Trissecção do ângulo é um dos problemas clássicos da geometria sobre construções com régua e compasso e consiste em, dado um ângulo qualquer, construir um outro com um terço de sua amplitude.
Introdução
O problema era conhecido dos antigos gregos e a resposta — negativa — só foi obtida em 1837 pelo matemático francês Pierre Laurent Wantzel que mudou o foco da questão, passando a buscar uma prova de que o problema não teria solução. Wentzel apoiou-se sobretudo nos resultados de Gauss o qual afirmara no seu livro Disquisitiones Arithmeticae (publicado em 1801) que não era possível construir com régua e compasso um polígono regular com nove lados. Como é possível construir um triângulo regular com régua e compasso e como, para um tal triângulo, o ângulo formado pelos segmentos que unem o centro a dois dos seus vértices é de 120º, resulta daqui que o ângulo de 120º não pode ser trissectado somente com régua e compasso. No entanto Gauss nunca publicou uma demonstração do seu enunciado.
Aproximação geométrica
Trissecção aproximadaConsiderando ∠AOB = 2a e ∠HOG = 2x, verifica-se que no triângulo ΔOCF temos que o ângulo ∠OCF = ½(a + x) pois é um ângulo inscrito na circunferência que compreende um arco de medida a + x, e também temos que ∠CFO = ½(a − x) pois ao prolongarmos a bissetriz obtemos um ângulo oposto ao ângulo ∠EOB = a pelo vértice, que por outro lado, ele é ângulo externo ao triângulo ΔOCF não adjacente aos ângulos ∠OCF = ½(a + x) e ∠CFO, então:
Duplicação do cubo
Dobrando o volumeA duplicação do cubo é o problema de geometria que consiste em obter um método para, dada a aresta de um cubo, construir, com régua e compasso, a aresta do cubo cujo volume é o dobro do cubo inicial.
Introdução
Era do conhecimento dos Pitagóricos que dado um quadrado era possível construir um novo quadrado com o dobro de sua área. Tal problema é relatado por Platão em um dos seus diálogos, Ménon[1], que trata do ensino da virtude. Nesse diálogo Sócrates é retratado ensinando um jovem e inculto escravo a duplicar um quadrado.
Trecho do diálogo
Sócrates lecionandoSócrates: - Examina, agora, o que em seguida a estas dúvidas ele irá descobrir, procurando comigo. Só lhe farei perguntas; não lhe ensinarei nada! Observa bem se o que faço é ensinar e transmitir conhecimentos, ou apenas perguntar-lhe o que sabe. (E, ao escravo): Responde-me: não é esta a figura de nosso quadrado cuja área mede quatro pés quadrados?
Escravo: - É.
Sócrates: - A este quadrado não poderemos acrescentar este outro, igual?
Escravo: - Podemos.
'Sócrates: - Que múltiplo do primeiro quadrado é a grande figura inteira?
Escravo: - O quádruplo.
Sócrates: - E devíamos obter o dobro, recordaste? Escravo: - Sim.
Sócrates: - E esta linha traçada de um vértice a outro da cada um dos quadrados interiores não divide ao meio a área de cada um deles?
Escravo: - Divide.
Sócrates: - E não temos assim quatro linhas que constituem uma figura interior?
Escravo: - Exatamente.
Sócrates: - Repara, agora: qual é a área desta figura?
Escravo: - Não sei.
Sócrates: - Vê: dissemos que cada linha nestes quatro quadrados dividia cada um pela metade, não dissemos?
Escravo: - Sim, dissemos.
Sócrates: - Bem; então quantas metades temos aqui?
Escravo: - Quatro.
Sócrates: - E aqui?
Escravo: - Duas.
Sócrates: - E em que relação aquelas quatro estão para estas duas?
Escravo: - O dobro.
Sócrates: - Logo, quantos pés quadrados mede esta superfície?
Escravo: - Oito.
Sócrates: - E qual é seu lado?
Escravo: - Esta linha.
Sócrates: - A linha traçada no quadrado de quatro pés quadrados, de um vértice a outro?
Escravo: - Sim.
Sócrates: - Os sofistas dão a esta linha o nome de diagonal e, por isso, usando esse nome, podemos dizer que a diagonal é o lado de um quadrado de área dupla, exatamente como tu, ó escravo de Mênon, o afirmaste.
Escravo: - Exatamente, Sócrates!
É provável que os gregos tenham então transposto tal problema para as figuras sólidas, começando com o cubo, isto é, encontrar a aresta de um cubo com o dobro do volume de um cubo dado
História
Ruínas em DelosCom relação as origens desse famoso problema existe uma lenda que conta que em 427 a.C. Péricles morrera de peste juntamente com um quarto da população de Atenas. Consternados por essa enorme perda, os habitantes consultaram o oráculo de Apolo em Delos sobre como combater a doença. A resposta foi que o altar de Apolo, que possuía o formato de um cubo, deveria ser duplicado. Prontamente os atenienses dobraram as dimensões do altar mas isso não afastou a peste. O volume fora multiplicado por oito e não por dois. Com essa estória, dada a aresta de um cubo, construir só com régua e compasso a aresta de um segundo cubo tendo o dobro do volume do primeiro, ficou conhecido como problema deliano.
Construções com régua e compasso
Criando um hexágono regular com régua e compassoEm geometria, uma construção com régua e compasso é o desenho geométrico de segmentos de reta ou ângulos usando apenas uma régua e um compasso idealizados ou seja:
A régua pode ser usada para construir um segmento tão longo quanto se queira que contenha dois pontos dados. Particularmente tal régua não é graduada, não podendo ser utilizada para medir;
O compasso pode ser usado para construir a circunferência de centro em um dado ponto A e que passa por um dado ponto B. Assim deve ter pernas tão compridas quanto precisamos.
As construções com régua e compasso são baseadas nos três primeiros postulados dos Elementos de Euclides por isso são também conhecidas por “construções euclidianas”, apesar dos termos “régua” e “compasso” não aparecerem nessa obra.
Arquitas de Tarento
Arquitas de Tarento
Arquitas de Tarento (428 a.C. - 347 a.C.), filósofo e cientista grego, considerado o mais ilustre dos matemáticos pitagóricos. Acredita-se ter sido discípulo de Filolau de Crotona e foi amigo de Platão. Fundou a mecânica e influenciou Euclides. Foi o primeiro a usar o cubo em geometria e a restringir as matemáticas às disciplinas técnicas como a geometria, aritmética, astronomia e acústica. Para resolver o famoso problema da duplicação do cubo (dobrar o seu volume), valeu-se de um modelo tridimensional.
Embora inúmeras obras sobre mecânica e geometria lhe sejam atribuídas, restaram apenas fragmentos cuja preocupação central é a Matemática e a Música.
Arquitas também atuou na política. Os tarentinos o elegeram estratego (governador) sete vezes consecutivas.
Morreu em um naufrágio na costa de Apúlia.
Anaxímenes de Mileto
Anaxímenes.Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) concordava com Anaxímandro de Mileto quanto ao a-peiron, e com as características desse princípio apontadas por Anaximandro.
Mas postulou que esse a-peiron fosse o Ar.
Foi discípulo e continuador da escola Jônica e escreveu sua obra: “Sobre a natureza”, também em prosa. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a luz da Lua é proveniente do Sol.
Enquanto Tales sustentava a idéia de que a água é o bloco fundamental de toda a matéria, Anaxímenes dizia que tudo provém do Ar e retorna ao Ar. Era inquieto.
Adágio de Anaxímenes:
"Exatamente como a nossa alma, o ar mantém-nos juntos, de forma que o sopro e o ar abraçam o mundo inteiro..."
A Cosmologia de Anaxímenes
Simplício em seu livro Física nos conta: “Anaxímenes de Mileto, filho de Eurístrates, companheiro de Anaximandro, afirma também que uma só é a natureza subjacente, e diz, como aquele, que é ilimitada, não porém indefinida, como aquele (diz), mas definida, dizendo que ela é Ar. Diferencia-se nas substâncias, por rarefação e condensação. Rarefazendo-se, torna-se fogo; condensando-se, vento, depois, nuvem, e ainda mais, água, depois terra, depois pedras, e as demais coisas provêm destas. Também ele faz eterno o movimento pelo qual se dá a transformação.”
A Terra, acreditava Anaxímenes, foi formada primeiro, e dela, ergueram-se as estrelas, dando a impressão de que estas são rarefações do fogo. A Terra era plana e boiava no Ar. O Sol também era “plano e largo como uma folha” e caminhava através do Ar.
De acordo com uma passagem isolada escrita pelo teólogo sírio Aécio, Anaxímenes pensava que as estrelas eram fixas como “pregos no cristalino”. Ele também alegadamente acreditava que as estrelas não produziam calor por causa de sua grande distância em relação à Terra, o que era uma visão mais acurada do que a de Anaximandro, que considerava as estrelas mais próximas da Terra do que o Sol.
A presunção feita por Anaxímenes de que o Ar estava eternamente em movimento, traz ao pensamento a noção de que o Ar possuía vida – uma crença razoável no contexto primitivo que sempre associou vida com sopro. Há evidências de que Anaxímenes fez analogias entre o Ar-divino que sustenta o Universo e o ar-humano, ou alma, que dá vida aos homens. Sobre isto, Aécio escreve: “Como nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o cosmo sopro e ar o mantém”.
Tal comparação, entre o macrocosmo e o microcosmo, permitiu a Anaxímenes desenvolver o argumento sobre a existência de uma única entidade – o Ar – a sustentar a diversidade de todas as coisas.
Anaxímenes e a Física Moderna
Anaxímenes diz que as coisas sólidas são ar condensado e que as mais rarefeitas são ar mais rarefeito (assim como a água para Tales, o ar deveria ser meramente uma metáfora do Ar, para Anaxímenes). E dá como exemplo o ar que sai da boca: se assopramos com os lábios mais apertados (fazendo beiço) o ar sai frio, e se "assopramos" com a boca aberta, sai quente.
"A variação quantitativa de tensão da realidade originária dá origem a todas as coisas" é uma forma de se dizer que todas as coisas são diferentes "formas" de Ar original. Isso é muito semelhante à teoria das supercordas, que diz que os quarks (partículas que formam todas as outras, inclusive elétrons, prótons e nêutrons) são como que vibrações de energia: as diferentes partículas seriam mais ou menos como frequências diferentes da vibração da energia (mais ou menos como as notas musicais são vibrações diferentes de um fio; a quarta corda do violão, se tocada enquanto se aperta na primeira casa, faz um dó, na segunda casa, um ré, e assim sucessivamente, porque quanto mais próxima a casa estiver do corpo do violão, maior vai ser a frequência da vibração da corda). Se a teoria das supercordas estiver certa, Anaxímenes também estava. Pois, se chamarmos o Ar de energia, e sabendo que "quente" e "frio" são estados produzidos pela vibração dos elétrons (quanto mais os elétrons vibram, mais quente a coisa que eles compõem está), ele descreveu a teoria há muito tempo, utilizando expressões e imagens diferentes, como em uma analogia. (Para um estudo e análise mais detalhada sobre Anaxímenes cf. SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros mestres da filosofia e da ciência grega.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
LILOSOFOS PRÉ SOCRATES = ALCMEÃO DE CROTONA +ANAXÁGORAS = anaximenes de mileto
Anaximandro de Mileto
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Filosofia Ocidental
Pré-socráticos
Anaxímenes de Mileto
Anaximandro de Mileto (610 - 547 a.C.) foi um filósofo pré-Socrático. Discípulo de Tales. Geógrafo, matemático, astrônomo e político. Os relatos doxográficos nos dão conta de que escreveu um livro intitulado "Sobre a Natureza"; contudo, infelizmente, esse livro se perdeu.
Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do Gnômon (relógio solar) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega).
Anaximandro acreditava que o princípio de tudo é uma coisa chamada ápeiron, que é algo infinito, tanto no sentido quantitativo (externa e espacialmente), quanto no sentido qualitativo (internamente). Esse a-peiron é algo insurgido (não surgiu nunca, embora exista) e imortal.
Além de definir o princípio, Anaximandro se preocupa com os "comos e porquês" das coisas todas que saem do princípio. Ele diz que o mundo é constituído de contrários, que se auto-excluem o tempo todo. O tempo é o "juiz" que permite que ora exista um, ora outro.
Por isso, o mundo surge de duas grandes injustiças: primeiro, da cisão dos opostos que "fere" a unidade do princípio; segundo, da luta entre os princípios onde sempre um deles quer tomar o lugar do outro para poder existir.
O Universo de Anaximandro
mappa
Anaximandro considerava que a Terra tinha o formato de um cilindro e que era circundada por várias rodas cósmicas, imensas e cheias de fogo.
O Sol era um furo, numa dessas rodas cósmicas, que deixava o fogo escapar. À medida que essa roda girava, o Sol também girava, explicando-se assim o movimento do Sol em torno da Terra. Eclipses se deviam ao bloqueio total ou parcial desse furo.
A mesma explicação era dada para as fases da Lua, que também era um furo em outra roda cósmica. E finalmente, as estrelas eram pequenos furos em uma terceira roda cósmica, que se situava mais perto da Terra, do que as rodas do Sol e da Lua.
"Anaximandro,..., representa a passagem da simples designação de uma substância como princípio da natureza para uma idéia desta, mais aguda e profunda, que já aponta para os traços que irão caracterizá-la em toda a filosofia pré-socrática." (Julian Marías, 'História da Filosofia', Martins Fontes, 1ª edição, 2004, pg.17).
[editar] O Evolucionismo de Anaximandro
Já em seu tempo, Anaximandro ensinava a evolução das coisas e das espécies. Para ele, os animais nasceram do lodo marinho, e o homem teria se formado, no princípio, dentro de peixes, onde se desenvolveu e donde foi expulso logo que se tornou de tamanho suficiente para bastar-se a si próprio.
[editar] A Cosmologia de Anaximandro
Em seu livro - Física, o pensador Simplício nos relata: "Dentre os que afirmam que há um só princípio, móvel e ilimitado, Anaximandro, filho de Praxíades, de Mileto, sucessor e discípulo de Tales, disse que o a-peiron (ilimitado) era o princípio e o elemento das coisas existentes. Foi o primeiro a introduzir o termo princípio. Diz que este não é a água nem algum dos chamados elementos, mas alguma natureza diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos (...) É manifesto que, observando a transformação recíproca dos quatro elementos, não achou apropriado fixar um destes como substrato, mas algo diferente, fora estes. Não atribui então a geração ao elemento em mudança, mas à separação dos contrários por causa do eterno movimento."
Para Anaximandro, o Universo era eterno e infinito. Um número infinito de mundos existiram antes do nosso. Após sua existência, eles se dissolveram na matéria primordial (o a-peiron) e posteriormente outros mundos tornaram a nascer.
Essa imagem dinâmica do Universo, onde a matéria aparece e desaparece continuamente, lembra-nos o mito da criação do hinduismo, onde o deus Shiva através de sua dança sustenta todos os processos de criação e destruição.
Anaximandro, contudo, não acreditava em nenhum deus, para ele todos os ciclos de criação, evolução e destruição eram fenômenos naturais, que ocorriam a partir do ponto em que a matéria abandonava e se separava do a-peiron. O a-peiron era a realidade primordial e final de todas as coisas e, consequentemente, continha toda a natureza do divino em si próprio.
Tudo o que existe, somente existe em função de uma emancipação do ser eterno e portanto ao se separar deste, é digno de castigo.
"De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao fundo. Segundo a necessidade, pois têm de pagar penitência e de ser julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do Tempo."
Tudo o que nasce, um dia vai morrer. Tudo o que é quente, um dia vai esfriar. Tudo o que é grande, pode ser quebrado em pedaços menores. Fogo pode ser combatido com água, e como resultado, fogo e água deixam de existir.
E por toda a parte onde podem ser percebidas propriedades determinadas, podemos profetizar que elas um dia irão sucumbir.
Assim, Anaximandro conclui que a essência de todas as coisas não pode possuir essas propriedades determinadas que sucumbem ao longo do Tempo. Daí, seu conceito de a-peiron, ser algo ilimitado, infinito, indefinido e eterno.
[editar] Anaximandro e a Física moderna
Algumas de suas idéias são muito semelhantes a opiniões e teorias da Física atual:
sua idéia de um mundo que sustenta-se por um equilíbrio de forças é muito semelhante à gravidade e à força centrípeta, forças que mantêm a Terra girando em torno do Sol;
sua idéia de que a ação do Sol faz surgirem as criaturas de estrutura simples na água, que depois migram para a terra e adquirem estrutura mais complexa se parece com a teoria da evolução das espécies;
sua idéia dos opostos se parece com a teoria de que o vácuo produz partículas (se supõe que, logo depois do Big-Bang, o vácuo tenha produzido pares de partículas e anti-partículas que se exterminavam ao se encontrarem, pois o espaço ainda era muito pequeno e os pares sempre se encontravam; as únicas diferenças entre as teorias são que, para Anaximandro, os pares eram de coisas com propriedades determinadas como frio e calor, e para a Física, aqueles pares eram algo como energia concentrada;
para Anaximandro, os contrários revezam-se no tempo, e para os cientistas, os pares se auto-exterminavam - pois eram como +1 (matéria) e -1 (anti-matéria) e, ao se encontrarem, precisavam "saldar" sua dívida de energia.
Se pode sempre supor que Anaximandro tenha chegado, em sua época, às mesmas conclusões a que muitos cientistas chegaram hoje, ainda que por meios diferentes (pois Anaximandro dispunha apenas de sua observação e de sua reflexão); assim como se pode supor que tais teorias físicas tenham sido inspiradas na leitura, por parte dos cientistas, de Anaximandro. Em qualquer das hipóteses, pode-se notar que o filósofo era uma pessoa notável.
Anaxágoras
Anaxágoras de Clazômenas (c. 500 a.C. - 428 a.C.); foi um filósofo grego, discípulo de Tales de Mileto
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"Prefiro uma gota de sabedoria a toneladas de riqueza."
- citado em "Dicionário de pensamentos: máximas, aforismos, paradoxos, provérbios, etc ..." - Página 438, de Folco Masucci - Ed. Leia, 1968, 6a. ed. - 685 páginas
"De todos aqueles que consideramos felizes, não há um que o seja."
"Mede-se a grandeza de uma idéia pela resistência que ela provoca."
"O visível abre nossos olhos ao invisível".
Anaxágoras de Clazômenas
Portal de Filosofia
Anaxágoras de Clazómenas (português europeu) ou Clazômenas (português brasileiro) (Clazômenas, c. 500 a.C. - Lâmpsaco, 428 a.C.), filósofo grego do período pré-socrático. Nascido em Clazômenas, na Jônia, fundou a primeira escola filosófica de Atenas, contribuindo para a expansão do pensamento filosófico e científico que era desenvolvido nas cidades gregas da Ásia. Era protegido de Péricles que também era seu discípulo. Em 431 a.C. foi acusado de impiedade e partiu para Lâmpsaco, uma colônia de Mileto, também na Jônia, e lá fundou uma nova escola.
Escreveu um tratado aparentemente pequeno intitulado Sobre a natureza, em que tentava conciliar a existência do múltiplo frente à crítica de Parmênides de Eléia e sua escola, conhecida como "Eleatas". Parmênides havia concebido o ser como o princípio absoluto de tudo o que é, identificando o ser com o Uno imutável.
Anaxágoras propôs, assim como os pluralistas, um princípio que atendesse tanto às exigências teóricas do "ser" imutável, princípio de tudo, quanto à contestação da existência das múltiplas manifestações da realidade. Esse novo princípio, Anaxágoras chamou homeomerias. As homeomerias seriam as sementes que dão origem à realidade em sua pluralidade de manifestações. Afirmava que o universo se constitui pela ação do Nous (νοῦς), conceito que geralmente é traduzido por espírito, mente ou inteligência. Segundo o filósofo, o Nous atua sobre uma mistura inicial formada pelas homeomerias, sementes que contém uma porção de cada coisa. Assim, o Nous, que é ilimitado, autônomo e não misturado com nada mais, age sobre estas sementes ordenando-as e constituindo o mundo sensível. Os fragmentos preservados versam sobre: cosmologia, biologia e percepção. Esta noção de causa inteligente, que estabelece uma finalidade na evolução universal, irá repercutir em filósofos posteriores, como Platão e Aristóteles. Influência também exercerá em Leibniz, que aproveitará a idéia de homeomerias.
Anaxágoras aparece ao lado de Pitágoras no quadro Escola de Atenas de Rafael, segurando a tableta com o número triangular 1+2+3+4, a sagrada tetractys dos Pitagóricos.
Notável médico e cientista pré-socrático grego de Crotona, o principal centro de estudo e divulgação do pensamento pitagórico, hoje na Itália, um dos mais importantes discípulos de Pitágoras (580-497 a. C.). Dedicado à medicina e às investigações das ciências naturais, realizou a primeira dissecação de um cadáver humano e desenvolveu uma teoria acerca da origem e dos processos fisiológicos das sensações, sugerindo que os sentidos estariam ligados ao cérebro. Segundo escritos de sua época foi o primeiro a relacionar o cérebro com as funções psíquicas, a psyqué, ao descobrir, por dissecação. Também observou que certas vías sensoriais terminavam no encéfalo e elaborou a teoria da desarmonia como causa de enfermidades. Pode ter sido o verdadeiro descobridor das trompas de Estáquio, além de um pioneiro da embriologia. Ligado aos círculos pitagóricos primitivos, com cujo ideário partilhava, parece ter-se interessado especialmente pela psicologia e pela cosmologia. Estudioso da imortalidade da alma, que se considera ter sido o primeiro a defendê-la argumentativamente. Por alguns fragmentos seus conhecidos, depreende-se ter sido um investigador profundamente original e inovador, tanto no domínio das ciências naturais, com especial destaque para a fisiologia e a anatomia, como no domínio especulativo. A ele atribui-se a bela frase: Das coisas invisíveis têm clara consciência os deuses, a nós enquanto humanos, nos é permitido apenas conjecturar. Concebeu a saúde como isonomia do equilíbrio ao afirmar que o que conserva a saúde é o equilíbrio das qualidades..., que se simbolizariam em Poseidón. Da sua filosofia, transmitida sob forma de comentário, doxografia, principalmente através da obra de Aristóteles (384-322 a.C.), destacam-se dois pontos importantes:
1) a elaboração de uma tabela de pares de opostos, que funcionariam como princípio, arché, da natureza: limite-ilimitado, ímpar-par, unidade-pluralidade, direito-esquerdo, masculino-feminino, repouso-movimento, reto-torto, luz-sombra, bom-mau, quadrado-oblongo;
2) uma compreensão da imortalidade da alma, por concebê-la em eterno movimento, à semelhança dos astros e dos entes divinos.
Alcmeão de Crotona
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Alcmeão de Crotona (também se registra Alcmeon) (VI a.C.) foi um filósofo pré-socrático e médico grego de Crotona (o principal centro de estudo e divulgação do pensamento pitagórico, hoje na Itália) e um dos mais importantes discípulos de Pitágoras.
Dedicado à medicina e às investigações das ciências naturais, realizou a primeira dissecação de um cadáver humano e desenvolveu uma teoria acerca da origem e dos processos fisiológicos das sensações, sugerindo que os sentidos estariam ligados ao cérebro. Segundo escritos da época foi o primeiro a relacionar o cérebro com as funções psíquicas, a psyqué, ao descobrir, por dissecação, que certas vias sensoriais terminavam no encéfalo e elaborou uma teoria da desarmonia como causa de enfermidades. Pode ter sido o verdadeiro descobridor das trompas de Eustáquio, além de um pioneiro da embriologia. A ele atribui-se a bela frase: Das coisas invisíveis têm clara consciência os deuses, a nós enquanto humanos, nos é permitido apenas conjecturar.
Concebeu a saúde como isonomia do equilíbrio ao afirmar que o que conserva a saúde é o equilíbrio das qualidades, que se simbolizariam em Poseidon.
Da filosofia, transmitida sob forma de comentário, doxografia, principalmente através da obra de Aristóteles, destacam-se dois pontos importantes:
a elaboração de uma tabela de pares de opostos, que funcionariam como princípio, arché, da natureza: limite-ilimitado, ímpar-par, unidade-pluralidade, direito-esquerdo, masculino-feminino, repouso-movimento, reto-torto, luz-sombra, bom-mau, quadrado-oblongo;
uma compreensão da imortalidade da alma, por concebê-la em eterno movimento, à semelhança dos astros e dos entes divinos.
JOGOS OLIMPICOS
Introdução
A cada quatro anos, atletas de centenas de países se reúnem num país sede para disputarem um conjunto de modalidades esportivas. A própria bandeira olímpica representa essa união de povos e raças, pois é formada por cinco anéis entrelaçados, representando os cinco continentes e suas cores. A paz, a amizade e o bom relacionamento entre os povos são os princípios dos jogos olímpicos.
Origem dos Jogos Olímpicos
Foram os gregos que criaram os Jogos Olímpicos. Por volta de 2500 AC, os gregos faziam homenagens aos deuses, principalmente Zeus. Atletas das cidades-estados gregas se reunião na cidade de Olímpia para disputarem diversas competições esportivas: atletismo, luta, boxe, corrida de cavalo e pentatlo ( luta, corrida, salto em distância, arremesso de dardo e de disco). Os vencedores eram recebidos como heróis em suas cidades e ganhavam uma coroa de louros.
Além da religiosidade, os gregos buscavam através dos jogos olímpicos a paz e a harmonia entre as cidades que compunham a civilização grega. Mostra também a importância que os gregos davam aos esportes e a manutenção de um corpo saudável.
No ano de 392 AC, os Jogos Olímpicos e quaisquer manifestações religiosas do politeísmo grego foram proibidos pelo imperador romano Teodósio I, após converter-se para o cristianismo.
Jogos Olímpicos da Era Moderna
No ano 1896, os Jogos Olímpicos são retomados em Atenas, por iniciativa do francês Pierre de Fredy , conhecido com o barão de Coubertin. Nesta primeira Olimpíada da Era Moderna, participam 285 atletas de 13 países, disputando provas de atletismo, esgrima, luta livre, ginástica, halterofilismo, ciclismo, natação e tênis. Os vencedores das provas foram premiados com medalhas de ouro e um ramo de oliveira.
Jogos Olímpicos e Política
As Olimpíadas, em função de sua visibilidade na mídia, serviram de palco de manifestações políticas, desvirtuando seu principal objetivo de promover a paz e a amizade entre os povos. Nas Olimpíadas de Berlim (1936), o chanceler alemão Adolf Hitler, movido pela idéia de superioridade da raça ariana, não ficou para a premiação do atleta norte-americano negro Jesse Owens, que ganhou quatro medalhas de ouro. Nas Olimpíadas da Alemanha em Munique (1972), um atentado do grupo terrorista palestino Setembro Negro, matou 11 atletas da delegação de Israel. A partir deste fato, todos os Jogos Olímpicos ganharam uma preocupação com a segurança dos atletas e dos envolvidos nos jogos.
Jesse Owens: quatro medalhas de ouro nas Olimpíadas de Berlim (1936)
Em plena Guerra Fria, os EUA boicotaram os Jogos Olímpicos de Moscou (1980) em protesto contra a invasão do Afeganistão pelas tropas soviéticas. Em 1984, foi a vez da URSS não participar das Olimpíadas de Los Angeles, alegando falta de segurança para a delegação de atletas soviéticos.
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Como na Grécia Antiga
Cerimônia de acendimento da chama olímpica imita ritual milenar
Festivais de honra a Zeus viram espetáculo moderno
A idéia de um festival esportivo nos moldes das Olimpíadas surgiu na Era Antiga, aproximadamente 2500 a.C., quando os gregos realizavam festivais em honra a Zeus. Conta a lenda que os Jogos foram criados por Hércules, que plantou a oliveira de onde eram retiradas as folhas para a confecção da coroa dos vencedores.
O termo olímpico, chegaria quase dois mil anos depois. Em 776 a.C., quando os nomes dos vencedores começaram a ser registrados, Ifitos, o rei de Ilia, fez uma aliança com Licurgo, monarca de Esparta, e Clístenes, rei da Pissa. O acordo foi selado no templo de Hera, no santuário de Olímpia, surgindo assim o nome Olimpíadas.
Esse tratado estabeleceu uma "trégua sagrada" em toda a Grécia enquanto os Jogos eram realizadas. Essa trégua era respeitada à risca. Na Guerra do Peloponeso, oponentes teriam parado o combate, competindo lado a lado e só após a declaração dos vencedores olímpicos, resumido a guerra. A vitória nos Jogos Olímpicos consagrava o atleta e proporcionava a ele uma recepção de herói no retorno à sua cidade de origem.
Na Olimpíada de 776 a.C., uma forte chuva desabou sobre Olímpia, limitando as competições a uma corrida pelo estádio. Dessa forma, após a única prova, foi conhecido o primeiro campeão olímpico: o cozinheiro Coroebus de Elis, vencedor de uma corrida de 192,27 metros.
Após a primeira Olimpíada, ficou acertado que os Jogos seriam realizados a cada quatro anos, durante os meses de julho ou agosto. Aos poucos, o número de competições foi aumentando, até chegar a dez eventos no quinto século antes de Cristo: corrida, pentatlo, arremesso de disco, salto em distância, lançamento de dardo, luta, boxe, pancrácio, corrida de bigas e corrida de cavalos, tudo em cinco dias. Podiam competir gregos que fossem cidadãos livres e nunca tivessem cometido assassinatos ou outros crimes.
Excluídas, mulheres disputavam a Heraea
Com exceção das sacerdotisas de Dêmetra, apenas os homens podiam assistir às disputas. Pouco antes dos Jogos Olímpicos, as mulheres, usando cabelos soltos e túnicas curtas e competindo no mesmo estádio de Olímpia, participavam de uma outra competição, a Heraea, em homenagem à Hera, mulher de Zeus.
A decadência dos Jogos Olímpicos da Era Antiga começou em 456 a.C., quando os romanos invadiram e dominaram a Grécia. O espírito original de integração foi aos poucos sendo deixado de lado e as disputas, antes cordiais, passaram a ser encaradas como combates.
A última Olimpíada da Era Antiga foi disputada em 393 d.C., quando o imperador Teodósio I proibiu a adoração aos deuses e cancelou os Jogos. Desde 776 a.C. foram realizados 293 Jogos.
A celebração dos Jogos Olímpicos ficou adormecida por 1 500 anos. Em 1896, graças aos esforços do francês Pierre de Coubertin foram realizados os primeiros Jogos Olímpicos modernos, na Grécia.
ESCARVIDÃO NA GRÉCIA ANTIGA
Introdução
Geralmente apontamos o lado positivo da civilização grega, destacando o desenvolvimento cultural, político e econômico. A Grécia Antiga é o berço da democracia, das Olimpíadas e da Filosofia. Porém, esta mesma sociedade, que gerou toda esta riqueza cultural, utilizou para diversos fins a mão-de-obra escrava.
Tornando-se um escravo
Na Grécia Antiga uma pessoa tornava-se escrava de diversas formas. A mais comum era através da captura em guerras. Várias cidades gregas transformavam o prisioneiro em escravo. Estes, eram vendidos como mercadorias para famílias ou produtores rurais. Em Esparta, por exemplo, cidade voltada para as guerras, o número de escravos era tão grande que a lei permitia aos soldados em formação matarem os escravos nas ruas. Além de ser uma forma de treinar o futuro soldado, controlava o excesso de escravos na cidade (fator de risco de revoltas).
Em algumas cidades-estado gregas havia a escravidão por dívidas. Ou seja, uma pessoa devia um valor para outra e, como não podia pagar, transformava-se em escrava do credor por um determinado tempo. Em Atenas, este tipo de escravidão foi extinto somente no século VI a.C, após as reformas sociais promovidas pelo legislador Sólon.
O trabalho escravo
A mão-de-obra escrava era a base da economia da Grécia Antiga. Os trabalhos manuais, principalmente os pesados, eram rejeitados pelos cidadãos gregos. O grande filósofo grego Platão demonstrou esta visão: “É próprio de um homem bem-nascido desprezar o trabalho”. Logo, os cidadãos gregos valorizavam apenas as atividades intelectuais, artísticas e políticas. Os trabalhos nos campos, nas minas de minérios, nas olarias e na construção civil, por exemplo, eram executados por escravos.
A mão-de-obra escrava também era muito utilizada no meio doméstico. Eles faziam os serviços de limpeza, preparavam a alimentação e até cuidavam dos filhos de seu proprietário. Estes escravos que atuavam dentro do lar possuíam uma condição de vida muito melhor que os outros.
Escravidão na Grécia antiga
Estela funerária de Mnesarete; um jovem escravo (esquerda) encara sua falecida patroa.[1] Ática, c. 380 a.C.. (Glyptothek, Munique, Alemanha)A escravidão era prática comum e componente integral da vida na Grécia Antiga, ao longo de toda a sua história, da mesma maneira que nas demais sociedades antigas.[2] Estima-se que em Atenas a maioria dos cidadãos tinha pelo menos um escravo. A maior parte dos escritores do período antigo considerava a escravidão não só como algo natural, mas como algo necessário, porém alguns debates isolados ocorreram, especialmente nos diálogos socráticos.
Em conformidade com a prática historiográfica, este artigo pretende discutir apenas a escravidão como bem móvel (propriedade pessoal), ao contrário da prática que envolvia grupos dependentes, como os penestae da Tessália ou os helotas espartanos, que se assemelhavam mais aos servos medievais (pouco mais que um bem imóvel. O escravo é um indivíduo deprivado de sua liberdade, e forçado a submeter-se a um proprietário, que pode comprá-lo, vendê-lo ou emprestá-lo como qualquer outro bem material.
O estudo da escravidão na Grécia Antiga oferece um número de significantes problemas metodológicos. A documentação sobre o assunto é desconexa e muito fragmentada, focalizando-se principalmente na cidade de Atenas. Nenhum tratado foi escrito especialmente dedicado ao assunto. Os casos judiciais do século IV a.C. se interessavam pela escravidão apenas como uma fonte de renda. A comédia e a tragédia exibiam os estereótipos, e a iconografia não fez qualquer diferenciação substantiva entre o escravo e o artesão; até a terminologia é, por vezes, vaga.
Terminologia
Um senhor (direita) e seu escravo (esquerda) numa flíax (espécie de drama burlesco), em cratera siciliana, c. 350 – 340 a.C.. Museu do Louvre, Paris, França.Os antigos gregos tinham diversas palavras para descrever os escravos, que precisam ser colocadas no devido contexto para evitar qualquer ambiguidade. Em Homero, Hesíodo e Teógnis de Megara, o escravo era chamado de δμώς (dmôs).[3] O termo tem um significado geral, porém se refere particularmente a prisioneiros de guerra capturados como butim,[4] em outras palavras, propriedade. Durante o período clássico, os gregos freqüentemente se utilizavam do termo ἀνδράποδον (andrápodon),[5] literalmente "aquele com os pés de um homem", em oposição a τετράποδον (tetrápodon), "quadrúpede", ou gado.[6] A palavra mais comum é δοῦλος (doûlos),[7] que aparece numa forma arcaica nas incrições micênicas como do-e-ro,[8] utilizada em oposição ao conceito de "homem livre", ἐλεύθερος (eleútheros). O verbo δουλεὐω, que veio a significar "trabalhar" no grego moderno, pode ser usado metaforicamente para outras formas de dominação, como a de uma cidade sobre a outra, ou dos pais sobre seus filhos.[9] Finalmente, o termo οἰκέτης (oikétês) era utilizado, significando "aquele que vive na casa", referindo-se aos empregados domésticos.[10]
Outros termos eram menos precisos, e precisam de determinados contextos:
θεράπων (therápôn) — na época de Homero a palavra significava "escudeiro" (Pátroclo era descrito como therapôn de Aquiles[11] e Meríones de Idomeneu[12]); durante a era clássica, passou a significar "servo".[13]
ἀκόλουθος (akólouthos) — literalmente "seguidor" ou "aquele que acompanha". Também foi registrado o uso do diminutivo, ἀκολουθίσκος (akolouthískos), usado para pajens[14]
παῖς (pais) — literalmente "criança", utilizado da mesma maneira que o termo inglês houseboy hoje em dia,[15] e também utilizado de maneira derrogatória, para se referir a escravos adultos.[16]
σῶμα (sôma) — literalmente "corpo", utilizado no contexto da emancipação.[17]
[editar] Origens da escravidão
Mulheres como espólio de guerra: Ájax, o Jovem, tomando Cassandra, tondo de uma kylix em cerâmica vermelha do chamado Pintor de Kodros, c. 440-430 BC, LouvreOs escravos já estavam presentes na civilização micênica; nas tabuletas encontras em Pilo, o termo do-e-ro pode ser identificado com certeza. Duas categorias legais podem ser identificadas: escravos "comuns" e "escravos do deus" (te-o-jo do-e-ro / θεοιο), o deus neste caso provavelmente sendo Posídon. Escravos do deus são sempre mencionados pelo nome, e possuem suas próprias terras; seu status legal é próximo ao dos libertos. A natureza e a origem de sua ligação com a divindade não é clara.[18] Os nomes dos escravos comuns mostram que alguns deles vinham de Citera, Quios, Lemnos e Halicarnasso, e provavelmente tinham sido escravizados como resultado da pirataria. As tabuletas indicam que uniões entre escravos e não-escravos não eram incomuns, e que escravos podiam ser artesãos independentes, e possuir lotes de terra. Parece que a principal divisão na sociedade do período dito micênico não era entre escravos e homens livres, mas sim entre aqueles ligados ao palácio real e aqueles que não o eram.[19]
Não há continuidade entre a era micênica e a época de Homero, onde as estruturas sociais passaram a refletir aquelas da Idade das Trevas. A terminologia se torna diferente: o escavo não mais é do-e-ro (doulos), e sim dmôs.[20] Na Ilíada, os escravos quase sempre são mulheres, tomadas como espólio em guerras,[21] enquanto os homens eram libertados mediante o pagamento de resgate[22] ou mortos no campo de batalha. Na Odisséia os escravos também parecem ser, em sua maioria, mulheres.[23] Estes escravos eram servos[24] e, por vezes, concubinas.[25] Escravos do sexo masculino também eram mencionados, especialmente na Odisséia; um exemplo de destaque é Eumeu, o guardador de porcos. O escravo se distinguia por ser um membro da parte central do oikos ("unidade familiar", "domicílio"): Laertes come e bebe com seus servos[26]; no inverno ele dorme em sua companhia.[27] O termo dmôs não é considerado pejorativo, e Eumeu, o porqueiro "divino",[28] se beneficia do mesmo epíteto homérico que os heróis gregos. Apesar disso, a escravidão permanecia uma desgraça; o próprio Eumeu declara que "Zeus, da voz que chega ao longe, leva metade da virtude de um homem, quando o dia da escravidão chega sobre ele."[29]
É difícil determinar quando se iniciou o comércio escravagista no período arcaico. Hesíodo, em Obras e Dias (século VIII a.C.), afirma possuir numerosos dmôes,[30] embora o seu status seja desconhecido. A presença dos douloi é confirmada por poetas líricos como Arquíloco ou Teógnis de Megara.[31] De acordo com os indícios epigráficos, a lei de homicídios de Drácon (c. 620 a.C.) menciona escravos.[32] De acordo com Plutarco,[33] Sólon (c. 594-593 a.C.) proibiu os escravos de praticar ginástica e pederastia. No fim deste período as referências passam a ficar mais comuns; a escravidão se tornou prevalecente a partir do momento em que Sólon estabeleceu a base para a democracia ateniense. O classicista Moses Finley observa que Quios, que de acordo com Teopompo[34] foi a primeira cidade a organizar um comércio escravagista, também gozara de um processo democrático relativamente cedo (no século VI a.C.), e conclui que "um aspecto da história grega, resumindo, é o avanço lado a lado da liberdade e da escravidão."[35]
PROSTITUIÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA
Prostituição na Grécia Antiga
Cortesã e o seu clienteA prostituição era uma componente da vida quotidiana dos Gregos antigos. Nas cidades gregas mais importantes, e em particular nos portos, empregava uma parte não negligenciável da população, representando uma actividade económica de relevo. A prostituição não era clandestina: as cidades não a puniam e os bordéis trabalhavam à vista da população.
Em Atenas era atribuída a Sólon a criação de bordéis estatais com preços regulados. A prostituição envolvia de forma desigual os sexos: mulheres de todas as idades e jovens do sexo masculino prostituíam-se para uma clientela maioritariamente masculina.
Prostituição feminina
Uma passagem do Contra Neera, obra apócrifa atribuída a Demóstenes, coloca as seguintes palavras na boca do famoso orador ateniense: "Temos cortesãs para nos dar prazer; temos concubinas para com elas coabitarmos diariamente; temos esposas com o propósito de termos filhos legítimos e de termos uma guardiã fiel de tudo o que se refere à casa". Mesmo admitindo que a realidade não correspondesse a esta versão caricatural, não deixa de ser claro que os gregos não reprovavam o recurso à prostituição.
Simultaneamente as leis censuravam severamente as relações com uma mulher livre fora do contexto do casamento, pois esperava-se destas a castidade. Em caso de adultério, o marido enganado tinha o direito de matar o ofensor, caso o apanhasse em flagrante delito; aplicava-se o mesmo em caso de violação. A idade média de casamento para os homens era aos trinta anos, pelo que o jovem ateniense que desejasse manter relações sexuais não teria outro recurso senão recorrer à prostituição.
A existência de uma prostituição feminina destinada às mulheres encontra-se pouco documentada. No Banquete de Platão, Aristófanes menciona as ἑταιρίστριαι / hetairístriai no seu famoso mito sobre o Amor: "Todas as mulheres que são o corte de uma mulher não dirigem a sua atenção aos homens: elas preferem as mulheres e daqui provem as hetairístriai". O significado desta palavra é obscuro, sendo traduzível pelo moderno conceito de lésbica ou então como cortesã. Luciano de Samósata refere-se a estas no Diálogo das Cortesãs, mas é possível que seja apenas uma alusão à passagem da obra de Platão.
Pornai
As prostitutas da Grécia Antiga podem ser enquadradas em várias categorias. Na parte inferior da escala encontravam-se as πόρναι/pornai, palavra que deriva de πέρνημι/pérnêmi "vender". Estas mulheres eram em geral escravas, propriedade de um πορνοϐοσκός / pornoboskós, isto é, de um proxeneta, que retirava para si uma quantia do dinheiro por elas ganho. O dono destas prostitutas poderia ser um cidadão, pois trava-se de uma forma de rendimento igual a qualquer outra. Teofrasto, na obra Caracteres (VI, 5), cita o proxeneta na lista de profissões correntes, onde se incluem o dono de uma hospedaria e o colector de impostos. O dono poderia também ser um ou uma estrangeira (meteco).
Na Época Clássica as prostitutas são escravas de origem bárbara. Durante a Época Helenística juntam-se a estas jovens abandonadas pelo pai, consideradas como escravas até prova em contrário. As prostitutas trabalhavam em bordéis, geralmente situados em zonas da cidade associadas à actividade, como o Pireu (porto de Atenas) ou o Kerameikos. A sua clientela era composta por marinheiros e cidadãos pobres.
Nesta categoria também se enquadram as mulheres que trabalhavam nos bordéis estatais de Atenas. Segundo Ateneu de Naucrátis, citando o autor cómico Filémon e Nicandro de Cólofon, foi Sólon quem "preocupado em acalmar os ardores dos jovens (...) tomou a iniciativa de abrir casas de passe e de ali instalar mulheres compradas". O mesmo Sólon teria mandado erguer com dinheiro taxado à actividade da prostituição o templo de Afrodite Pandemos, "Afrodite do povo". Embora estes relatos possuam uma veracidade duvidosa, não deixa de ser revelador que em Atenas se considerava a prostituição como parte da democracia.
Prostitutas independentes
Participante num banquete e uma tocadora de flauta
Um grau acima das pornai encontravam-se as prostitutas independentes que trabalhavam nas ruas. Para além de mostrarem os seus encantos directamente aos clientes, estas mulheres recorriam a verdeiras técnicas publicitárias, usando umas sandálias especiais cuja sola estava preparada para deixar inscrito no solo ΑΚΟΛΟΥΘΙ / AKOLOUTHI, "segue-me". Estas prostitutas utilizavam também uma maquilhagem garrida.
Estas mulheres eram de origem diversa: mulheres estrangeiras que não encontravam emprego na cidade a que tinham chegado, viúvas pobres, antigas pornai que tinham adquirido a sua liberdade (mas que tinha que pagá-la). Em Atenas estavam sujeitas a uma taxa e tinham que ser registadas.
Podem ser incluídas nesta categoria as músicas e dançarinas que trabalhavam nos banquetes. Aristóteles, na sua Constituição dos Atenienses, menciona entre as atribuições específicas dos dez astinomos encontrava-se o não permitir que as tocadoras de flauta, de lira e de cítara sejam alugadas por mais de dois dracmas por noite. Os serviços sexuais faziam parte da prestação dos serviços, tendo os preços tido uma tendência para aumentar, apesar do controlo dos astinomos.
As hetairas
As hetairas, ou heteras, encontravam-se no mais alto grau das prostitutas da Grécia Antiga. Ao contrário das outras, não se limitavam a oferecer serviços sexuais e não trabalhavam "por peça". As hetairas eram antes acompanhantes, em certa medida comparáveis às gueixas: possuíam uma boa educação que lhes permitia dialogar com figuras cultivadas. As hetairas eram independentes e poderiam gerir os seus próprios bens.
Uma das hetairas mais famosas foi Aspásia, amante de Péricles. Originária de Mileto, sendo portanto uma estrangeira em Atenas, Aspasia conviveu com Sófocles, Fídias e com Sócrates e os seus discípulos. Plutarco (Vida de Péricles, XXIV, 2) refere-se a ela como uma personalidade detentora de poder, que teve sob a sua rédea aos homens políticos mais importantes.
Para além de Aspásia, conhecem-se outras hetairas da Época Clássica, como Teodota, companheira de Alcibíades, com a qual Sócrates dialoga nos Memóraveis (III, 11, 4); Neera, tema de um discuro do Pseudo-Demóstenes; e Friné, modelo da Afrodite de Cnido, obra-prima do escultor Praxíteles, da qual foi amante, tendo também mantido uma relação com Hipérides, orador que a defendeu quando foi acusada de impudícia.
Prostituição sagrada
A Grécia não conheceu na mesma escala o fenómeno da prostituição sagrada que existiu nas civilizações do Próximo Oriente. Os únicos casos conhecidos referem-se a franjas remotas do mundo grego (Sicília, Chipre, reino do Ponto e Capadócia) e a cidade de Corinto cujo templo de Afrodite albergava um número significativo de servidores pelo menos desde a Época Clássica. Em 464 a.C., um homem chamado Xenofonte, cidadão de Corinto vencedor das provas de corrida e pentatlo nos Jogos Olímpicos, dedicou a Afrodite cem moças em sinal de agradecimento. Durante a era romana, Estrabão refere que este templo possuía mais de cem prostitutas sagradas.
Esparta
De todas as cidades da Grécia Antiga, Esparta era conhecida por não abrigar nenhuma porné. Plutarco (Vida de Licurgo, IX, 6) explica o fenómeno pela ausência de metais preciosos e de uma verdadeira moeda - Esparta utilizava uma moeda de ferro que não era reconhecida em nenhum outro sítio - razões pelas quais nenhum proxeneta tinha interesse em ali se instalar. A única evidência que parece contradizer a inexistência da prostituição refere-se a um vaso do século VI a.C. que mostra mulheres a tocar o aulos (flauta) num banquete. No entanto, julga-se tratar-se da reprodução de um tema iconográfico e não da representação da realidade espartana da época. A presença de elementos como um demónio alado, frutas, plantas e de um altar sugerem que pode tratar-se de um banquete em honra de umas divindades da fertilidade, como Ártemis Órtia ou Apolo Jacinto.
Contudo, durante a Época Clássica Esparta conheceu as hetairas. Ateneu refere as cortesãs com as quais Alcibíades se encontrou durante o seu exílio na cidade (415-414 a.C.).
A partir do século III a.C., quando grandes quantidades de moeda estrangeira circulam na Lacónia, Esparta enquadra-se na norma das outras cidades gregas em matéria de prostituição. Na Época helenística Polémon de Atenas descreve ao retrato da célebre hetaira Cotina e à vaca de bronze por si dedicada.
Condições de vida das prostitutas
Prostituta a urinar para um vaso
A condição das prostitutas é difícil de avaliar; pelo simples facto de serem mulheres, já se encontravam relegadas a uma posição inferior na sociedade grega. Não se conhecem testemunhos directos sobre as suas vidas nem descrições dos bórdeis onde trabalhavam. É muito provável que os bórdeis da Grécia fossem semelhantes aos de Roma, descritos pelos escritores e preservados em locais como Pompeia: locais escuros, estreitos e malcheirosos. Um dos termos correntes entre os Gregos para designar uma prostituta era χαμαιτυπής / khamaitypếs, o que significa "que toca a terra", sugerindo que a prestação do serviço tinha lugar no chão.
Alguns autores colocam as prostitutas a falarem de si mesmas nas suas obras. É o Luciano de Samósata no Diálogos das Cortesãs e Alcifrón nas suas cartas, mas importa ter presente que se tratam de obras de ficção. As prostitutas apresentadas nestas obras são independentes ou hetairas, não se referindo às prostitutas escravas, a não ser para considerá-las como fonte de lucro. Os textos revelam claramente que as prostitutas eram censuradas pela natureza mercantil da actividade que exerciam. Para um grego uma pessoa que se prostituia, fosse mulher ou homem, o fazia por necessidade económica ou por gosto pelo lucro. A ganância das prostitutas é assim um tema recorrente na comédia grega. Deve ser referido que em Atenas elas eram as únicas mulheres a lidar com dinheiro, o que provavelmente provocava o ressentimento dos homens. Outra explicação possível para este suposto gosto pela ganância relaciona-se com a curta duração da carreira de prostituta: para poderem guardar algum dinheiro para a velhice tornava-se conveniente acumular o máximo de dinheiro em pouco tempo.
Os tratados de medicina fornecem um olhar, se bem que parcial e incompleto, sobre a vida quotidiana das prostitutas. Para as prostitutas escravas tornava-se necessário a evitar a todo o custo a gravidez. Os métodos contraceptivos usados pelos Gregos são menos conhecidos que os utilizados pelos Romanos. No entanto, num tratado atribuído a Hipócrates, descreve-se o caso de uma dançarina "que tinha por hábito ir com os homens", à qual recomenda saltar para desta forma fazer sair o esperma, evitando o risco de gravidez. É também provável que as pornai recorressem ao aborto e ao infanticídio por exposição.
A cerâmica grega permite igualmente conhecer a vida das prostitutas. A representação das prostitutas pode ser dividida em quatro categorias: cenas de banquete, cenas de actividade sexual, cenas de satisfação de necessidades fisiológicas e cenas de maus-tratos. Nas cenas de satisfação das necessidades fisiológicas é frequente que a prostituta seja retratada com um corpo pouco gracioso, ou seja, com peito descaído e adiposidades. Nas cenas de relações sexuais, reconhece-se a presença de uma prostituta pela presença de uma bolsa. A posição sexual mais representada corresponde à mulher sendo penetrada encontrando-se de joelhos, o que pode corresponder a penetração vaginal ou anal. O sexo anal era considerado degradante e aparentemente esta posição era descrita como pouco agradável para a mulher. Alguns vasos mostram cenas nas quais as prostitutas são ameaçadas com com um pau ou uma sandália a aceitar realizar actos considerados degradantes, como a prática do sexo oral e sexo anal.
Apesar das hetarias serem as mulheres mais livres da Grécia, deve ser referido que muitas delas desejavam tornarem-se respeitadas pela sociedade e encontrar um marido.
[editar] Prostitutas na literatura
No tempo da Comédia Nova as prostitutas, junto com os escravos, tornaram-se verdadeiras estrelas das comédias. Isto pode ser explicado pelo ênfase dado pela Comédia Nova a aspectos da vida privada e quotidiana, por oposição aos temas políticos tratados pela Comédia Antiga.
Na obra Amores Ovídio afirma: "Enquanto os escravos forem falsos, os pais severos, as coscuvilheiras pérfidas e as meretrizes fáceis, Menandro viverá". No teatro de Menandro, a prostituta poderia ser uma amiga de infância do protagonista, que entrou no mundo da prostituição depois de ter sido abandonada ou raptada por piratas; reconhecida pelos pais, abandona o mundo da prostituição para casar.
[editar] Prostituição masculina
Ver artigo principal: Prostituição masculina
A Grécia Antiga possuia também uma grande quantidade de πόρνοι / pórnoi, prostitutos. Uma parte deles trabalhava para uma clientela feminina, encontrando-se atestada a existência de gigolos desde a Época Clássica. Na comédia Pluto, Aristófanes coloca em cena uma mulher de idade avançada que gastou todo o seu dinheiro num amante que agora a rejeita. Contudo, a maioria dos prostitutos trabalhava para uma clientela masculina.
Prostituição e pederastia
Ao contrário da prostituição feminina, que envolvia mulheres de todas as idades, a prostituição masculina encontra-se praticamente confinada ao grupo dos adolescentes.
O período durante o qual os adolescentes eram considerados desejáveis estendia-se entre a puberdade e o aparecimento da barba, constituindo a ausência de pêlos um elemento de erotismo entre os gregos. São mesmo conhecidos casos de homens que tinham como amantes homens mais jovens que se mantinham depilados.
Da mesma maneira que acontecia com a versão feminina, a prostituição masculina não era para os gregos objecto de escândalo. Os bordéis de rapazes existiam não apenas nas zonas do Piréu, Keramaikos, no monte Licabeto, mas um pouco por toda a Atenas. Um dos mais célebres destes jovens prostitutos é sem dúvida Fédon de Élis. Feito escravo durante a tomada da sua cidade, o jovem trabalhou num bordel até que Sócrates o conheceu, tendo o filósofo comprado a sua liberdade. O jovem tornou-se seu discípulo, tendo o seu nome sido atribuído a dos diálogos de Platão, o Fédon que narra os instantes finais da vida de Sócrates. Os prostitutos masculinos encontravam-se também sujeitos ao pagamento de uma taxa.
Prostituição e cidadania
A existência de uma prostituição masculina em larga escala revela que os gostos pederásticos não estavam restritos a determinada classe social. Os cidadãos que não tinham tempo ou disponibilidade para seguir os rituais da pederastia (observar os jovens no ginásio, fazer a corte, oferecer presentes), poderiam recorrer aos prostitutos, que à semelhança das prostitutas encontravam-se protegidos pela lei contra as agressões físicas. Outra razão que explica o recurso à prostituição relaciona-se com os tabus sexuais: os gregos consideravam a prática do sexo oral como um acto degradante. Assim, numa relação pederástica o erastés (amante mais velho) não poderia pedir ao erómenos que praticasse este acto, reservado aos prostitutos.
Apesar do exercício da prostituição ser legal, era mesmo assim uma prática vergonhosa, encontrando-se associado aos escravos ou aos estrangeiros. Em Atenas tinha para um cidadão consequências políticas, nomeadamente a perda dos direitos civícos (atimía). Na obra Contra Timarco, Ésquines defende-se dos ataques de Timarco com a acusação deste ter praticado a prostituição durante a juventude, devendo por isso ser excluído dos seus direitos políticos, como o de apresentar queixa contra alguém.
Cortesã e o seu clienteA prostituição era uma componente da vida quotidiana dos Gregos antigos. Nas cidades gregas mais importantes, e em particular nos portos, empregava uma parte não negligenciável da população, representando uma actividade económica de relevo. A prostituição não era clandestina: as cidades não a puniam e os bordéis trabalhavam à vista da população.
Em Atenas era atribuída a Sólon a criação de bordéis estatais com preços regulados. A prostituição envolvia de forma desigual os sexos: mulheres de todas as idades e jovens do sexo masculino prostituíam-se para uma clientela maioritariamente masculina.
Prostituição feminina
Uma passagem do Contra Neera, obra apócrifa atribuída a Demóstenes, coloca as seguintes palavras na boca do famoso orador ateniense: "Temos cortesãs para nos dar prazer; temos concubinas para com elas coabitarmos diariamente; temos esposas com o propósito de termos filhos legítimos e de termos uma guardiã fiel de tudo o que se refere à casa". Mesmo admitindo que a realidade não correspondesse a esta versão caricatural, não deixa de ser claro que os gregos não reprovavam o recurso à prostituição.
Simultaneamente as leis censuravam severamente as relações com uma mulher livre fora do contexto do casamento, pois esperava-se destas a castidade. Em caso de adultério, o marido enganado tinha o direito de matar o ofensor, caso o apanhasse em flagrante delito; aplicava-se o mesmo em caso de violação. A idade média de casamento para os homens era aos trinta anos, pelo que o jovem ateniense que desejasse manter relações sexuais não teria outro recurso senão recorrer à prostituição.
A existência de uma prostituição feminina destinada às mulheres encontra-se pouco documentada. No Banquete de Platão, Aristófanes menciona as ἑταιρίστριαι / hetairístriai no seu famoso mito sobre o Amor: "Todas as mulheres que são o corte de uma mulher não dirigem a sua atenção aos homens: elas preferem as mulheres e daqui provem as hetairístriai". O significado desta palavra é obscuro, sendo traduzível pelo moderno conceito de lésbica ou então como cortesã. Luciano de Samósata refere-se a estas no Diálogo das Cortesãs, mas é possível que seja apenas uma alusão à passagem da obra de Platão.
Pornai
As prostitutas da Grécia Antiga podem ser enquadradas em várias categorias. Na parte inferior da escala encontravam-se as πόρναι/pornai, palavra que deriva de πέρνημι/pérnêmi "vender". Estas mulheres eram em geral escravas, propriedade de um πορνοϐοσκός / pornoboskós, isto é, de um proxeneta, que retirava para si uma quantia do dinheiro por elas ganho. O dono destas prostitutas poderia ser um cidadão, pois trava-se de uma forma de rendimento igual a qualquer outra. Teofrasto, na obra Caracteres (VI, 5), cita o proxeneta na lista de profissões correntes, onde se incluem o dono de uma hospedaria e o colector de impostos. O dono poderia também ser um ou uma estrangeira (meteco).
Na Época Clássica as prostitutas são escravas de origem bárbara. Durante a Época Helenística juntam-se a estas jovens abandonadas pelo pai, consideradas como escravas até prova em contrário. As prostitutas trabalhavam em bordéis, geralmente situados em zonas da cidade associadas à actividade, como o Pireu (porto de Atenas) ou o Kerameikos. A sua clientela era composta por marinheiros e cidadãos pobres.
Nesta categoria também se enquadram as mulheres que trabalhavam nos bordéis estatais de Atenas. Segundo Ateneu de Naucrátis, citando o autor cómico Filémon e Nicandro de Cólofon, foi Sólon quem "preocupado em acalmar os ardores dos jovens (...) tomou a iniciativa de abrir casas de passe e de ali instalar mulheres compradas". O mesmo Sólon teria mandado erguer com dinheiro taxado à actividade da prostituição o templo de Afrodite Pandemos, "Afrodite do povo". Embora estes relatos possuam uma veracidade duvidosa, não deixa de ser revelador que em Atenas se considerava a prostituição como parte da democracia.
Prostitutas independentes
Participante num banquete e uma tocadora de flauta
Um grau acima das pornai encontravam-se as prostitutas independentes que trabalhavam nas ruas. Para além de mostrarem os seus encantos directamente aos clientes, estas mulheres recorriam a verdeiras técnicas publicitárias, usando umas sandálias especiais cuja sola estava preparada para deixar inscrito no solo ΑΚΟΛΟΥΘΙ / AKOLOUTHI, "segue-me". Estas prostitutas utilizavam também uma maquilhagem garrida.
Estas mulheres eram de origem diversa: mulheres estrangeiras que não encontravam emprego na cidade a que tinham chegado, viúvas pobres, antigas pornai que tinham adquirido a sua liberdade (mas que tinha que pagá-la). Em Atenas estavam sujeitas a uma taxa e tinham que ser registadas.
Podem ser incluídas nesta categoria as músicas e dançarinas que trabalhavam nos banquetes. Aristóteles, na sua Constituição dos Atenienses, menciona entre as atribuições específicas dos dez astinomos encontrava-se o não permitir que as tocadoras de flauta, de lira e de cítara sejam alugadas por mais de dois dracmas por noite. Os serviços sexuais faziam parte da prestação dos serviços, tendo os preços tido uma tendência para aumentar, apesar do controlo dos astinomos.
As hetairas
As hetairas, ou heteras, encontravam-se no mais alto grau das prostitutas da Grécia Antiga. Ao contrário das outras, não se limitavam a oferecer serviços sexuais e não trabalhavam "por peça". As hetairas eram antes acompanhantes, em certa medida comparáveis às gueixas: possuíam uma boa educação que lhes permitia dialogar com figuras cultivadas. As hetairas eram independentes e poderiam gerir os seus próprios bens.
Uma das hetairas mais famosas foi Aspásia, amante de Péricles. Originária de Mileto, sendo portanto uma estrangeira em Atenas, Aspasia conviveu com Sófocles, Fídias e com Sócrates e os seus discípulos. Plutarco (Vida de Péricles, XXIV, 2) refere-se a ela como uma personalidade detentora de poder, que teve sob a sua rédea aos homens políticos mais importantes.
Para além de Aspásia, conhecem-se outras hetairas da Época Clássica, como Teodota, companheira de Alcibíades, com a qual Sócrates dialoga nos Memóraveis (III, 11, 4); Neera, tema de um discuro do Pseudo-Demóstenes; e Friné, modelo da Afrodite de Cnido, obra-prima do escultor Praxíteles, da qual foi amante, tendo também mantido uma relação com Hipérides, orador que a defendeu quando foi acusada de impudícia.
Prostituição sagrada
A Grécia não conheceu na mesma escala o fenómeno da prostituição sagrada que existiu nas civilizações do Próximo Oriente. Os únicos casos conhecidos referem-se a franjas remotas do mundo grego (Sicília, Chipre, reino do Ponto e Capadócia) e a cidade de Corinto cujo templo de Afrodite albergava um número significativo de servidores pelo menos desde a Época Clássica. Em 464 a.C., um homem chamado Xenofonte, cidadão de Corinto vencedor das provas de corrida e pentatlo nos Jogos Olímpicos, dedicou a Afrodite cem moças em sinal de agradecimento. Durante a era romana, Estrabão refere que este templo possuía mais de cem prostitutas sagradas.
Esparta
De todas as cidades da Grécia Antiga, Esparta era conhecida por não abrigar nenhuma porné. Plutarco (Vida de Licurgo, IX, 6) explica o fenómeno pela ausência de metais preciosos e de uma verdadeira moeda - Esparta utilizava uma moeda de ferro que não era reconhecida em nenhum outro sítio - razões pelas quais nenhum proxeneta tinha interesse em ali se instalar. A única evidência que parece contradizer a inexistência da prostituição refere-se a um vaso do século VI a.C. que mostra mulheres a tocar o aulos (flauta) num banquete. No entanto, julga-se tratar-se da reprodução de um tema iconográfico e não da representação da realidade espartana da época. A presença de elementos como um demónio alado, frutas, plantas e de um altar sugerem que pode tratar-se de um banquete em honra de umas divindades da fertilidade, como Ártemis Órtia ou Apolo Jacinto.
Contudo, durante a Época Clássica Esparta conheceu as hetairas. Ateneu refere as cortesãs com as quais Alcibíades se encontrou durante o seu exílio na cidade (415-414 a.C.).
A partir do século III a.C., quando grandes quantidades de moeda estrangeira circulam na Lacónia, Esparta enquadra-se na norma das outras cidades gregas em matéria de prostituição. Na Época helenística Polémon de Atenas descreve ao retrato da célebre hetaira Cotina e à vaca de bronze por si dedicada.
Condições de vida das prostitutas
Prostituta a urinar para um vaso
A condição das prostitutas é difícil de avaliar; pelo simples facto de serem mulheres, já se encontravam relegadas a uma posição inferior na sociedade grega. Não se conhecem testemunhos directos sobre as suas vidas nem descrições dos bórdeis onde trabalhavam. É muito provável que os bórdeis da Grécia fossem semelhantes aos de Roma, descritos pelos escritores e preservados em locais como Pompeia: locais escuros, estreitos e malcheirosos. Um dos termos correntes entre os Gregos para designar uma prostituta era χαμαιτυπής / khamaitypếs, o que significa "que toca a terra", sugerindo que a prestação do serviço tinha lugar no chão.
Alguns autores colocam as prostitutas a falarem de si mesmas nas suas obras. É o Luciano de Samósata no Diálogos das Cortesãs e Alcifrón nas suas cartas, mas importa ter presente que se tratam de obras de ficção. As prostitutas apresentadas nestas obras são independentes ou hetairas, não se referindo às prostitutas escravas, a não ser para considerá-las como fonte de lucro. Os textos revelam claramente que as prostitutas eram censuradas pela natureza mercantil da actividade que exerciam. Para um grego uma pessoa que se prostituia, fosse mulher ou homem, o fazia por necessidade económica ou por gosto pelo lucro. A ganância das prostitutas é assim um tema recorrente na comédia grega. Deve ser referido que em Atenas elas eram as únicas mulheres a lidar com dinheiro, o que provavelmente provocava o ressentimento dos homens. Outra explicação possível para este suposto gosto pela ganância relaciona-se com a curta duração da carreira de prostituta: para poderem guardar algum dinheiro para a velhice tornava-se conveniente acumular o máximo de dinheiro em pouco tempo.
Os tratados de medicina fornecem um olhar, se bem que parcial e incompleto, sobre a vida quotidiana das prostitutas. Para as prostitutas escravas tornava-se necessário a evitar a todo o custo a gravidez. Os métodos contraceptivos usados pelos Gregos são menos conhecidos que os utilizados pelos Romanos. No entanto, num tratado atribuído a Hipócrates, descreve-se o caso de uma dançarina "que tinha por hábito ir com os homens", à qual recomenda saltar para desta forma fazer sair o esperma, evitando o risco de gravidez. É também provável que as pornai recorressem ao aborto e ao infanticídio por exposição.
A cerâmica grega permite igualmente conhecer a vida das prostitutas. A representação das prostitutas pode ser dividida em quatro categorias: cenas de banquete, cenas de actividade sexual, cenas de satisfação de necessidades fisiológicas e cenas de maus-tratos. Nas cenas de satisfação das necessidades fisiológicas é frequente que a prostituta seja retratada com um corpo pouco gracioso, ou seja, com peito descaído e adiposidades. Nas cenas de relações sexuais, reconhece-se a presença de uma prostituta pela presença de uma bolsa. A posição sexual mais representada corresponde à mulher sendo penetrada encontrando-se de joelhos, o que pode corresponder a penetração vaginal ou anal. O sexo anal era considerado degradante e aparentemente esta posição era descrita como pouco agradável para a mulher. Alguns vasos mostram cenas nas quais as prostitutas são ameaçadas com com um pau ou uma sandália a aceitar realizar actos considerados degradantes, como a prática do sexo oral e sexo anal.
Apesar das hetarias serem as mulheres mais livres da Grécia, deve ser referido que muitas delas desejavam tornarem-se respeitadas pela sociedade e encontrar um marido.
[editar] Prostitutas na literatura
No tempo da Comédia Nova as prostitutas, junto com os escravos, tornaram-se verdadeiras estrelas das comédias. Isto pode ser explicado pelo ênfase dado pela Comédia Nova a aspectos da vida privada e quotidiana, por oposição aos temas políticos tratados pela Comédia Antiga.
Na obra Amores Ovídio afirma: "Enquanto os escravos forem falsos, os pais severos, as coscuvilheiras pérfidas e as meretrizes fáceis, Menandro viverá". No teatro de Menandro, a prostituta poderia ser uma amiga de infância do protagonista, que entrou no mundo da prostituição depois de ter sido abandonada ou raptada por piratas; reconhecida pelos pais, abandona o mundo da prostituição para casar.
[editar] Prostituição masculina
Ver artigo principal: Prostituição masculina
A Grécia Antiga possuia também uma grande quantidade de πόρνοι / pórnoi, prostitutos. Uma parte deles trabalhava para uma clientela feminina, encontrando-se atestada a existência de gigolos desde a Época Clássica. Na comédia Pluto, Aristófanes coloca em cena uma mulher de idade avançada que gastou todo o seu dinheiro num amante que agora a rejeita. Contudo, a maioria dos prostitutos trabalhava para uma clientela masculina.
Prostituição e pederastia
Ao contrário da prostituição feminina, que envolvia mulheres de todas as idades, a prostituição masculina encontra-se praticamente confinada ao grupo dos adolescentes.
O período durante o qual os adolescentes eram considerados desejáveis estendia-se entre a puberdade e o aparecimento da barba, constituindo a ausência de pêlos um elemento de erotismo entre os gregos. São mesmo conhecidos casos de homens que tinham como amantes homens mais jovens que se mantinham depilados.
Da mesma maneira que acontecia com a versão feminina, a prostituição masculina não era para os gregos objecto de escândalo. Os bordéis de rapazes existiam não apenas nas zonas do Piréu, Keramaikos, no monte Licabeto, mas um pouco por toda a Atenas. Um dos mais célebres destes jovens prostitutos é sem dúvida Fédon de Élis. Feito escravo durante a tomada da sua cidade, o jovem trabalhou num bordel até que Sócrates o conheceu, tendo o filósofo comprado a sua liberdade. O jovem tornou-se seu discípulo, tendo o seu nome sido atribuído a dos diálogos de Platão, o Fédon que narra os instantes finais da vida de Sócrates. Os prostitutos masculinos encontravam-se também sujeitos ao pagamento de uma taxa.
Prostituição e cidadania
A existência de uma prostituição masculina em larga escala revela que os gostos pederásticos não estavam restritos a determinada classe social. Os cidadãos que não tinham tempo ou disponibilidade para seguir os rituais da pederastia (observar os jovens no ginásio, fazer a corte, oferecer presentes), poderiam recorrer aos prostitutos, que à semelhança das prostitutas encontravam-se protegidos pela lei contra as agressões físicas. Outra razão que explica o recurso à prostituição relaciona-se com os tabus sexuais: os gregos consideravam a prática do sexo oral como um acto degradante. Assim, numa relação pederástica o erastés (amante mais velho) não poderia pedir ao erómenos que praticasse este acto, reservado aos prostitutos.
Apesar do exercício da prostituição ser legal, era mesmo assim uma prática vergonhosa, encontrando-se associado aos escravos ou aos estrangeiros. Em Atenas tinha para um cidadão consequências políticas, nomeadamente a perda dos direitos civícos (atimía). Na obra Contra Timarco, Ésquines defende-se dos ataques de Timarco com a acusação deste ter praticado a prostituição durante a juventude, devendo por isso ser excluído dos seus direitos políticos, como o de apresentar queixa contra alguém.
PAIDEIA
“O conhecimento do passado é apenas
uma chave para entender o presente.”
Lorenzo Luzuriaga
RESUMO
O estudo da história da educação e da pedagogia é imprescindível
ao conhecimento da educação atual, pois, esta é um produto histórico.
A educação presente é ao mesmo tempo, fase do passado e
preparação do futuro. A história da educação estuda o passado como
explicação do estágio atual, ou seja, o conhecimento do passado é
apenas uma chave para entender o presente. Assim, o estudo da
história da educação, irá nos servir para encontrar o caminho de uma
educação realmente voltada para o desenvolvimento pleno do homem e
sua realização como cidadão. O presente trabalho, Revisitando a
Educação na Grécia Antiga: A Paidéia faz uma contextualização
histórica do mundo antigo, evidenciando as características do modo de
produção escravista e a organização social e política, preparando para
iniciar um estudo em que caracterizamos e refletimos sobre o ideal de
educação grega, ou seja, a Paidéia.
INTRODUÇÃO
Partimos do ponto de vista de que a História da Educação é parte
indissociável da História Geral, porém específica. É importante estudar a
educação no contexto histórico qual para observar a relação de influência, de
determinação, entre a educação e sistema social mais amplo.
A História da Educação, não estuda o passado pelo passado, como coisa
morta, mas utiliza esse conhecimento do passado como uma “chave” para
entender o presente.
O estudo da História da Educação e da pedagogia é importantíssimo para o
conhecimento da educação atual, pois, esta é um produto histórico e não uma
invenção exclusiva do nosso tempo. A educação presente é ao mesmo tempo,
fase do passado e preparação do futuro.
Por isso, o estudo da História da Educação, irá nos servir para encontrar o
caminho de uma educação realmente voltada para o desenvolvimento pleno do
homem e sua realização como cidadão, em verdade, as questões da educação
em cada momento histórico são engendradas nas relações de produção de cada
sociedade determinada.
O presente estudo tem como objetivo geral contribuir para a efetivação de
um estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega, com o objetivo de perceber
possíveis relações com a educação de hoje. Para tanto, pretende-se desenvolver
uma pesquisa bibliográfica, levantando dados históricos da evolução da educação
na Grécia e dessa forma contribuir para as pesquisas referentes à História da
Educação.
A partir do pressuposto acima, apresento: “Revisitando a Educação na Grécia
Antiga: A Paidéia”, que inicia o primeiro capítulo fazendo uma contextualização
histórica do mundo antigo, evidenciando as características do modo de produção
escravista e a organização social e política; no segundo capítulo observamos a
Educação na Grécia, neste capítulo caracterizamos e refletimos sobre o ideal de
educação grego, ou seja, a Paidéia. No terceiro capítulo, falamos sobre os
Períodos da Filosofia até chegarmos ao quarto capítulo, que trata sobre a filosofia
do aretê.
E, finalmente, concluímos buscando ter contribuído para a efetivação de um
estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega, sobretudo, ajudando a
estabelecer uma relação articulada com as práticas pedagógicas atuais.
1 – CONTEXTO HISTÓRICO DO MUNDO ANTIGO
Antes de adentrarmos pela história da educação na Grécia, convém fazer
uma breve contextualização histórica, sobretudo, localizando o objeto do presente
estudo, com o intuito de melhor compreendermos a evolução da educação e
cultura grega.
Geograficamente, a Grécia está localizada a leste do mar Mediterrâneo, na
Península Balcânica, apresentando relevo acidentado e um litoral recortado por
golfos, banhado pelo mar Egeu e pelo mar Jônio. Devido ao relevo montanhoso, a
prática da agricultura revela-se difícil na Grécia.
Como a superfície contínua da Grécia era bastante limitada, os gregos,
passaram a habitar também as ilhas próximas, bastantes numerosas. A ilha de
Eubéia ficava separada do continente pelo estreito de Euripes. Ítaca, Cefanônia,
Córcira e Zaquintos localizavam-se no mar Jônico. Ao sul do Peloponeso, ficava
Cítara, que representava uma etapa para a ilha de Creta, a mais extensa de todas.
As Cícladas (Andros, Delos, Paros, Nexos) localizavam-se no Egeu como as
Espóradas (Rodes, Samos, Quios, Lesbos). Essas ilhas constituíam a Grécia
colonial, constituída por terras mais distantes da Grécia:
- Ásia Menor (Eólica, Jônica, Dória);
- Sul da Itália (Magna Grécia);
- Costa Egípcia ( Náucratis);
Desde o período neolítico é que se tem notícia da presença do homem na
península Balcânica. Os pelasgos foram seus primeiros habitantes, possivelmente,
de origem mediterrânea. Os cretenses, porém, foram mais importantes como
civilização, predominando em toda a região do Egeu.
Tantos os pelasgos como os cretenses, geralmente são considerados povos
anteriores aos gregos (povos pré-helênicos).
A história egeana teve suas origens na ilha de Creta, irradiando-se daí para a
Grécia continental e também para a Ásia Menor. Cerca de 1.800 a.C., Cnossos e
Faístos, na ilha de Creta, atingiram o seu apogeu. O palácio de Cnossos foi
destruído entre cem e duzentos anos mais tarde. Formou-se uma nova dinastia, à
qual se devem diversas transformações, inclusive o tipo de escrita.
Os chamados "povos do mar" surgiram pelos fins do século XV a.C., e por
certo foram os predecessores dos povos gregos. Eram os aqueus, povos de
origem indo-européia. Da miscigenação de cretenses e aqueus originou-se a
civilização Miceniana.
Duzentos anos mais tarde, os dórios, os jônicos e os eólios, outros povos
helênicos, se transferiram para Grécia. Os invasores venceram os aqueus, e
substituíram as cidades pelas suas. Tais cidades viram transformar-se nas
grandes representantes da Grécia Antiga: Atenas, Tebas, Esparta e outras.
1.1 – CARACTERÍSTICAS DO MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA
A escravidão aparece na Grécia como instituição social. Segundo
Aristóteles, o fundamento da escravidão era a diferença das raças. O meio de
conseguir escravos era fazer prisioneiros de guerra: a pirataria, as corridas sobre
os mares do sul davam-lhes grande soma de cativos.
Desde então o tráfico era muito praticado. A população da Ática, pelo
cálculo de Letronne, era de 110.000 escravos e 130.000 livres. Como se vê havia
duas raças, uma exterminando a outra, como acontecia com as hilotas na Lacônia.
A escravidão na Grécia era, todavia, mais branda que a de Roma e era
muito espalhada nas cidades, onde cada um para se entregar aos negócios do
Estado utilizava o trabalho de um escravo.
Nessa civilização eminentemente artística, havia na escravidão certos
detalhes, que salvavam a dignidade do homem, assim, a avaliação dos seus
talentos, cuja manifestação era plenamente permitida. Na Grécia as faculdades
intelectuais atingiram grande destaque entre os gregos; Esopo e Phedro Epíteto
são nomes ilustres no seu país.
Havia os escravos domésticos que, dentre outras coisas, serviam para fazer
rir em festas; escravos que diziam ao senhor os nomes dos que este encontrava
na rua; outros que lhes abriam caminho entre o povo. Existiam senhores que
tinham sob o seu poder até 20.000 escravos.
Os escravos eram levados às vendas com letreiros na fonte. Uma lei antiga
mandava, que, quando um escravo assassinava o senhor, que fossem mortos
junto com o assassino todos aqueles que morassem com ele. Assim, no tempo de
Nero, um escravo tendo assassinado o prefeito de Roma, quatrocentos de seus
companheiros inocentes foram mortos com ele, no meio de um tumulto enorme do
povo, que se interessava por eles, porque havia entre eles inocentes pessoas de
todas as idades, e de um e do outro sexo, como o refere Tácito.
Tácito descreve a produção escravista da seguinte forma:
Os escravos não têm, como entre nós,
empregos distintos na casa. Cada um é senhor
de sua casa, de seus penates. O senhor impõe
ao escravo uma certa contribuição em trigo,
em gado, em vestes, como a um colono, e
somente até aí o escravo obedece. As outras
ocupações domésticas incumbem à mulher e
aos filhos, É muito raro açoitarem um escravo,
prendê-lo, ou coagi-lo ao trabalho. Costumam
matá-los, não por disciplina nem severidade,
mas pelo ímpeto e pela cólera, como a um
inimigo, somente neste caso fazem-no
impunemente. ( apud: Pereira, 1971, p. 84).
1.2 – ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
As cidades gregas são encontradas nos tempos históricos mais remotos,
muitas dessas cidades apresentavam uma organização perfeita. Tomamos
conhecimento do “genos” minúsculas comunidades naturais em que os gregos
anteriormente viviam, apenas através das lendas e dos poemas homéricos. O
genos era constituído por todos os que prestavam culto a antepassados comuns
que tinham o mesmo sangue e, com o tempo, esses genos foram se agrupando, a
fim de obterem melhores condições de vida, e deram origem a cidades.
Os gregos, porém, fundaram muitas cidades, cada qual mantendo sua
independência. Possuíam também seus próprios reis, hábitos e regulamentos.
Apesar disso, os gregos sentiam que formavam um só povo, o que desenvolveu
na Grécia o sentimento pátrio.
As colônias foram o meio utilizado pelos gregos para disseminarem a sua
religião e seus hábitos por toda a extensão do Mediterrâneo. A fundação de
colônias gregas não era de iniciativa do Estado. Um grupo de elementos,
obedecendo à chefia de um, encarregado de levar o fogo sagrado, saía da mesma
cidade à procura de um local onde pudesse se estabelecer e construir cidades
independentes, ligadas apenas pela religião à cidade de origem. Essa modalidade
de colônia é denominada apoequia.
No século X a.C., os atenienses criaram um novo tipo de colônia, a olerúquia.
Era obra do Estado, e os emigrantes conservavam os seus direitos de cidadania.
Algumas colônias gregas: vilas na Sicília, sul da Itália, Turquia, terras no mar
Negro, Índia, Portugal e Sudão.
Em algumas cidades, a agricultura foi substituída por outras atividades
econômicas, por exemplo, o comércio, que atraíram elementos estrangeiros e
provocaram o aumento do número de escravos. As classes que não participavam
da política aumentaram, numericamente, enquanto se agrupavam na cidade
propriamente dita. Com isso, tomaram consciência da força que possuíam que até
então haviam ignorado por causa de sua vida dispersa na lavoura.
O aparecimento da moeda foi outro fator da revolução da econômica.
Riquezas móveis se constituíram e, houve descontentamento entre as classes
sociais inferiores. As lutas políticas sucediam-se. Como solução, foram
promulgadas leis para regulamentar as relações de classes.
Tanto Esparta como Atenas mantiveram constantes lutas pela hegemonia
grega. Atenas teve o seu apogeu no transcorre da época de Péricles (463-529
a.C.). Péricles foi o principal representante do partido democrático, que subiu ao
poder em 463 a.C. Teve como principal objetivo de sua política a melhoria das
condições de vida da população, transformando e melhorando também as
características da política externa.
Quanto à cultura, Péricles procurou atrair os intelectuais de todas as
localidades da Grécia, favorecendo-os e instalando-os em Atenas. Sua época foi
marcada por nomes de grandes personalidades: Fídias, arquiteto e escultor;
Sófocles, autor de tragédias; Heródoto, o grande historiador; Ésquilo, autor de
tragédias; Sócrates, o pai da filosofia; Eurípedes, autor de tragédias; Aristófanes,
comediógrafo.
No fim do governo de Péricles, eclodiu a luta entre Esparta e Atenas, que
seria uma das mais longas e violentas guerras do mundo antigo, e que passou
para a História como a guerra do Peloponeso. Os constantes desentendimentos
bélicos entre as cidades gregas somente conseguiram abalar a unidade do país,
propiciando a Filipe I que concretizasse a sua conquista.
Após haver conseguido impor-se aos gregos, muitos acreditam que o rei
macedônio estivesse cuidando dos preparativos para submeter os persas, o que
não conseguiu levar a contento, pois foi assassinado por Pausânias, em 336 a.C.,
deixando seu trono para seu filho, Alexandre. Ele estava, nessa época com 20
anos e era considerado um homem culto e admirador do helenismo, acreditandose
que tenha sido discípulo de Aristóteles.
Alexandre tratou de consolidar na Grécia a obra de Felipe. Invadiu Tebas e a
destruiu. Venceu Atenas. Depois da vitória de Granico, submeteu a Ásia Menor,
além de outras vitórias. Morreu em 323 a.C. Depois de sua morte,
desentendimentos e lutas entre os generais provocaram a divisão do Império em
três grandes reinos: o do Egito, o da Síria, o da Macedônia. Tempos depois, reinos
menores originaram-se desses três grandes reinos: Epiro, Ponto, Bitínia, Galátia,
Pérgamo, Capadócia, Partia, Bactriana. Esses pequenos reinos constituíam os
estados helenísticos.
. Também na religião, o regime se impôs. Foi estabelecido o culto dos reis,
transformando o rei quase em um deus. A escultura helenística orientava-se no
sentido de causar efeito e se caracterizava pelas grandes proporções. Os
principais centros esculturais foram Pérgamo e Rodes. O Colosso de Rodes era
uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Os gregos sempre foram um povo que gostava de animação, alegria, lazer
e, que se divertia com as conversas e a companhia dos outros. As classes da
sociedade grega variavam de uma Cidade-Estado para outra. Atenas contava com
três classes:
• Cidadãos, os eupátridas: Somente eles possuíam direitos políticos para
participar da democracia. As mulheres e as crianças não faziam parte do
grupo dos cidadãos;
• Metecos: Eram os estrangeiros que habitavam Atenas. Não tinham direitos
políticos e estavam proibidos de adquirir terras, mas podiam dedicar-se ao
comércio e ao artesanato. Em geral, pagavam impostos para viver em
Atenas e estavam obrigados à prestação do serviço militar;
• Escravos: Formavam a grande maioria da população ateniense, pois para
cada cidadão adulto chegou a existir cerca de 18 (dezoito) escravos. Os
escravos eram considerados propriedades do seu senhor, embora
houvesse leis que os protegiam contra excessos de maus tratos. Atenas
era um Estado que garantia a democracia da minoria às custas da
escravidão da maioria.
Os antigos gregos falaram vários dialetos diferentes durante centenas de
anos. Depois de 330 anos a.C., um dialeto comum chamado coiné desenvolveu-se
a partir do primitivo dialeto falado em Atenas. Mais tarde, vários invasores
penetraram na Grécia Antiga, mudando a língua e os costumes gregos.
O povo levava uma vida simples, começando pelas moradias, que eram de
pedra ou de tijolos secos ao sol e cobertos com estuque.
A maioria dos gregos fazia apenas duas refeições por dia. O almoço (ariston),
muitas vezes consistia somente de um prato de feijão ou de ervilhas e de uma
cebola crua ou um nabo cozido. O jantar deipnon, era a refeição principal que
incluía pão, queijo, figos, azeitonas e por vezes um pedaço de carne ou queijo. Os
gregos não conheciam o açúcar, usavam mel para adoçar seus alimentos.
Usavam o azeite para passar no pão, como óleo de cozinha e como sabão. A
maioria dos gregos bebia uma mistura de vinho e água; consideravam o leite
próprio apenas para os animais e os bárbaros.
Os gregos desenvolveram um belo e gracioso traje. Homens e mulheres
usavam um quitao, túnica que descia até os joelhos ou tornozelos; um cinto
estreito prendia na cintura o quităo feminino. Grande parte dessas túnicas eram
feitas de lă; apenas os mais ricos podiam tê-la de algodão ou linho. O povo usava
quitões de cor marrom para o trabalho e de cor branca nas ocasiões formais.
Tanto os homens como as mulheres trajavam também himátions, ou seja,
mantos que eles arranjavam com pregas sobre os ombros e os braços. Os moços
por vezes usavam uma clâmide, pequeno manto preso no ombro. As mulheres
podiam vestir também um péblos, que era uma variação do quităo. Dentro de casa
os gregos habitualmente andavam descalços; na rua muitos usavam sandálias. A
maioria dos gregos andava com as cabeças descobertas.
Cada vila ou cidade contava com ginásio ao ar livre onde os homens podiam
praticar exercícios ou vários tipos de jogos. As crianças geralmente rolavam aros
ou brincavam com bonecas. Os homens mais velhos sentavam-se na ágora
(mercado), onde ficavam jogando ou conversando. A mulher grega trabalhava
quase que todo o tempo e tinha poucos divertimentos. As caçadas eram
passatempos prediletos nas propriedades rurais.
Os gregos adoravam vários deuses, e os representavam sob a forma
humana. Portanto, sua religião era politeísta e antropomórfica. Para eles os
deuses habitavam o monte Olimpo. Praticavam ainda, o culto dos heróis, era um
conjunto de seres mitológicos considerados pelos gregos como seus
antecessores, fundadores de suas cidades, às quais davam proteção: Teseu,
Épido, Perseu, Belerofonte e Hércules. O culto aos deuses era tão desenvolvido
entre os gregos, que chegaram a erigir soberbos templos as suas divindades, nos
quais realizavam suas orações. Consideravam que os oráculos eram meios
utilizados pelos deuses para se comunicarem com eles.
Diversos jogos periódicos eram promovidos pelos gregos em homenagem
aos deuses, como os Jogos Olímpicos, dedicados a Zeus, na cidade Olímpia. Os
Jogos Olímpicos eram praticados de quatro em quatro anos. Durante sua
realização, suspendiam as guerras e tratavam os participantes como pessoas
sagradas.
2 – EDUCAÇÃO NA GRÉCIA
A visão que os gregos tinham do mundo os distinguia de todos os demais
povos do mundo antigo. Os gregos colocaram a razão acima dos seus mitos e a
utilizaram como instrumento a serviço do próprio homem. Os gregos glorificavam o
homem como o ser mais importante do universo.
Podemos dizer que a origem dessa atitude se encontra na realidade sóciopoética
da Grécia, processo que se realiza entre 1200 e 800 a.C. Trata-se do
período pré-Homérico que recebeu esse nome, devido ao que se conhece da
interpretação das lendas contidas nos poemas; “Ilíada” e “Odisséia”, que a
tradição atribui a Homero.
2.1 – CARACTERÍSTICAS
Os atenienses acreditavam que sua cidade-estado iria tornar-se a mais forte
se cada menino desenvolvesse integralmente as suas aptidões. O governo não
controlava os alunos e as escolas. Um garoto ateniense entrava na escola aos
seis anos e ficava sob os cuidados de um pedagogo que ensinava aritmética,
literatura, música escrita e educação física; o aluno decorava muitos poemas e
aprendia a fazer parte dos cortejos públicos e religiosos.
As meninas não recebiam qualquer educação formal, mas aprendiam os
ofícios domésticos e os trabalhos manuais com as mães. O principal objetivo da
educação grega era preparar o menino para ser um bom cidadão. Os gregos
antigos não contavam com uma educação técnica para preparar os estudantes
para uma profissão ou negócio.
2.2 - A ARETÊ
Sócrates fala sobre este o assunto nesta passagem do texto platônico:
Nas minhas idas e vindas pela cidade, não
faço outra coisa senão persuadir-vos, novos
e velhos, a que vos preocupeis mais, nem
tanto, com o vosso corpo e as vossas
riquezas do que com a vossa alma, para a
tornardes o melhor possível, dizendo-vos 'A
virtude (aretê) não vem da riqueza, mas sim a
riqueza da virtude, bem como tudo o que é
bom para o homem, na vida particular ou
pública’. (PLATÃO, 1972, apud Jaeger)
Igualmente, para Platão, a questão central é saber o que é a virtude (aretê).
Muito dos diálogos platônicos é bem a prova disso; é verdade que se questiona e
se procura saber o que é a coragem, a sabedoria, o amor, o belo, a justiça e
tantas outras virtudes.
Sigamos, então, a evolução do conceito de aretê (traduzido, vulgarmente, por
virtude) desde que, esse conceito parece como primeiro ideal educativo formulado
pelos gregos. É em Homero e nos chamados poemas homéricos, a Ilíada e a
Odisséia, que tal ideal educativo aparece originalmente formulado.
Na Ilíada destaca-se a figura de Aquiles, o herói modelo, nobre, valente e
corajoso, o melhor, entre todos. Aquiles encarna a aretê e, é na sua figura que se
caracteriza esse ideal. Além de guerreiro valoroso, valente, corajoso e honrado,
Aquiles é o protótipo do perfeito cavalheiro da época homérica ( cortês, cavalheiro
e de boas maneiras ).
Nessa época a aretê era entendida como superioridade, nobreza e um
conjunto de qualidades físicas, espirituais e morais tais como: a bravura, a
coragem, a força e a destreza do guerreiro, a eloqüência e a persuasão, e, acima
de tudo, a heroicidade.
Se esta é a aretê da Ilíada, a da Odisséia é um pouco diferente. A Odisséia
relata o regresso do herói, Ulisses, à casa, vindo da guerra de Tróia. Ulisses além
da força, coragem, bravura e eloqüência, a astúcia, a manha, o engenho e a
inteligência, que o levam a desvencilhar-se das situações mais complicadas.
Assim, na Odisséia, Telêmaco, filho de Ulisses, é o único jovem em
formação e é a sua educação, que lhe é ministrada pela deusa Atena, disfarçada
de Mentes amigo e hóspede de seu pai. E graças a essa educação, Telêmaco
passou do jovem dócil e passivo do começo do poema, a príncipe consciente dos
seus deveres, o companheiro de luta, valente e ousado que ajudará o pai, na sua
vingança, a enfrentar os pretendentes de Penélope, sua mãe e esposa de Ulisses.
Mas, quer na Ilíada quer na Odisséia, a educação que se propõe traz, uma
pedagogia fundada no exemplo vivo ou no exemplo mítico, a pedagogia do
paradigma. O herói prototípico institui-se como modelo exemplar a seguir.
Imitar os heróis, o que desperta a emulação, para eles, ser herói é ser
possuidor da aretê heróica.
Homero é, entre todos os poetas gregos,
considerado o maior e, a crer nos
testemunhos, a opinião corrente ao tempo
indica-o também como o educador de toda a
Grécia. De fato, a tradição homérica e o ideal
educativo que nela se propõe são transmitidos
oralmente, de geração em geração, pelos
aedos e rapsodos. Também só assim se pode
compreender a afirmação. Nele, pela primeira
vez, o espírito pan-helênico atingiu a unidade
da consciência nacional e imprimiu o seu selo
sobre toda a cultura grega posterior. (JAEGER,
s.d. 77).
Como já foi falado, os primeiros educadores do mundo grego são os poetas,
que surgem não apenas como educadores da sua época, mas, porque a sua
influência durou para além do seu tempo, como educadores de toda a Grécia.
Homero é o mais influente de todo o mundo antigo. Ser culto na Antiguidade era
saber Homero de cor e ser capaz de o citar em qualquer ocasião.
Já no final da época arcaica, não bastava cobrir-se de honra e glória, como
nos tempos homéricos, mas pretendia-se alcançar a excelência tanto no plano
físico como no plano moral. Tal ideal exprime-se pela palavra Kalokagathia: beleza
e bondade são os atributos que o homem deve procurar realizar.
Assim, o homem forma-se segundo um crescente domínio de si, pela
libertação de seus instintos, desejos e paixões, que devem ficar submetidos à
razão. Para alcançar tal ideal propõe a ginástica, para desenvolver o corpo, e a
música, com a leitura e o canto das obras dos grandes poetas, para o espírito.
Esse programa educativo tratava de desenvolver no homem a qualidade da
temperança e que implicava um perfeito domínio de si, aliado a sabedoria.
Portanto, esse era um ideal de sabedoria, pelo domínio dos instintos,
desejos e apetites pela razão, um ideal de equilíbrio e harmonia.O programa de
estudos era constituído pela ginástica, ensinado nos ginásios, sendo o “pedotriba”
ou “paidotriba” o mestre de educação física, e pela música que ensina as crianças
a tocar cítara, para se acompanharem enquanto cantam as obras dos grandes
poetas, sendo o mestre o citarista. Nesta altura, o citarista ensina ainda a ler e
escrever, porque para cantar os poetas é preciso saber ler as suas obras. Já no
fim da época arcaica, surgiu a figura do didáscalo (gramático) o mestre que
ensinava a ler, escrever e alguns rudimentos de cálculo.
Neste tempo aparece a figura do pedagogo, ou seja, do escravo que
acompanhava o menino à escola e que vigiava o seu comportamento moral.
Platão dá-nos um retrato fiel desta educação tradicional e, apesar de longo,
cremos que vale a pena transcrevê-lo:
Logo que a criança começa a compreender o que
lhe dizem, a ama, a mãe, o pedagogo e até o próprio
pai se esforçam por que ela se torne a mais perfeita
possível. A cada ação ou palavra lhe ensinam ou
apontam o que é justo e o que não é, que isto é
belo e aquilo vergonhoso, que uma coisa é piedosa,
e outra ímpia, e 'faz isto', 'não faças aquilo'. E, ou
ela obedece de boa mente, ou então, corrigem-na
com ameaças, como se fosse um pau torto e
recurvo. Depois, mandam-na à escola, com a
recomendação de se cuidar mais da educação das
crianças que do aprendizado das letras e da cítara.
Os mestres empenham-se nisso, e, depois de elas
aprenderem as letras e serem capazes de
compreender o que se escreve, (...) põem-nas a ler
nas bancadas as obras dos grandes poetas, e
obrigam-nas a decorar esses poemas, nos quais se
encontram muitas exortações e também muitos (...)
elogios e encômios da valentia dos antigos, a fim
de que a criança se encha de emulação, os imite e
se esforce por ser igual a eles. (...) Depois de
saberem tocar, aprendem as obras dos grandes
poetas líricos. Assim, obrigam os ritmos e
harmonias a penetrar na alma das crianças, de
molde a civilizá-las, e, tornando-as mais sensíveis
ao ritmo e à harmonia, adestram-nas na palavra e
na ação. Toda a vida humana carece de ritmo e de
harmonia, ainda se mandam as crianças ao
pedotriba, a fim de possuírem melhores condições
físicas, para poderem servir a um espírito são, e
não serem forçadas à cobardia, por fraqueza
corpórea, quer na guerra, quer noutras atividades.
Assim fazem os que têm mais posses. Os filhos
desses começam a ir a escola de mais tenra idade,
e saem de lá mais tarde. Depois de estarem livres
da escola, o Estado, por sua vez, obriga-os a
aprender as leis e a viver de acordo com elas. Tal
como o mestre-escola que, para os que não sabem
escrever, traça as letras com o estilete e lhes
entrega a tabuinha e os força a desenhar o traçado
dos caracteres, assim também a cidade, depois de
ter delineado as leis, criadas pelos bons e antigos
legisladores, os força a mandar e a serem
mandados de acordo com elas. (...) Perante tais
cuidados com a virtude (aretê) particular e pública,
ainda te admiras, ó Sócrates, e põe objeções à
possibilidade de a virtude se ensinar? (PLATÃO,
325 - 326 apud: PEREIRA, 1971, 397).
Porém, este ideal educativo não ficava restrito à escola; a cidade continuava
educando nas reuniões políticas, administrativas e jurídicas, nos jogos, nas artes,
na arquitetura e nas representações dramáticas. Em nenhum lugar da Grécia o
teatro era só para privilegiados, era a escola de todos os cidadãos.
A educação grega tinha duas finalidades: o desenvolvimento do cidadão fiel
ao Estado e a formação do homem que adquiriu plena harmonia e domínio de si.
Porém a educação grega também tinha uma finalidade cívica, ou seja, a educação
é uma preparação para a cidadania. Para eles, o habitante da polis só é o que é
porque vive na cidade e sem ela não é nada.
Nesse sentido, é evidente que o homem é um animal político e como falou
Aristóteles, o que difere o homem dos outros animais é sua qualidade de cidadão
e habitante da polis. Essa consciência da cidadania faz sentir a necessidade de
uma nova educação, pois a antiga, composta somente por ginástica e música, já
não servia para a formação do cidadão e nem correspondia às novas exigências
sociais e políticas.
Por exemplo, a forma democrática de organização do Estado Ateniense,
exigia a participação de todos os cidadãos, ou seja, homens livres e para que
esses cidadãos participassem, era necessário ter eloqüência e uma boa formação
oratória.
Neste contexto surgem os sofistas, uma nova estirpe de educadores que se
apresentam como professores e que oferecem, a troco de dinheiro, o ensino da
virtude e da aretê política. Os sofistas transformaram a educação em uma arte ou
técnica, na qual eles são mestres e capazes de ensinarem aos seus alunos.
Estava incluído neste tipo de educação a formação de homens de Estado e
de dirigentes da vida pública. E para que esses homens atingissem êxito político,
eles precisavam falar bem, construir discursos persuasivos e ter bons argumentos
que justificassem suas posições. Era preciso dominar a arte sofística da oratória,
da retórica e da dialética.
Seja qual for o profissional com quem entre
em competição, o orador conseguirá que o
prefiram a qualquer outro, porque não há
matéria sobre a qual um orador não fale,
diante da multidão, de maneira mais
persuasiva do que qualquer outro
profissional. Tal é a qualidade e a força desta
arte que é a retórica. ( PLATÃO in:
www.ahistoria.com.br )
Por isso os sofistas foram acusados de ensinar uma educação imoral e que
corrompia a juventude, posto que, esta educação desconsiderava os valores
tradicionais: verdade, justiça, virtude, retidão, etc. Pois para os sofistas não
importava que a idéia que eles estivessem defendendo estivesse errada, o que
importava era convencer pela oratória.
2.3 – A PAIDÉIA - O IDEAL DE EDUCAÇÃO GREGO
Durante os séculos V e VI a. C a cultura grega, impulsionada pelas
transformações sociais e econômicas, sofre mudanças. Surgem novos grupos
sociais ligados ao comércio, estes reclamam uma maior participação na vida
política da Grécia. Ao lado disso, surge uma cultura mais crítica em relação ao
saber religioso e mítico, que exalta a razão pessoal de cada indivíduo e é capaz
de submeter à análise qualquer crença ou tradição.
Para transmitir essa nova cultura, nasce um novo ideal de educação na
Grécia, conhecido como Paidéia, que busca a formação do homem em suas
várias esferas (social, política, cultural e educativa), ou seja, é uma educação mais
antropológica e que considera o homem como um ser racional. Essa educação
atribui ao homem, sobretudo, uma identidade cultural e histórica.
Nasce a pedagogia como saber autônomo, sistemático e rigoroso; nasce o
pensamento da educação como episteme; e não mais como ethos e como práxis
apenas.
Uma educação pública, retirada da família e do
santuário, que visa à formação do cidadão e
das suas virtudes (persuasão e capacidade de
liderança, sobretudo). É uma educação que se
liga à palavra e À escrita e tende à formação do
homem como orador, marcado pelo princípio
do Kalogathos (do belo e do bom) e que visa
cultivar os aspectos mais próprios do humano
em cada indivíduo, elevando-o a uma condição
de excelência, que todavia não se possui por
natureza, mas se adquire pelo estudo e pelo
empenho. (CAMBI, 1999, p.86).
A Paidéia é entendida como uma formação geral que dará ao homem a
forma humana, ou seja, que o construirá como homem e como cidadão. Assim, ela
significou a educação do homem de acordo com a verdadeira forma humana e
que brota da idéia.
O termo Paidéia não pode ser traduzido simplesmente como educação,
significa muito mais que isso, significa também cultura, instrução e formação do
homem grego. Este termo começou a ser utilizado no séc. IV a.c. e nesta época
significava apenas a criação dos meninos. Mas o seu significado se alargou e
passou a designar também o conteúdo e o produto dessa educação.
Torna-se claro, porque, a partir do séc. IV os gregos deram o nome de
Paidéia a toda a sua tradição.
Enfim, a Paidéia, é a busca do conhecimento do homem, de forma
individual, para que este possa interferir na organização política e social da pólis, a
idéia principal é colocar o homem a par de todo o conhecimento necessário para a
harmonia consigo próprio e com a comunidade ao seu redor.
2.4 - A EDUCAÇÃO NO PERÍODO HELENÍSTICO
No final do século IV a.C., se inicia a decadência das Cidades-Estados
gregas e a cultura helênica se mistura com as das civilizações que dominam a
Grécia. Desta forma a antiga Paidéia torna-se enciclopédia, ou seja, “educação
geral" que consistia na formação do homem culto diminuindo ainda mais o aspecto
físico e estético. Neste período cresce o papel do pedagogo com a criação do
ensino privado e o desenvolvimento da escrita, leitura e o cálculo.
Inúmeras escolas se espalham e da união de algumas delas (Academia e
Liceu) é formada a Universidade de Atenas, lugar de importante desenvolvimento
intelectual que dura inclusive até o período de dominação romana.
2.5 - PERÍODO CLÁSSICO (SÉCULO V a.c.)
Atenas havia se tornado o centro da vida social, política e cultural da Grécia,
em virtude do crescimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes
militares. Atenas vivia seu momento de maior florescimento da democracia. A
democracia grega possuía duas características de grande importância para o
futuro da filosofia.
Em primeiro lugar, a democracia afirmava a
igualdade de todos os homens adultos perante as
leis e o direito de todos de participar diretamente do
governo da cidade, da polis. Em segundo lugar, e
como conseqüência, a democracia, sendo direta e
não por eleição de representantes no governo,
garantia a todos a participação no governo e os que
dele participavam tinham direito de exprimir, discutir
e defender em público suas opiniões sobre as
decisões que a cidade deveria tomar. Surgia assim, a
figura do cidadão. (CHAUÍ, 1995, p. 36).
O indivíduo somente se torna cidadão quando exerce seus direitos de
opinar, discutir, deliberar e votar nas assembléias. Dessa forma, o novo ideal de
educação é a formação do bom orador, ou seja, aquele que saiba falar em público
e persuadir os outros na política.
Para dar esse tipo de educação aos jovens, surgem os sofistas que foram
os primeiros filósofos do Período. Os sofistas não tinham uma origem bem
definida, eles surgiram de várias partes do mundo. Sofista significa "sábio",
"professor de sabedoria", no sentido pejorativo passa a significar "homem que
emprega sofismas", ou seja, homem que usa de raciocínio capcioso, de má-fé
com intenção de enganar.
Os sofistas contribuíram muito para a sistematização da educação. Eles se
julgavam sábios e possuidores da sabedoria. Eles ensinavam a retórica, que é a
arte da persuasão, mas, vale ressaltar que não ensinavam de graça, os sofistas
cobravam por seus ensinamentos. E por cobrarem e se julgarem possuidores da
sabedoria, foram bastante criticados por Sócrates e seus seguidores, pois, para
Sócrates o verdadeiro sábio é aquele que reconhece sua própria ignorância. Para
combater os sofistas, Sócrates desenvolve dois métodos que são bastante
conhecidos até os dias de hoje: a ironia e a maiêutica.
O primeiro consiste em questionar o ouvinte à respeito do que ele considera
como verdade e tentar fazer o ouvinte entender que ele realmente não sabe tudo.
Depois que o ouvinte se convencia disto, Sócrates passava a utilizar o segundo
método que é a maiêutica, que significa dar luz às idéias. Nesse momento o
ouvinte consciente de que não sabe tudo busca saber mais, buscando respostas
por si próprio.
3 - A PEDAGOGIA GREGA – OS PERÍODOS DA FILOSOFIA
O termo pedagogia é de origem grega e deriva da palavra “paidagogos”,
nome que era dado aos escravos que conduziam as crianças à escola. Somente
com o tempo, esse termo passou a ser utilizado para designar as reflexões que
estivesses relacionadas à educação.
A Grécia clássica pode ser considerada o berço da pedagogia, até porque é
justamente na Grécia que tem início a primeira reflexão acerca da ação
pedagógica. Essas reflexões vão influenciar por séculos a educação e a cultura
do ocidente.
Os povos orientais acreditavam que a origem da educação era divina, o
conhecimento deles se resumia aos seus próprios costumes e crenças. Tudo isso
impedia uma reflexão mais profunda sobre a educação, pois, esta era fruto de
uma organização social teocrática.
Contudo, na Grécia Clássica, a razão se sobrepõe ao conhecimento
puramente religioso e místico. Nesta época a concepção dos gregos de educação
se resume à inteligência crítica e à liberdade de pensamento do homem.
O nascimento da filosofia grega foi um fator de grande importância para o
desenvolvimento de uma nova concepção de educação da Grécia.
Os períodos em que a filosofia grega se divide são:
- Período pré-socrático (Século VII e VII a.C.); os filósofos das colônias
gregas iniciam o processo de separação entre a filosofia e o pensamento
mítico.
- Período socrático (Séculos V e IV a.C.) Sócrates, Platão e Aristóteles. Os
sofistas são contemporâneos de Sócrates e alvos de suas críticas. Isócrates
também é desse período.
- Período pós-socrático (Séculos III e II a.C.) época helenística, após a
morte de Alexandre. Fazem parte desse período as correntes filosóficas: o
estoicismo e o epicurismo.
O Período pré-socrático se inicia no final do século VI a.C., quando
aparecem os primeiros filósofos nas colônias gregas da Jônia e na Magna Grécia.
Esse período caracteriza-se como uma nova forma de analisar e ver a realidade.
Antes esta era analisada e entendida, que anteriormente era analisada e
entendida apenas do ponto de vista mítico. Vale ressaltar que a filosofia não vem
para romper radicalmente com o mito, mas sim utilizar o uso da razão no
esclarecimento da origem do mundo. Os antigos mitos sobre a origem do mundo
que foram transmitidos oralmente e depois transformados em poemas por Homero
e Hesíodo são questionados pelos pré-socráticos com o objetivo de explicar a
origem do mundo.
Outra diferença que podemos notar entre a filosofia nascente e as
concepções míticas é que esta não admitia reflexões ou discordância. A filosofia
nascente por sua vez deixa o espaço livre para reflexão, daí cada filósofo surgir
com uma explicação diferente para a origem do mundo.
Assim, todas as antigas afirmações à respeito da natureza (phisys) são
questionadas, ou seja, os filósofos passam a exigir fatos que justifiquem as idéias
expostas. Toda essa mudança de pensamento é de fundamental importância para
36
o enriquecimento das reflexões pedagógicas em busca de um novo ideal de
educação.
O Período Socrático (séculos V a IV a . C.) é marcado pela influência de
três grandes filósofos, Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sócrates (470 – 399 a . C) tomou como ponto de partida o princípio básico
da doutrina sofista. “ O homem é a medida de todas as coisas” ( CHAUÍ, p. 37 ).
Se o homem é a medida de todas as coisas, é obrigação de todo homem procurar
conhecer a si mesmo. Para ele, o homem deveria procurar conhecer a si mesmo.
Para ele, o homem deveria procurar os elementos determinantes da finalidade da
vida e da educação. Porém, a consciência individual deveria deixar de se
fundamentar por simples opiniões, para poder guiar-se por idéias de valor
universal.
O fim da educação, então, não era dar a
informação sem base que, aliada a um
verbalismo superficial e brilhante, constituía o
ideal dos sofistas. Era ministrar saber ao
indivíduo, pelo desenvolvimento do seu poder
de pensamento. Todo indivíduo tem em si a
capacidade de conhecer e apreciar tais
verdades como as de fidelidade, honestidade,
verdade, honra, amizade, sabedoria, virtude,
ou pode adquirir essa capacidade.
Platão nasceu em Atenas (428 -347 a.C.) de família nobre. Foi discípulo de
Sócrates. A obra de Platão apresenta uma grande preocupação política com o seu
país (que havia saído de uma tirania. Suas principais obras são: A República e As
Leis. Para Platão até os 20 anos, todos merecem a mesma educação, nesta,
ocorre o primeiro corte e se define que são os grosseiros que devem se dedicar a
agricultura, comércio e ao artesanato. Depois devem estudar mais 10 anos e se
dar o segundo corte,e se define daqueles que têm a virtude da coragem, esses
serão os guerreiros que cuidarão da defesa da cidade. Os que sobrarem desses
cortes serão incluídos na arte de dialogar e preparados para governar.
Na Grécia Antiga, o cuidado com o aspecto físico do corpo era muito
importante. No entanto, Platão apesar de reconhecer a importância dos exercícios
físicos, acreditava que a educação espiritual era superior a educação física. Tratase
da superioridade da alma sobre o corpo, ele explica que a alma ao ter que
possuir um corpo torna-se degradante.
O conhecimento, para Platão, é resultado do lembrar daquilo que a alma já
contemplou no mundo das idéias, sendo assim, ela consiste em despertar no
indivíduo o que ele já sabe e, não se apropriar de um conhecimento que está fora.
Outro aspecto da pedagogia platônica é a crítica que ele faz aos poetas. Na sua
época a educação das crianças era baseada em palmas heróicas da época, mas
ele diz que a poesia deveria ficar limitada ao mundo artístico e não ser usada na
educação.
Em Aristóteles (384-332 a.C.) podemos perceber um outro importante
aspecto da pedagogia grega. Apesar de ser discípulo de Platão, ele desenvolveu
uma teoria voltada para o real, onde procurava explicar o movimento das coisas e
a imutabilidade dos conceitos, ou seja, para Aristóteles tudo tem um devir, um
movimento, uma passagem. Ele também desenvolveu um conceito de educação
partindo da idéia de imitação:
O que nos animais é apenas capacidade
imitativa, no homem se converte numa arte.
O homem se educa na medida em que copia
a forma de vida das adultos. Ele se educa
porque atualiza as suas energias. Segundo a
doutrina de Aristóteles, o educando é
potencialmente um sábio e, com a educação
ele converte em ato o que é suscetível de
desenvolver. (PILLETI, 1990, p. 35)
4 – CONCLUSÃO
A educação formal, propriamente dita, teve início na Grécia antiga. Com
intuito de atingir o objetivo deste trabalho e desenvolver uma pesquisa levantando
dados históricos da evolução da educação na Grécia, é possível indicar alguns
traços característicos da cultura grega que proporcionaram o desenvolvimento do
ensino, tipo: o descobrimento do valor humano, do homem em si, da
personalidade, independentemente de toda autoridade religiosa ; o
reconhecimento da razão, da inteligência crítica, libertada de dogmas; a criação da
vida cidadã, do Estado, da organização política. A criação da liberdade individual e
política dentro da lei e do Estado; a invenção da poesia épica, da história, da
literatura dramática, da filosofia e das ciências físicas; o reconhecimento do valor
decisivo da educação na vida social e individual; da educação pública a
consideração da educação humana em sua integridade física, intelectual, ética e
estética.
Todas as características anteriormente citadas continuam sendo metas a
serem atingidas pela educação atual. Assim, esperamos ter colaborado para a
efetivação de um estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega a partir do
contexto histórico-social que a influenciou e determinou sob a perspectiva de que,
sendo a educação um produto humano e histórico, pudéssemos perceber a
educação atual como parte do desenvolvimento histórico. Paidéia é , talvez, entre
todas, a maior e mais original criação cultural do gênio e do espírito gregos e que
ainda hoje é pertinente à educação do homem atual, é modelo a ser seguido por
todos aqueles que entenderem a educação como prática da liberdade.
Enfim, em matéria de educação, os gregos não só definem o modelo, como,
indicam a pedagogia a seguir. Por tudo isso, somos levados a concluir que uma
história da educação, com sentido e significado para nós, para a nossa realidade
educativa atual começa na Grécia Antiga.
Paideia
Paideia (português europeu) ou Paidéia (português brasileiro) (AO 1990: Paideia), segundo Werner Jaeger, era o "processo de educação em sua forma verdadeira, a forma natural e genuinamente humana" na Grécia antiga.
Histórico
Inicialmente, a palavra paidéia (de paidos - criança) significava simplesmente "criação de meninos". Mas, como veremos, este significado inicial da palavra está muito longe do elevado sentido que mais tarde adquiriu.
O termo também significa a própria cultura construída a partir da educação. Era o ideal que os gregos cultivavam do mundo, para si e para sua juventude. Uma vez que o governo próprio era muito valorizado pelos gregos, a Paidéia combinava ethos (hábitos) que o fizessem ser digno e bom tanto como governado quanto como governante. O objetivo não era ensinar ofícios, mas sim treinar a liberdade e nobreza. Paidéia também pode ser encarada como o legado deixado de uma geração para outra na sociedade.
Um pedagogo - um escravo, na época - conduzia o jovem, com sua lanterna ilumina(dor)a, até aos centros ou assembléias, onde ocorriam as discussões que envolviam pensamentos críticos, criativos, resgates de cultura, valorização da experiência dos anciãos etc.
Supõe-se que, no processo sócio-histórico, esse mesmo pedagogo libertou-se, talvez de tanto dialogar nos acompanhamentos do jovem até as assembléias, tornando-se um personagem da paidéia, e seu consuma(dor).
Mas, se até então o objectivo fundamental da educação era a formação aristocrática do homem individual como Kalos agathos ("Belo e Bom"), a partir do século V a.C., exige-se algo mais da educação. Para além de formar o homem, a educação deve ainda formar o cidadão. A antiga educação, baseada na ginástica, na música e na gramática deixa de ser suficiente.
É então que o ideal educativo grego aparece como paidéia, formação geral que tem por tarefa construir o homem como homem e como cidadão. Platão define paidéia da seguinte forma "(...) a essência de toda a verdadeira educação ou paidéia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento" (cit. in Jaeger, 1995: 147)
Do significado original da palavra paidéia como criação de meninos, o conceito alarga-se para, no século IV a.C., adquirir a forma cristalizada e definitiva com que foi consagrado como ideal educativo da Grécia clássica.
Como diz Jaeger (1995), os gregos deram o nome de paidéia a "todas as formas e criações espirituais e ao tesouro completo da sua tradição, tal como nós o designamos por Bildung ou pela palavra latina, cultura." Daí que, para traduzir o termo paidéia "não se possa evitar o emprego de expressões modernas como civilização, tradição, literatura, ou educação; nenhuma delas coincidindo, porém, com o que os gregos entendiam por paidéia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez." (Jaeger, 1995: 1).
Na sua abrangência, o conceito de paideia não designa unicamente a técnica própria para, desde cedo, preparar a criança para a vida adulta. A ampliação do conceito fez com que ele passasse também a designar o resultado do processo educativo que se prolonga por toda vida, muito para além dos anos escolares.
A paidéia, vem por isso a significar "cultura entendida no sentido perfectivo que a palavra tem hoje entre nós: o estado de um espírito plenamente desenvolvido, tendo desabrochado todas as suas virtualidades, o do homem tornado verdadeiramente homem" (Marrou, 1966: 158).
uma chave para entender o presente.”
Lorenzo Luzuriaga
RESUMO
O estudo da história da educação e da pedagogia é imprescindível
ao conhecimento da educação atual, pois, esta é um produto histórico.
A educação presente é ao mesmo tempo, fase do passado e
preparação do futuro. A história da educação estuda o passado como
explicação do estágio atual, ou seja, o conhecimento do passado é
apenas uma chave para entender o presente. Assim, o estudo da
história da educação, irá nos servir para encontrar o caminho de uma
educação realmente voltada para o desenvolvimento pleno do homem e
sua realização como cidadão. O presente trabalho, Revisitando a
Educação na Grécia Antiga: A Paidéia faz uma contextualização
histórica do mundo antigo, evidenciando as características do modo de
produção escravista e a organização social e política, preparando para
iniciar um estudo em que caracterizamos e refletimos sobre o ideal de
educação grega, ou seja, a Paidéia.
INTRODUÇÃO
Partimos do ponto de vista de que a História da Educação é parte
indissociável da História Geral, porém específica. É importante estudar a
educação no contexto histórico qual para observar a relação de influência, de
determinação, entre a educação e sistema social mais amplo.
A História da Educação, não estuda o passado pelo passado, como coisa
morta, mas utiliza esse conhecimento do passado como uma “chave” para
entender o presente.
O estudo da História da Educação e da pedagogia é importantíssimo para o
conhecimento da educação atual, pois, esta é um produto histórico e não uma
invenção exclusiva do nosso tempo. A educação presente é ao mesmo tempo,
fase do passado e preparação do futuro.
Por isso, o estudo da História da Educação, irá nos servir para encontrar o
caminho de uma educação realmente voltada para o desenvolvimento pleno do
homem e sua realização como cidadão, em verdade, as questões da educação
em cada momento histórico são engendradas nas relações de produção de cada
sociedade determinada.
O presente estudo tem como objetivo geral contribuir para a efetivação de
um estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega, com o objetivo de perceber
possíveis relações com a educação de hoje. Para tanto, pretende-se desenvolver
uma pesquisa bibliográfica, levantando dados históricos da evolução da educação
na Grécia e dessa forma contribuir para as pesquisas referentes à História da
Educação.
A partir do pressuposto acima, apresento: “Revisitando a Educação na Grécia
Antiga: A Paidéia”, que inicia o primeiro capítulo fazendo uma contextualização
histórica do mundo antigo, evidenciando as características do modo de produção
escravista e a organização social e política; no segundo capítulo observamos a
Educação na Grécia, neste capítulo caracterizamos e refletimos sobre o ideal de
educação grego, ou seja, a Paidéia. No terceiro capítulo, falamos sobre os
Períodos da Filosofia até chegarmos ao quarto capítulo, que trata sobre a filosofia
do aretê.
E, finalmente, concluímos buscando ter contribuído para a efetivação de um
estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega, sobretudo, ajudando a
estabelecer uma relação articulada com as práticas pedagógicas atuais.
1 – CONTEXTO HISTÓRICO DO MUNDO ANTIGO
Antes de adentrarmos pela história da educação na Grécia, convém fazer
uma breve contextualização histórica, sobretudo, localizando o objeto do presente
estudo, com o intuito de melhor compreendermos a evolução da educação e
cultura grega.
Geograficamente, a Grécia está localizada a leste do mar Mediterrâneo, na
Península Balcânica, apresentando relevo acidentado e um litoral recortado por
golfos, banhado pelo mar Egeu e pelo mar Jônio. Devido ao relevo montanhoso, a
prática da agricultura revela-se difícil na Grécia.
Como a superfície contínua da Grécia era bastante limitada, os gregos,
passaram a habitar também as ilhas próximas, bastantes numerosas. A ilha de
Eubéia ficava separada do continente pelo estreito de Euripes. Ítaca, Cefanônia,
Córcira e Zaquintos localizavam-se no mar Jônico. Ao sul do Peloponeso, ficava
Cítara, que representava uma etapa para a ilha de Creta, a mais extensa de todas.
As Cícladas (Andros, Delos, Paros, Nexos) localizavam-se no Egeu como as
Espóradas (Rodes, Samos, Quios, Lesbos). Essas ilhas constituíam a Grécia
colonial, constituída por terras mais distantes da Grécia:
- Ásia Menor (Eólica, Jônica, Dória);
- Sul da Itália (Magna Grécia);
- Costa Egípcia ( Náucratis);
Desde o período neolítico é que se tem notícia da presença do homem na
península Balcânica. Os pelasgos foram seus primeiros habitantes, possivelmente,
de origem mediterrânea. Os cretenses, porém, foram mais importantes como
civilização, predominando em toda a região do Egeu.
Tantos os pelasgos como os cretenses, geralmente são considerados povos
anteriores aos gregos (povos pré-helênicos).
A história egeana teve suas origens na ilha de Creta, irradiando-se daí para a
Grécia continental e também para a Ásia Menor. Cerca de 1.800 a.C., Cnossos e
Faístos, na ilha de Creta, atingiram o seu apogeu. O palácio de Cnossos foi
destruído entre cem e duzentos anos mais tarde. Formou-se uma nova dinastia, à
qual se devem diversas transformações, inclusive o tipo de escrita.
Os chamados "povos do mar" surgiram pelos fins do século XV a.C., e por
certo foram os predecessores dos povos gregos. Eram os aqueus, povos de
origem indo-européia. Da miscigenação de cretenses e aqueus originou-se a
civilização Miceniana.
Duzentos anos mais tarde, os dórios, os jônicos e os eólios, outros povos
helênicos, se transferiram para Grécia. Os invasores venceram os aqueus, e
substituíram as cidades pelas suas. Tais cidades viram transformar-se nas
grandes representantes da Grécia Antiga: Atenas, Tebas, Esparta e outras.
1.1 – CARACTERÍSTICAS DO MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA
A escravidão aparece na Grécia como instituição social. Segundo
Aristóteles, o fundamento da escravidão era a diferença das raças. O meio de
conseguir escravos era fazer prisioneiros de guerra: a pirataria, as corridas sobre
os mares do sul davam-lhes grande soma de cativos.
Desde então o tráfico era muito praticado. A população da Ática, pelo
cálculo de Letronne, era de 110.000 escravos e 130.000 livres. Como se vê havia
duas raças, uma exterminando a outra, como acontecia com as hilotas na Lacônia.
A escravidão na Grécia era, todavia, mais branda que a de Roma e era
muito espalhada nas cidades, onde cada um para se entregar aos negócios do
Estado utilizava o trabalho de um escravo.
Nessa civilização eminentemente artística, havia na escravidão certos
detalhes, que salvavam a dignidade do homem, assim, a avaliação dos seus
talentos, cuja manifestação era plenamente permitida. Na Grécia as faculdades
intelectuais atingiram grande destaque entre os gregos; Esopo e Phedro Epíteto
são nomes ilustres no seu país.
Havia os escravos domésticos que, dentre outras coisas, serviam para fazer
rir em festas; escravos que diziam ao senhor os nomes dos que este encontrava
na rua; outros que lhes abriam caminho entre o povo. Existiam senhores que
tinham sob o seu poder até 20.000 escravos.
Os escravos eram levados às vendas com letreiros na fonte. Uma lei antiga
mandava, que, quando um escravo assassinava o senhor, que fossem mortos
junto com o assassino todos aqueles que morassem com ele. Assim, no tempo de
Nero, um escravo tendo assassinado o prefeito de Roma, quatrocentos de seus
companheiros inocentes foram mortos com ele, no meio de um tumulto enorme do
povo, que se interessava por eles, porque havia entre eles inocentes pessoas de
todas as idades, e de um e do outro sexo, como o refere Tácito.
Tácito descreve a produção escravista da seguinte forma:
Os escravos não têm, como entre nós,
empregos distintos na casa. Cada um é senhor
de sua casa, de seus penates. O senhor impõe
ao escravo uma certa contribuição em trigo,
em gado, em vestes, como a um colono, e
somente até aí o escravo obedece. As outras
ocupações domésticas incumbem à mulher e
aos filhos, É muito raro açoitarem um escravo,
prendê-lo, ou coagi-lo ao trabalho. Costumam
matá-los, não por disciplina nem severidade,
mas pelo ímpeto e pela cólera, como a um
inimigo, somente neste caso fazem-no
impunemente. ( apud: Pereira, 1971, p. 84).
1.2 – ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
As cidades gregas são encontradas nos tempos históricos mais remotos,
muitas dessas cidades apresentavam uma organização perfeita. Tomamos
conhecimento do “genos” minúsculas comunidades naturais em que os gregos
anteriormente viviam, apenas através das lendas e dos poemas homéricos. O
genos era constituído por todos os que prestavam culto a antepassados comuns
que tinham o mesmo sangue e, com o tempo, esses genos foram se agrupando, a
fim de obterem melhores condições de vida, e deram origem a cidades.
Os gregos, porém, fundaram muitas cidades, cada qual mantendo sua
independência. Possuíam também seus próprios reis, hábitos e regulamentos.
Apesar disso, os gregos sentiam que formavam um só povo, o que desenvolveu
na Grécia o sentimento pátrio.
As colônias foram o meio utilizado pelos gregos para disseminarem a sua
religião e seus hábitos por toda a extensão do Mediterrâneo. A fundação de
colônias gregas não era de iniciativa do Estado. Um grupo de elementos,
obedecendo à chefia de um, encarregado de levar o fogo sagrado, saía da mesma
cidade à procura de um local onde pudesse se estabelecer e construir cidades
independentes, ligadas apenas pela religião à cidade de origem. Essa modalidade
de colônia é denominada apoequia.
No século X a.C., os atenienses criaram um novo tipo de colônia, a olerúquia.
Era obra do Estado, e os emigrantes conservavam os seus direitos de cidadania.
Algumas colônias gregas: vilas na Sicília, sul da Itália, Turquia, terras no mar
Negro, Índia, Portugal e Sudão.
Em algumas cidades, a agricultura foi substituída por outras atividades
econômicas, por exemplo, o comércio, que atraíram elementos estrangeiros e
provocaram o aumento do número de escravos. As classes que não participavam
da política aumentaram, numericamente, enquanto se agrupavam na cidade
propriamente dita. Com isso, tomaram consciência da força que possuíam que até
então haviam ignorado por causa de sua vida dispersa na lavoura.
O aparecimento da moeda foi outro fator da revolução da econômica.
Riquezas móveis se constituíram e, houve descontentamento entre as classes
sociais inferiores. As lutas políticas sucediam-se. Como solução, foram
promulgadas leis para regulamentar as relações de classes.
Tanto Esparta como Atenas mantiveram constantes lutas pela hegemonia
grega. Atenas teve o seu apogeu no transcorre da época de Péricles (463-529
a.C.). Péricles foi o principal representante do partido democrático, que subiu ao
poder em 463 a.C. Teve como principal objetivo de sua política a melhoria das
condições de vida da população, transformando e melhorando também as
características da política externa.
Quanto à cultura, Péricles procurou atrair os intelectuais de todas as
localidades da Grécia, favorecendo-os e instalando-os em Atenas. Sua época foi
marcada por nomes de grandes personalidades: Fídias, arquiteto e escultor;
Sófocles, autor de tragédias; Heródoto, o grande historiador; Ésquilo, autor de
tragédias; Sócrates, o pai da filosofia; Eurípedes, autor de tragédias; Aristófanes,
comediógrafo.
No fim do governo de Péricles, eclodiu a luta entre Esparta e Atenas, que
seria uma das mais longas e violentas guerras do mundo antigo, e que passou
para a História como a guerra do Peloponeso. Os constantes desentendimentos
bélicos entre as cidades gregas somente conseguiram abalar a unidade do país,
propiciando a Filipe I que concretizasse a sua conquista.
Após haver conseguido impor-se aos gregos, muitos acreditam que o rei
macedônio estivesse cuidando dos preparativos para submeter os persas, o que
não conseguiu levar a contento, pois foi assassinado por Pausânias, em 336 a.C.,
deixando seu trono para seu filho, Alexandre. Ele estava, nessa época com 20
anos e era considerado um homem culto e admirador do helenismo, acreditandose
que tenha sido discípulo de Aristóteles.
Alexandre tratou de consolidar na Grécia a obra de Felipe. Invadiu Tebas e a
destruiu. Venceu Atenas. Depois da vitória de Granico, submeteu a Ásia Menor,
além de outras vitórias. Morreu em 323 a.C. Depois de sua morte,
desentendimentos e lutas entre os generais provocaram a divisão do Império em
três grandes reinos: o do Egito, o da Síria, o da Macedônia. Tempos depois, reinos
menores originaram-se desses três grandes reinos: Epiro, Ponto, Bitínia, Galátia,
Pérgamo, Capadócia, Partia, Bactriana. Esses pequenos reinos constituíam os
estados helenísticos.
. Também na religião, o regime se impôs. Foi estabelecido o culto dos reis,
transformando o rei quase em um deus. A escultura helenística orientava-se no
sentido de causar efeito e se caracterizava pelas grandes proporções. Os
principais centros esculturais foram Pérgamo e Rodes. O Colosso de Rodes era
uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Os gregos sempre foram um povo que gostava de animação, alegria, lazer
e, que se divertia com as conversas e a companhia dos outros. As classes da
sociedade grega variavam de uma Cidade-Estado para outra. Atenas contava com
três classes:
• Cidadãos, os eupátridas: Somente eles possuíam direitos políticos para
participar da democracia. As mulheres e as crianças não faziam parte do
grupo dos cidadãos;
• Metecos: Eram os estrangeiros que habitavam Atenas. Não tinham direitos
políticos e estavam proibidos de adquirir terras, mas podiam dedicar-se ao
comércio e ao artesanato. Em geral, pagavam impostos para viver em
Atenas e estavam obrigados à prestação do serviço militar;
• Escravos: Formavam a grande maioria da população ateniense, pois para
cada cidadão adulto chegou a existir cerca de 18 (dezoito) escravos. Os
escravos eram considerados propriedades do seu senhor, embora
houvesse leis que os protegiam contra excessos de maus tratos. Atenas
era um Estado que garantia a democracia da minoria às custas da
escravidão da maioria.
Os antigos gregos falaram vários dialetos diferentes durante centenas de
anos. Depois de 330 anos a.C., um dialeto comum chamado coiné desenvolveu-se
a partir do primitivo dialeto falado em Atenas. Mais tarde, vários invasores
penetraram na Grécia Antiga, mudando a língua e os costumes gregos.
O povo levava uma vida simples, começando pelas moradias, que eram de
pedra ou de tijolos secos ao sol e cobertos com estuque.
A maioria dos gregos fazia apenas duas refeições por dia. O almoço (ariston),
muitas vezes consistia somente de um prato de feijão ou de ervilhas e de uma
cebola crua ou um nabo cozido. O jantar deipnon, era a refeição principal que
incluía pão, queijo, figos, azeitonas e por vezes um pedaço de carne ou queijo. Os
gregos não conheciam o açúcar, usavam mel para adoçar seus alimentos.
Usavam o azeite para passar no pão, como óleo de cozinha e como sabão. A
maioria dos gregos bebia uma mistura de vinho e água; consideravam o leite
próprio apenas para os animais e os bárbaros.
Os gregos desenvolveram um belo e gracioso traje. Homens e mulheres
usavam um quitao, túnica que descia até os joelhos ou tornozelos; um cinto
estreito prendia na cintura o quităo feminino. Grande parte dessas túnicas eram
feitas de lă; apenas os mais ricos podiam tê-la de algodão ou linho. O povo usava
quitões de cor marrom para o trabalho e de cor branca nas ocasiões formais.
Tanto os homens como as mulheres trajavam também himátions, ou seja,
mantos que eles arranjavam com pregas sobre os ombros e os braços. Os moços
por vezes usavam uma clâmide, pequeno manto preso no ombro. As mulheres
podiam vestir também um péblos, que era uma variação do quităo. Dentro de casa
os gregos habitualmente andavam descalços; na rua muitos usavam sandálias. A
maioria dos gregos andava com as cabeças descobertas.
Cada vila ou cidade contava com ginásio ao ar livre onde os homens podiam
praticar exercícios ou vários tipos de jogos. As crianças geralmente rolavam aros
ou brincavam com bonecas. Os homens mais velhos sentavam-se na ágora
(mercado), onde ficavam jogando ou conversando. A mulher grega trabalhava
quase que todo o tempo e tinha poucos divertimentos. As caçadas eram
passatempos prediletos nas propriedades rurais.
Os gregos adoravam vários deuses, e os representavam sob a forma
humana. Portanto, sua religião era politeísta e antropomórfica. Para eles os
deuses habitavam o monte Olimpo. Praticavam ainda, o culto dos heróis, era um
conjunto de seres mitológicos considerados pelos gregos como seus
antecessores, fundadores de suas cidades, às quais davam proteção: Teseu,
Épido, Perseu, Belerofonte e Hércules. O culto aos deuses era tão desenvolvido
entre os gregos, que chegaram a erigir soberbos templos as suas divindades, nos
quais realizavam suas orações. Consideravam que os oráculos eram meios
utilizados pelos deuses para se comunicarem com eles.
Diversos jogos periódicos eram promovidos pelos gregos em homenagem
aos deuses, como os Jogos Olímpicos, dedicados a Zeus, na cidade Olímpia. Os
Jogos Olímpicos eram praticados de quatro em quatro anos. Durante sua
realização, suspendiam as guerras e tratavam os participantes como pessoas
sagradas.
2 – EDUCAÇÃO NA GRÉCIA
A visão que os gregos tinham do mundo os distinguia de todos os demais
povos do mundo antigo. Os gregos colocaram a razão acima dos seus mitos e a
utilizaram como instrumento a serviço do próprio homem. Os gregos glorificavam o
homem como o ser mais importante do universo.
Podemos dizer que a origem dessa atitude se encontra na realidade sóciopoética
da Grécia, processo que se realiza entre 1200 e 800 a.C. Trata-se do
período pré-Homérico que recebeu esse nome, devido ao que se conhece da
interpretação das lendas contidas nos poemas; “Ilíada” e “Odisséia”, que a
tradição atribui a Homero.
2.1 – CARACTERÍSTICAS
Os atenienses acreditavam que sua cidade-estado iria tornar-se a mais forte
se cada menino desenvolvesse integralmente as suas aptidões. O governo não
controlava os alunos e as escolas. Um garoto ateniense entrava na escola aos
seis anos e ficava sob os cuidados de um pedagogo que ensinava aritmética,
literatura, música escrita e educação física; o aluno decorava muitos poemas e
aprendia a fazer parte dos cortejos públicos e religiosos.
As meninas não recebiam qualquer educação formal, mas aprendiam os
ofícios domésticos e os trabalhos manuais com as mães. O principal objetivo da
educação grega era preparar o menino para ser um bom cidadão. Os gregos
antigos não contavam com uma educação técnica para preparar os estudantes
para uma profissão ou negócio.
2.2 - A ARETÊ
Sócrates fala sobre este o assunto nesta passagem do texto platônico:
Nas minhas idas e vindas pela cidade, não
faço outra coisa senão persuadir-vos, novos
e velhos, a que vos preocupeis mais, nem
tanto, com o vosso corpo e as vossas
riquezas do que com a vossa alma, para a
tornardes o melhor possível, dizendo-vos 'A
virtude (aretê) não vem da riqueza, mas sim a
riqueza da virtude, bem como tudo o que é
bom para o homem, na vida particular ou
pública’. (PLATÃO, 1972, apud Jaeger)
Igualmente, para Platão, a questão central é saber o que é a virtude (aretê).
Muito dos diálogos platônicos é bem a prova disso; é verdade que se questiona e
se procura saber o que é a coragem, a sabedoria, o amor, o belo, a justiça e
tantas outras virtudes.
Sigamos, então, a evolução do conceito de aretê (traduzido, vulgarmente, por
virtude) desde que, esse conceito parece como primeiro ideal educativo formulado
pelos gregos. É em Homero e nos chamados poemas homéricos, a Ilíada e a
Odisséia, que tal ideal educativo aparece originalmente formulado.
Na Ilíada destaca-se a figura de Aquiles, o herói modelo, nobre, valente e
corajoso, o melhor, entre todos. Aquiles encarna a aretê e, é na sua figura que se
caracteriza esse ideal. Além de guerreiro valoroso, valente, corajoso e honrado,
Aquiles é o protótipo do perfeito cavalheiro da época homérica ( cortês, cavalheiro
e de boas maneiras ).
Nessa época a aretê era entendida como superioridade, nobreza e um
conjunto de qualidades físicas, espirituais e morais tais como: a bravura, a
coragem, a força e a destreza do guerreiro, a eloqüência e a persuasão, e, acima
de tudo, a heroicidade.
Se esta é a aretê da Ilíada, a da Odisséia é um pouco diferente. A Odisséia
relata o regresso do herói, Ulisses, à casa, vindo da guerra de Tróia. Ulisses além
da força, coragem, bravura e eloqüência, a astúcia, a manha, o engenho e a
inteligência, que o levam a desvencilhar-se das situações mais complicadas.
Assim, na Odisséia, Telêmaco, filho de Ulisses, é o único jovem em
formação e é a sua educação, que lhe é ministrada pela deusa Atena, disfarçada
de Mentes amigo e hóspede de seu pai. E graças a essa educação, Telêmaco
passou do jovem dócil e passivo do começo do poema, a príncipe consciente dos
seus deveres, o companheiro de luta, valente e ousado que ajudará o pai, na sua
vingança, a enfrentar os pretendentes de Penélope, sua mãe e esposa de Ulisses.
Mas, quer na Ilíada quer na Odisséia, a educação que se propõe traz, uma
pedagogia fundada no exemplo vivo ou no exemplo mítico, a pedagogia do
paradigma. O herói prototípico institui-se como modelo exemplar a seguir.
Imitar os heróis, o que desperta a emulação, para eles, ser herói é ser
possuidor da aretê heróica.
Homero é, entre todos os poetas gregos,
considerado o maior e, a crer nos
testemunhos, a opinião corrente ao tempo
indica-o também como o educador de toda a
Grécia. De fato, a tradição homérica e o ideal
educativo que nela se propõe são transmitidos
oralmente, de geração em geração, pelos
aedos e rapsodos. Também só assim se pode
compreender a afirmação. Nele, pela primeira
vez, o espírito pan-helênico atingiu a unidade
da consciência nacional e imprimiu o seu selo
sobre toda a cultura grega posterior. (JAEGER,
s.d. 77).
Como já foi falado, os primeiros educadores do mundo grego são os poetas,
que surgem não apenas como educadores da sua época, mas, porque a sua
influência durou para além do seu tempo, como educadores de toda a Grécia.
Homero é o mais influente de todo o mundo antigo. Ser culto na Antiguidade era
saber Homero de cor e ser capaz de o citar em qualquer ocasião.
Já no final da época arcaica, não bastava cobrir-se de honra e glória, como
nos tempos homéricos, mas pretendia-se alcançar a excelência tanto no plano
físico como no plano moral. Tal ideal exprime-se pela palavra Kalokagathia: beleza
e bondade são os atributos que o homem deve procurar realizar.
Assim, o homem forma-se segundo um crescente domínio de si, pela
libertação de seus instintos, desejos e paixões, que devem ficar submetidos à
razão. Para alcançar tal ideal propõe a ginástica, para desenvolver o corpo, e a
música, com a leitura e o canto das obras dos grandes poetas, para o espírito.
Esse programa educativo tratava de desenvolver no homem a qualidade da
temperança e que implicava um perfeito domínio de si, aliado a sabedoria.
Portanto, esse era um ideal de sabedoria, pelo domínio dos instintos,
desejos e apetites pela razão, um ideal de equilíbrio e harmonia.O programa de
estudos era constituído pela ginástica, ensinado nos ginásios, sendo o “pedotriba”
ou “paidotriba” o mestre de educação física, e pela música que ensina as crianças
a tocar cítara, para se acompanharem enquanto cantam as obras dos grandes
poetas, sendo o mestre o citarista. Nesta altura, o citarista ensina ainda a ler e
escrever, porque para cantar os poetas é preciso saber ler as suas obras. Já no
fim da época arcaica, surgiu a figura do didáscalo (gramático) o mestre que
ensinava a ler, escrever e alguns rudimentos de cálculo.
Neste tempo aparece a figura do pedagogo, ou seja, do escravo que
acompanhava o menino à escola e que vigiava o seu comportamento moral.
Platão dá-nos um retrato fiel desta educação tradicional e, apesar de longo,
cremos que vale a pena transcrevê-lo:
Logo que a criança começa a compreender o que
lhe dizem, a ama, a mãe, o pedagogo e até o próprio
pai se esforçam por que ela se torne a mais perfeita
possível. A cada ação ou palavra lhe ensinam ou
apontam o que é justo e o que não é, que isto é
belo e aquilo vergonhoso, que uma coisa é piedosa,
e outra ímpia, e 'faz isto', 'não faças aquilo'. E, ou
ela obedece de boa mente, ou então, corrigem-na
com ameaças, como se fosse um pau torto e
recurvo. Depois, mandam-na à escola, com a
recomendação de se cuidar mais da educação das
crianças que do aprendizado das letras e da cítara.
Os mestres empenham-se nisso, e, depois de elas
aprenderem as letras e serem capazes de
compreender o que se escreve, (...) põem-nas a ler
nas bancadas as obras dos grandes poetas, e
obrigam-nas a decorar esses poemas, nos quais se
encontram muitas exortações e também muitos (...)
elogios e encômios da valentia dos antigos, a fim
de que a criança se encha de emulação, os imite e
se esforce por ser igual a eles. (...) Depois de
saberem tocar, aprendem as obras dos grandes
poetas líricos. Assim, obrigam os ritmos e
harmonias a penetrar na alma das crianças, de
molde a civilizá-las, e, tornando-as mais sensíveis
ao ritmo e à harmonia, adestram-nas na palavra e
na ação. Toda a vida humana carece de ritmo e de
harmonia, ainda se mandam as crianças ao
pedotriba, a fim de possuírem melhores condições
físicas, para poderem servir a um espírito são, e
não serem forçadas à cobardia, por fraqueza
corpórea, quer na guerra, quer noutras atividades.
Assim fazem os que têm mais posses. Os filhos
desses começam a ir a escola de mais tenra idade,
e saem de lá mais tarde. Depois de estarem livres
da escola, o Estado, por sua vez, obriga-os a
aprender as leis e a viver de acordo com elas. Tal
como o mestre-escola que, para os que não sabem
escrever, traça as letras com o estilete e lhes
entrega a tabuinha e os força a desenhar o traçado
dos caracteres, assim também a cidade, depois de
ter delineado as leis, criadas pelos bons e antigos
legisladores, os força a mandar e a serem
mandados de acordo com elas. (...) Perante tais
cuidados com a virtude (aretê) particular e pública,
ainda te admiras, ó Sócrates, e põe objeções à
possibilidade de a virtude se ensinar? (PLATÃO,
325 - 326 apud: PEREIRA, 1971, 397).
Porém, este ideal educativo não ficava restrito à escola; a cidade continuava
educando nas reuniões políticas, administrativas e jurídicas, nos jogos, nas artes,
na arquitetura e nas representações dramáticas. Em nenhum lugar da Grécia o
teatro era só para privilegiados, era a escola de todos os cidadãos.
A educação grega tinha duas finalidades: o desenvolvimento do cidadão fiel
ao Estado e a formação do homem que adquiriu plena harmonia e domínio de si.
Porém a educação grega também tinha uma finalidade cívica, ou seja, a educação
é uma preparação para a cidadania. Para eles, o habitante da polis só é o que é
porque vive na cidade e sem ela não é nada.
Nesse sentido, é evidente que o homem é um animal político e como falou
Aristóteles, o que difere o homem dos outros animais é sua qualidade de cidadão
e habitante da polis. Essa consciência da cidadania faz sentir a necessidade de
uma nova educação, pois a antiga, composta somente por ginástica e música, já
não servia para a formação do cidadão e nem correspondia às novas exigências
sociais e políticas.
Por exemplo, a forma democrática de organização do Estado Ateniense,
exigia a participação de todos os cidadãos, ou seja, homens livres e para que
esses cidadãos participassem, era necessário ter eloqüência e uma boa formação
oratória.
Neste contexto surgem os sofistas, uma nova estirpe de educadores que se
apresentam como professores e que oferecem, a troco de dinheiro, o ensino da
virtude e da aretê política. Os sofistas transformaram a educação em uma arte ou
técnica, na qual eles são mestres e capazes de ensinarem aos seus alunos.
Estava incluído neste tipo de educação a formação de homens de Estado e
de dirigentes da vida pública. E para que esses homens atingissem êxito político,
eles precisavam falar bem, construir discursos persuasivos e ter bons argumentos
que justificassem suas posições. Era preciso dominar a arte sofística da oratória,
da retórica e da dialética.
Seja qual for o profissional com quem entre
em competição, o orador conseguirá que o
prefiram a qualquer outro, porque não há
matéria sobre a qual um orador não fale,
diante da multidão, de maneira mais
persuasiva do que qualquer outro
profissional. Tal é a qualidade e a força desta
arte que é a retórica. ( PLATÃO in:
www.ahistoria.com.br )
Por isso os sofistas foram acusados de ensinar uma educação imoral e que
corrompia a juventude, posto que, esta educação desconsiderava os valores
tradicionais: verdade, justiça, virtude, retidão, etc. Pois para os sofistas não
importava que a idéia que eles estivessem defendendo estivesse errada, o que
importava era convencer pela oratória.
2.3 – A PAIDÉIA - O IDEAL DE EDUCAÇÃO GREGO
Durante os séculos V e VI a. C a cultura grega, impulsionada pelas
transformações sociais e econômicas, sofre mudanças. Surgem novos grupos
sociais ligados ao comércio, estes reclamam uma maior participação na vida
política da Grécia. Ao lado disso, surge uma cultura mais crítica em relação ao
saber religioso e mítico, que exalta a razão pessoal de cada indivíduo e é capaz
de submeter à análise qualquer crença ou tradição.
Para transmitir essa nova cultura, nasce um novo ideal de educação na
Grécia, conhecido como Paidéia, que busca a formação do homem em suas
várias esferas (social, política, cultural e educativa), ou seja, é uma educação mais
antropológica e que considera o homem como um ser racional. Essa educação
atribui ao homem, sobretudo, uma identidade cultural e histórica.
Nasce a pedagogia como saber autônomo, sistemático e rigoroso; nasce o
pensamento da educação como episteme; e não mais como ethos e como práxis
apenas.
Uma educação pública, retirada da família e do
santuário, que visa à formação do cidadão e
das suas virtudes (persuasão e capacidade de
liderança, sobretudo). É uma educação que se
liga à palavra e À escrita e tende à formação do
homem como orador, marcado pelo princípio
do Kalogathos (do belo e do bom) e que visa
cultivar os aspectos mais próprios do humano
em cada indivíduo, elevando-o a uma condição
de excelência, que todavia não se possui por
natureza, mas se adquire pelo estudo e pelo
empenho. (CAMBI, 1999, p.86).
A Paidéia é entendida como uma formação geral que dará ao homem a
forma humana, ou seja, que o construirá como homem e como cidadão. Assim, ela
significou a educação do homem de acordo com a verdadeira forma humana e
que brota da idéia.
O termo Paidéia não pode ser traduzido simplesmente como educação,
significa muito mais que isso, significa também cultura, instrução e formação do
homem grego. Este termo começou a ser utilizado no séc. IV a.c. e nesta época
significava apenas a criação dos meninos. Mas o seu significado se alargou e
passou a designar também o conteúdo e o produto dessa educação.
Torna-se claro, porque, a partir do séc. IV os gregos deram o nome de
Paidéia a toda a sua tradição.
Enfim, a Paidéia, é a busca do conhecimento do homem, de forma
individual, para que este possa interferir na organização política e social da pólis, a
idéia principal é colocar o homem a par de todo o conhecimento necessário para a
harmonia consigo próprio e com a comunidade ao seu redor.
2.4 - A EDUCAÇÃO NO PERÍODO HELENÍSTICO
No final do século IV a.C., se inicia a decadência das Cidades-Estados
gregas e a cultura helênica se mistura com as das civilizações que dominam a
Grécia. Desta forma a antiga Paidéia torna-se enciclopédia, ou seja, “educação
geral" que consistia na formação do homem culto diminuindo ainda mais o aspecto
físico e estético. Neste período cresce o papel do pedagogo com a criação do
ensino privado e o desenvolvimento da escrita, leitura e o cálculo.
Inúmeras escolas se espalham e da união de algumas delas (Academia e
Liceu) é formada a Universidade de Atenas, lugar de importante desenvolvimento
intelectual que dura inclusive até o período de dominação romana.
2.5 - PERÍODO CLÁSSICO (SÉCULO V a.c.)
Atenas havia se tornado o centro da vida social, política e cultural da Grécia,
em virtude do crescimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes
militares. Atenas vivia seu momento de maior florescimento da democracia. A
democracia grega possuía duas características de grande importância para o
futuro da filosofia.
Em primeiro lugar, a democracia afirmava a
igualdade de todos os homens adultos perante as
leis e o direito de todos de participar diretamente do
governo da cidade, da polis. Em segundo lugar, e
como conseqüência, a democracia, sendo direta e
não por eleição de representantes no governo,
garantia a todos a participação no governo e os que
dele participavam tinham direito de exprimir, discutir
e defender em público suas opiniões sobre as
decisões que a cidade deveria tomar. Surgia assim, a
figura do cidadão. (CHAUÍ, 1995, p. 36).
O indivíduo somente se torna cidadão quando exerce seus direitos de
opinar, discutir, deliberar e votar nas assembléias. Dessa forma, o novo ideal de
educação é a formação do bom orador, ou seja, aquele que saiba falar em público
e persuadir os outros na política.
Para dar esse tipo de educação aos jovens, surgem os sofistas que foram
os primeiros filósofos do Período. Os sofistas não tinham uma origem bem
definida, eles surgiram de várias partes do mundo. Sofista significa "sábio",
"professor de sabedoria", no sentido pejorativo passa a significar "homem que
emprega sofismas", ou seja, homem que usa de raciocínio capcioso, de má-fé
com intenção de enganar.
Os sofistas contribuíram muito para a sistematização da educação. Eles se
julgavam sábios e possuidores da sabedoria. Eles ensinavam a retórica, que é a
arte da persuasão, mas, vale ressaltar que não ensinavam de graça, os sofistas
cobravam por seus ensinamentos. E por cobrarem e se julgarem possuidores da
sabedoria, foram bastante criticados por Sócrates e seus seguidores, pois, para
Sócrates o verdadeiro sábio é aquele que reconhece sua própria ignorância. Para
combater os sofistas, Sócrates desenvolve dois métodos que são bastante
conhecidos até os dias de hoje: a ironia e a maiêutica.
O primeiro consiste em questionar o ouvinte à respeito do que ele considera
como verdade e tentar fazer o ouvinte entender que ele realmente não sabe tudo.
Depois que o ouvinte se convencia disto, Sócrates passava a utilizar o segundo
método que é a maiêutica, que significa dar luz às idéias. Nesse momento o
ouvinte consciente de que não sabe tudo busca saber mais, buscando respostas
por si próprio.
3 - A PEDAGOGIA GREGA – OS PERÍODOS DA FILOSOFIA
O termo pedagogia é de origem grega e deriva da palavra “paidagogos”,
nome que era dado aos escravos que conduziam as crianças à escola. Somente
com o tempo, esse termo passou a ser utilizado para designar as reflexões que
estivesses relacionadas à educação.
A Grécia clássica pode ser considerada o berço da pedagogia, até porque é
justamente na Grécia que tem início a primeira reflexão acerca da ação
pedagógica. Essas reflexões vão influenciar por séculos a educação e a cultura
do ocidente.
Os povos orientais acreditavam que a origem da educação era divina, o
conhecimento deles se resumia aos seus próprios costumes e crenças. Tudo isso
impedia uma reflexão mais profunda sobre a educação, pois, esta era fruto de
uma organização social teocrática.
Contudo, na Grécia Clássica, a razão se sobrepõe ao conhecimento
puramente religioso e místico. Nesta época a concepção dos gregos de educação
se resume à inteligência crítica e à liberdade de pensamento do homem.
O nascimento da filosofia grega foi um fator de grande importância para o
desenvolvimento de uma nova concepção de educação da Grécia.
Os períodos em que a filosofia grega se divide são:
- Período pré-socrático (Século VII e VII a.C.); os filósofos das colônias
gregas iniciam o processo de separação entre a filosofia e o pensamento
mítico.
- Período socrático (Séculos V e IV a.C.) Sócrates, Platão e Aristóteles. Os
sofistas são contemporâneos de Sócrates e alvos de suas críticas. Isócrates
também é desse período.
- Período pós-socrático (Séculos III e II a.C.) época helenística, após a
morte de Alexandre. Fazem parte desse período as correntes filosóficas: o
estoicismo e o epicurismo.
O Período pré-socrático se inicia no final do século VI a.C., quando
aparecem os primeiros filósofos nas colônias gregas da Jônia e na Magna Grécia.
Esse período caracteriza-se como uma nova forma de analisar e ver a realidade.
Antes esta era analisada e entendida, que anteriormente era analisada e
entendida apenas do ponto de vista mítico. Vale ressaltar que a filosofia não vem
para romper radicalmente com o mito, mas sim utilizar o uso da razão no
esclarecimento da origem do mundo. Os antigos mitos sobre a origem do mundo
que foram transmitidos oralmente e depois transformados em poemas por Homero
e Hesíodo são questionados pelos pré-socráticos com o objetivo de explicar a
origem do mundo.
Outra diferença que podemos notar entre a filosofia nascente e as
concepções míticas é que esta não admitia reflexões ou discordância. A filosofia
nascente por sua vez deixa o espaço livre para reflexão, daí cada filósofo surgir
com uma explicação diferente para a origem do mundo.
Assim, todas as antigas afirmações à respeito da natureza (phisys) são
questionadas, ou seja, os filósofos passam a exigir fatos que justifiquem as idéias
expostas. Toda essa mudança de pensamento é de fundamental importância para
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o enriquecimento das reflexões pedagógicas em busca de um novo ideal de
educação.
O Período Socrático (séculos V a IV a . C.) é marcado pela influência de
três grandes filósofos, Sócrates, Platão e Aristóteles.
Sócrates (470 – 399 a . C) tomou como ponto de partida o princípio básico
da doutrina sofista. “ O homem é a medida de todas as coisas” ( CHAUÍ, p. 37 ).
Se o homem é a medida de todas as coisas, é obrigação de todo homem procurar
conhecer a si mesmo. Para ele, o homem deveria procurar conhecer a si mesmo.
Para ele, o homem deveria procurar os elementos determinantes da finalidade da
vida e da educação. Porém, a consciência individual deveria deixar de se
fundamentar por simples opiniões, para poder guiar-se por idéias de valor
universal.
O fim da educação, então, não era dar a
informação sem base que, aliada a um
verbalismo superficial e brilhante, constituía o
ideal dos sofistas. Era ministrar saber ao
indivíduo, pelo desenvolvimento do seu poder
de pensamento. Todo indivíduo tem em si a
capacidade de conhecer e apreciar tais
verdades como as de fidelidade, honestidade,
verdade, honra, amizade, sabedoria, virtude,
ou pode adquirir essa capacidade.
Platão nasceu em Atenas (428 -347 a.C.) de família nobre. Foi discípulo de
Sócrates. A obra de Platão apresenta uma grande preocupação política com o seu
país (que havia saído de uma tirania. Suas principais obras são: A República e As
Leis. Para Platão até os 20 anos, todos merecem a mesma educação, nesta,
ocorre o primeiro corte e se define que são os grosseiros que devem se dedicar a
agricultura, comércio e ao artesanato. Depois devem estudar mais 10 anos e se
dar o segundo corte,e se define daqueles que têm a virtude da coragem, esses
serão os guerreiros que cuidarão da defesa da cidade. Os que sobrarem desses
cortes serão incluídos na arte de dialogar e preparados para governar.
Na Grécia Antiga, o cuidado com o aspecto físico do corpo era muito
importante. No entanto, Platão apesar de reconhecer a importância dos exercícios
físicos, acreditava que a educação espiritual era superior a educação física. Tratase
da superioridade da alma sobre o corpo, ele explica que a alma ao ter que
possuir um corpo torna-se degradante.
O conhecimento, para Platão, é resultado do lembrar daquilo que a alma já
contemplou no mundo das idéias, sendo assim, ela consiste em despertar no
indivíduo o que ele já sabe e, não se apropriar de um conhecimento que está fora.
Outro aspecto da pedagogia platônica é a crítica que ele faz aos poetas. Na sua
época a educação das crianças era baseada em palmas heróicas da época, mas
ele diz que a poesia deveria ficar limitada ao mundo artístico e não ser usada na
educação.
Em Aristóteles (384-332 a.C.) podemos perceber um outro importante
aspecto da pedagogia grega. Apesar de ser discípulo de Platão, ele desenvolveu
uma teoria voltada para o real, onde procurava explicar o movimento das coisas e
a imutabilidade dos conceitos, ou seja, para Aristóteles tudo tem um devir, um
movimento, uma passagem. Ele também desenvolveu um conceito de educação
partindo da idéia de imitação:
O que nos animais é apenas capacidade
imitativa, no homem se converte numa arte.
O homem se educa na medida em que copia
a forma de vida das adultos. Ele se educa
porque atualiza as suas energias. Segundo a
doutrina de Aristóteles, o educando é
potencialmente um sábio e, com a educação
ele converte em ato o que é suscetível de
desenvolver. (PILLETI, 1990, p. 35)
4 – CONCLUSÃO
A educação formal, propriamente dita, teve início na Grécia antiga. Com
intuito de atingir o objetivo deste trabalho e desenvolver uma pesquisa levantando
dados históricos da evolução da educação na Grécia, é possível indicar alguns
traços característicos da cultura grega que proporcionaram o desenvolvimento do
ensino, tipo: o descobrimento do valor humano, do homem em si, da
personalidade, independentemente de toda autoridade religiosa ; o
reconhecimento da razão, da inteligência crítica, libertada de dogmas; a criação da
vida cidadã, do Estado, da organização política. A criação da liberdade individual e
política dentro da lei e do Estado; a invenção da poesia épica, da história, da
literatura dramática, da filosofia e das ciências físicas; o reconhecimento do valor
decisivo da educação na vida social e individual; da educação pública a
consideração da educação humana em sua integridade física, intelectual, ética e
estética.
Todas as características anteriormente citadas continuam sendo metas a
serem atingidas pela educação atual. Assim, esperamos ter colaborado para a
efetivação de um estudo crítico e reflexivo sobre a educação grega a partir do
contexto histórico-social que a influenciou e determinou sob a perspectiva de que,
sendo a educação um produto humano e histórico, pudéssemos perceber a
educação atual como parte do desenvolvimento histórico. Paidéia é , talvez, entre
todas, a maior e mais original criação cultural do gênio e do espírito gregos e que
ainda hoje é pertinente à educação do homem atual, é modelo a ser seguido por
todos aqueles que entenderem a educação como prática da liberdade.
Enfim, em matéria de educação, os gregos não só definem o modelo, como,
indicam a pedagogia a seguir. Por tudo isso, somos levados a concluir que uma
história da educação, com sentido e significado para nós, para a nossa realidade
educativa atual começa na Grécia Antiga.
Paideia
Paideia (português europeu) ou Paidéia (português brasileiro) (AO 1990: Paideia), segundo Werner Jaeger, era o "processo de educação em sua forma verdadeira, a forma natural e genuinamente humana" na Grécia antiga.
Histórico
Inicialmente, a palavra paidéia (de paidos - criança) significava simplesmente "criação de meninos". Mas, como veremos, este significado inicial da palavra está muito longe do elevado sentido que mais tarde adquiriu.
O termo também significa a própria cultura construída a partir da educação. Era o ideal que os gregos cultivavam do mundo, para si e para sua juventude. Uma vez que o governo próprio era muito valorizado pelos gregos, a Paidéia combinava ethos (hábitos) que o fizessem ser digno e bom tanto como governado quanto como governante. O objetivo não era ensinar ofícios, mas sim treinar a liberdade e nobreza. Paidéia também pode ser encarada como o legado deixado de uma geração para outra na sociedade.
Um pedagogo - um escravo, na época - conduzia o jovem, com sua lanterna ilumina(dor)a, até aos centros ou assembléias, onde ocorriam as discussões que envolviam pensamentos críticos, criativos, resgates de cultura, valorização da experiência dos anciãos etc.
Supõe-se que, no processo sócio-histórico, esse mesmo pedagogo libertou-se, talvez de tanto dialogar nos acompanhamentos do jovem até as assembléias, tornando-se um personagem da paidéia, e seu consuma(dor).
Mas, se até então o objectivo fundamental da educação era a formação aristocrática do homem individual como Kalos agathos ("Belo e Bom"), a partir do século V a.C., exige-se algo mais da educação. Para além de formar o homem, a educação deve ainda formar o cidadão. A antiga educação, baseada na ginástica, na música e na gramática deixa de ser suficiente.
É então que o ideal educativo grego aparece como paidéia, formação geral que tem por tarefa construir o homem como homem e como cidadão. Platão define paidéia da seguinte forma "(...) a essência de toda a verdadeira educação ou paidéia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento" (cit. in Jaeger, 1995: 147)
Do significado original da palavra paidéia como criação de meninos, o conceito alarga-se para, no século IV a.C., adquirir a forma cristalizada e definitiva com que foi consagrado como ideal educativo da Grécia clássica.
Como diz Jaeger (1995), os gregos deram o nome de paidéia a "todas as formas e criações espirituais e ao tesouro completo da sua tradição, tal como nós o designamos por Bildung ou pela palavra latina, cultura." Daí que, para traduzir o termo paidéia "não se possa evitar o emprego de expressões modernas como civilização, tradição, literatura, ou educação; nenhuma delas coincidindo, porém, com o que os gregos entendiam por paidéia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez." (Jaeger, 1995: 1).
Na sua abrangência, o conceito de paideia não designa unicamente a técnica própria para, desde cedo, preparar a criança para a vida adulta. A ampliação do conceito fez com que ele passasse também a designar o resultado do processo educativo que se prolonga por toda vida, muito para além dos anos escolares.
A paidéia, vem por isso a significar "cultura entendida no sentido perfectivo que a palavra tem hoje entre nós: o estado de um espírito plenamente desenvolvido, tendo desabrochado todas as suas virtualidades, o do homem tornado verdadeiramente homem" (Marrou, 1966: 158).