que põe fim à cega e autoperpetuadora lei da retribuição.
Dois anos após a promulgação desse credo, Ésquilo estava morto.
Ésquilo transformara o ritual em drama, trouxera a personalidade humana para o teatro e incluíra a visão espiritual no drama. (ao topo)
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