terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CRÍTIAS + DEMÓCRITO DE ABDERA+ DIOGENES DE APOLÓNIA







Diógenes de Apolônia

Diógenes de Apolónia (português europeu) ou Apolônia (português brasileiro) (viveu no século V a.C. - 499 a.C. – 428 a.C ) foi um filósofo grego. Praticamente nada se sabe sobre sua vida, apenas que seu pai era um banqueiro e que ele foi exilado de sua cidade natal por falsificar moedas, na verdade fugiu antes mesmo de ser exilado. Foi contemporâneo de Anaxágoras de Clazômenas e pode ser considerado o último filósofo pré-socrático. Do ponto de vista doutrinário, sua filosofia é uma espécie de retorno ao modo de pensar jônio. Diógenes assumiu um único princípio primordial - o ar - e pretendeu explicar os mais variados fenômenos a partir dele. Ao mesmo tempo, também encontrou espaço para o nous de Anaxágoras em seu sitema filosófico e isso revela um caráter eclético em seu pensamento.

Sabe-se que escreveu uma Meteorologia, um livro chamado Da natureza do homem e outro chamado Sobre a ciência natural. Todos os fragmentos que chegaram até nós derivam desta última obra.




Diógenes de Apolônia (499 - 428 a.C )


È considerado o último dos filósofos pré-socráticos, defende o monismo, ou seja, a unidade da realidade como um todo porque se o mundo tiver origens em diversos elementos que sejam diferentes entre si eles não poderiam se misturar e atuar uns sobre os outros. As coisas devem se originar através da transformação de um mesmo elemento. Para Diógenes esse elemento é o que ele chama de ar infinito que é um elemento inteligente. Esse ar inteligente administra e governa tudo e se assemelha com Deus pois está em todas as partes, utiliza-se de todas as coisas e está dentro de tudo.

Não existe nada que não tome parte desse ar inteligente e nenhuma coisa participa dele na mesma medida que outra coisa. Existem muitas formas desse ar e dessa inteligência. Ele pode ser mais quente ou mais frio, mais seco ou mais úmido, mais parado ou mais em movimento. Ele pode também se modificar infinitamente através dos prazeres e das cores.

As almas de todos os animais são feitas da mesma coisa, um ar mais quente do que aquele fora de nós mas mais frio do que aquele que está perto do sol. O que difere os animais é o calor das almas que é um pouco diferente em cada um, umas são mais quentes e outras mais frias, mas todos vivem, ouvem e vêem por resultado do elemento ar e da sua inteligência.

A nossa alma é um ar pensante que enquanto vivemos e respiramos se manifesta, mas quando o último ar sai de nós através do último suspiro, morremos.

Diógenes vai explicar os mais diferentes fenômenos a partir desse ar infinito e consciente. O ar se condensa, se rarefaz e sofre mutações de qualidade, produzindo as outras coisas em suas formas. Ele escolhe o ar como fundamento pois esse se adapta bem às mudanças o que não acontece com a terra que dificilmente se move ou muda.

Sentenças:
- A terra é redonda, está ao centro, suportada pelo ar. O sol é uma espécie de pedra pomes.
- Nada procede do não ser, e nada se resolve no não-ser.
- Me parece, que todos os entes são diversificações de um só e são um só.
- E isto é bem claro: porque, se os que agora existem neste mundo, - a terra, a água, o ar, o fogo e todos os mais que aparecem neste mundo, - fosse cada um diferente do outro, diferente por sua própria substância, e não um mesmo ente que de muitas maneiras muda e se diversifica, de nenhum modo poderiam eles misturar-se uns com os outros, nem ajudar-se ou prejudicar-se entre si.
Não poderia a planta surgir da terra, nem o animal, nem outra coisa poderia nascer, se não estivessem de tal modo constituídos que fossem o mesmo.
Todos estes entes, uma vez que se diversificam a partir de um só, se tornam diferentes em circunstancias diversas e retornam ao mesmo.
- Para quem começa um discurso é necessário que exiba um começo sem disputas e uma explanação simples e sóbria.
- O ar é o princípio de todas as coisas. Existem mundo infinitos e infinito é também o espaço. O ar produz os mundos ao condensar-se e rarefazer-se. Nada procede do não ser, e nada se resolve no não-ser.



Diógenes de Apolônia, o físico
(Filósofo pré-socrático e médico )
~ 490 - 425 a.C.




Filósofo pré-socrático e médico nascido em Apolônia, cidade fundada pelos milésios na região do Ponto, atual noreste da Turquía, a qual não deve ser confundida com outra cidade cretense de mesmo nome, conhecido por suas teorias ecléticas e, portanto, fundador do ecletismo. De sua vida quase nada se sabe, porém Diógenes Laércio (240-310) afirmou que ele foi contemporâneo de Anaxágoras (499-428 a. C.) e dos sofistas. Escreveu um livro intitulado Sobre a Natureza e, além deste, mais três escritos, ao que se tem notícia: Contra os Sofistas, Meteorologia e Da Natureza do Homem. Segundo comentadores antigos, teria sido médico, interessando-se em investigar, em seus escritos, questões relativas à anatomia humana, e também teria se dedicado às causas das doenças, tanto quanto às questões de caráter filosófico. Do todo de seus escritos, chegaram até hoje apenas fragmentos, conservados sob forma de citação ou comentário (doxografia) em obras de pensadores posteriores. Diógenes é considerado, quanto a seu pensamento, um continuador da escola milésia, embora incorpore elementos da filosofia de Anaxágoras (499-428 a. C.), com quem teria estudado. Provavelmente morreu em Atenas e juntamente com Demócrito de Abdera (460-370 a. C.) , encerraram o denominado período pré-socrático. Seu pensamento tinha como princípio que o ar era a fonte de vida para todos os entes animados. E onde há vida, há também pensamento, pois, assim que algo morre, seu pensamento prontamente se apaga. Se tudo é composto de ar, através de sua condensação e rarefação todas as coisas poderiam ser geradas ou destruídas, então a ele caberia, também, ser considerado como uma divindade. O ar figurava, desta forma, como o princípio único, eterno e ilimitado para todas as coisas, uma vez que sempre esteve e está em toda parte. Não confundir com Diógenes de Sínope, o cínico (413-323 a. C.).






suas Teorias
Demócrito fez uma tentativa bem independente de reconstrução. Como Sócrates, seu contemporâneo, defrontou-se com as dificuldades referentes ao conhecimento, levantadas pelo seu concidadão Protágoras e outros, e, da mesma forma que ele, deu grande atenção ao problema do comportamento, ao qual também os sofistas deram impulsos. Ao contrário de Sócrates, porém, ele era um autor volumoso, e nós ainda podemos constatar, através dos scus fragmentos, que era um dos maiores escritores da Antigüidade. Para nos, contudo, é como se não tivesse escrito quase nada; de fato, sabemos menos a seu respeito do que de Sócrates. Isto deve-se ao fato de ele ter escrito em Abdera, e as suas obras na realidade nunca foram bem conhecidas em Atenas, onde teriam tido a possibilidade de serem preservadas, como aquelas de Anaxágoras e outrem, na biblioteca da Academia. Não é certo que Platão haja conhecido alguma coisa sobre Demócrito, pois que as poucas passagens no Timeu e alhures, no qual parece que o reproduz, são facilmente explicadas pelas influências pitagóricas que afetaram a ambos. Aristóteles, por outro lado, conhece bem Demócrito, pois era também jônio do Norte.

É certo, não obstante, que as obras completas de Demócrito (que incluem as obras de Leucipo e outros, bem como as de Demócrito) continuaram a existir, porquanto a escola as conservou em Abdera e Teos ao longo dos tempos helenísticos. Por isso, foi possível para Trasilo, sob o reinado de Tibério, fazer uma edição das obras de Demócrito, organizada em tetralogias, exatamente como sua edição dos diálogos de Platão. Mesmo isso não foi suficiente para preservá-las. Os epicuristas, que tinham a obrigação de ter estudado o homem a quem deviam tanto, detestavam qualquer tipo de estudo, e provavelmente nem se preocuparam em multiplicar os exemplares de um escritor cujas obras teriam sido um testemunho permanente para a carência de originalidade que caracterizou o próprio sistema deles.

Sabemos extremamente pouco sobre a vida de Demócrito. Como Protágoras, era natural de Abdera na Trácia, uma cidade que nem mereceria a reputação proverbial de embotamento, considerando que pode dar origem a dois homens de tanta envergadura. Quanto à data do seu nascimento, temos apenas conjeturas para nos orientar. Em uma das principais obras, afirmou que elas foram escritas 730 anos após a queda de Tróia; não sabemos; porém, quando, segundo a suposição dele, isto ocorrera. Havia nessa época e posteriormente diversas eras em uso. Disse também algures que, quando Anaxágoras era velho, ele era jovem, e a partir dai concluiu-se que nasceu em 460 a.C. Parece, entretanto, cedo demais, visto estar baseado na hipótese de que tinha quarenta anos quando se encontrou com Anaxágoras, e a expressão "jovem" sugere menos que esta idade. Demais, cumpre-nos encontrar um espaço para Leucipo entre eles [Demócrito] e Zenão. Se Demócrito morreu, como se diz, com a idade de noventa ou cem anos, de qualquer maneira ainda vivia quando Platão fundara a Academia. Mesmo a partir de fundamentos meramente cronológicos, é falso classificar Demócrito entre os predecessores de Sócrates, e obscurece o fato de que, como Sócrates, ele tentou responder ao seu distinto concidadão Protágoras.

Demócrito foi discípulo de Leucipo, e temos uma prova contemporânea, a de Glauco de Régio, que também os pitagóricos foram seus mestres. Um membro posterior da escola, Apolodoro de Quizico, diz que tomou conhecimento por intermédio de Filolau, o que parece muito provável. Isto esclarece o seu conhecimento geométrico, bem como, outros aspectos do seu sistema. Sabemos, outrossim, que Demócrito falou nas obras das doutrinas de Parmênides e Zenão, que chegou a conhecê-las através de Leucipo. Fez menção a Anaxágoras, e parece ter dito que a sua teoria do sol e da lua não era original. Isto pode referir se à explicação dos eclipses, que geralmente fora atribuída em Atenas, e sem dúvida alguma na Jonia, a Anaxágoras, ainda que Demócrito naturalmente estivesse ciente de ser ela pitagórica.

Diz-se ter visitado o Egito, mas há uma certa razão para se acreditar que o fragmento onde isto é mencionado (fragmento 298 b) é apócrifo. Há um outro (fragmento 116) no qual ele diz: "Eu fui a Atenas e ninguém tomou conhecimento de mim". Se disse isto, sem dúvida deu a entender que não conseguira causar uma impressão tal como o fizera o seu mais brilhante concidadão Protágoras. Por outro lado, Demétrio de Falerão afirmou que Demócrito jamais visitou Atenas; então é possível que este fragmento também seja apócrifo. Seja como for, ele deve ter despendido a maior parte do seu tempo no estudo, ensinando e escrevendo em Abdera. Não era um sofista itinerante do tipo moderno, mas sim o cabeça de uma escola regular.

A verdadeira grandeza de Demócrito não está na teoria dos átomos e do vazio, que ele parece ter exposto bem conforme a tinha recebido de Leucipo. Menos ainda está no seu sistema cosmológico, que deriva mormente de Anaxágoras. Pertence inteiramente a uma outra geração que a desses homens, e não está preocupado de modo especial em encontrar uma resposta a Parmênides. A questão à qual tinha que se dedicar era a de sua própria época. A possibilidade de ciência havia sido negada, bem como todo o problema do conhecimento levantado por Protágoras, e era isto que exigia uma solução. Ademais, o problema do comportamento tornara-se premente. A originalidade de Demócrito, portanto, está precisamente na mesma linha que a de Sócrates.

Teoria do Conhecimento
Demócrito procedeu como Leucipo ao fazer uma avaliação puramente mecânica da sensação, e é provável que ele seja o autor da doutrina minuciosa dos átomos com respeito a este assunto. Uma vez que a alma se compõe de átomos como qualquer outra coisa, a sensação deve consistir no impacto dos átomos externos sobre os átomos da alma, e os órgãos dos sentidos devem ser simplesmente ''passagens" (póroi = poros) através das quais estes átomos se introduzem. Disto decorre que os objetos da visão não são estritamente as coisas que nós mesmos presumimos ver, mas as "imagens" (deíkela, eídola) que os corpos estão constantemente emitindo. A imagem na pupila do olho era considerada como a coisa essencial em visão. Não é, porém, uma semelhança exata do corpo do qual provém, pois está sujeita às distorções causadas pela interferência do ar. Este é o motivo por que vemos as coisas a distância de um modo embaraçado e indistinto, e por que, se a distância for grande, não podemos vê-las de modo algum. Se não houvesse ar, mas somente o vazio, entre nós e os objetos da visão, isto não seria assim; "poderíamos ver uma formiga rastejando no firmamento". As diferenças de cor devem-se à lisura ou aspereza das imagens ao tato. A audição explica-se de uma maneira similar. O som é uma torrente de átomos que jorram do corpo sonante e produzem movimento no ar entre ele [corpo] e o ouvido. Chegou, portanto, ao ouvido junto com aquelas porções do ar que se Ihe assemelham. As diferenças de paladar são devidas às diferenças nas figuras (eide, skhémata) dos átomos que entram em contato com os órgãos desse sentido; e o olfato explica-se semelhantemente, embora não com os mesmos detalhes. De modo idêntico, o tato, considerado como o sentido pelo qual sentimos o calor e o frio, o molhado e o seco e outros que tais, é afetado de acordo com a forma e o tamanho dos átomos chocando nele.

Aristóteles afirma que Demócrito reduziu todos os sentidos ao tato, e é realmente verdade se entendermos por tato o sentido que percebe qualidades, tais como forma, tamanho e peso. Este, todavia, deve ser cautelosamente distinguido do sentido próprio do tato, que acima foi descrito. Para compreender esta questão, temos que considerar a doutrina do conhecimento "legítimo" e "ilegítimo".

É aqui que Demócrito entra nitidamente em conflito com Protágoras, que asseverou serem todas as sensações igualmente verdadeiras para o objeto sensível. Demócrito, pelo contrário, considera falsas todas as sensações dos sentidos próprios, posto que elas não têm uma contrapartida real fora do objeto sensível. Nisto, naturalmente, está em conformidade com a tradição eleática onde repousa a teoria atômica. Parmênides afirmara claramente que o paladar, as cores, o som e outros semelhantes eram apenas "nomes" (onómata), e é bastante idêntico a Leucipo que disse algo de parecido, apesar de não haver razão de se acreditar que ele tenha elaborado uma teoria sobre o assunto. Seguindo o exemplo de Protágoras, Demócrito foi obrigado a ser explícito com referência à questão. Sua doutrina, felizmente, foi-nos preservada através de suas próprias palavras. "Por convenção (nómo)": disse ele (fragmento 125), "há o doce; por convenção há o amargo; por convenção há o quente e por convenção há o frio; por convenção há a cor".Porém, na realidade (etee), há os átomos e o vazio. Deveras, as nossas sensações não representam nada de externo, apesar de serem causadas por algo fora de nós, cuja verdadeira natureza não pode ser apreendida pelos sentidos próprios. Esta é a razão por que a mesma coisa às vezes dá a sensação de doce e às vezes de amargo. "Pelos sentidos", afirmou Demócrito (fragmento 9), "nós na verdade não conhecemos nada de certo, mas somente alguma coisa que muda de acordo com a disposição do corpo e das coisas que nele penetram ou Ihe opõem resistência". Não podemos conhecer a realidade deste modo, pois "a verdade jaz num abismo" (fragmento 117). Vê-se que esta doutrina tem muito em comum com a distinção moderna entre as qualidades primárias e secundárias da matéria.

Demócrito, pois, rejeita a sensação como fonte de conhecimento, exatamente como fizeram os pitagóricos e Sócrates; contudo, como eles, ressalva a possibilidade de ciência, afirmando que existe uma outra fonte de conhecimento que não a dos sentidos próprios. "Há", diz ele (fragmento 11), "duas formas de conhecimento (gnóme): o legítimo (gnesíe) e o ilegítimo (skotíe). Ao ilegítimo pertencem todos estes: a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato. O legítimo, porém, está separado daquele". Esta é a resposta de Demócrito a Protágoras. Ele diz que o mel, por exemplo, é tanto amargo quanto doce, doce para mim e amargo para você. Na realidade, é "não mais tal do que tal" (oudèn mãllon toion è toion). Sexto Empírico e Plutarco afirmaram claramente que Demócrito argüiu contra Protágoras, e o fato, por conseguinte, está fora da discussão.

Ao mesmo tempo, não se pode ignorar que Demócrito dera uma explicação puramente mecânica deste conhecimento legítimo, como o fizera do ilegítimo. Defendeu, com efeito, que os átomos fora de nós poderiam afetar diretamente os átomos da nossa alma sem a intervenção dos órgãos dos sentidos. Os átomos da alma não se restringem a algumas partes específicas do corpo, mas nele penetram em qualquer direção, e não há nada que os impeça de ter contato imediato com os átomos externos, chegando assim a conhecê-los como realmente são. O "conhecimento legítimo" é, afinal de contas, da mesma natureza do "ilegítimo", e Demócrito recusou-se, como Sócrates, a fazer uma separação absoluta entre os sentidos e o conhecimento. "Pobre Mente", imagina ele os sentidos dizerem (fragmento 125); "é por causa de nós que conseguiste as provas com as quais atiras contra nós. Teu tiro é uma capitulação." O conhecimento "legítimo" não é, apesar de tudo, pensamento, mas uma espécie de sentido interno, e seus objetos são como os "sensíveis comuns" de Aristóteles.

Como seria de esperar de um seguidor dos pitagóricos e de Zenão, Demócrito ocupou-se com o problema da continuidade. Em uma passagem digna de nota (fragmento 155), ele o confirma desta forma: "Se um cone fosse cortado por um plano em linha paralela à base, o que se deveria pensar das superfícies das duas partes cortadas? Seriam iguais ou desiguais? Se forem desiguais, farão irregular o cone, pois ele terá muitas incisões em forma de degraus e muitas asperezas. Se forem iguais, então as partes cortadas serão iguais, e o cone terá a aparência de um cilindro, que é composto de círculos iguais e não desiguais, o que é o maior absurdo". Segundo um comentário de Arquimedes, parece que Demócrito prosseguiu afirmando que o volume do cone era a terça parte do volume do cilindro sobre a mesma base e do mesmo peso, cujo teorema foi demonstrado primeiro por Eudoxo. É evidente, pois, que ele estava empenhado em problemas tais como aqueles que finalmente deram origem ao método infinitesimal do próprio Arquimedes. Vemos mais uma vez como foi importante a obra de Zenão como um fermento intelectual.

Teoria do Comportamento
As concepções de Demócrito sobre o comportamento seriam até mais interessantes do que a sua teoria do conhecimento, se pudéssemos restabelecê-las integralmente. É muito difícil, porém, ter certeza sobre quais dos preceitos morais a ele atribuídos são genuínos. Não há dúvida de que o tratado Sobre a Boa Disposição ou Bem-Estar (Perí Euthymíes) era seu. Foi utilizado livremente por Sêneca e Plutarco, e alguns fragmentos importantes do tratado sobreviveram.

[O tratado] partia (fragmento 4) do princípio de que o prazer e a dor (térpsis e aterpsíe) são o que determina a felicidade. Isto quer dizer fundamentalmente que a felicidade não deve ser procurada nos bens exteriores. "A felicidade não reside em rebanhos, nem em ouro; a alma é a moradia do daímon" (fragmento 171). Para compreender isto, devemos lembrar que a palavra daímon, que significava propriamente um espírito protetor do homem, tem sido usada no sentido equivalente de "boa sorte". É, como foi dito, o aspecto individual de týkhe, e a palavra grega que traduzimos por "felicidade" (eudaimonía) baseia-se neste uso. De um lado, pois, a doutrina da felicidade ensinada por Demócrito é intimamente afim com a de Sócrates, embora dê mais ênfase ao prazer e à dor. "O melhor para o homem é levar a vida com o máximo de alegria e o mínimo de aborrecimentos" (fragmento 189).

Isto não é, porém, hedonismo vulgar. Os prazeres dos sentidos são prazeres verdadeiros tão breves como as sensações são verdadeiro conhecimento. "O bom e o verdadeiro são a mesma coisa para todos os homens, mas o agradável é diferente para gente diferente" (fragmento 69). Além disso, os prazeres dos sentidos são de duração demasiado curta para preencher uma vida, e facilmente se transformam ao contrário. Nós somente podemos ter certeza de superar a dor pelo prazer se não procurarmos os nossos prazeres nas coisas "mortais" (fragmento 189).

O que devemos nos esforçar por conseguir é o "bem-estar" (euestó) ou a "alegria" (euthymíe), e este é um estado da alma. Para atingi-lo, devemos ser capazes de ponderar, julgar e discernir o valor dos diferentes prazeres. Demócrito afirmou, como Sócrates, que "a ignorância do melhor" (fragmento 83) é a causa do erro. Os homens puseram a culpa na sorte, mas esta é apenas uma "imagem" que inventaram para justificar a sua própria ignorância (fragmento 119). 0 grande principio que nos deve guiar é o da "simetria" ou "harmonia". Este é, sem dúvida, pitagórico. Se aplicarmos este critério aos prazeres, poderemos alcançar o sossego, o sossego do corpo, que é a saúde, e o sossego da alma, que é a alegria, cujo sossego se deve procurar principalmente nos bens da alma. "Quem escolhe os bens da alma, escolhe os mais divinos; quem escolhe os bens do 'tabernáculo' (isto é, o corpo), escolhe os humanos" (fragmento 37).

Para o nosso presente objetivo, não é necessário discutir detalhadamente a cosmologia de Demócrito. Ela é totalmente retrógrada e demonstra, se fosse preciso uma demonstração, que o seu real interesse está em outro sentido. Ele herdara a teoria dos átomos e do vazio de Leucipo, que foi um verdadeiro gênio neste campo, e, quanto ao resto, contentou-se em adotar a crua cosmologia dos jônios, como Leucipo houvera feito. Deve ter conhecido ainda o sistema mais cientifico de Filolau. A idéia da forma esférica da Terra era amplamente difundida na época de Demócrito, e Sócrates é descrito no Fédon tomando-a por certa. Para Demócrito, a Terra era ainda um disco. Ele também aderiu a Anaxágoras defendendo que a Terra era sustentada no ar "como a tampa de uma tina", cuja concepção Sócrates rejeita enfaticamente. Por outro lado, Demócrito parece ter contribuído valiosamente à ciência natural. Infelizmente, as nossas informações são extremamente escassas para possibilitar mesmo uma reconstrução aproximada do seu sistema. A perda da edição completa das suas obras feita por Trasilo é talvez a mais deplorável das muitas perdas desse tipo. É possível que tenham sido abandonadas à ruína porque Demócrito chegara a compartilhar do descrédito que o prendera aos epicureus. O que temos dele foi preservado principalmente porque ele foi um grande criador de frases notáveis, que foram dignas de constar nas antologias. Este, porém, não é o tipo de material que se requer para a interpretação de um sistema filosófico, e é muito duvidoso se de fato conhecemos as suas idéias mais profundas. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de reconhecer que é sobretudo pelo seu mérito literário que lamentamos a perda das obras. Tem-se a impressão de que ele se situa à parte da corrente principal da filosofia grega, e é a esta que devemos agora retornar. Do nosso ponto de vista, o único fato importante com referência a Demócrito é que ele também sentiu a necessidade de uma resposta a Protágoras.



Demócrito de Abdera



Nascimento c. 460 a.C.
Abdera, Grécia
Morte c. 370 a.C.
Nacionalidade Grego
Ocupação Filósofo, astrônomo, matemático
Escola/tradição Atomismo (co-fundador com Leucipo)
Principais interesses Epistemologia, Matemática, Astronomia, Metafísica, Ética, Física
Idéias notáveis Atomismo mecanicista
Influências Leucipo, Melisso, Xenófanes, Parmênides, Anaxágoras, Empédocles
Influenciados Epicuro, Lucrécio
Demócrito de Abdera (cerca de 460 a.C. - 370 a.C.) é tradicionalmente considerado um filósofo pré-socrático. Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de Sócrates. Do ponto de vista doutrinário, contudo, faz algum sentido considerá-lo pré-socrático, pois seu pensamento ainda é fortemente influenciado pela problemática da physis.

Demócrito foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica ou do atomismo. De acordo com essa teoria, tudo o que existe é composto por elementos indivisíveis chamados átomos (e é daí que vem a palavra átomo, que em grego significa "a", negação e "tomo", divisível. Átomo= indivisível). Não há certeza se a teoria foi concebida por ele ou por seu mestre Leucipo, e a ligação estreita entre ambos dificulta a identificação do que foi pensado por um ou por outro. Todavia, parece não haver dúvidas de ter sido Demócrito quem de fato sistematizou o pensamento e a teoria atomista. Demócrito avançou também com o conceito de um universo infinito, onde existem muito outros mundos como o nosso.

Na verdade, segundo Demócrito, existe um número infinito de mundos, sendo que pelo menos um deles, e talvez mais do que um, é uma cópia exata do nosso, com pessoas como nós. O conceito de um universo infinito contendo inúmeros mundos diferentes foi também aceito por outros pensadores, incluindo Friedrich Nietzsche.

Demócrito foi um escritor prolífico e Diógenes Laércio o menciona como autor de cerca de noventa obras. Dentre estas, destacam-se:

Pequena ordem do mundo;
Da forma;
Do entendimento;
Do bom ânimo;
Preceitos.

Uma célebre frase de Demócrito é: "Tudo que existe no universo é fruto do acaso e da necessidade"


Crítias

Crítias (em grego Κριτίας, 460-403 a.C.), filósofo nascido em Atenas, foi tio de Platão e um dos membros do grupo de Trinta Tiranos que governou a cidade, dos quais era um dos mais violentos. Era discípulo de Sócrates, fato que não ajudava Sócrates a ter uma imagem melhor junto ao público.

Crítias aparece como personagem de alguns diálogos de Platão. Foi uma figura obscura na história de Atenas. Uma única passagem , fragmento de uma tragédia de Eurípides, foi o suficiente para sua glória; nesta passagem ele expõe como Deus é a invenção de um sofista, hábil legislador.

É assim, eu o creio, que alguém, o primeiro,

Persuadiu os mortais de formar o pensamento

De que existem deuses.

(Crítias, B xxv, op. cit., p. 1145-1146)

Após Atenas cair nas mãos dos Espartanos, perseguiu vários de seus inimigos como tirano. Foi assassinado pelos democratas.


Crítias


Crítias nasceu por volta de 455 a.C., no seio de uma família nobre de tendências oligárquicas. Era primo da mãe de Platão e um grande opositor da democracia de Atenas.

Segundo Platão, Crítias era o exemplo perfeito do bom homem corrompido pela sociedade. Saudável, bem nascido e atraente, era também muito dotado para a filosofia e para a literatura. Para além disso, era um ávido ouvinte de Sócrates. Contudo, abandonou a filosofia para se dedicar à política. A sua primeira aparição política acontece em 415 a.C.. Ele era, simultaneamente, um grande opositor da democracia e um pró-Espartano e crê-se que, juntamente com o seu pai, tenha sido membro dos Quatrocentos, em 411 a.C..
Contudo, não foi imediatamente exilado após a queda deste governo e ajudou a preparar o regresso de Alcibíades. Mais tarde acabou por ser exilado na Tessália.

Após a capitulação de Atenas, em 404 a.C., regressou e foi eleito para a comissão dos Trinta Tiranos. Estes homens, eleitos no fim da guerra de Peloponeso, em 404 a.C, para escrever a constituição, ocuparam o governo e massacraram os seus opositores.

Platão descreve-o, na República, como um homem com as raízes da filosofia e com uma imensa capacidade para o bem e para o mal.

Foi morto na guerra civil de 403 a.C. contra os democratas, pouco antes da queda do regime oligárquico e do restabelecimento da democracia.

Os seus registos escritos são consideráveis e podemos encontrá-los em prosa e verso.

O seu interesse nos progressos tecnológicos é visível através de um conjunto de versos melancólicos em que atribui algumas invenções a pessoas e/ou países em particular. Alguns exemplos dessas invenções são: carroças, cadeiras, camas, trabalho de ourivesaria, etc. e, curiosamente, o jogo do Kottabos. Ele caracteriza os versos de melancólicos, uma vez que considera que esta capacidade de inventar já se perdeu.

O seu poema em louvor a Alcibíades aviva a elegia do seu antepassado Solon e de Teógnis, apesar de apresentar uma audácia característica de Crítias, uma vez que o nome de Alcibíades não surge mencionado em outras composições poéticas.

Não existem registos dos seus discursos mas Hermógenes refere uma colectânea de discursos públicos.

Existem dois fragmentos de Politeiai, um em prosa e outro em verso. O fragmento em prosa inclui uma descrição dos Tessálios, onde Crítias refere os seus modos extravagantes, e outra dos Espartanos. Crítias menciona os seus hábitos de beber, de vestir, de decoração e dança. O seu poema sobre os Espartanos tem como assunto central os seus hábitos de bebida, que eram muito moderados.

Os dois livros de Homilies tinham um conteúdo mais filosófico.

Crítias também escreveu dramas. Existem excertos de três tragédias: Tenes, Radamanto e Pirithoüs e uma longa passagem do drama satírico Sísifo, contendo a teoria da origem da religião.


O Radamanto contem uma lista dos valores mais importantes para homem. Este tipo de listas era muito comum, mas as de Crítias mostravam traços de pensamento sofístico, apresentando como factores essenciais, para além de berço e riqueza, a coragem de alertar o próximo para o que é mau.

Em verso, Crítias escreveu, essencialmente, Elegias e uma Constituição do Lacedemónia.

Em prosa, perderam-se os seus Prólogos de discursos políticos, a sua Constituição do Atenienses, e a Constituição dos Tessálios, mas conservaram-se os fragmentos da Constituição dos Lacedemónios, que é diferente da escrita em verso. Por estas Constituições em prosa, Crítias parece antecipar-se às investigações do mesmo tipo de Aristóteles e da sua escola. Crítias foi também no género, segundo Untersteiner, o primeiro a escrever Aforismos, assim como Conversações e um tratado perdido Da natureza do amor ou das virtudes.

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Crítias (460 a.C. – 403 a.C.), filho de Calescro, foi tio de Platão. Foi filósofo, retórico, poeta, historiador, e líder político. Mas ficou mais conhecido como um oligarca ateniense e um dos trinta tiranos que governou Atenas entre 404-403 a.C. Crítias, foi uma das figuras mais enigmáticas da Atenas do século V a.C.
O primeiro registo histórico de Crítias data de 415 a.C. em que foi acusado de ter participado na mutilação das hermas. No decorrer da investigação é ilibado. Existem algumas referências que o relacionam com os últimos anos da guerra de Peloponeso. Em 410 a. C. processou “Phrynicus” (Lycurgus, Against Leocrates 113) oligarca radical e líder dos Quatrocentos depois do colapso do seu regime.
Em 408 a.C. propõem numa das suas elegias o regresso de Alcibíades. Que acabou por regressar em 407 a.C. a Atenas, rapidamente Alcibíades atraiu de novo as suspeitas e voltou a deixar a cidade, provavelmente terá sido acompanhado por Crítias.
Em 404 a.C. regressa a Atenas depois da sua derrota com Esparta, para formar um governo oligárquico que foi conhecido como um dos trinta tiranos, que governou Atenas durante 404 a.C. a 403 a.C. Crítias foi uma figura destacada neste regime e depois da morte de Terâmenes, tornou-se no seu líder. A morte de Terâmenes foi ordenada por Crítias, já que este opôs-se abertamente a Crítias. Crítias foi acusado de muitas atrocidades, como a morte de Alcibíades que se tinha isolado na Trácia. Segundo os biógrafos “Cornelius Nepos” (Alcibiades 10) e “Plutarch” (Alcibiades 38.5) foi Crítias que deu a ordem de assassinato em 403 a.C.
Há indicações que Crítias teve controlo sobre a cavalaria ateniense e sobre os “Onze” que agiam como executores (Xenofonte, Hellenica 2.4.8).
Crítias também parece ter sido legislador principal deste regime (Xenofonte, Hellenica 2.3.49).
Em Maio de 403 a. C. Crítias morreu, numa batalha que ocorreu entre os democratas comandados por “Thrasybulus” e o exército dos Trinta.
Na perspectiva filosófica, Crítias parece ter sido o autor de homilias e aforismos. As homilias podem ser consideradas entendidas como “conferências” ou “conversas”. Estas homilias poderiam ter sido uma forma inicial de fazer diálogos, mas existem poucos fragmentos para clarificar esta questão. Se as homilias de Crítias eram de facto diálogos, podem ter influenciado Platão a escolher os diálogos como forma de apresentação da filosofia.
Existem alguns fragmentos da obra de Crítias, como o caso das tragédias “Tenes”, “Radamento” e “Piridus”. Crítias também foi um dos primeiros a constituições, como o caso da “Constituição dos Lacedemónios” em que evidenciava a sua admiração pela sociedade espartana, escreveu também a “Constituição dos Atenienses” e a “Constituição de Thessaly”.
O drama satírico “Sísifo” segundo “Sextus Empiricus” mostra o ateísmo de Crítias, já que neste texto refere que as leis e os deuses foram inventados por um homem sábio que desejou enganar e controlar o descanso da humanidade devido ao temor dos poderes sobrenaturais.
Xenofonte descreveu Crítias como um tirano amoral e cruel, esta imagem é reforçada por “Philostratus”, que chamo-o de “o maior mal … de todos os homens" (Vida dos Sofistas 1.16). Por outro lado Platão parece ter admirá-lo e ouso-o como orador em vários diálogos, como Protágoras, Timeu e Crítias.
Sócrates foi mestre de Crítias e Alcibíades e a sua conduta na idade adulta pode ter levado a acusação de Sócrates teria corrompido os jovens atenienses. E em última instância pode ter levado à morte deste.

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