sábado, 5 de dezembro de 2009

Cerco de Tiro = BATALHA DE GAUGAMELA + BATALHA DE HIDASPES




Pintura de Charles Le Brun que retrata Alesxadre e Poro durante a batalha de Hidaspes
Data 326 a.C.
Local Próximo ao rio Hidaspes (atual rio Jehlum)
Resultado vitória macedônia

Combatentes
Macedônia Hidaspes (reino Indiano)
Comandantes
Alexandre o Grande Poro
Forças
4.000 cavaleiros
50.000 infantes 2.000 cavaleiros
20.000 infantes
200 Elefantes de guerra
Baixas
4.000 mortos entre a infantaria
Poucas perdas entre a cavalaria 2.000 cavaleiros
18.000 infantes
500 arqueiros
A Batalha de Hidaspes foi um confronto no qual os macedônios, liderados por Alexandre, o Grande derrotaram indianos liderados por Poro.

Índice [esconder]
1 Local
2 O início da campanha da Índia
3 A batalha do Hidaspes
4 Avanço e parada no Hifase
5 Para o Delta do Indo
6 As conquistas das regiões do sul
7 Bibliografia


Local
A batalha teve lugar nas margens orientais do rio Idaspe, (atualmente chamado de Jehlum) afluente do rio Indo, próximo às atuais cidades de Lilla e Bhora, no Paquistão.

O início da campanha da Índia
Por dois anos, Alexandre o Grande esteve continuamente em campanha, tanto no inverno como no verão. Agora, em 327 a.C., enquanto a "primavera estava quase no fim", o exército precisava realizar a árdua travessia do Hindu Kush e voltar a Alexandria no Cáucaso. O tempo estava menos severo e Alexandre descobrira "rotas mais curtas" do que em março de 329 a.C., mas mesmo assim o exército tinha de subir provavelmente uns 14.300 pés sobre a Passagem de Kaosh. Era, portanto, importante reduzir o tamanho do trem de bagagem, que havia sido engordado pelo butim adquirido durante o saque de centros rebeldes. Alexandre e seus companheiros deram o exemplo botando fogo em algumas de suas posses e os macedônicos destruíram o que era supérfluo para suas necessidades e as de sua família (pois a maioria deles era acompanhada por concubinas asiáticas e seus filhos). As principais tropas cruzaram em dez dias, mas o transporte do material pesado continuou durante os meses de verão. Nesse meio tempo, Alexandre treinava seu exército multirracial. Ele ampliou Alexandria com soldados inadequados e pessoas da localidade, e substituiu o administrador incompetente por um de seus companheiros. Quando partiu, deixou uma guarnição: essa seria sua base avançada. O sátrapa da região de "Parapamiso" era Tiriéspis, um persa, e Alexandre acrescentou à sua satrapia algumas terras no vale superior do rio Cabul.

No inverno de 327 a.C., Alexandre sacrificou a Atena e embarcou para a conquista de "Indike", a terra do rio Indo e seus afluentes, que hoje constitui o Paquistão e a Cachemira. Aristóteles declarara que a Índia, por ser a região a leste do Indo (Arriano Ind. 2.5), era uma península que apontava para leste em direção ao oceano exterior, uma área tão pequena que do pico do Cáucaso um homem poderia ver o oceano em um dia claro. Alexandre sabia agora que "Indike" era muito maior, mas sua confiança em Aristóteles o levou a dirigir sua campanha continuamente a leste para tentar chegar ao oceano. Se ele conquistasse essa "índia", possuiria "toda a Ásia", como dissera a Farasmanes. Os povos da região, chamados coletivamente "indos", tinham fama de excelentes lutadores. Sua infantaria era armada com arcos excepcionalmente longos e poderosos, dardos ou, por vezes, lanças longas, e todos tinham espadas. A cavalaria atacava com dardos. A infantaria e a cavalaria traziam, ambas, pequenos escudos de couro e tinham pouca ou nenhuma armadura de proteção. Felizmente para Alexandre, os "indos" eram desunidos; tribo lutava contra tribo e rei contra rei. Onde prevalecia o sistema de castas, os soldados eram uma classe separada, pai era sucedido por filho e eles não atacavam a casta dos lavradores. Alexandre ainda precisava aprender que a população dentro de "Indike" era extremamente grande.

Durante o verão, os emissários de Alexandre avançaram e garantiram a submissão das comunidades tribais a oeste do Indo e de uma comunidade a leste do rio, e seus governantes — na maioria reis — haviam dado garantias de fidelidade. Ele então os convocou, e eles vieram com presentes e promessas de entregar seus elefantes de guerra. Mas Alexandre não se deixou enganar. Tomando sob seu comando uma enorme e extraordinária força, penetrou na região montanhosa que seria a fronteira noroeste da Índia Britânica. O primeiro grupo de tribos, os aspásios, o desafiou. Quando eles se fecharam em suas cidades fortificadas, Alexandre capturou-as uma a uma de assalto; e quando concentraram suas forças, Alexandre derrotou-as, levando 40 mil prisioneiros e 230 mil bois, de acordo com Ptolomeu. O grupo seguinte, os gureus, aceitou seu governo. Os assacenos reuniram um exército de 2 mil cavalarianos, 30 mil soldados de infantaria e 30 elefantes, mas ante a aproximação dele, se dispersaram para defender suas cidades. Resistiram nos primeiros meses de 326 a.C.. A luta foi tão feroz quanto em Bactriana e Sogdiana e Alexandre empregou os mesmos métodos, destruindo os primeiros centros e os habitantes como rebeldes, perdoando outros e, nos estágios finais, estabelecendo novas cidades (por exemplo, em Arigeu e Bazira), guarnecendo algumas cidades existentes e colocando postos de guarda em pontos estratégicos.

Alexandre deveu seu sucesso à sua velocidade de movimento com as forças de cavalaria (pois usava arqueiros montados, lançadores de dardos montados e infantes chamados "dimachas"), sua artilharia] e suas tropas de assalto nos cercos e à habilidade dos comandantes subordinados como Crátero e Ptolomeu. Batalhas formais eram raras e nelas a falange em formação era imbatível. O número de macedônicos mortos foi pequeno, mas muitos, incluindo Alexandre duas vezes, foram feridos por flechas. A resistência mais árdua foi em Mássaga, onde os assacenos foram reforçados por 7 mil mercenários do leste do Indo. Quando o comandante assaceno foi morto por um tiro de catapulta, sua viúva iniciou negociações, durante as quais os 7 mil mercenários saíram e acamparam próximo aos macedônicos. Durante a noite, ocorreu um rompimento do acordo — Ptolomeu e/ou Aristóbulo atribuem-no aos mercenários e outros escritores a Alexandre — e o resultado foi que os mercenários foram cercados e mortos. Finalmente, para mostrar que a resistência nunca teria sucesso, Alexandre atacou a "Rocha de Aornus" (Pir-Sar), que Héracles, dizia-se, por duas vezes falhara em tomar.

Alexandre sentiu uma "ânsia" (pothos) por superar Héracles. Alexandre e Ptolomeu, comandando forças distintas, conquistaram um caminho de subida com um movimento em tenaz; fez-se então uma ponte sobre uma ravina, como na rocha de Chorienes, e a partir da ponte um pico foi capturado "com incrível audácia"; finalmente, das duas turmas que subiam à noite, sete homens chegaram ao topo (sendo o primeiro Alexandre) e derrotaram o inimigo. Como comentou sir Aurel Stein, o sucesso deveu-se ao "génio de Alexandre e à coragem e resistência de seus valentes macedônicos". Pois em todas essas operações, os Homens do Rei e suas tradicionais tropas de apoio representaram o papel principal.

No curso dessa campanha, Alexandre e seus macedônicos acreditavam que haviam sido precedidos não apenas por Héracles, mas também por Dioniso. Os próprios indianos reforçavam essa ideia dizendo que Dioniso fundara ali uma cidade chamada Nisa e que Dioniso plantara a hera, que crescia ali e em nenhuma outra região da índia. Os macedônicos deleitaram-se ao ver a hera e outros supostos sinais da presença de Dioniso, e o próprio Alexandre foi tomado de uma "ânsia" por visitar os lugares sagrados. Fizeram-se sacrifícios a Dioniso; Alexandre declarou Nisa uma cidade livre; e 300 cavalarianos de Nisa serviram com os macedônicos até o outono de 326 a.C. Assim, enraizou-se a ideia de que Dioniso e Héracles haviam lutado na região oeste do Indo, mas que nunca cruzaram o grande rio. Alexandre e seus macedônicos planejavam superá-los.

Em Aorno, Alexandre estava próximo à Cachemira, o reino de Abisarés, que ajudara os assacenos e agora dava refúgio aos sobreviventes de Aorno. Alexandre não o perseguiu. Voltou-se para sul, capturou alguns elefantes de guerra, encontrou madeira adequada e construiu navios que foram lançados no Indo. Como sátrapa de toda a região, Alexandre nomeou um macedônico, Filipo, e como guardião da Rocha de Aornus, um leal indiano, Sisicoto. Eles se mostraram dignos de confiança; quando ocorreu um levante na Assacênia naquele mesmo ano, Alexandre foi informado por Sisicoto, e Felipe e Tiriespe restauraram a ordem. Como nos outros lugares, Alexandre impôs a paz e garantiu uma promessa de progresso em suas novas cidades.

Ao sair de Nicéia, próximo a Alexandria-no-Cáucaso, Alexandre enviara o grosso do exército, comandado por Heféstion e Pérdicas, pela rota direta via a Passagem de Khyber até o Indo. Eles dominaram por rendição ou capturaram por assalto todos os centros habitados (pois eles ficavam na principal linha de comunicações de Alexandre); e fortificaram e guarneceram um deles, Orobatis. Quando o governante indiano do distrito de Peuce-laotis se rebelou, sua cidade caiu após um cerco de trinta dias. Um indiano foi nomeado governador da cidade. Heféstion havia sido instruído a construir uma ponte sobre o Indo, e por isso mandou fazer botes que serviriam como pontões. Eles eram feitos de madeira local em seções, que podiam ser transportadas por terra e montadas, e os maiores eram um par de triakontoroi. Quando Alexandre chegou, na primavera de 326, as forças unidas realizaram um grande festival com jogos atléticos e equestres. Alexandre sacrificou aos deuses de costume e um governante indiano, Taxiles, forneceu oferendas sacrificiais para os soldados: 3 mil cabeças de gado e mais de 10 mil carneiros. Os presságios dos sacrifícios foram favoráveis. Ao alvorecer, o próprio Alexandre foi o primeiro a cruzar para a "índia", uma terra totalmente desconhecida para o mundo grego.

O exército que cruzou o Indo montava a cerca de 75 mil combatentes, dos quais a maior parte eram infantes da Macedônia, dos Bálcãs e da Ásia ocidental. Na cavalaria, os acompanhantes estavam constituídos de tal forma que as quatro hiparquias que acompanhavam Alexandre eram constituídas principalmente de acompanhantes macedônicos. Ele precisaria deles como cavalaria pesada em batalhas formais. Nossas fontes mencionam os lançadores de dardos montados que eram persas, os arqueiros montados dahas, os bactrianos e os sogdianos, e certamente havia outras unidades, como, por exemplo, os trácios.

[editar] A batalha do Hidaspes

Alexandre atravessa o rio Hidaspes, cortesia do Departamento de História da Academia Militar dos Estados Unidos.O governo de Alexandre havia sido aceito com antecedência e presentes foram trocados na mais pródiga escala entre Alexandre e Taxiles. Após a morte deste, nessa mesma época, seu filho adotou o mesmo nome dinástico. Esse jovem Taxiles colocou sua capital, Taxila (Bhir), à disposição de Alexandre e forneceu 5 mil soldados para servi-lo.

Em Taxila, Alexandre recebeu enviados e presentes de governantes menores das redondezas e de Abisares, governante da Cachemira. Sacrificou aos deuses de costume, celebrou um festival com concursos atléticos e equestres e tomou suas providências administrativas. Filipo, um macedônio, foi nomeado sátrapa da região. Taxiles foi recompensado com território adicional. Uma guarnição macedônia foi posta em Taxila; soldados inadequados foram deixados ali e os botes da ponte do rio Indo foram transportados desmontados para o objetivo seguinte de Alexandre, um inimigo de Taxiles chamado Poro.

O exército que avançou para o Hidaspes contava cerca de 75 mil soldados, vindos de muitas partes do domínio de Alexandre, e era encabeçado por nada menos de 15 mil cidadãos macedônios. O problema das provisões foi facilitado pela extraordinária fertilidade das planícies aluviais, que produziam reservas de grãos. Na outra margem do rio, um exército de cerca de 35 mil homens e 200 elefantes de guerra havia sido reunido por Poro. Não era possível para Alexandre cruzar o rio e forçar um desembarque, como havia feito no Jaxartes, porque a visão e o cheiro dos elefantes deixariam os cavalos de sua cavalaria indomáveis. Com diversas artimanhas, Alexandre mascarou seus preparativos para cruzar em um ponto a cerca de 27 quilômetros acima de seu próprio acampamento. Então, apesar de muitas dificuldades durante uma noite tempestuosa em maio, Alexandre desembarcou 5 mil cavalarianos e 6 mil soldados de infantaria na outra margem logo após o alvorecer. Destacamentos de tropas haviam assumido posições entre o ponto de travessia e o acampamento, com ordens de atravessar quando vissem os indianos empenhados na batalha. No acampamento, Crátero deveria estar pronto para atravessar com suas forças, mas apenas se "Poro trouxesse todos os seus elefantes contra mim". Essas foram as palavras de Alexandre.

Quando o desembarque foi relatado por batedores, Poro enviou seu filho, no comando de 120 carros e 2 mil cavaleiros, encontrar o inimigo. Os carros atolaram no chão úmido e a cavalaria foi derrotada, com a perda de seu comandante e de 400 homens. Poro soltou alguns elefantes para impedir Crátero de atravessar e distribuiu seu exército pelo terreno arenoso distante da margem. Seus 30 mil infantes formaram uma linha com dez homens de profundidade e cerca de 3 quilômetros de comprimento. Na linha de frente, 200 elefantes foram colocados a intervalos de 50 pés e, em cada ala, 150 carros na vanguarda e 2 mil cavaleiros atrás deles em coluna. Ele esperava que Alexandre fizesse um ataque frontal com forças que, sabia, seriam superadas em número nos soldados a pé. Conforme Alexandre avançava, reuniam-se a ele alguns dos destacamentos da outra margem, e ele lhes permitia uma pausa antes de iniciar seu ataque, não frontalmente, mas contra uma ala.


Ataque combinado de cavalaria e infantaria, cortesia do epartamento de História da Academia Militar dos Estados Unidos.Alexandre enviou mil cavaleiros, sob o comando de Coenus, em direção à ala direita da linha de Poro para enganá-lo e fazê-lo manter seus 2 mil cavaleiros ali. Ao mesmo tempo, os arqueiros montados atacaram os carros na ala esquerda de Poro e causaram confusão, enquanto Alexandre, com mil acompanhantes cavaleiros, surgia no flanco esquerdo da coluna de cavalaria indiana que se virava para a esquerda para enfrentá-lo. Ao atacar e retirar, esquadrão por esquadrão, ele afastava a cavalaria indiana da linha de infantaria. Atacada por todos os lados, a cavalaria indiana fugiu para a proteção dos elefantes (aos quais seus cavalos estavam habituados).

Nesse meio tempo, Poro ordenara que seus elefantes e sua linha de infantaria se movessem para a esquerda e apoiassem a cavalaria, mas o movimento foi retardado pelos elefantes e iniciou-se uma certa confusão. Como Alexandre ordenara anteriormente, sua infantaria em formação de falange (hipaspistas, falangistas, agriães, arqueiros e outros, talvez uns 10 mil homens) atacaram o lado esquerdo da linha de Poro, usando piques contra os cornacas e setas e dardos contra os elefantes. No início, a batalha estava equilibrada, pois os elefantes trombeteavam e carregavam a cavalaria; agora reforçada pela ala direita, atacava, e os cavalos macedônicos estavam apavorados por causa dos elefantes. A infantaria levou vantagem formando em ordem cerrada, avançando com os piques erguidos e provocando estouros dos elefantes sobre as tropas inimigas, enquanto a cavalaria macedônica, atacando por trás da linha de Poro, derrotava a indiana. As tropas derrotadas e os elefantes colidiam com o restante da linha de Poro, que se rompeu e debandou. Crátero, nesse meio tempo, cruzara o rio e se juntara à perseguição, durante a qual as perdas indianas, entre mortos e prisioneiros, foram estimadas em dois terços da força total.

Poro e seu cornaca continuaram a lutar até que um indiano o persuadiu a apear e ir se encontrar com Alexandre. "Trate-me, Alexandre," disse Poro, "como a um rei". Alexandre deixou Poro continuar com seu reino como rei vassalo e lhe deu território adicional; mais tarde, persuadiu Poro e Taxiles a acabar com sua inimizade mútua. Da força que havia feito a travessia original, 80 infantes macedônicos e 20 Cavalarianos Acompanhantes foram mortos; das outras tropas, 720 infantes e 280 cavalarianos. Alexandre sacrificou aos deuses de costume e ao Deus-Sol, que lhe permitira "a conquista das terras quando de seu erguer". Disse a uma assembléia de seus macedônicos que a riqueza da índia lhes pertencia e que eles apenas deveriam avançar "até o mais distante Oriente e o oceano". A Assembléia prometeu realizar a tarefa, pois também pensava que o oceano não estava longe no oriente.

Alexandre deixou seu exército descansar por um mês. Durante esse tempo, traçou os planos para duas novas cidades a que mais tarde chamou Nicéia e Bucéfala — esta última em memória de seu cavalo Bucéfalo, que morrera de velhice pouco depois da batalha. Em celebração de sua vitória, Alexandre lançou medalhões de prata do tamanho do decadracma.

[editar] Avanço e parada no Hifase
Para Alexandre e seus cientistas havia dois caminhos até o oceano. Um deles era pelo sul, descendo o rio Indo. Pensava-se que o Indo era o Nilo superior porque a flora e a fauna dos dois rios eram as mesmas, mas os indianos relataram então que o rio corria para o mar, presumivelmente o oceano. O outro era para leste, até a extremidade da península de Aristóteles. Enquanto o exército descansava, Alexandre começou a construir a frota para a viagem em direção ao sul. Mas sua primeira escolha foi ir para leste, até "o final da massa de terra" (finem terrarum).

No início, as diversas tribos renderam-se ou foram facilmente subjugadas por Alexandre e Heféstion no comando de destacamentos avançados, enquanto o corpo principal prosseguia. Perderam-se vidas na travessia do Acesines (Chenab), que estava na cheia devido às chuvas da monção que acabavam de começar. Foi do outro lado do rio seguinte, o Hidraotes, que ele encontrou forças bem organizadas em Sangala (próximo a Lahore). O cerco custou-lhe cem mortos e 1.200 feridos, mas as perdas inimigas de 17 mil mortos e 70 mil capturados logo deram um fim a qualquer oposição e ele atingiu a margem do último rio, o Hífase (Beas). Depois dele, Alexandre e seus macedônicos foram levados a acreditar que encontrariam "o fim da Ásia e o oceano".

A verdade foi contada pelos indianos locais, que bem mais a leste ficava o populoso Vale do Ganges e o maior número de elefantes "notáveis por seu tamanho e coragem". Uma amarga desilusão apoderou-se dos macedônicos, que sofriam de exaustão e dos efeitos de setenta dias de chuvas incessantes; pois haviam sido enganados e "o fim da Ásia" não estava ao alcance da mão. Por outro lado, Alexandre estava determinado a avançar e atingir, como acreditava, o oceano além do Vale do Ganges. Portanto, consultou uma reunião dos comandantes de regimentos. Seu apelo foi ouvido em silêncio.

Então Coenus, um general mais antigo, falou "em nome da maior parte do exército": seu desejo era voltar para casa. A ira de Alexandre foi óbvia. No dia seguinte, ele convocou novamente a reunião e anunciou sua intenção de prosseguir com aqueles que desejassem ir com ele; os outros poderiam ir para casa e dizer que haviam desertado de seu rei. Permaneceu incomunicável em sua tenda por três dias, esperando que o humor do exército melhorasse. Persistindo o silêncio, ele saiu para sacrificar pela travessia do rio. Os presságios foram desfavoráveis. Por meio de seus amigos, ele anunciou que "decidira voltar para trás". Os soldados exultaram e alguns foram à sua tenda abençoá-lo. Alexandre não conseguira impor sua vontade, mas evitara um confronto e conquistara a boa vontade dos macedônicos. A anabasis, o avanço para leste, terminava ali.

Na margem do Hífase, ele "dividiu o exército regimento por regimento e ordenou-lhes erguer 12 altares tão altos quanto as torres mais altas... em ação de graças aos deuses que o mantiveram vitorioso até então e como memoriais de seus próprios trabalhos". Os altares foram dedicados aos 12 deuses olímpicos do panteão grego, pois eles haviam guiado o exército e Zeus dera a Alexandre a vitória, como ele anunciara no medalhão de Poro. A menção a seus trabalhos convidava à comparação com Héracles, que comemorara seus trabalhos erigindo, na extremidade ocidental do mundo, "os Pilares de Héracles".

[editar] Para o Delta do Indo
Era característico de Alexandre que, enquanto avançava para o Hífase e quando retornava dele, ele tenha tomado suas providências para o governo do território. Após a vitória no Hidaspes, ele estendeu o reino de Poro para o norte até a Cachemira, onde os Glausas entregaram suas 37 cidades e numerosas aldeias com uma população total aproximada de meio milhão. Depois delas estava o reino de Abisares, que após muita prevaricação finalmente se submeteu e enviou generosos presentes e 30 elefantes. Alexandre confirmou-o em seu governo e tornou um governante vizinho súdito dele. A região entre o Acesines e o Hidraote, e a maior parte do território entre o Hidraote e o Hífase, foi somada ao reino de Poro, que servira lealmente com 5 mil indianos e muitos elefantes sob o comando de Alexandre e fornecera suprimentos ao exército. Dizia-se que, no final, esse reino contava mais de 2 mil cidades, o que implicava uma população de mais de dez milhões. A área em torno de Sangala foi confiada a alguns indianos que vieram voluntariamente. As novas cidades que fundou, duas às margens do Hidaspes e uma às margens do Acesines, ficavam em linhas de comunicação. Ali ele contava quase inteiramente com governantes nativos para controlar a grande e populosa região até o sopé do Himalaia. Sua ligação com eles era pessoal e ele os tratava como "aliados, desde que aceitassem seu governo geral e lhe pagassem o tributo financeiro que ele determinava. Alexandre percebia que não tinha o potencial humano para exercer governo direto sobre essa área norte e, no momento, sua confiança nos governantes locais era justificada.

A área de maior importância estratégica era o reino de Taxiles, que mostrara uma lealdade tão firme quanto a de Poro. Alexandre deu-lhe território adicional, tratou-o como um "aliado" e deixou claro que esperava que cooperasse com seu vizinho, Filipo; mas, para certificar-se duplamente, Alexandre manteve uma guarnição em Taxila, que Taxiles lhe confiara. Filipo, como sátrapa, controlava as regiões através das quais passavam as comunicações com a Macedônia, ou seja, a rota da Passagem de Khyber, os vales de Cabul, Cophen e Choaspes (Swat) e um enclave a leste do Indo. Assim, todo o interior do país estava sob controle e ele podia avançar para o sul com segurança. Além disso, para a nova aventura juntaram-se a ele grandes reforços: 6 mil cavaleiros da Grécia e da Trácia, 7 mil infantes mercenários gregos e 23 mil infantes de seus aliados na Grécia e na Ásia (ou seja, das cidades gregas). Junto com eles vieram 2,5 toneladas de suprimentos médicos e 25 mil panóplias (conjuntos de armadura) incrustadas de ouro e prata — produto das oficinas macedônicas. O total de tropas de combate disponíveis para o avanço ao sul era de cerca de 120 mil homens, de acordo com Nearco. Podemos estimar os números como segue: 13 mil cavaleiros; 55 mil infantes de linha de frente, dentre os quais cerca de 15 mil eram homens do rei, agriães e arqueiros; e 50 mil infantes de apoio, dos quais 15 mil eram de tropas indianas. A frota que se encontrou com ele no Hidaspes era muito grande (os números em nossos textos variam amplamente). Havia 80 triakontoroi e todo tipo de outras naves, especialmente designadas para o transporte do exército, seu equipamento e suprimentos.

O plano de campanha de Alexandre foi sem precedentes. Ele pretendia usar o Hidaspes, o Acesines e o Indo não apenas para levar os suprimentos que Taxiles e Poro haviam reunido mas também como base para operações militares; as tropas podiam mover-se mais rapidamente pela correnteza do que por terra e por isso qualquer oposição poderia ser superada. Eram necessárias tripulações especializadas para enfrentar cachoeiras e outros riscos. Elas foram encontradas entre os soldados das ilhas do mar Egeu e das cidades gregas da Ásia ocidental, e entre vivandeiros que vinham da Fenícia, de Chipre e do Egito; pois os indianos apenas se aventuravam nos rios da região para a pesca local. Alexandre tinha seu próprio navio e timoneiro, Onesícrito, e nomeou como sua equipe naval principal 34 dos principais oficiais — macedônicos, gregos, cipriotas e um persa. O papel da maioria deles era honorário e seu título de "trierarca" não implicava comando real.

Na véspera da partida, em novembro de 326 a.C., organizou-se um festival com competições de arte e atletismo, e vítimas de sacrifício foram entregues ao exército. O próprio Alexandre sacrificou a seus deuses ancestrais, os deuses prescritos pelos adivinhos, os três deuses-rios, Poseidon, Anfítrite, as Nereidas e oceano. Na aurora do dia da partida, ele sacrificou na margem aos deuses de costume e ao Hidaspes e, a bordo da nave, aos três deuses-rios, a Héracles, a Amon e a seus deuses de costume. Soou então o clarim, a frota partiu em formação e as margens do rio vibraram com os aplausos dos remadores. Alexandre navegava no comando dos hipaspistas, dos arqueiros e do esquadrão real dos cavaleiros acompanhantes. Dois destacamentos do exército tinham partido com antecedência, o maior com 200 elefantes na margem esquerda sob o comando de Heféstion e o outro na margem direita, sob Crátero; um terceiro destacamento sob o sátrapa Filipo se seguiria. A frota e os destacamentos encontraram-se em pontos pré-combinados. A maior parte das tribos indianas rendeu-se e as outras foram subjugadas até a confluência do Hidaspes e do Acesines. Ali, nas águas turbulentas, alguns dos navios a remo foram danificados e perderam-se vidas, mas as naves que seguiam a correnteza passaram sem dano.

Alexandre já estava ciente de que as duas maiores e mais belicosas tribos na região central, os maios e os oxidracas, estavam se preparando para unir forças e enfrentá-lo em uma batalha formal. Essa era uma perspectiva assustadora, pois os grandes números do inimigo seriam efetivos e uma única derrota seria desastrosa para os macedônicos. Ele precisava chegar ao campo antes que eles pudessem se juntar. Enquanto a frota navegava até a fronteira dos maios, Alexandre incursionava pela região de seus vizinhos do norte. Ao encontrar a frota, ele fez suas disposições. Crátero, avançando pela margem direita, ficaria no comando dos elefantes. Heféstion, na margem esquerda, deveria mover-se cinco dias à frente da força do próprio Alexandre, e Ptolomeu seguiria três dias atrás da força de Alexandre, de forma que pudessem lidar com qualquer perda de formação em seguida a um ataque de Alexandre. Este, no comando dos hipaspistas, de uma brigada da falange, dos agriães, dos arqueiros, metade dos Cavalarianos Acompanhantes e dos arqueiros montados (totalizando 6.500 infantes e 2 mil cavaleiros) marchou por regiões desérticas dentro do território malo. Em um dia e uma noite cobriu mais de 90 quilômetros.

O ataque de sua cavalaria ao alvorecer foi uma surpresa total. Muitos malos foram mortos sem defesa nos campos e, quando a infantaria chegou, forçaram a entrada na cidade e empurraram o inimigo para a cidadela. "Alexandre aparecia aqui, ali e em toda parte na ação." A cidadela foi capturada de assalto e os 2 mil defensores foram mortos. Os habitantes de uma cidade próxima fugiram, mas muitos foram alcançados e mortos pela cavalaria. Depois de outra noite de marcha, ele alcançou uma força de maios que cruzava o Hidraotes, matou muitos e fez alguns prisioneiros e capturou então sua fortaleza. Os sobreviventes foram escravizados. Outra cidade era fortemente mantida pêlos malos e pêlos brâmanes. Os macedônicos fizeram um fogo de cobertura com as catapultas, enquanto os sapadores solapavam os muros (como em todos os lugares da planície, eles eram de tijolo) e Alexandre foi o primeiro a escalar o muro da cidadela, na qual cerca de 5 mil malos lutaram até a morte. "Tanta era sua coragem que poucos foram capturados vivos." Outras cidades foram abandonadas. Alexandre ordenou que um destacamento vasculhasse as florestas e "matasse todos os que não se rendessem voluntariamente".

As pesadas perdas dos maios deveram-se parcialmente à fanática resistência de seus soldados e parcialmente à matança de refugiados por ordem de Alexandre (por exemplo, em Arriano 6.8.3., baseado em Ptolomeu segundo o Diário). Como o pânico espalhara-se, o único exército organizado dos maios, com 50 mil homens, deixou seu território principal e cruzou o Hidraotes, com a intenção evidente de se juntar aos oxidracas. Perseguin-do-os de perto, Alexandre vadeou o rio apenas com sua cavalaria e deteve os maios galopando em torno deles até que sua infantaria chegasse. À vista da falange, os maios fugiram para uma cidade fortificada e, no dia seguinte, quando os macedônicos atacaram, eles se refugiaram na cidadela.

Alexandre, como de costume, estava na vanguarda. Como achou que seus soldados estavam vindo muito devagar, ele próprio apoiou uma escada contra o muro da cidadela e encabeçou a subida, seguido por Peucestas, que trazia o escudo sagrado de Atenas de Tróia, e por Leonato, um Guarda-Costas. Outra escada foi erguida ao lado e o primeiro homem a subir foi Abréas. Por trás deles, ambas as escadas quebraram-se sob o peso das tropas. Os líderes estavam sozinhos. Alexandre forçou os defensores a descer do estreito muro e ali se encontrou com Peucestas, Leonato e Abréas. Como era um alvo fácil, pulou para dentro, matou os que o atacaram e os outros três se reuniram a ele. Abréas foi morto por uma seta atirada de perto. Alexandre foi atingido por outra flecha, que perfurou seu pulmão. Ele desmaiou, mas Peucestas e Leonato o protegeram com seus escudos. Os hipaspistas então chegaram, alguns escalando os muros e outros arrebentando um portão, e acreditando que Alexandre estava morto, o exército matou todos dentro da cidadela.

Alexandre sobreviveu, mas perdeu muito sangue. Quando se mostrou ao exército, eles gritaram de alegria e o coroaram "com todas as flores que a índia produzia naquela época". Agora, todas as forças estavam unidas na confluência do Hidraotes e do Acesines. Enquanto Alexandre convalescia, as terríveis perdas que infligira sobre os maios tiveram os efeitos que ele previra. Maios, oxidracas, sogdas e outras tribos e comunidades, até a confluência do Acesines e do Indo, mandaram enviados e presentes e aceitaram o governo dele. A única tribo que recusou foi subjugada por Pérdicas. Na confluência, ele estabeleceu o limite sul da satrapia de Filipo, a quem deu uma força de guarnição que incluía todos os trácios, e uma nova cidade, Alexandria-em-Opiene, seria construída com estaleiros — pois Alexandre percebia a importância dos muitos rios navegáveis para um comércio aquático que as desunidas tribos indianas nunca haviam desenvolvido. O território a oeste do Indo, conquistado por Crátero, foi incluído na satrapia de Aracósia.

Continuando a descer o Indo ele recebeu a submissão das tribos e fundou outra cidade com estaleiros próximo à capital dos sogdas (em Rohri). O rio passava perto do deserto de Thar (o Grande Deserto Indiano) e a região fértil ficava a oeste. Ali, Musicano reinava sobre aquilo que se dizia ser o reino mais rico do Vale do Indo (entre os atuais Estados de Punjab e Sind, centro-sul do Paquistão). Como Musicano não havia mandado enviados, Alexandre embarcou uma força em sua frota ampliada, navegou ligeiramente seguindo a correnteza e chegou ao reino antes mesmo que Musicano sequer ouvisse falar de sua partida. Espantado, Musicano veio encontrar Alexandre. Trazia presentes generosos e todos os seus elefantes, e colocou a si mesmo e a seu povo a serviço de Alexandre. Ele foi perdoado, Musicano foi confirmado como rei vassalo e a cidadela de sua capital foi guarnecida pêlos macedônicos. Um rei vizinho, Oxicano, não havia negociado. Alexandre navegou com uma força armada de piques até esse reino, capturou Oxicano e duas de suas cidades por assalto. Deu toda a pilhagem às tropas, mas ficou com os elefantes. O governante do reino seguinte ao sul, Sambo, fugiu, mas seus parentes entregaram a capital e os elefantes.

Alexandre estava então próximo à nascente do Delta do Indo (adentro do atual Estado de Sind, sul do Paquistão). Mas atrás dele irrompeu um motim, inspirado pelos brâmanes e liderado por Musicano, e havia o perigo de esse motim espalhar-se. Alexandre agiu com sua velocidade de costume. O sátrapa que ele nomeara para a "índia" do sul, Peiton, invadiu o reino e capturou Musicano, enquanto Alexandre atacava as cidades que eram sujeitas a ele. "Em algumas cidades, ele escravizou os habitantes e arrasou os muros; em outras, ele colocou guarnições e fortificou as cidadelas." Todos os brâmanes capturados e Musicano foram levados a seu lugar de residência e enforcados como instigadores da rebelião. Outra revolta ocorreu no reino de Sambo (não mencionada por Arriano, mas por outros escritores sim). Alexandre tratou as cidades do mesmo modo, exceto porque perdoou os que se renderam, notadamente na principal cidade dos brâmanes, Harmatélia.

O rei do Delta, Soeris, veio a Alexandre, aceitou seu governo e recebeu ordens de preparar suprimentos para o exército. Como a subjugação da "índia" parecia estar completa, Alexandre preparou-se para a fase seguinte, enviando Crátero na rota que passava por Aracósia e Drangiana até a Carmânia, que fazia limite com a Pérsia. Crátero levou todos os macedônicos inadequados para o serviço ativo, três brigadas de falange, alguns dos arqueiros, todos os elefantes e um trem de bagagem junto com as famílias dos Homens do Rei. Sua tarefa era confirmar ou estender o controle macedônico nas áreas por que passaria. Estava claro que Alexandre pretendia liderar um exercito mais móvel por território não-conquistado, que estava ao sul da rota de Crátero.

Após a partida de Crátero em junho de 325 a.C., Alexandre navegou rapidamente a Patala, na nascente do Delta, porque dizia-se que Soeris havia fugido com os membros de sua tribo. Era verdade, mas a maioria dos membros da tribo voltou com a garantia de que trabalhariam suas próprias terras. Alexandre aumentou a área cultivável mandando cavar poços no deserto. Em Patala, planejou sua base naval principal: uma larga doca foi escavada para o grosso da frota; construíram-se estaleiros; e ambos foram incluídos, junto com a cidadela, em um complexo fortificado. De Patala ele explorou ambos os braços do Indo. Perdeu alguns navios devido à tempestade vinda do mar e uma poderosa maré vazante, da qual não tinha qualquer experiência. Descobriu que o rio leste era mais navegável. Providenciou a construção de outra doca e estaleiros ali, com um forte para uma guarnição, que demarcaria sua fronteira oriental. Sem dúvida, ele esperava desenvolver o comércio via mar a leste. Durante sua primeira viagem, desembarcou em uma ilha de rio e depois em uma ilha do mar; em cada uma delas sacrificou, não aos deuses de costume, mas a deuses especiais com rituais especiais, como fora instruído a fazer por Amon no oráculo de Siwah. Navegou então para o mar, sacrificou touros a Poseidon e, como uma oferenda de agradecimento, lançou vasos de ouro na água. Acreditava ter atingido o oceano — algo que Amon presumivelmente previra — e ergueu altares a Oceano e a Tétis.

A conquista da "índia" ao sul de suas cidades no Hidaspes em menos de sete meses foi um exemplo espantoso da audácia, originalidade e planejamento de Alexandre, bem como de sua liderança de um exército multirracial. Como Arriano escreveu sobre Alexandre e os homens do rei, pouco ou nada sabemos das realizações de suas tropas gregas ou asiáticas, dentre as quais a cavalaria persa, bactriana, sogdiana, cítia e indiana devem ter representado um papel fundamental. Alexandre era encorajado pela vastidão de suas planícies, as imensas populações, os elefantes e os carros de guerra; e seu uso dos rios dava-lhe uma velocidade de execução que impedia seus inimigos, tradicionalmente desunidos, de combinar forças. Também não era simplesmente questão de conquista. Ele impusera a aceitação de seu governo. Polieno, um comentarista militar que se baseou no relato de Ptolomeu, observa que a mistura que Alexandre fazia dos métodos mais severos, como em Sangala, e do perdão e da clemência para as tribos vizinhas tinha o efeito de que a reputação de clemência "ao se tornar conhecida, persuadia os indianos a aceitar Alexandre de boa vontade" (4.3.3). Alexandre observou mais tarde que deixara os indianos "manter suas próprias formas de governo de acordo com seus próprios costumes" (Arriano, 7.20.1).

O que ele trouxe aos indianos que estavam divididos em comunidades guerreiras foi a paz e, com ela, a promessa de desenvolvimento económico. Vimos o novo uso dos rios, a abertura de poços e a escavação de portos. Nas cidades de Alexandre, os indianos tinham novas oportunidades e seus filhos podiam ter uma forma grega de educação. Os cientistas e aventureiros gregos que estavam com Alexandre tinham muito a ensinar aos indianos em assuntos práticos como a mineração de sal e a fundição de metais. As condições eram adequadas a uma nova era.

[editar] As conquistas das regiões do sul
Quando Alexandre sacrificou no mar, rogou para que "Poseidon escoltasse em segurança a força naval que pretendia enviar com Nearco ao Golfo Pérsico e à embocadura do Eufrates e do Tigre". Essa força navegaria por mares que não estavam no mapa. De fato, não se sabia se essa viagem era possível; pois em 325 a.C. dava-se pouco crédito ao relato de Heródoto, que Alexandre deve ter lido, de que quase dois séculos antes o capitão grego de um navio mercante, dependendo apenas das velas, viajara do Indo ao Mar Vermelho em trinta meses. Era, portanto, uma questão em aberto se o mar no qual o Indo desembocava era um mar interno, como o Mediterrâneo, ou se era o oceano que, no pensar de Aristóteles, rodeava toda a terra habitada. A viagem de Nearco resolveria a questão.

A frota foi selecionada a partir das três classes de navios de guerra que eram mais rápidas com remos: triakontoroi (barcos abertos com 15 remos em cada lado), hemioliai (navios leves com uma fileira e meia de remos) e kerkouroi (esquifes). Esses navios tinham sobre os navios mercantes a vantagem de serem mais rápidos sob muitas condições, não serem atrasados por falta de vento e poderem atracar em praias abertas. A desvantagem era que só podiam carregar muito pouca água e alimento. O que alarmou Alexandre foi o perigo de desastre em uma viagem de tamanho desconhecido (na verdade, cerca de l.200 milhas), se a costa não tivesse ancoradouros, habitantes ou carecesse de fontes naturais de alimento. De fato, ele tinha razão em pensar que parte da costa devia ser inabitada, porque se acreditava que o oceano era limitado por deserto ou estepes. Nearco, em um comentário sagaz, disse que as apreensões de Alexandre "foram superadas por seu desejo de sempre realizar algo novo e extraordinário".

A viagem da frota seria ajudada por um exército que começaria dois meses antes, cavaria poços ou marcaria lugares onde houvesse água, estocaria suprimentos onde fossem necessários e subjugaria quaisquer tribos hostis. O exército logo estaria marchando por regiões desconhecidas. Havia apenas uma tradição que dizia que uma rainha assíria, Semíramis, e Ciro, o Grande, haviam surgido daquela região somente com um punhado de homens, porque ela era deserta e difícil de atravessar. Nearco disse posteriormente que Alexandre estava ciente da tradição e pretendia ter sucesso onde eles falharam. A natureza e o tamanho das dificuldades não eram conhecidos. Alexandre partiu em agosto com um exército de uns 20 mil homens e suprimento de grãos para quatro meses; ele mandara para casa a maior parte da numerosa cavalaria asiática e a infantaria indiana. As primeiras duas tribos, arabitas e oreítas, planejaram a resistência, mas capitularam. Alexandre fundou duas cidades, nomeou Apolofanes como sátrapa e deixou Leonato no comando dos agriães, alguns dos arqueiros e da cavalaria e infantaria, constituída principalmente de mercenários gregos. Após a partida de Alexandre, Leonato derrubou uma revolta em uma batalha formal, quando as perdas do inimigo chegaram a 6 mil e as dele foram triviais, porém incluíam Apolofanes.

Ele deu as boas-vindas à frota quando ela chegou, arranjou substitutos para algumas das tripulações e deu a Nearco suprimentos para dez dias. Com cerca de 12 mil soldados, principalmente macedônicos, o trem de suprimentos e os vivandeiros, que eram comerciantes com suas famílias, Alexandre penetrou em Gedrósia (atual Baluchistão, sudoeste do Paquistão) em outubro, o mês durante o qual a frota recebera ordens de partir. A primeira coisa que faltou foi água, e Alexandre foi forçado a ir para o interior; ainda conseguiu enviar alguns suprimentos à costa, mandados a ele por Apolofanes; mas com a morte deste, essas provisões minguaram. Alexandre encarou então uma escolha angustiante: levar seu exército pelo interior, por uma rota mais fácil até a capital, Pura, ou marchar próximo à costa através daquilo que diziam ser deserto. Ele escolheu a segunda opção, para poder levar ajuda à frota quando ela mais precisasse.

O exército sofreu terrivelmente de calor intenso, escassez de água e exaustão. Onde a areia era macia, era impossível para os animais e homens carregarem as carroças em uma subida. Para suplementar suas rações, as tropas mataram os animais, quebraram as carroças e usaram a madeira para cozer a carne. Sem meios de transporte, os doentes e exaustos eram abandonados para morrer. Quando choveu no interior, uma repentina inundação à noite arrastou "a maioria das mulheres e crianças dos vivandeiros, a propriedade do rei, e a maior parte dos animais de carga sobreviventes". A liderança de Alexandre mantinha as tropas juntas. Ele andava na frente e, quando recebia alguma água derramava-a no chão para mostrar que só beberia quando todos pudessem beber. Finalmente, os guias nativos perder-se-iam se no deserto sem pontos de referência. Foi Alexandre quem chegou ao mar e descobriu água fresca na praia. O exército seguiu a costa bebendo dessa água. Voltou-se então para o interior, e dirigiu-se para Pura, a capital da Gedrósia. Deve-se notar que na travessia do deserto, os suprimentos de comida, embora curtos, foram guardados para o exército. Os virandeiros foram os que mais sofreram, pois não estavam incluídos na distribuição de rações.

Após descansar em Pura, o exército marchou para a Carmânia e ali encontrou o exército de Crátero, que havia realizado sua tarefa. A reunião foi motivo para a organização de um festival de artes e de atletismo e Alexandre fez "sacrifícios de ação de graças pela vitória sobre os indianos e pela salvação do exército em Gedrósia". Agora sua ansiedade voltar-se-ia à frota. Ao saber que Nearco e alguns outros estavam sendo trazidos a ele, pensou que a frota havia se perdido e eles fossem os únicos sobreviventes. Quando apareceram, perguntou: "Como os navios e os homens se perderam?" Nearco respondeu: "Seus navios e seus homens estão em segurança e viemos informar o senhor disso". Alexandre chorou de alívio. Organizou outro festival do mesmo tipo e fez "sacrifícios pela salvação da frota a Zeus Salvador, a Héracles, a Apolo afastador do Mal, a Poseidon e a outros deuses do mar". Ele tinha razão em fazê-lo, pois assim como poderíamos dizer que a sorte estava a seu lado, ele sabia que os deuses o haviam salvado.

A frota também passara por maus bocados, que duraram do início de outubro até janeiro. Durante esse tempo, de acordo com as ordens de Alexandre, Nearco fez uma lista dos habitantes, ancoradouros, suprimentos de água e regiões férteis e estéreis da costa; essa informação serviu de base para um Guia do Marinheiro, aquilo que seria uma rota regular de comércio. Após a morte de Alexandre, Nearco publicou um relato das aventuras dele próprio e de suas tripulações, uma leitura excelente na versão abreviada por Arriano. Nesse relato, ele dá bem pouca atenção à ajuda do exército. Todavia, sem ela, não há dúvida de que a frota teria sido perdida ou teria voltado para trás por falta de alimento ou água.

Nearco deixara sua frota em Harmózia, próximo à entrada do Estreito de Ormuz. Continuou sua viagem de exploração, movendo-se principalmente de ilha para ilha, e conseguiu descansar e reabastecer na embocadura do Rio Sitaces (Mand), onde Alexandre deixara uma grande quantidade de grão. A partir dali, ele navegou para a embocadura do Eufrates, que Alexandre estabelecera como seu objetivo e voltou-se, então, para a embocadura do Pasitigris. Ele também registrou informações sobre essa parte da viagem em seu "Guia do Marinheiro". Encontrou então Alexandre em uma ponte sobre o Pasitigris em fevereiro de 324 a.C.. realizou-se um festival com sacrifícios pela segurança dos navios e homens e Alexandre colocou coroas de ouro na cabeça de Nearco por seus serviços à frota, e de Leonato, por sua vitória em Oreitis.

Era uma conclusão triunfante para uma operação em larga escala na qual as quatro divisões das forças de Alexandre haviam conquistado as províncias do sul e aberto a comunicação via mar entre a Índia e a Pérsia.





Batalha de Gaugamela
Guerras de Alexandre o Grande


Data 1 de outubro de 331 a.C.
Local Provavelmente Tel Gomel (Gaugamela) perto de Mossul
Resultado A vitória decisiva da Macedônia

Combatentes
Macedônia Pérsia
Comandantes
Alexandre, o Grande Dario
Forças
7000 cavaleiros
40 000 soldados 40 000 cavaleiros
200 000 soldados persas
6000 mercenários gregos
200 carruagens de guerra
Baixas
Desconhecidas Cerca de 90 000
A Batalha de Gaugamela (ou Batalha de Gaugamelos), travada em 331 a.C., foi uma batalha decisiva onde Alexandre III da Macedônia derrotou Dario III da Pérsia. A batalha também é erroneamente chamada de Batalha de Arbela.

Índice [esconder]
1 Após a tomada de Tiro
2 A travessia do Rio Tigre
3 A batalha
4 Bibliografia


[editar] Após a tomada de Tiro
Depois que Alexandre tomou e destruiu Tiro, ele decidiu a refundar com uma população fenícia e mantê-la em segurança por um comandante grego encarregado da região. Alexandre planejara com antecedência um esplêndido festival com sacrifícios a Héracles, competições de atletismo e de artes. Era a ocasião de celebrar a dominação do mar por Alexandre e os gregos. Os reis de Chipre equiparam e treinaram os coros para os jogos, vieram atores de Atenas e os juizes da competição dramática eram os principais generais macedônios. Quando um ator a quem Alexandre era devotado não obteve o primeiro prémio, ele disse que teria dado parte de seu reino para que fosse de outra forma, mas mesmo assim aceitou o veredicto. Comovia-se profundamente com a música da lira; quando um tocador favorito foi morto em batalha ao lado dele, dedicou em Delfos uma estátua de bronze do tocador com uma lira e uma lança nas mãos. O navio estatal de Atenas e provavelmente os de outros estados gregos vieram ao festival, tanto para cumprimentar Alexandre como para fazer suas solicitações.

Alexandre permaneceu na Fenícia e na Síria por pelo menos três meses. Durante esse tempo, as colheitas eram armazenadas e suprimentos eram depositados no caminho para duas pontes que havia mandado construir no Eufrates. Ele fez algumas mudanças no serviço administrativo. O sátrapa da Síria, por exemplo, foi substituído, porque havia deixado de coletar os suprimentos necessários. Os judeus da Samaria rebelaram-se e queimaram vivo o sátrapa daquela região. Alexandre executou os responsáveis, expulsou a população e fez de Samaria uma cidade mista, como Gerasa.

Ele provavelmente esperava que Dario trouxesse seu exército para a outra margem do Eufrates para uma batalha decisiva, caso em que os suprimentos de Alexandre estariam bem à mão. Quando ficou óbvio que Dario lutaria na Mesopotâmia, Alexandre decidiu avançar no final de julho de 331 a.C.. Mais ou menos na mesma época, Antípatro enviou da Macedônia os reforços que haviam sido pedidos e Alexandre ordenou que uma frota de navios de guerra macedônicos, gregos, cipriotas e fenícios navegasse em direção ao Peloponeso, onde se relatava um perigo de levantes em apoio a Esparta.

Do outro lado do Eufrates, um comandante persa, Mazeu, com 3 mil cavalarianos, 2 mil mercenários gregos e outros infantes, mantinha uma posição defensiva. Mas ante o avanço de Alexandre, ele se retirou para a principal estrada persa ao longo do Eufrates, provavelmente na esperança de que Alexandre o perseguiria e ficaria sem suprimentos. Alexandre terminou suas duas pontes, atravessou-as com suas tropas e trem de suprimentos e esperou alguns dias, talvez na tentativa de iludir Mazeu a respeito de suas intenções.

[editar] A travessia do Rio Tigre
Alexandre marchou então em direção ao norte, ao longo das montanhas armênias, para encontrar pasto para os cavalos, usar suprimentos locais e evitar o grande calor, pois tinha de alimentar cerca de 47 mil homens e talvez 20 mil cavalos e mulas. Os dois exércitos ficaram completamente sem contato um com o outro por aproximadamente seis semanas, durante as quais os macedônicos fizeram incursões pela Armênia. Alexandre foi o primeiro a capturar alguns opositores, que revelaram que o plano de Dario era dominar o rio Tigre. "Alexandre foi apressadamente para o Tigre"; cruzou suas águas caudalosas em um ponto sem defesas, pois estava em um ponto do rio bem mais alto do que Dario esperava. Enquanto o exército aguardava o trem de suprimentos, houve um eclipse lunar em 20 de setembro de 331 a.C. Alexandre restaurou a confiança sacrificando aos deuses que causam os eclipses — a Lua, o Sol e a Terra — e Aristandro anunciou que o eclipse pressagiava a vitória sobre a Pérsia no mês atual.

Movendo-se para o sul, em meio a regiões férteis, Alexandre capturou alguns cavaleiros persas e soube que Dario estava em posição de prontidão não muito longe dali. Fez uma pausa de quatro dias "para descansar seus homens", fortificou um acampamento base com um fosso e uma paliçada e colocou ali os doentes e os suprimentos.

Os batedores de Alexandre relataram que o exército de Dario estava a quilômetros de distância, do outro lado das montanhas baixas. Para evitar o calor, Alexandre partiu durante a noite com seu exército pronto para entrar em ação, cruzou as montanhas e, ao romper da aurora, mandou o exército parar ao ver o inimigo pronto para a batalha a cerca de cinco quilômetros de distância na planície. Ele já havia discutido seu avanço com alguns comandantes. Nesse momento, consultou todos eles. A maioria aconselhou-o a iniciar o combate imediatamente, mas "o conselho de Parménio prevaleceu": fazer um reconhecimento cuidadoso. Feito isso, Alexandre reuniu novamente seus comandantes, exortou-os a lutar "pelo domínio de toda a Ásia" e insistiu na importância de se obedecer às ordens imediatamente, com precisão e em silêncio. Montaram um acampamento para os animais de carga que traziam suprimentos, como cevada, para as montarias da cavalaria. O exército fez sua refeição noturna e as unidades dormiram na posição que assumiriam para a batalha. Por volta do meio-dia, Alexandre iniciou a marcha para a planície.

Dario reunira em suas unidades étnicas os melhores cavaleiros do império, da Capadócia ao Paquistão, e os Sacas de além da fronteira. Ele armara algumas unidades com lança e espada, mas a maioria lutaria da maneira tradicional, com arcos, dardos e cimitarras. "Dizia-se", escreveu Arriano, que eram em número de 40 mil. Havia 15 elefantes indianos, mas eles foram deixados no acampamento, provavelmente porque apenas os cavalos indianos eram treinados para lutar ao lado de elefantes. Sua infantaria de elite consistia em cerca de seis mil mercenários gregos e mil guardas persas. Outros soldados de infantaria apoiavam as unidades de cavalaria ou formavam uma reserva geral. O número mais baixo estimado para a infantaria é de 400 mil homens, sem dúvida um valor exagerado. Dario também tinha uma nova arma, "o carro com lâminas", que tinha lâminas em forma de navalha atadas às rodas, ao chassis e ao timão.

Ele calculava que um ataque de 200 desses carros, de dois e quatro cavalos, desmantelaria a formação da falange e exporia os piqueiros ao combate corpo-a-corpo, no qual o pique estorvaria mais do que ajudaria.

Dario foi o primeiro a atingir o campo de batalha que desejava, uma faixa plana de pasto e lavoura. Ele limpou três trilhas para os carros com lâminas e enterrou estrepes (cravos) em alguns lugares para mutilar os cavalos do inimigo. Ao saber que Alexandre deixara o acampamento base à noite (em 29 de setembro), Dario organizou seu exército para o combate e o manteve em armas para o caso de Alexandre atacar na alvorada ou logo após. O enorme exército permaneceu em posição de batalha por todo o dia 30 de setembro, pela a noite seguinte e até o meio-dia de 10 de outubro, enquanto o exército macedônico descansou um dia e dormiu uma noite no acampamento.

Em 12 de outubro, Dario estava preso a seu terreno preparado. O centro de sua linha consistia, da frente à retaguarda, em 50 carros com lâminas; quatro unidades étnicas (duas de cavalaria, duas provavelmente de infantaria); a guarda da cavalaria real; Dario em seu carro, flanqueado por toda a cavalaria de elite; e finalmente, uma segunda linha de infantaria. O lado direito de sua linha, na mesma ordem, começava com 50 carros com lâminas, seguidos por nove unidades étnicas de cavalaria, algumas apoiadas por infantes de sua raça e, no fundo, parte de uma segunda linha de infantaria. Na extrema direita, havia um grupo avançado de suas unidades étnicas de cavalaria. O lado direito da linha tinha cem carros com lâminas; cinco unidades étnicas de cavalaria com infantaria de apoio de sua própria raça; e na extrema direita, um grupo avançado de duas unidades étnicas de cavalaria (bactrianos e citas). A segunda linha de infantaria no fundo apoiava apenas uma unidade étnica de cavalaria. Dario esperava que Alexandre fizesse um ataque frontal com uma linha paralela à dele, como em Isso; que o ataque dos carros desmantelasse a falange de infantaria; e que o número muito superior de sua excelente cavalaria não apenas flanqueasse a linha mais curta de Alexandre como também atacasse pelas brechas abertas pelos carros com lâminas. Era um bom plano, mas apenas se Alexandre fizesse seu ataque de acordo com as esperanças de Dario.

[editar] A batalha

Disposição inicial e início dos movimentosO exército de Alexandre moveu-se na planície com perfeita precisão, como em um terreno de parada. No início, a linha era paralela à de Dario e avançava de frente para a direita e parte do centro persa, mas em um momento predeterminado a linha fazia uma inclinação para a direita e avançava em direção à linha de frente direita em formação oblíqua, a ala direita avançada e a esquerda retardada. Dario viu que o exército de Alexandre movia-se agora para longe da trilha preparada para os carros. Ordenou portanto aos bactrianos e citas que atacassem o flanco direito de Alexandre e interrompessem o movimento. Mas Alexandre contra-atacou com esquadrão após esquadrão, todos em formação em cunha, e nesse meio-tempo continuava a avançar sua vanguarda direita. Dario mandou seus carros com lâminas ao ataque antes que fosse tarde demais. Mas eles se mostraram ineficazes, pois, de acordo com as ordens que receberam, os macedônios abriram as fileiras para deixá-los passar; os lançadores de dardos agriães e os trácios atingiram condutores e cavalos com seus dardos e as tropas fizeram um tremendo barulho que assustou os cavalos dos carros, fazendo-os sair da rota.

Nesse momento, a disposição das forças de Alexandre tornou-se importante. À frente e no flanco de sua direita avançada, ele tinha os agriães, os lançadores de dardos trácios, os arqueiros macedônicos e "a infantaria mercenária grega veterana" — alguns deles lidavam com os carros com lâminas — e esquadrões de cavalaria, sendo a cavalaria dos mercenários gregos, os peônios e os lanceiros — estes fizeram o contra-ataque da forma que vimos. A linha contínua consistia, da direita para a esquerda, em Alexandre à frente dos esquadrões dos cavalarianos acompanhantes, a Guarda Hipaspista, os outros hipaspistas, as seis brigadas de falangistas e a cavalaria grega, cuja ala era dominada pêlos tessalianos. À esquerda, havia uma guarda de flanco que consistia na cavalaria mercenária grega à frente; em seguida, alguns cavaleiros gregos, a cavalaria odrisiana e a trácia; e para apoiá-las, lançadores de dardos e arqueiros cretenses. Por trás da falange principal, marchava uma segunda falange com o mesmo comprimento, consistindo na infantaria mercenária grega, na infantaria ilíria e na infantaria trácia. Essa segunda falange deveria fazer meia-volta caso a cavalaria persa viesse pela retaguarda.

Enquanto os carros com lâminas faziam seu ataque, Dario ordenou um avanço geral e, ao mesmo tempo, enviou alguns cavalarianos persas para apoiar os bactrianos e citas derrotados. Alexandre ordenou que a última unidade de sua guarda de flanco, os 600 lanceiros, atacassem a cavalaria persa no ponto em que ela saía da linha principal. Quando os lanceiros atacaram e criaram uma brecha, Alexandre girou sua linha 90 graus para a esquerda, formou ali uma "cunha dos cavaleiros acompanhantes e da infantaria" (hipaspistas), carregou com um retumbante grito de batalha através da brecha e girou para a esquerda, "na direção do próprio Dario". Na feroz luta, as longas lanças dos cavaleiros acompanhantes e os piques em riste dos hipaspistas levaram a melhor e, quando se aproximaram, Dario entrou em pânico e fugiu. O impetuoso ataque da cunha de Alexandre havia sido feito no momento em que a cavalaria da direita persa estava obrigando o lado esquerdo da falange macedônica a parar. Uma brecha inevitavelmente surgiu entre esse lado da falange e as brigadas que avançavam alinhadas com a cunha de Alexandre.


O ataque decisivo de AlexandresA brecha foi explorada pela cavalaria indiana e persa. Mas, em vez de voltar e atacar, cavalgaram até o acampamento guardado apenas por uma pequena força de trácios. Parte da segunda linha da falange que parara fez meia-volta "conforme lhe foi ordenado" e derrotou o inimigo no acampamento. Mas toda a ala esquerda, que estava sob o comando de Parmênio, era duramente pressionada por ataques vindos de todos os lados. Um pedido de ajuda chegou a Alexandre. Embora ele deva ter ficado tentado a perseguir Dario, que fugira, virou os esquadrões da cavalaria acompanhante para a esquerda e abriu caminho através da cavalaria do centro direito persa, que se encontrou com ele de frente, em formação. Sessenta acompanhantes caíram. "Mas Alexandre derrotou esses inimigos também." Estava prestes a atacar a cavalaria da extrema direita, quando ela se desmantelou e fugiu sob os brilhantes ataques dos esquadrões tessalianos. Todo o imenso exército estava agora em fuga.

Alexandre e os acompanhantes encabeçaram a perseguição, seguidos pelas tropas de Parménio. O objetivo era derrubar a moral da cavalaria inimiga. Ao escurecer, Alexandre acampou até a meia-noite. Nesse meio tempo, Parmênio capturava o acampamento persa. Em seguida, Alexandre prosseguiu com a perseguição até Arbela, onde capturou o tesouro e as posses de Dario. A perseguição de mais de 110 quilômetros custou a vida de cem homens e mil cavalos, mas as baixas do inimigo asseguravam que Dario nunca mais reuniria um exército imperial. Em Arbela, Alexandre fez sacrifícios de agradecimento aos deuses e distribuiu recompensas. Foi aclamado "rei da Ásia" pelos macedônicos, que no calor da vitória se comprometeram a conquistar toda a Ásia para seu rei. Ele próprio proclamou seu triunfo em uma oferenda para a Atena Lindia, de Rodes, com suas próprias palavras: "O rei Alexandre, tendo dominado Dario em batalha e tornado-se o senhor da Ásia, fez sacrifício a Atena de Lindus de acordo com um oráculo". Ele via a derrota da Pérsia como uma preliminar para a conquista de toda a Ásia.





Cerco de Tiro

Guerras de Alexandre o Grande


Data 332 a.C.
Local Tiro
Resultado Vitória da Macedônia

Combatentes
Macedônia Tiro
Comandantes
Alexandre o Grande
Baixas
400 8000
Em 332 a.C., Alexandre, o Grande tentou conquistar Tiro, uma base estratégica costeira na guerra entre os gregos e os persas. Como não conseguiu invadir a cidade, cercou Tiro durante sete meses, mas Tiro resistiu. Alexandre usou os destroços da cidade abandonada do continente para construir uma ponte, e, quando chegou suficientemente próximo das muralhas, usou as suas máquinas de cerco para atingir e eventualmente abrir brechas nas fortificações. Consta que Alexandre ficou de tal forma furioso com a resistência dos habitantes de Tiro e com a perda dos seus homens que destruiu meia cidade. De acordo com Arriano, Tiro teve cerca de 8000 baixas enquanto que os macedónios perderam 400 guerreiros. Alexandre concedeu o perdão ao rei e família, e os 30.000 residentes e estrangeiros foram feitos escravos.




O prólogo
O sucesso da propaganda de Alexandre ficava mais aparente conforme ele avançava pela costa. Os que governavam Arado, Biblos e Sídon aceitaram o domínio de Alexandre sobre eles e seus domínios. Portanto, eles e seus sucessores emitiram apenas as moedas do rei da Ásia com um monograma do governante ou da cidade em aramaico. Enviados de Tiro encontraram-no em sua marcha e informaram a decisão dos tirenses "de fazer o que quer que Alexandre ordenasse". Alexandre expressou sua aprovação e disse desejar entrar em Tiro e sacrificar a Héracles (cultuado como "Melkart" pelos tirenses). Estes responderam que obedeceriam aos outros comandos de Alexandre, mas que não admitiriam quaisquer persas ou macedônicos em sua cidade. A solicitação de Alexandre fora o ácido teste da submissão de Tiro, feita deliberadamente porque esta era a principal potência marítima na Fenícia e sua flotilha, a mais forte da frota de Farnabazo. Os tirenses consideravam impenetrável sua cidade fortificada na ilha; sua frota trazia suprimentos e eles esperavam ter a ajuda de Cartago. Alexandre convocou um encontro de companheiros comandantes e fez um discurso do qual Arriano dá sua própria versão, derivada de Ptolomeu, que lera o relatório sobre esse discurso no Diário.

[editar] A estratégia de Alexandre
Os argumentos de Alexandre tratavam de estratégia. Avançar pela Mesopotâmia perseguindo Dario e deixar a frota persa no mar, tendo como bases Tiro, Chipre e o Egito, seria um ato de loucura, pois essa frota com reforços, com a colaboração de Esparta e com Atenas indecisa "transferiria a guerra para a Grécia", em vez de recapturar portos na costa do Mediterrâneo. Também não seria sensato avançar em direção ao Egito com a frota e Tiro ameaçando as linhas de comunicação. Portanto, era essencial capturá-la antes de tudo. Os resultados disso seriam a desintegração da frota persa por meio do desafeto fenício e da mudança de lado de Chipre, fosse de boa ou má vontade; uma invasão relativamente fácil do Egito; e uma completa talassocracia do Mediterrâneo oriental, com a frota macedônica comandando o apoio das marinhas fenícia, cipriota e egípcia.

Os companheiros e comandantes convenceram-se. Alexandre estava ainda mais confiante porque naquela noite sonhou que Héracles o guiava até Tiro. A interpretação que Aristandro deu ao sonho foi que Alexandre teria sucesso, mas apenas após um esforço hercúleo.

[editar] O cerco

O cerco de TiroO cerco começou em janeiro de 332 a.C. e terminou em julho. Ambos os lados demonstraram imenso heroísmo e engenhosidade. Durante a primeira fase, Alexandre trabalhou com seus homens e recompensou seus esforços com presentes quando construíam um aterro com cerca de um quilômetro na baía, que neste ponto tinha no máximo dois metros de profundidade[1]. Quando a extremidade do aterro ficou ao alcance dos muros da cidade, que tinham 150 pés, catapultas e arqueiros tirenses nos parapeitos e em trirremes infligiram baixas e interromperam o trabalho. Alexandre construiu então torres de duas rodas, com 150 pés de altura, moveu-as até a extremidade do aterro e atacou o inimigo sobre as muralhas e nos trirremes com tiros de catapulta, enquanto os trabalhos para a extensão do aterro continuavam. Mas os tirenses responderam com um enorme brulote, que foi empurrado em direção ao aterro e incendiado com o vento favorável, queimando todas as torres, enquanto tropas de apoio desembarcavam e punham fogo em todo o equipamento de sítio. Alexandre ordenou que seus homens fizessem o aterro mais largo e que seus engenheiros, encabeçados por um Díades tessaliano, construíssem mais equipamentos de sítio e torres. Partiu então para reunir tantos trirremes quanto possível, "já que a condução do cerco parecia mais impraticável enquanto os tirenses controlassem o mar".

A situação no mar alterava-se radicalmente. No outono de 333, a frota persa havia dominado o Egeu com bases em Halicarnasso, Cos e Quíos; mantinha posições avançadas em Sifno e Andros e chegara mesmo a estabelecer uma base em Galípoli, no Helesponto. Parecia o momento perfeito para que os estados dissidentes do continente grego se unissem à Pérsia. Farnabazo trouxe sua melhor flotilha de cem trirremes até Sifno. Mas o único que se juntou a ele foi Agis, rei de Esparta, com um único trirreme, pedindo homens, dinheiro e navios para promover um levante no Peloponeso. Durante sua discussão, chegaram notícias de que Dario havia sido fragorosamente derrotado em Isso (em novembro). Farnabazo deu meia-volta para cuidar de um possível levante em Quíos. Agis recebeu 30 talentos de prata e dez trirremes, mas preferiu não agir no Peloponeso, mas em Creta. No Helesponto, uma frota macedônica e uma flotilha da frota grega capturaram Galípoli e destruíram a força persa de lá, provavelmente em dezembro. As operações foram suspensas pelo resto do inverno, mas chegaram notícias às tropas fenícia e cipriota de que suas cidades, exceto Tiro, estavam nas mãos de Alexandre e sendo tratadas com liberalidade. Com o início da estação de navegação, a frota persa começou a desintegrar. Na metade do verão de 332, cerca de 80 navios de guerra fenícios e 120 navios de guerra cipriotas submeteram-se a Alexandre, que adotara a atitude "o que passou, passou".

Assim, Alexandre conseguiu reunir uma grande frota em Sídon, que incluía dez trirremes para Rodes e dez para a Lícia. Enquanto a frota era equipada para a ação, ele fez campanhas no continente até o Antilíbano, para salvaguardar o suprimento de madeira de lei do monte Líbano. Iniciou então a segunda fase do cerco de Tiro trazendo sua frota e confinando os navios tirenses a seus portos, pois os cipriotas e fenícios, que haviam sofrido nas mãos de Tiro, estavam dispostos a buscar vingança. Fizeram-se grandes esforços para romper o muro que ficava de frente para o novo passadiço, mas os tirenses haviam atirado pedras no mar, no pé do muro, e por isso os navios de Alexandre não conseguiam chegar às muralhas. Essas pedras acabaram por ser arrastadas de lá e navios carregados de aparelhos de sítio atacaram a muralha. Os tirenses fizeram uma investida bem-sucedida contra a frota cipriota em um dos ancoradouros, mas Alexandre interceptou os navios troianos e destruiu a maior parte deles. Com controle completo sobre o mar, Alexandre testava diversas partes da muralha e planejava um assalto para um dia de calmaria.





Tiro é pilhada

Ação naval durante o sítio. Desenho de André Castaigne, 1888-1889.Três ataques foram feitos no mesmo momento. Os fenícios romperam os botalós que bloqueavam um dos ancoradouros e destruíram os navios tirenses. Os cipriotas capturaram outro ancoradouro e forçaram a entrada na cidade. Os macedônicos trouxeram navios carregados de máquinas de sítio e torres, rompendo o muro. Esses navios foram substituídos por navios que traziam os hipaspistas e uma brigada da falange, passadiços foram baixados no muro caído e o assalto começou. O primeiro homem a desembarcar, Admeto, foi morto, e depois dele, Alexandre e seus companheiros empurraram o inimigo para trás e abriram uma área de desembarque, a partir da qual entravam na própria cidade. Ali, os tirenses que haviam batido em retirada sob o ataque dos cipriotas reuniram-se às outras tropas e enfrentaram os macedônicos, mas em vão, pois estavam cercados por todos os lados. "Os macedônicos não impuseram barreiras à sua ira; estavam enraivecidos com a duração do cerco e com a matança dos macedônicos que haviam sido feitos prisioneiros pelos tirenses, que além disso atiraram os cadáveres no mar diante do acampamento macedônico." Estima-se que 8 mil tirenses tenham sido mortos durante o cerco e, dentre os sobreviventes, 30 mil foram vendidos como escravos, enquanto outros foram tirados de lá clandestinamente pelos fenícios. O rei de Tiro, seus nobres e alguns cartaginenses enviados para uma missão sagrada foram perdoados como suplicantes no altar de Héracles. Os macedônicos mortos foram estimados em cerca de 400 por Arriano; os feridos provavelmente passavam de 3 mil.

Alexandre prestou então honras a Héracles. O exército desfilou em armas, a frota reuniu-se para inspeção e seguiram-se jogos e uma corrida de tocha dentro da raia de Héracles. Os aparelhos de sítio e os navios sagrados tirenses foram dedicados a Héracles por Alexandre. Assim, confirmava-se a interpretação dada por Aristandro ao sonho de Alexandre e justificava-se a fé de Alexandre nessa interpretação e nas boas graças de Héracles.

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