domingo, 22 de novembro de 2009

MITOLOGIA GREGA = PARTE 1





Mitologia grega


Busto de Zeus, em Otricoli (Sala Rotonda, Museu Pio-Clementino, Vaticano).Mitologia grega é o estudo dos conjuntos de narrativas relacionadas aos mitos dos gregos antigos, de seus significados e da relação entre eles e os países ou povos — consideradas, com o advindo do Cristianismo, como meras ficções alegóricas.[1] Para muitos estudiosos modernos, entender os mitos gregos é o mesmo que lançar luz sobre a compreensão da sociedade grega antiga e seu comportamento, bem como suas práticas ritualísticas.[2] O mito grego explica as origens do mundo e os pormenores das vidas e aventuras de uma ampla variedade de deuses, deusas, heróis, heroínas e outras criaturas mitológicas.

Ao longo dos tempos, esses mitos foram expressos através de uma extensa coleção de narrativas que constituem a literatura grega e também na representação de outras artes, como a pintura da Grécia Antiga e a pintura vermelha em cerâmica grega.[3][4] Inicialmente divulgados em tradição oral-poética,[5] hoje esses mitos são tratados apenas como parte da literatura grega.[6] Essa literatura abrange as mais conhecidas fontes literárias da Grécia Antiga: os poemas épicos Ilíada e Odisséia (ambos atribuídos a Homero e que focam sobre os acontecimentos em torno da Guerra de Tróia, destacando a influência de deuses e de outros seres), e também a Teogonia e Os Trabalhos e os Dias, ambos produzidos por Hesíodo.[7] Os mitos também estão preservados nos Hinos homéricos, em fragmentos de poemas do Ciclo Épico, na poesia lírica, no âmbito dos trabalhos das tragédias do século V a.C., nos escritos de poetas e eruditos do Período Helenístico e em outros documentos de poetas do Império Romano, como Plutarco e Pausanias.[7] A principal fonte para a pesquisa de detalhes sobre a mitologia grega são as evidências arqueológicas que descobrem e descobriram decorações e outros artefatos, como desenhos geométricos em cerâmica, datados do século VIII a.C., que retratam cenas do ciclo troiano e das aventuras de Hércules.[7] Sucedendo os períodos Arcaico, Clássico e Helenístico, Homero e várias outras personalidades aparecem para completar as provas dessas existências literárias.[7]

A mitologia grega tem atribuído uma significante influência na cultura, nas artes e na literatura da civilização ocidental e ainda continua a fazer parte da herança e da linguagem do Ocidente.[8] Poetas e artistas — como também intelectuais, estudiosos e outros envolvidos com humanas — das épocas mais remotas até as mais presentes têm se adquirido das inspirações que a mitologia da Grécia antiga possuíam como método de descoberta das inúmeras relevâncias e significados que os temas mitológicos clássicos possuem com o seu contemporâneo.[9]











Termo e compreensão
Num contexto acadêmico, a palavra "mito" significa basicamente qualquer narrativa sacra e tradicional, seja verdadeira ou falsa.[10][11] O sufixo "-logia", derivado do radical grego "logo",[12][13] representa um campo de estudo sobre um assunto em particular.[13] Com a junção de ambos os termos, "mitologia grega" seria, basicamente, o estudo dos mitos gregos, ou seja, os que fazem parte da cultura da Grécia.[1]

Embora seja essa a convenção, os mitos gregos possuem uma abrangência muito grande e complexa em seu significado. Costumam ser compreendidas como narrativas falsas ou fantasiosas,[5] mas também arquétipos presentes no inconsciente coletivo, como prefere Carl Gustav Jung,[5] embora também sejam vistos como histórias que servem como guia de comportamento, para Malinowski,[5] ou, finalmente, narrativas sagradas, onde existe o culto dos seres;[5] todavia existe também a interpretação, segundo Lévi-Strauss, de ser narrativas voltadas à linguagem, à expressão, ou mesmo à conceitos e categorias.[5]

Para mais informações, dirija-se até as sub-seções: Concepções greco-romanas e Interpretações modernas. É importante ressaltar que, nesse artigo, as palavras "mitologia" e "mito" são usadas para as narrativas tradicionais e sagradas das culturas clássicas, sem qualquer implicação de que esta ou aquela seja verdadeira ou falsa.




Introdução
Mito e sociedade

As dafnefórias (1876), oléo sobre tela de Frederic Leighton: a dafnefória era um festival dedicado a Apolo celebrado pelos gregos a cada nove anos, em Tebas, Beócia.[14]A mitologia grega era assunto principal nas aprendizagens das crianças da Grécia Antiga, como meio de orientá-las no entendimento de fenômenos naturais e em outros acontecimentos que ocorriam sem o intermédio dos humanos.[15] Os gregos antigos não contavam com meios modernos de calcular o tempo, de modo que seus poetas usavam a imaginação para atribuir a causa dos fenômenos a seu redor,[16] e foi justamente quando inventaram o calendário e começaram a entender estados térmicos e o sol e a chuva que os mitos declinaram.[16] Os poetas atribuíam esses estados térmicos, como também as relações e as características humanas, aos deuses e a outras histórias lendárias, e elas serviram durante um bom tempo como cultos ritualísticos na sociedade da Grécia antiga.[15] Além das crianças serem educadas através dos mitos, as famílias aristocráticas da Grécia, assim como os reis, e outras categorias profissionais, como os médicos, possuíam a tradição de se ligarem genealogicamente a antepassados míticos, geralmente divinos, ou até mesmo heróicos.[15] Os comerciantes, também, cultuavam deuses, como Hermes, numa tentativa de deixá-lo satisfeito, e assim conseguir bons resultados em suas vendas.[17] Além de serem habituados aos sacrifícios de animais e às orações,[18] os gregos antigos adotavam um deus particular ou um grupo deles para sua cidade, e os cidadãos construíam templos e o(s) venerava(m).[18] Essas cidades não possuíam qualquer organização religiosa oficial, mas honravam os deuses em lugares determinados, como Apolo exclusivamente em Delfos.[18]

Para o povo grego, a sabedoria plena e completa pertencia aos deuses, mas os homens poderiam desejá-la e amá-la, tornando-se filósofos (philo= amizade, amor fraterno, respeito; sophia= sabedoria).[





Mito e religião

Concepção de um templo grego, onde se reverenciava os deuses: muitas dessas obras arquitetônicas da Grécia ainda estão preservadas no território do país.Embora muitas vezes confundida com a religião, a mitologia grega é um conjunto de crenças enraizadas em relatos fictícios e imaginários, enquanto que essa outra envolve rituais dentro de procedimentos com a finalidade de estabelecer vínculos com a espiritualidade.[15] Enquanto que, na mitologia os gregos acreditavam que todas as coisas aparentemente inexplicáveis eram fruto das ações divinas de seres que ninguém era capaz de ver, ou então obra de heróis do passado, a religião, para o homem da Grécia antiga, consistia em cultos aos deuses do Olimpo, realizados em templos comuns ou em altares e, também, culto aos heróis, realizados em suas respectivas tumbas.[20] Dedicados a um deus ou a um herói, os templos, decorados com esculturas (de deuses ou heróis) em relevo entre o teto e o topo das colunas, eram constituídos de pedras nobres como o mármore, usadas no alto da acrópole.[21] Os antigos teatros gregos, também, eram construídos para determinada figura mitológica, deuses ou heróis, como o teatro de Dioniso no Santuário de Apolo em Delfos.[22]

Além da religião ter sido praticada através de festivais, nela se acreditava que os deuses interferiam diretamente nos assuntos humanos e que era necessário acalmá-los por meio de sacrifícios.[20] Os gregos, frequentemente, encontravam desígnios dos deuses em muitas características da natureza. Os advinhos, por exemplo, acreditavam haver mensagens divinas contidas no vôo das aves e nos sonhos.[20] Nas cidades, os oráculos — locais sagrados — eram usados por um sacerdote que, tomado por êxtase ou loucura divina, servia de intermédio entre o diálogo de um fiel e seu deus de adoração.[20] Portanto, é possível concluir que a mitologia dos gregos antigos é o conjunto das histórias fabulosas dos heróis e dos deuses (constituindo toda uma literatura da Grécia), enquanto que a sua religião é, basicamente, os cultos e rituais que a constituem, sob a finalidade de estabelecer vínculos com as divindades da mitologia.[15]

Classificação
A gama de personagens, seres e ambientes que formam a Mitologia grega podem ser separados em três partes, sendo a última um apêndice para a literatura mitológica, de onde conseguimos grande parte das informações sobre os mitos:

1. Raças, divindades, criaturas; personagens em geral, que abrange os Ventos, Centauros, Ctónicos, Ciclopes, Dragões, Erínias, Gigantes, Górgonas, Hecatônquiros, Harpia, Musas, Moiras, Mortais, Ninfas, Deuses olímpicos, Deuses primordiais, Sátiros e Titãs.
1 a. Aqui também são incluídos os heróis Héracles, Aquiles, Odisseu, Jasão, Argonautas, Perseu, Édipo, Teseu e Triptolemos.
2. Lugares, que abrange os ambientes em que essas figuras, na imaginação dos gregos, viveram suas aventuras, que são Delfos, Delos, Olímpia, Hades (reino), Atlântida, Olimpo, Tróia, e Temiscira.
3. Literatura mitológica clássica, inclui o estudo da literatura antiga grega, que contou com nomes como Homero, que incluía em sua narrativa a crença de deuses.
[editar] Fontes
A origem dos mitos da Grécia não deriva puramente da civilização grega, mas de uma mistura entre a cultura dos indo-europeus, pré-gregos, e até mesmo dos asiáticos, egípcios e outros povos com as quais os gregos estabeleceram contato.[23] A mitologia grega é conhecida nos dias de hoje através da literatura grega e de expressões artísticas visuais que datam do Período Geométrico[nota 1] em diante.[24] Entender como nós, contemporâneos, tivemos a oportunidade de arrecadar informações tão antigas quanto são os mitos gregos é o objetivo deste capítulo.






Fontes literárias
A narração mítica desempenhou um papel importante em quase todos os gêneros da literatura grega. No entanto, o único manual mitográfico que sobreviveu da Grécia Antiga foi a famosa Biblioteca Mitológica, do escritor denominado Pseudo-Apolodoro,[25] que tenta conciliar os contos contraditórios dos poetas e fornece um resumo da mitologia grega e suas lendas históricas.[26]


O poeta romano Virgílio conservou em suas obras grande parte das características da mitologia grega.Entre as fontes literárias da primeira era, destacam-se os dois poemas épicos de Homero–Ilíada e Odisséia. Completando esse ciclo épico, temos escritas de poetas cujos documentos foram perdidos ao longo do tempo. Apesar da sua denominação tradicional, os Hinos homéricos, hinos em coral da primeira fase da então-denominada poesia lírica,[27] não possuem relação alguma com Homero.[28] Hesíodo, possível contemporâneo de Homero, produziu Teogonia, o documento mais recente sobre mitos gregos, que elabora uma genealogia dos deuses e explica a origem dos Titãs e dos Gigantes. Os Trabalhos e os Dias, também de Hesíodo, é um poema didático sobre a vida da agricultura que apresenta os mitos de Pandora e da Era dos Homens. O poeta dá conselhos sobre a melhor maneira de ter sucesso em um mundo perigoso tornado ainda mais arriscado por esses deuses.[7] Os Trabalhos e os Dias também apresenta o mito de Prometeu, que, mais tarde, constituiu na base de uma trilogia de tragédias, possivelmente iniciada por Ésquilo, que são: Prometeu Acorrentado, Prometeu Desacorrentado e Prometeu, o Condutor do Fogo.[nota 2]

Os poetas líricos direcionaram por vezes seus temas aos mitos, todavia esse tratamento ficou cada vez menor, enquanto que sua alusões à narrativa cresceu. Os poetas líricos gregos, como Píndaro e Simónides de Ceos, e os poetas bucólicos, incluindo Teócrito, forneceram incidentes mitológicos individuais.[29] Além disso, o mito foi tema central no drama Ateniense: os dramaturgos trágicos Eurípides, Sófocles e Ésquilo produziram seus enredos envolvendo a Era dos Heróis e a Guerra de Tróia. Muitas das grandes históricas trágicas (ou seja, Agamemnon e seus filhos, Édipo, Jasão e Medéia, etc.) trouxeram em sua forma clássica estas peças trágicas.

Os historiadores Heródoto e Diodoro Sículo, e os geógrafos Pausânias e Estrabão, que viajaram ao redor do mundo grego e anotaram as histórias que ouviram, forneceram numerosos mitos locais, apresentando diversas vezes versões alternativas pouco conhecidas dos mitos.[29] Heródoto, especialmente, procurou as várias tradições apresentando e encontrando as raízes históricas ou mitológicas no conflito entre a Grécia e o Oriente.[30]

A poesia das eras Helenística e Romana, que embora tenha sido composta mais como literatura do que um exercício de culto aos mitos, contém muitos detalhes importantes que de outra forma seriam perdidos. Essa categoria inclui:

1. Os poetas romanos Ovídio, Sêneca e Virgílio.
2. Os poetas gregos da Antiguidade tardia: Antonino Liberal e Quinto de Esmirna.
3. Os poetas gregos do Período Helenístico: Apolónio de Rodes, Calímaco, Eratóstenes e Partênio.
4. Antigos romances de gregos e romanos, como Apuleio, Petrônio e Heliodoro.
Em contrapartida com o gênero lírico, a Fabulae e a Astronomica do escritor romano Higino são duas composições não-poéticas importantes sobre o mito. As obras Imagens e Descrições, de Filóstrato e Calístrato (respectivamente), são dois trabalhos literários úteis para o estudo dos mitos gregos. Finalmente, o apologético cristão Arnóbio, citando práticas religiosas para desacreditá-las, e vários outros escritores bizantinos proporcionam detalhes importantes dos mitos, alguns deles procedentes de obras gregas perdidas durante os anos. Entre estes, inclui-se os léxicos de Hesíquio, a Suda, e os tratados de João Tzetzes e de Eustácio. O ponto de vista moralizador cristão a respeito dos mitos gregos se resume no dito ἐν παντὶ μύθῳ καὶ τὸ Δαιδάλου μύσος (en panti muthōi kai to Daidalou musos, "em todo mito está a profanação de Dédalo"), sobre o que disse a Suda que alude o papel de Dédalo ao satisfazer a "luxúria antinatural" de Pasífae pelo trono de Posídon: "Desde que a origem e a culpa desses males se atribuíram a Dédalo e foi odiado por eles, se converteu no objeto do provérbio."





Fontes arqueológicas

Aquiles (esq.) mata um prisioneiro de Tróia diante de Caronte, numa pintura-vermelha etrusca, realizada no fim do século IV e início do século III a.C..A descoberta da civilização micênica pelo arqueólogo amador alemão Heinrich Schliemann no século XIX, e a descoberta da civilização minóica em Creta pelo arqueólogo britânico Sir Arthur Evans no século XX, ajudaram a esclarecer muitas dúvidas a respeito dos épicos de Homero e outras questões da mitologia, como as crenças em deuses e em heróis. A evidência sobre os mitos e os rituais nos sítios arqueológicos das civilizações micênica e minóica é inteiramente monumental, uma vez que a linear B (método de escrita antigo, encontrado em Creta e na Grécia continental) era usada principalmente para o registro de inventários, embora os nomes de deuses e de heróis tenham sido dificilmente revelados.[7]

Schliemann começou seu trabalho em 1870, com o intuito de averiguar se as histórias que ouvia de seu pai quando criança, a respeito dos épicos homéricos, eram verdadeiras; numa madrugada, juntamente com sua esposa, conseguiu encontrar dois diademas de ouro, 4.066 plaquetas, 16 estatuetas, 24 colares de ouro, anéis, agulhas, pérolas (total de 8.700 artefatos) e pesquisas posteriores deixaram certezas que a mítica cidade de Tróia existiu no local há milênios.[32]

Existem desenhos geométricos em cerâmica datados do século VIII a.C. que retratam o Ciclo de Tróia, como também as aventuras de Hércules.[7] Por dois motivos, essas representações visuais dos mitos possuem enorme importância: em primeiro lugar, muitos mitos gregos foram comprovados em desenhos de vasos antes do que na literatura escrita–das doze elaborações sobre Hércules, por exemplo, somente a aventura de Cérbero é apresentada pela primeira vez em um texto literário[33]–e, em segundo lugar, as fontes visuais muitas vezes fornecem cenas míticas que não são apresentadas em quaisquer fontes literárias existentes. Em alguns casos, a primeira representação conhecida de um mito na arte geométrica antecede, em questão de muitos anos e séculos, a sua primeira aparição conhecida na poesia arcaica.[24] Nos períodos Arcaico (750–c. 500 a.C), Clássico ( 480–323 a.C), e Helenístico, Homero e várias outras personalidades surgem para completar as evidências literárias da existência da mitologia grega.

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